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fe^^^t-13-
►
R'tP- f' \ccu.
DO
CARDEAL SARAIVA
0BRÀ8 COMPLETAS
DO
CARDEAL SARAIVA
(D. FRANCISCO DE S. LUIZ)
PATRIARCHA DE LISBOA
PRECEDIDAS»:
. ' UMA INTRODUCÇÃO PELO MAKQUEZ DE RE2ENDK
AirrOMO r.ORBEIA CALDEIRA
LISBOA
IMPRENÍ3A NACIONAL
I87(í
/
ESTUDOS BIBLIOGRAPHIGOS
HISTÓRICOS E críticos
Acerca das
NAVEGAiS, VIAGEiS, DESCOBliliNTOS E GOilUISIAS DOS PORTUGUEZES
SEGUIDOS DA
LISTA DE ALGUNS ARTISTAS NACIONAES
APONTAMENTOS BIBLIOGRAPHIGOS
[Terminados pelo Aoctorem 1844.)
NOTICIA
DE ALGUNS ESCRIPTORES PORTUGUEZES QUE TRATARÃO
DOS NOSSOS DESCOBRIMENTOS E NAVEGAÇÕES,
OU DAS REGIOES
E SUCCESSOS DE ALEM-MAR
N.° 1
Affonso de Albuquerque
Nao se costuma nomear entre os escriptores Portugue*
28S das cousas da índia o j^ande Affonso de Albuquerque,
conhecido aliás, e famoso na nossa Historia nio menos
por seu heroísmo militar, que pelas suas virtudes políp-
ticas, civis e moraes, e pela raiva frenética com que foi
persegfuido de seus baixos e infomes inimigos. Nós porém
nlo duvidaríamos numeral^o naquetla classe, attendenèe
ao grande nuttiero de Cartâ,s, que elle escreveo da índia,
e que ainda se conservSo no Real Arquivo da Torre do
Tombo, órigitiaes, em ^e eile dá conta a el-Rd D. Mâ-
víòd das suas acções heróicas naquellas partes, das suas
conquistas, e trabalhos, dos seus projectos em augmento
do império oriental Portuguez, que havia Rindado, e até
em justificação de suas acções, a que se via muitas vezes
obrigado pela facilidade com qiie el-Rei recebia, e talvez
acreditava as mentiras dos que Albuquerque chamava
Poetas da índia.
Na divisão do Real Arquivo, intitulada Corpo ChronO"
lógico, em dez, ou doze maços, que nos foi possivel
examinar, achámos mais de oitenta Cartas officiaes da-
quelle illustre Governador, e algumas delias de 10, 15,
e 30 meias folhas de escriptura, de muitas das quaes se
poderia fazer huma boa collecção impressa, de grande
utilidade para a historia, e para a geografia do paiz.
Por esta razão nos pareceo coUocar o nome de Albu-
querque entre os varões illustres, de que fazemos menção
nestes apontamentos, dando assim testemunho da vene-
ração, que temos á sua memoria, aos seus distinctos ta-
lentos, e aos inapreciáveis serviços que fez á sua e nossa
pátria.
Aflbnso de Albuquerque (filho)
Foi filho de Aflfonso de Albuquerque, o Grande, e na-
tural de villa d'Alhandra. Chamava-se Braz de Albuquer-
que; mas depois da morte de seu pai, tomou o nome de
Affonso, e commummente se diz, que o fizera por insi-
nuação de el-Rei D. Manoel, querendo este Príncipe assim
perpetuar a memoria de tão illustre varão, e talvez reparar
a injustiça, com que o havia tratado. Escreveo:
( Commentarios de Affonso de Albuquerque, Capitão
Geral, e Governador da índia, cMllegidos por seu filho
Affonso de Albuquerque das principaes Cartas, que elle
escrevia ao muyto poderoso Rey D. Manoel, o primeiro
deste nome, em cujo tempo governou a índia. Vão repar-
tidos em quatro partes, segundo os tempos dos seus tra-
balhos. Lisboa, 1557^, foi.
Sahirão segunda vez em Lisboa por João de Barreira,
1576, foi.
E terceira vez em 1774, 8.°, 4 vol.
N.°3
Affonso Cerveira
Correo diflferentes pontos de Africa, e foi Feitor em Be-
nim no teínpo de el-Rei D. Aflfonso V. Escreveo :
^Historia da conquista dos Portuguezes pela Costa de
Africa. t> (Manuscripto.)
Da qual se aproveitou Gomes Eannes de Azurara, como
diz Barros, referindo-se ao mesmo Azurara. Hoje não sa-
bemos que exista este escripto.
Affonso GonsaWes de Vianna — Sebastião Martins
Escreverão :
a^Roteiro do Rio Grande até o Maranhão, por Affonso
Gonsalves de Vianna, e Sebastião Martins, Pilotos da
costas, ác.
^Roteiro do Maranhão para o Pará. »
« Roteiro para índias do Pará. »
Tudo em 9 fl. de k.\ letra de 700. Na Bibliotheca Ebo-
rense. (Manuscripto.)
Agostinho de Azevedo (Fr.)
Religioso da Ordem de Santo Agostinho. Escreveo:
fi Apontamentos sobre as cousas do Estado da índia, e
Reino de Monomotapa t> , foi.
Existia na Bibliotheca Real de Madrid. (Manuscripto.)
Aleixo da Mota
Mr. Camus, na Mémoire sur les collections des grands,
et petits voyages, et sur la collection des voyages de Mel-
chisedech Thevenot, falando do
6
fiRoutierpour la navigation des Indes Orientales^ par
Aleixo da Motta »
adverte que, segundo Thevenot, he este o melhor Roteiro,
que possuem os Portuguezes, dado pelo mesmo Thevenot
conforme a traducção de Grand-maison, que por quatro
ou cinco annos commandou navios de el-Rei de Portugal á
costa de Angola. A este Roteiro está junto hum mappa,
do qual diz Thevenot, que nelle se estabelece contra a
opinião commum, que não ha estreito de Anjan entre a
China, e o Japão.
O Roteiro de Pimentel refere-se em alguns lugares ao
de Aleixo da Motta.
André AlTares de Almada
Escreveo:
(íTratado bveve. dos Riosi de Guiné do Cabo-verde, des
de o Rio do Sanagá até aos Baixos de SanfAnna^ de, ád.
Pelo Capitão André Alvares d' Almada, natural da ilha
de Santiago de Cabo-Verde, pratico e versado nas ditas
partes. 1694. Publicado por Diogo Kôpke, Capitão da
3' Secção do exercito, e Lente da Academia Polytechnica
do Porto. Porto: Typographia Commercial Portuense,
184U, 8.^
(Vej. num. 10.)
N.° 8
André Coelho
Foi Capitão-môr das costas de Ceilão. Éscreveo:
<í Advertências a Fernam de Albuquerque, Governador
da índia », foi.
Forão escriptas em Goa a 24 de Julho de 1620.
€ Avisos a Gaspar de Mello e Sampayoi>, foi.
Escriptos em Goa a 24 de Fevereiro de 1621. Na Bi-
bliotheca Real de Madrid. (Manuscripto.)
N.- 9 •
«, André de Faro (Fr.)
Escreveo : ^ '
•Relação do que obrarão na segunda missão, os annos
de 1663 e 664, os religiosos capuchos da provinda da
Piedade do reino de Portugal em a terra firme de Guiné,
na conversão dos gentios, e discorrendo da povoação de
Cacheu, rio de S. Domingos, passando ao rio Grande,
rio de Nuno, rios de Ponga, rios de Carsseres, rios da
Serra-leoa, escrevendo não só o que obrarão no serviço
de Deos, e as muitas almas, que converterão d fe de
Christo, nos muitos reinos, em que estiverão, mas ainda
escrevendo alguns ritos e costumes dos gentios daquellas
terras. Por Fr. André de Faro, missionário na mesma
terra firme de Guiné, e religioso da mesma provinda. »
Manuscrípto em 4.®, com 90 fl., na BibUotheca Ebo-
rense. (Original.)
A dedicatória a Pedro Fernandes Monteiro, Desembar-
gador do Paço, e Ministro Maior da Inconfidência, de.,
be datada de Cacheu a 10 de Agosto de 1664.
André Gonsahes
André Gonsalves de Almeida, natural da cidade de San-
tiago, na ilba capital de Gabo Verde, aonde foi Capitão,,
escreveo :
a Relação e Descripção de Guiné, na qual se trata de
varias nações de negros, que apovoão, dos seus costumes,
leis, ritos, ceremonias, guerras, arnuis, trajos, e da qua-
lidade dos portos, e do commsrcio, que delles se faz. Lis-
boa, 1733 1>, em i.""
Q mclov da BibUotheca Lusitana diz, qae esta obra se
imprímio em estylo, e ordem diversa da que o seu auctor
lhe deo, e que nao só lhe mudarão o titulo, que era
8
^Tratado breve dosjreinos de Guiné, e Cabo-verdei^
Mas também o appellído do aactor» que era Alvarez, no
de Gonsalvez. Parece que Barbosa Macbado quiz indicar
a João Baptista Lavanba como auctor» ou occasiao destas
mudanças; pois delle se cita o manuscripto acima apon-
tado, com o mesmo titulo» com que esta Relação se im-
' primio ; e se attendermos á brevidade summaria da Re-
lação impressa, por certo que mais lhe conviria o titulo
de Tratado breve, ác, do que o que se lê no impresso,
a cujas promessas se não satisfaz no corpo da obra.
(Vej, num. 7.)
N.» 11
^ André Pereira (Capitão)
Escreveo: ^ "^ ^
9i Relação do que ha no grande rio das Amazonas, no-
vamente descoberto 9, foi.
Na Bibliotheca Real de Madrid. (Manuscripto.)
N.-12
António de Andrade (Padre)
O Padre António de Andrade foi natural de Oleiros, e
tomou o habito de Jesuita em Coimbra. Foi mandado ás
missões do Oriente, e estando a governar o CoUegio de
Mogor, resolveo hir em busca da cbristandade do Tibet,
aonde os Portuguezes não tinhão ainda penetrado. Partio
com effeito em 1624, e depois de longa e trabalhosa pe-
regrinação, entrou em Caparanga, corte daquelle reino.
Vindo a Goa, voltou segunda vez ao Tibet com o Padre
Gonçalo de Souza, e alguns outros Padres, que o aju-
dassem nas missões já começadas com fructo. Quiz ainda
fazer terceira vez a mesma viagem, mas os seus supe-
riores não lho permittírão. Escreveo :
^Novo descobrimento do Gran-Catayo, ou dos Reynos
de Tibet. Lisboa, por Mattheus Pinheiro, 1626 n, 4.°
Vem esta Relação no tom. 4.® da Imagem da Virtude
9
em o Noviciado da Comp. de Jesus na corte de Lisboa,
cap. 31. ^ pag. 375, impresso em 1717.
Foi traduzida em Castelhano, Francez, Italiano, Fla-
mengo, ác. E delia extrahio Theodoro Rhay, Jesuíta Al-
lemão, parte das noticias, que vem na sua Descriptio re-
gni Thibet, impressa em Paderborn, 1658, 4.®
Das duas traducções Castelhana e Franceza vimos no-
tado em hum Catalogo de livros, impresso em Londres,
o seguinte artigo :
€Tibet — Andrade (Antoine d') Le Gran Cathayo, ou
Royaumes de Tibet, n'agueres descouverts: trad. de FEs-
pagnol en François. — à Gand, 1627 9, 8.®
Escreveo mais o Padre Andrade :
<K Carta, em que relata como voltou ao Tibet a 16 de
Agosto de 1626. »
A qual vem no referido tom. 4.® da Imagem da Vir-
tude, pag. 400, e acho escripto, que fora traduzida em
Francez com o titulo :
^Histoire de ce qui s'est passe au royaume de Tibet, en
Vannée 1626. Paris 1629 », 8.°
Também foi traduzida em Italiano.
Do Padre Andrade se estampou o retrato com esta in-
scripção :
«P. Anton. de Andrade, Sodet. Jesu, ProvincGoa-
nae xvn Provincialis, Missionis Thibelensis primus expio-
rator, et fundator^ Obiit an. Dom. 1634, 14. Kal. Aprilis,
aetatis suae. 53 j^ (a 19 de Março de 1634),
Seus pais se chamavão Bartolomeu Gonsalves, e Mag-
dalena de Andrade, moradores na villa de Oleiros, Dio-
cese do Crato.
(Vej. o num. 118.)
N.M3
António de Castilho
Foi natural da villa de Thomar, e filho do celebre ar-
ctuliçeV) lola de Castilho. Foi Gavalleiro da Ordem de
Avíz, Alcaíde-mór, eCommendador deMora, Embaixador
á Gôrte de Inglaterra, Chronista-mór do reino, e Guarda-
HVir da Torre do Tombo desde 1571 até 1593, anno em
qae consta servir Rodrigo Homem por sua ausência. Não
sabemos o anno preciso do seu fallecimento. Escreveo en-
tra outras obras, que não pertencem ao nosso assumpto :
dCommentarios do cerco de Góa e de Chaul no anno
de 1Ô70. » Lisboa, 1573, em 8.^ e 1736, em 4.^
Antónia Cordeiro (Padre)
Foi natural da cidade de Angra na ilha Terceira, Je-
suíta, douto nas letras sagradas e profanas, missionário
zeloso, celebre pelos seus infortúnios* Escreveo :
^.Historia Insulana, Lusitana, das Ilhas a Portugal
sujeitas no Oceano Occidental. » Lisboa, 1717, foL
Florecia este escriptor pelo meio do século xvn. Trata
brevemente das ilhas Canárias^ e das de Cabo Verde, e
com maior extensão das que compõem o archipelago dos
Açores, para o que se sérvio muito (como elle a cada
passo confessa) da obra do Dr. Gaspar Fructuoso, de que
falâjDoios a num. 66.
N.*» 16
António Dnrão
Militou nos estados da índia, e achòu-se na praça de
Moçambique, quando cercada pelos HoUandezes em 1607
e 1608. Escreveo:
iíCercos de Moçambique defendidos por D. Estevão de
Âtaide, General, e Governador daquella praça. » Ma-
dffid, 1633, em 4.°
ii
N.°16
António Ralho Ferreira
Escreveo:
c Relação da ma viagem, que fez a Macáo. Lisbea:
por Domingos Lopez. 1643. »
He referido pelo Padre Bluteau no Catalogo dos Kvros,
(f3B leo para a composição do sea Vocabulário
Esereyeo mais :
c Razões á pergtmia qm se mê fez sobre a navegação,
qt^e se tem aberto da Cfnha á índia pêt^s boqueirõeê dê
Baile; e se será acertado fazer-se viagem da Chim úm
Ureitura a Lisboa, e qm caminho farão as embofi^caçOes »,
foi. (Manuscripto.)
Na Bibliotheca Real de Madrid.
António Galfâo
Este illustre Portuguez foi filho do bem conhecido Chra-
nista Duarte Galvão. Alguns escriplores nossos dizem, que
nascera na índia, o que nos parece grosseiro erroi. He
certo que Duarte Galvão falleceo na ilha de Gamaran^
no Mar Vermelho, quando hia por Embaixador de eURei
D. Manoel ao Abexi, em 1517. Mas nem consta que^ le-
vasse sua mulher comsigo, nem elle mesmo estava já
muito em idade de ter lá este filho, vistoque Damião de
Góes attríbue a sua morte á sua longa idade, e assim he
de presumir de hum Varão, que tinha servido vários emr
pregos já desde o reinado de el-Rei D. AfifonsoV.
António Galvão foi de Portugal em 1522 com D. Pedro
de Castro (o qual invernando em Moçambique, foi á ex-
pugnação da ilha de Quirimá), e fez ahi os serviços, e as
acções de valor, de que dá conta Castanheda qa Histeria
i2
da índia, liv. 6,°, cap. 43.°, e Andrada, na Chronica de
de D. João IIL part. 1.% cap. 40.*' E esta he outra prova
(se fosse necessária) de que Galvão não nasceo na índia;
porque seu pai somente para lá navegou em 1515, e fal-
leceo em 1517. Pelo que teria o filho, se lá houvesse nas-
cido, quando muito sete annos, em 1522, em que foi a
facção dé Quirimá.
Em 1526 voltou á índia por Capitão de huma das náos
da carga. O que fez nesta viagem pôde ver-se em Casta-
nheda, liv. 7.®, cap. 10.^ e em Andrada, pàrt. 2.*, cap. 9.%
aonde se achão provas da grande pericia de Galvão na ma-
rinhagem.
«Nos princípios de 1527 voltou para Portugal, e então
trouxe a ossada de seu pay Duarte Galvão, que ho clé-
rigo Francisco Aluares trouvera á índia, de Camarão^
vindo do Preste. T> (Castanheda, liv. 7.°, cap. 14.°)
Em 1533 navegou António Galvão ainda outra vez para
a índia, e tanto na viagem, como na estada na índia, como
depois no governo das Molucas, deo tantas provas de pe-
rícia náutica, de valor, de justiça, de desinteresse, é de
christandade, que de todos era honrado, estimado, e ve-
nerado; mereceo em Ternate o nome de pai dos povos ;
dos Portuguezes o appellido de Apostolo das Molucas, iScc.
Vej. Castanheda, Hv. 8.°, cap. 64.°, 120.°, 124.°, 125.°,
155.°-163.°, 180.°, ác; Andrada, Couto, &c.
Este virtuoso Portuguez, que despendeo tudo o que ti-
nha por bem servir o estado, veio viver de esmolas no
hospital de Lisboa por dezesete annos, e com esmolas foi
enterrado. (Barros, dec. 4.% liv. 9.°; Couto, dec. 5.*,
liv. 7.°, cap. 2.°, ác.) Escreveo:
^Tratado dos vários e diversos caminhos, por onde
nos tempos passados a pimenta e a especiaria veio da
índia ás nossas partes, e assim de todos os descobri-
mentos antigos e modernos, que são feitos até á era de
1550, com os nomes particulares das pessoas, que os
i3
fizerão, em que tempos, e suas alturas. » Lisboa, 1563,
8.^e 1731, foi.
Existe na Bibliotheca Publica de Lisboa bum exemplar
da sua obra, que vi em dezembro de 1838, e o seu ver-
dadeiro titulo he o seguinte:
« Tratado que compóz o nobre e notável capitão, António
Galvão, dos diuersos e desuayrados caminhos, por onde
nos tempos passados a pimenta e especiaria veyo da In-
dia ás nossas partes, e assi de todos os descobrimentos
antigos e modernos, que são feitos em a era de mil e qui-
nhentos e cincoenta. Com os nomes particulares das pes-
soas que os fizeram : em que tempos, e as suas alturas,
obra certo muy notauel e copiosa. Foy vista e examinada
pela santa Inquisição. Impressa em caza de Joam da Bar-
reira, impressor delrey nosso senhor, na rua de Sã Mor
mede 9, em 12, com 80 íl., sem numeração no verso delias,
além do frontespicio e prologo, que não sao numerados.
Tem no fim :
« Laus Deo. A louuor de Deos e da gloriosa virgem Ma-
ria se acabou o liuro dos descobrimentos das Antilhas e
índia. Imprimio-se em caza de Joham da Barreira, im-
pressor delrey nosso senhor. Aos quinze de Dezembro de
mil e quinhetos e sessenta e três annos. »
Escreveo mais:
^Historia das Molucas, e seu descobrimento em 1511. »
(Manuscripto.)
Na Bibliotheca Histórica, num. 61.
Em hum Catalogo Inglez achámos este artigo :
uGalvano (Antonie) governor ofthe Malucca Islands,
Discoveries of the World frem their first original unto
1655. by Rich. Hakluyt. 160U, 4.^ (Raro.)
No Real Arquivo da Torre do Tombo, gav. 18, maç. 2.^,
num. 46, se conserva huma Carta de Anton. Galvão es-
cripta a elRei sobre a índia, ê Maluco, e especiarias, que
me pareceo digna de se ler. ,
\
14
N.*» 18
António Gomes de Oliveira
Foi natural de Torres Novas. Escreveo:
kíS&túHaéa HM ^rceirai^
De xpie faz menção D. Francisco Manoel nos Apclogos
Díalogaeíj Hospital 4a$ tetras, pag. 386.
António de GonTèa (D. Fr.)
Augn^kiiano, natural ãe Beja, esteie nt índia, e Ka a
caéMrá dfô Theologia no seu convento de Goa em 1897.
No aftno de 1602 partro por Embaixador á Pérsia, de
Hftedado 4o Yice^Rei Ayms de Saldanha, e tendo a for-
tmt dfe ^grad'ar ^ Sv^i, ébtme delle algumas graças
favoráveis ao christianismo. O mesmo Rei da Pérsia o
nlfiMoti ei& companhia de fium seu Embaixador ao Papa
Palio V, e a ^-Rei de Casteíla, pedindo auxilio contra o
TwCco. Voltou á Pérsia <x)m caracter de Legado do Papa;
mas t^ abanão já as preoedenles disposições, padeceo
graves vexações, e qttando voitàva á Europa, foi tomado
por Mouros, e por elles posto em captiveiro dous annos.
Bl4teí b. FiHppein oitomeou Bispo deCirene, e em 1624
se intitulava Bispo de Cirene, Visitador Apostólico na Pér-
sia, do Conselho de Sua Mú^esitaúe, ib seu Pregador pela
Coroa dè Portugal. FaUeceo em Hespanba na vilia de Man-
çat^sres em 1696. Escreveo:
^ScAmadA do Ar€^)ispo 4e Gda D. Fr. Aleixo de Me^
nezes Primaz da Índia Oriental, ràigioso da Ord. de
S. Ag&é&nho: ^mnAo foy ás Serras do Makmar, e lu-
gútres^ ^fn qm^mr&o os antigos christãos de S. Thomé, e
m 9irm «fe muitos erros e heregius, em que estauão, e
reduzio á nossa Santa Fé OoXh^oa, ê ^Aediêndá 4a
15
Sattía Igreja Bomcma^ da qtml pa'ssavá de mH úmJnús ^e
estauão apartados.
^Hecopiiàdà dê diversos Tràtadúè 4è pes^eâs âHs oMè^
ndade.queaiudo/brãopresentBÈ. Por Frey A^ú^ 4b
Gmmea, reUgioso da mesma ord. de S. A^H., Len^ 4e
Teologia e Prior do convento de 4S6a, Dárè^ MUdà de
muytas cousas notaueis da índia, 4ê 'çne a nãio tiauia Wè
dará.
€lHrigida ao Reverendíssimo Senhor O. Wrey Ayasití'^
nho de Jesu, Arcebispo t Senàor de Braga, Priínaz êàè
fíespanhas, teU0oso da mesma Ordem,
€Em Coimbra: Na officina de Diogo Go^nez houYep'<h
Impressor da Yníoersidade. Com Ke^á do S. Offic. eVr-
dinario. Anno BfH 1W(?», fW.
Vem junto a esta Relação :
^Synodo Diocesano ãa igreja e Inspe^ 4e Angamale
dos antigos christãos de Sam Thoméy das SeitaÈ ^ Mêh
lauar, das partes da ín^a Oriental.
^Celebrado pello Rei^erenãiss. Senhor 9. Fr. MeisDoée
Menezes, Arcebispo Metropotitano áe Gda, Primaz ãa ín-
dia, e partes Orientaes, Sede vagante do étíolnspaSòt, p&r
autoridade de dons Breves do S.*^ P. Ciem. Pp. VW.
nosso Senhor f no d/ Domingo depois de Pentecosíe àoè
20 diOÃ do mez de Junho da era ée 1699, "na igreja ^
todos os santos, no lugar e reyno do Diàmper sogtiio n
etRey de Cochim infiel, no qttál »è èeo cbediehcia m 5te#to
Pontífice Romano, e se sogeitou o dito híspaãô cb^ todéè
os christãos dette á SoiMa Igreja Romana.
€Bm Coimbra na Officina de Diogo Uomez Lòàlregro,
impressor da Vniversidade. Com licença do iSèinto ^9ffie^
e Ordinário. Anno Domini 1606. v
Yem finalmente:
€Missa de que mão os antigos chrisíã&s de Sãò Tkomé
do bispado de Angamale das Serras do Máktuar éa fn^
dia Oriental, purgada dos erros, e blasfémias Nestottlsh
i6
nas, de que estava chea, pello illustriss. e reverendiss.
Senhor D. Fr. Aleixo de Menezes, Arcetnsipo de Gôa, Pri-
maz da índia, quando foy reduzir esta (Cristandade á
obediência da Santa Igreja Romana, tresladada de Si-
riaco ou Suriano de verbo ad verbum em lingoa latina. »
Da Relação que compõe a primeira parte deste volume
consta ter-se o sái auctor servido:
1.^ De hum tratado de grande autoridade, dino de
toda a fé, que compdz o muito douto e RJ^ P. D. Fran-
cisco Roz da companhia de Jesu, Bispo, que hoje he di-
gnissimo dos mesmos christãos, e bispado de Angamale,
que foi bum dos que acompanharão o Arcebispo.
2.^ De outro tratado feito por Belchior Braz, frade ca-
pellão de élRei, e Mestre escola de Gôa, que também acom-
panhou o Arcebispo.
3.^ De algumas lembranças breves escriptas pelo mes-
mo Arcebispo.
Achámos notado que esta obra de Gouvéa corre tra-
duzida ao Francez com o titulo seguinte :
^Histoire Orientale des grans progrés de Veglise cor
tholique, Apost., et Rom. en la reduction des andem
christiens dits de S. Thomaz, de plusieurs autres schis-
matiques et hérétiques aVunion de la vraye eglise, con-
version encore des Máhometains, Mores, et Payens. Par
les bons dévoirs du reverendissime et illustrissime Sei-
gneur D. Alexis de Menezes dei Ordre des Eremites de
S. Augttstin, Archéveque de Goa, et Primat en tout
VOrient, Anvers (ai. Bruxelles) 1609 1^, 8.®
Também foi trasladada em Castelhano por Francisco
Munõz, e em Inglez com notas, por Mr. Geddes, cancel-
lario da igreja de Salisbury.
As Actas do Concilio de Angamale forão publicadas em
Latim pelo augustiniano João Facundo Rolin, illustradas
com eruditas notas e dissertações, e impressas em Roma
1745.
i7
Gouvéa escreveo também :
^Vida y muerte dei bendito P. Juan de Dios fun-
dador de la Orden de la hospitalidad de los pobres, en-
fermos. :» Madrid, 1624, 4.^ a qual não pertence a este
lugar.
^Relaçam, em que se tratam as guerras, e grandes vi-
ctoricts, que alcançou o grande Rey da Pérsia Xá Ahhas
do grão Turco MahomettOj e seu filho Amethe: as quaes
resultarão das embaixadas, que por mandado da Catho-
liça e Real Magestade delRey D. Felippe segundo de Por-
tugai fizerão alguns Religiosos da Ordem dos Eremitas
de S. Augustinho á Pérsia.
^.Composto pelo P. Fr. António de Gouvea, Religioso
da mesma ordem. Reitor do Collegio de S. Augustinho de
Goay e professor da Sagrada Theologia.
€ Dirigido ao illustrissimo e Reverendissimo Senhor
Dom Frey Aleixo de Meneses, Arcebispo de Goa, Primas,
e Governador da índia Oriental.
^Com licença da S. Inquisição, Ordinário, e Paço.
Impresso em Lisboa por Pedro Craesbeeck: anno mdcii.
Com Privileg. Real. » Hum vol. em 4.®
N.'^ 20
António de Gonvéa
Escreveo :
^Monarckia da China, dividida por seis idades. »
Começa por hum prologo, datado em 20 de Janeiro
de 1654, do qual consta, que a escrevera no interior da
China sobre memorias estudadas nas chronicas do paiz,
e nas próprias observações de vinte annos em seis das
suas províncias. He dividida em dez partes, e tem no fim
hum índice geral, e a Historia da fartaria, tudo em 390
pag. de foi.
Manuscripto, na Bibliotheca Real de Madrid.
TOMO VI 2
i8
N.-21
António de Marix Gameiro
Escreveo :
9^Regimento dos Pilotos, e Roteiro das navegações da
índia Oriental. Lisboa: por Lourenço deAnveres. 1642. »
Referido do Catalogo dos livros, que o Padre D. R^ifaal
Bluteau leo para a composição do seu Vocabulário.
1Í.-22
António Pinto Pereira
^Historia da índia, no tempo em que a governou o Viso-
Rey D. LtUs D'Ataide. Composta por António Pinto Pe-
reyra. Dirigida a elRey D. Sebastião. E agora impressa
assi como estaua em seu origifial, por ordem de Frey Mi-
guel da CruZy Frade da Ordem de N. Senhor Jesu Chri^tp,
Theologo Pregador.
a Com todas as licenças e aprouações necessárias. Em
Coimbra. Na impressam de Nicolao Carvalho. Anfio
de 1616 í>, em foi. (Extremameatç raro.)
O livro 1.® consta de 33 cap., em 151 fl., numeradas
no recto, com seu index. 2." livro, que se segue com
nova numeração, tem 54 cap., em 162 íl., com seu índex.
N.*» 23
António do Porto (tr.)
Ha no Archivo da Torre do Tombo, no Corpo Chrono-
logíco, part. 1.% maç. 102, doe. 25, huma
9^ Carta a el-Rei D. João III, datada de Salcete a 20
de Novembro de 1567^
Em que lhe diz, que tivera em sua companhia dous
Bispos Caldeos, e dá noticia do estado dos christãos do
Malabar.
i9
António de Saldanha (Padre)
« Prasse Pastoral . . . Modo breve de catequizar os ca-
tecunienos adultos^ que se hão de baptizar, e outra varia
doutrina sobre os sacramentos da S. M. Igreja, orde-
nada, e composta pello P. António de Saldanha, religioso
da Companhia de Jesu. »
He manuscripto, em 12, que vi, escripto em lingua do
Concan, com hum glossário, ou vocabulário de frases da
mesma lingua, com o titulo :
d Modos de falar em Canary, »
Vej. Barbosa Machado, e Nicoláo António.
(Veio da Cartuxa de Évora, e o mandei para o Depo-
sito de S. Francisco.)
N.»25
„ António Rodripes Codomiga
Escreveo : "
d Historia de Angola. »
Grosso voL, em foi. Manuscripto, na Bibliotheca de
Évora.
N.°26
António Tenrreyro
Foi natural de Coimbra, Cavalleiro professo na Ordem
de Christo, e sérvio na índia. Estando em Ormuz sahio
d'ali, no annó de 1522, em companhia de Balthazar Pes-
soa, que de mandado do Governador da índia D. Duarte
de Menezes ,t\ia por Embaixador á Pérsia. Esteve na Pér-
sia, passou á Arménia, veio á Syria, ao Cairo, á Alexan-
dria, á ilha de Chipre. De Chipre voltou ao continente,
e logo a Ormuz por terra. Passados cinco ou seis annos
(como elle mesmo diz), tornou a sahirpara vir por terra a
Portugal, com recados a el-Rei sobre a armada do Turco,
sendo Governador da índia Lopo Vaz de Sampaio, e Ca-
pitão de Ormuz Christo vão de Mendoça. Sahio de Ormuz
20
nos fins de Setembro de 4 528, e chegou a Portugal no
anno seguinte com alguns mezes de viagem. Escreveo:
(íltinerario de António Tenrreyro, cavaleyro da Ordem
de ChristOj em que se contém como da índia veo por terra
a estes reynos de Portugal. »
No fim :
«Foy impressa a presente obra em a muy nobre cidade
de Coimbra^ em caza de António de Mariz, aos vinte dias
do mes de Abril de 1660, (4.®) Com licença dos senhores
Inquisidores e Ordinário. 1^
Sahio segunda vez impressa em Coimbra, por João de
Barreira, no anno de 1565, em 8.°, e ambas estas edições
são raras.
Sahio terceira vez em 1725 na OflScina Ferreyriana,
juntamente com a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto,
em foi. ; e outra vez, em 1762, com a mesma Peregrina-
ção, também em foi.
Sahio em fim recentemente na nova edição de Fernão
Mendes, de 1829, no 4.® vol., com este titulo:
níltinerario de António Tenrreyro, cavaleyro da Ordem
de Christo, em que se contém como da índia veo por terra
a estes reynos de Portugal. Nova ediçôx) conforme á
primeira de 1560. Lisboa. Na Typograph. Rollandiana,
1829 (em 12). Com licença da Meza do Dezembargo do
Paço. D
No fim desta edição vem a nota das variantes, que se
acharão entre as duas primeiras edições de 1560 e 1565,
com o que se deve ter por exacta, e fiel cópia do que o
auctor escreveo.
Balthazar Marinho
Escreveo :
€ Relação do que se executou na expedição de Mombaça,
para onde partio em 8 de Janeiro de 1633. »
Manuscripto em foi., na Bibliotheca Real de Madrid.
ai
N.-28
Baltiiezar Barreira (Padre)
Jesuita empregado nas missões de Guiné e Serra Leoa,
escreveo :
< Carta^ em que dá conta da disposição que achou para
receberem a santa pregação do evangelho em todos os rei-
nos daquella costa, e pela terra dentro, que elle pessoal-
mente foi descobrir j e do fructo que até então se tinha
feito na conversão daquella gentilidade i , &c.
da qual Carta vem a cópia na Relação annal do Padre
Guerreiro, liv. 4.^ cap. 2.® e seguintes, desde fl. 223 até
fl. 264 V.
(Vej. num. 47.)
N.» 29
•
Bento de Góes
Foi natural de Yilla Franca, porto marítimo da ilha de
S. Miguel. Militou na índia, e depois disso, entrou na
Companhia de Jesus em Goa. Algumas idéas vagas, que
corríao, da Christandade do Catayo lhe inspirarão o pen-
samento, e desejo de hir ao descobrimento delia, e con-
seguindo isto dos seus superiores, com intervenção do
Vice-Rei Ayres de Saldanha, e do Arcebispo D. Fr. Aleixo
de Menezes, e tendo-se já d'antes dado á pregação na
corte e terras do Mogol, partio em busca do Catayo em
1603, em companhia de dous mercadores Gregos, e hum
Arménio, dirigindo-se pelo norte do império do Mogol
desde o paiz dos Vsbegs, para o Oriente até á China. Andou
quatro annos por aquelles vastíssimos sertões no meio de
incommodos e riscos, e approximando-se á entrada da
China com o Arménio, que constantemente o acompanhou,
convenceo-se de que o chamado Catayo era o próprio im-
pério da China. Avisou da sua chegada os Padres Jesuítas
22
de Peckin, os quaes obtendo licença para a enfrada de
Góes, enviarão o irmão João Fernandes para o conduzir.
Chegado a Socheo, e sendo ainda mui dilatada a jornada
a Peckin, enfermou ali, e falleceo aos H de Abril de 1 607,
tendo de idade quarenta e cinco annos.
Escreveo a Relação da sua viagem^ que foi inserida na
Relação da China do Padre Trigaut, como consta da Nova
Relação do Padre Gabriel de Magalhães, pag. 31 e 32.
Bernardo Gomes de Brito
GoUegío as antigas Relações de vários naufrágios dais
náos Portuguezas com este titulo:
€ Historia Tragico-maritima, em que se escrevem chro-
nologicamente os naufrágios ^ que tiverão as náos de Por-
tugal depois que se poz em exercido a navegação da índia.
Lisboa, 173õi^,ivol , 4.°
01.** vol. comprehende:
fiNaufragio do galeão S. João na Terra do Natal, anno
de 1562. »
^Naufrágio da não S. Bento no cabo da Boa-esperança,
no an. 1554, por Manoel de Mesquita Perestrello, hum
dos naufragantes. »
« Naufrágio da não Conceição nos baixos de Pêro doè
Banhos j em iõõõj por Manoel Rangel, que se achou nó
naufrágio. »
a Relação do successo, que tiverão as náos Águia, e
Graça em 1559 pelo P. Manoel Barradas, Jesuíta. »
<iDescripção da cidade de Columbo. » (Junta á prece-
dente Relação.)
<í Relação do naufrágio da náo Santa Maria da Barca,
em 1559. »
di Naufrágio da náo S. Paulo na ilha de Samatra em
1561, com a Descripção do sitio e maneira da ilha Sa-
matraj e assim também a figura e maneira do boqueirão
de Sunda, escripto por Henrique Dias, criado de D. An-
tónio, Prior do Crato, que hia na não. »
O 2.® vol. comprehende :
tNaufragio, que passou Jorge de Albuquerque Coelho
vindo do Brasil para este reino em 1565, escripto por
Bento Teixeira Pinto, que se achou no naufrágio. »
€ Relação do naufrágio da náo Santiago no anno de
1585, e itinerário da gente, que delle se salvou, por Ma-
noel Godinho Cardoso. »
<r Relação do naufrágio da náo S, Thomé na terra dos
Fumos, no an. de 1589, e dos grandes trabalhos, que
passou D. Paulo de Lima nas terras da Cafraria, até d
sua morte. Escripta por Diogo do Couto, Guarda-mór da
Torre do Tombo, no anno de 1611. »
d Relação do naufrágio da náo S. Alberto no Penedo
das fontes, no anno de 1593, e itinerário da gente, que
delle se salvou, até chegarem a Moçambique: escripta por
João Baptista Lavanha, Cosmógrafo mór de S. Mag., no
anno de 1597. »
^Relação da viagem e successo, que teve a náo S. Fran-
cisco. . . na armada que foi para a índia no an. de 1596,
escripta pelo P. Gaspar Affonso, que nella hia. »
« Tratado das batalhas e successos do galeão Santiago
com os Hollandezes, na ilha de Santa Elena no an. de
1602. Escripta pôr Melchior Estado do Amaral. »
Estas Relações, postoque refirão successos particulares,
merecem comtudo a attenção dos doutos, tanto pela noti-
cia, que nellas se acha, das terras, costas e mares, em
que succedérão os naufrágios, como pelo especial conhe-
cimento, que algumas delias nos dão das terras da Cafra-
ria, das producções daquelles paizes, das gentes que os
habltao, e seus costumes, &c.
He para sentir, que se não continuasse esta útil em-
prè2it, aproveitando as Relações manuscriptas, que ainda
24
ha dispersas, e evitando em todas os muitos erros, e in-
correcções typograficas, que se encontrão nestes dous vo-
lumes, os quaes, assim mesmo, não merecem o pouco
caso que delles se faz.
Yi hum volume, em que, sem titulo algum geral, achei
coUegidas muitas Relações de naufrágios, escriptas em
differentes tempos, e em dififerentes lypos, e typograflas,
das quaes darei aqui noticia pela ordem em que estão no
dito volume, em 4.°:
1.* 0iHistoria da muy notável perda do galeam grande
S, Joam^ em que se contão os grandes trabalhos e lastu
mosas comas qm acontecerão ao capitão Manoel de Sousa
Sepúlveda^ e o lamentável fim, que elle, e sua mulher e
filhos, e toda a mais gente houverão, na terra do Natal,
onde se perderão a 24 de Junho de 16Õ2. Em Lisboa. Na
Officina de António Alvares. »
2.^ fiRelaçam do lastimoso naufrágio da náo Concei-
çam, chamada Algaravia a nova, de que era capitão Fran-
cisco Nobre: a qual se perdeo nos baixos de Pêro dos Ba-
nhos em 22 de Agosto de 1565. Em Lisboa. Na Officin^
de António Alvares. »
3.* ^Naufrágio da náo Santo Alberto, e Itinerário da
gente que delle se salvou. Por João Baptista Lavanha,
Cosmógrafo mór de Sua Magestade, dedicado ao Prín-
cipe Dom Philippe nosso Senhor. Em Lisboa. Em caza
de Alexandre de Siqueira. Anno de 1697. »
4.* iíRelaçam do naufrcigio da náo Santiago, e itine-
rário da gente que delle se salvou. Escripta por JUano^
Godinho Cardoso. Com licença da Santa Inquisição.
Em Lisboa. Impresso por Pedro Craesbeeck. Anno de
1602. D
(Vej. num. 112.)
5.^ c Tratado das batalhas e successos do galeam San-
tiago com os Olandezes na ilha de Santa Elena, e da náo
Chagas com os Jnglezes entre as ilhas dos Açores; ambas
capitanias da carreira da índia; e da cama e desastres,
por que em vinte annos se perderão trinta e oyto nãos
delia. Escripto por Melchior Estacio do Amaral. Na Offir
cina de António Alvares. No anno de 1604. »
6.^ €Tratado do successo que teve a náo S. Joam Ba-
ptista j e jornada que fez a gente que delia escapou, des
de trinta e três grãos no cabo de Boa-esperança^ onde fez
naufrágio, até So fala, vindo sempremarchando por terra.
A Diogo Soares, Secretario do Conselho da Fazenda de
Sua Mag., &c. Auzente, ao P. Manoeí Gomes da Sylveira.
Com licença da S. Inquisição, Ordinário, e Paço. Em
Lisboa, Por Pedro Craesbeeck, Impressor delRey, anno
1626. » (A dedicatória he assignada por Francisco Vaz de
Almada.)
7.^ « Memorável Relaçam da perda da náo Conceiçam,
que os Turcos queimarão á vista da barra de Lisboa, e
vários successos das pessoas que nella cativarão. Com a
nova descripção da cidade de Argel, de seu governo, e
cousas mui notáveis acontecidas nestes últimos annos de
1621 até o de 1626. Por Joam Tavares Mascarenhas, que
foi calivo na mesma náo. Dedicada a D. Pedro de Mene-
zes, Prior da igreja de Santa Maria de Óbidos. Em Lis-
boa. Com todas as licenças necessárias. Na Officina de
António Alvares. Anno de 1627.
8.* € Relaçam da viagem e successo que teve a náo ca-
pitania Nossa Senhora do bom despacho, de que era ca-
pitão Francisco de Mello, vindo da índia no anno de 1630.
Escrita pelo P. Fr. Nuno da Conceiçam, da Terceira Or-
dem de S. Francisco. Lisboa. Na Officina de Pedro Craes-
beeck. Anno de 1631. »
9.' ^Naufrágio da náo N. Senhora de Belém, feito na
terra do Natal no cabo de Boa-esperança, e vários suc-
cessos que teve o capitão Joseph de Cabreira, que neUa
passou á índia no anno de 1633, fazendo o officio de Al-
mirante d'aquella frota até chegar a este Reyno. Escritos
peto rhèsrno joseph de Cabreira, offerecidos a Diogo Soa-
res, do ijohselho de Sua Mag. e seu Secretario de Estado
em Madrid, dòm todas as licenças necessárias. Em Lis-
boa. Por Lourenço Cfaesbeeck, Impressor delRey. Atino
de M.DC.IXIVI. »
(Vej. num. 97.)
10.* uRelaçam do naufrágio que fizeram as náos Sa-
cramento, e nossa Senhora da Atalaya, vindo da índia
para o Reino no cabo da Boa-esperança, de que era ca-
pitão mór Luiz de Miranda Henriquez, no anno de 1647.
Òfferecida d Magestade de elRey D. Joam o lY nosso Se-
nhor, por Bento Teyxeyra Feyo. Em Lisboa. Com todas
as licenças necessárias. Impressa na Officina de Paulo
Craesbeeck. No anno de 1660, »
H.^ kReldçam da viagem do galeam São Lourenço, e
sua perdição nos baixos de Moxincale em 3 de Setembro
de 1649. Escrita pelo Padre António Francisco Cardim,
da Companhia de Jesus, Procurador Geral da Provinda
do Japão. A Manoel Severim de Faria. Em Lisboa. Por
Domingos Lopes Roza. No anno de 1661. »
•
GhristOYão Borro (Padre)
Foi religioso da Companhia de Jesus. Escreveo:
4 tratado dá navegação de Leste Oeste. »
Citado^ por Pimentel na Arte de navegar, ediç. de 1 7 1 2,
áí pag. 393.
N.°32
Christoyão Ferreira (Padre)
Escreveo :
^Às Àntíuas do Japão de 1627 t» . (Imagem da Virtude
nó NúviciadJú de Lisboa.)
f7
Constantino de Sá e Noronha (D.)
Escreveo :
tDescripção dos rios^ plantas, portos de mar^ e forma
da fortificação da ilha de Ceilão, »
Foi enviada de Ceilão em t624 com as fortalezas muito
bem delineadas, 4.^
Manuscripto, na Bibliothéca Real de Madrid.
N.* 34
Diogo de Paiya de Andrada
Filho de Francisco de Andrada (vej. num. 52), escreveo
entre outras obras:
€Chauleidos Libri duodètim, Canitur memoranda
Oiaulensís urbis propugnatio^ et cekbris viètorid Lusita-
norum adversus copias Inicae-Maluéi. Olisipone. 1628 ]> ,
em4,*
N.-35
Domingos de Abreu de Brito
Escreveo :
€ Summxirio e Descripção do reino de Angola, e do des-
cobrimento da ilha de Loanda, e da grandeza das capi-
tanias do estado do Brasil, feito por Domingos de Abreu
de BritOy portuguez. Dirigido ao muito alto e poderoso
Bey D, Philippe Primeiro deste nome, para augmentáção
do estadOy e renda de sua coroa. Anno de 1692. »
Manuscripto, na Bibliothéca Publica de Lisboa.
N.'» 36
Domingos Ahes Branco Honiz Barreto
Escreveo :
€Plano sobre a dvilisação dos índios do Brasil, e prin-
28
cipalmente para a capitania da Bahia, no qual lambem
se manifesla a missãOj que entre os mesmos Índios fizerão
os Missionários, e proscriptos Jesuítas. Apresentado ao
ExJ^ e RJ^ Sr. Bispo de Beja, por Domingos Alves Branco
Moniz Barreto y Tenente Coronel do regimento de cavallaria
auxiliar da capitania da Bahia. >
Manuscripto em 4.^, com cousa de 100 £1. sem nume-
ração, na Bibliotbeca Eborense.
A dedicatória he datada de Lisboa, a 2 de Janeiro de
1790.
Parece que ha outro exemplar na Bibliotbeca Real do
Palácio da Ajuda.
N.°37
Duarte Barbosa
Escreveo :
a Livro de Duarte Barbosa. »
Esta importante obra, com este próprio titulo, foi im-
pressa a primeira véz em Portuguez na Collecção da Aca-
demia Real das Sciencias de Lisboa, no tom. 2.^ em 4.%
anno 1812, num. vii. Contém a breve descripção dos prin-
cipaes lugares, e portos de mar, desde o cabo de S. Se-
bastião, próximo ao da Boa Esperança, até aos Lequios,
ultimo termo então conhecido dos navegadores Portugue-
zes, com a noticia dos povos que os habitão, e seus cos-
tumes, do seu trafico, das suas mercadorias, lugares
aonde nascem, e para onde se conduzem, &c., tudo aca-
bado de escrever pelo auctor em 1516.
Parece-nos escusado acrescentar aqui cousa alguma ao
que desta obra, e do seu auctor disse Barbosa Machado
na Bibliotheca Lusitana, e o douto académico, que es-
creveo a Introducção, que precede a obra, no citado vo-
lume da Academia. Somente julgámos conveniente notar
duas cousas :
1.* Que temos por pouco exacta a noticia de haver
Duarte Barbosa sido morto com veneno; pois o contrario
89
se deduz do Roteiro da Viagem de Magalhães, ha pouco
publicado pela Academia na referida Collecção, e da Carta
de Maximiliano Traussilvauo, que lá mesmo, em nota,
apontámos.
2.^ Que na livraria dos monges de S. Bento da Saúde
desta cidade de Lisboa existia outro exemplar da cbra de
Duarte Barbosa, escripto no século xvi, postoque imper-
feito, do qual já também fizemos menção na introducç3o
ao Roteiro de Magalhães ^ quando o apresentámos á Aca«
demia, e lhe demos conta do modo, com que tínhamos
procedido em tirar a sua cópia, e nas notas que lhe ajun-
támos. Aquelle exemplar manuscripto deve hoje conser-
var-se no Depósitos de livros, ác, no convento de S. Fran-
cisco da Cidade.
N.» 38
Duarte Lopes
Este Portuguez passou de Portugal ao Congo em 1578.
Passando a Roma em 1 589 para procurar alguns soccorros
aos missionários, que estavão em Africa, foi acolhido por
António Migliore, Bispo de S. Marcos, e Conunendador
do Santo Espirito. Este deo ordem a Pigaffeta para ouvir
as Relações de Lopes, e as pôr por escripto. Lopes expli-
ca va-se em Portuguez, e Pigaffeta escrevia em Italiano.
Estas Relações imprímírSo-se com este título :
€Relatione dei Reame di Congo, et delle circonvicine
contrade, tratta dalli scrittiy et ragionamenti di Odoardo
Lopez Portugheze : perFilippo Pigaffeta. Con disegni vari
di geografia, di piante, d'habiti, d'animali, et altro. Al
molto illustre eRJ^ Monsignore António Migliore, vescovo
di S. Marco, et commendatore di S. Spirito, in Roma,
appresso Bartolomeo Grassi», em 4.° (Sem data de anno,
mas a epistola dedicatória he de 7 de Agosto de 1591.)
Vem esta obra na 1 .* part. da Collecção das pequenas
viagens, com o titulo :
30
€Regnum Congo, fioc e$f, vera descripfio rpgnp AfH'
caniy quod tam ab incoliSy quam fMsiimis Congus appel-
Iqtur. . . Francofurti, Wolffgangm Richfer, 1698. »
Mr. Gamus na Memoria, que já citámos, sobre a CoU
kpçj^O 4^^ grandes e pequenas viagens ^ Paris 1802, 4.®,
f^la 49 referido origiDal. Diz, que a Relação de Pigaffeta
fqi traduzida do Italiano para o Inglez, e impressa em
LfOndres, em 1597, em 4.^: que também se imprimio em
Hoilandez, em Amsterdam, ^658, 4.°: e que Agostinho
C^ssjodoro Reinio, que outros chamão de Reyna, he o
auçtor ,das traducções Latina, .e AUemãa, que se mettérão
nas collecções dos irmãos de Bry. . . Que o Abbade Pré-
vost |ez conhecer a pessoa de Duarte Lopes, e a Relação,
escripta por Pigafifeta : e que os extractos da descripção
de Lopes são de grande interesse na historia das viagens,
por isso mesmo, que são comparados por Prévost com
as Relações dos viajantes, que tem estado em Africa de-
pois ^e IfOpes.
Pigaffeta conclue a sua Relação annunciando aos que
desejarem novas illustrações sobre o Congo, e em parti-
ci^lar sobre as origens do Nilo, que Lopes vinha de em-
bfircar-§ç paf a.o.Çongo ; mas que promettia voltar a Roma
o m?is br.eyp que lhe fosse possível. Depois porém desta
épqçp não houve mais notijçia delle.
A Relação de Lopes he a mais antiga, que temos do
QQn^o, e por isso mesmo recommendavel. EUe assegura
que as fontes do Nilo não sahem dos montes da hm, mas
dç (err^s ^piais remotas para o meio dia. Os objectos
que descreve pertencem á historia natural e civil do
CoBgo, ác.
^ tra^ucçãp Ingleza tem este titulo :
<í Pigafifeta QPh.) Report of the Kingdom of Congo, in
Africa, ^a^^^ of.the Countries ffiat borier the same, besides
tfie Çescription of divers plants, fishes, and beastes,
translat. by Abr. HartweL 1697 1^, em 4.^
9mvr!ifi de Sjmde
Esweveo :
€fHnerariç ,dos Princpp.es ^of^s d Etirçpa* JtfW^^ff-
1689. i^
Vem notado este Itiaerarip no Catalogo ^os JiVjTqs, ^ue
Bluteau diz que lera para a composição do seu Vocabu-
lário.
^.Relação da China para o P. Preposito Geral. »
^Itinerário dos Príncipes de Japão, que delle partirão
para Roma no an. de 1584. »
m
Duarte de ftezende
Este Portuguez era Escrivão da Feitoria Portugu^eza.^e
Ternate, quando appareceo naguella^ iljjias a armada de
Fernam de Magalhães em 1521. Depois ^os vários suc-
cessos da armada, hindo anáo rrmdade arribada á mesma
ilha de Ternate, e dando ahi mesmo á cqsta, vi,er5o os^p^-
peis da náo ás mãos de Duarte de Rezende, que delles
extrahio hum Tratado da navegação de Fernam de Ma-
galhães, manuscripto ofiferecido a João de Barros, como
este escriptor refere na dec. 3.^ liv. 5.**, cap. 10.*^ Pôde
ver-se o que escrevemos na Prefação ao Roteiro de Ma-
galhães, publicado na Collecção da Academia Real das
Sciencias, de que tantas vezes temos falado.
N.Ml
Egídio Titerbense
Augustiniano. Escreveo:
ff Historia latina do descobrimento da índia e propor
38
gação da Religião Chrístãa naquellas partes por elRei
D. Manoel^ e a elle dedicada. »
Manuscripto, em 8.®, sem numeraçSo.
Parece original, magnificamente escripto em bello per-
gaminho, e encadernado com luxo. Começa a dedicatória :
€Sero tandem ad te Rex optime », &c.
Na Bibliotheca Publica Eborense.
N.« 42
fil-Rei D. Kanoel
Yi, e tive em minba mão hum opúsculo em 12, que
julgo ser raro, e tem por titulo :
<i Epistola Serenissimi Regis Portugalie ad Julium pa-
pam secundum de victoria contra infideles habita. Venun-
dantur Parrhysiis in Palatio Régio a Guillelmo Eustace
sub tertio Pilari. »
Por baixo deste titulo tem no fundo da pagina em letra
demao «m.d.fíi».
A Carta de el-Rei he datada: <iEx oppido Abrantes xxv
Septembris m. d.vili^
N.» 43
Esteyão Lopes (Padre)
Escreveo :
^Copia da Relação do P. Estevão Lopes da Companhia,
da entrada (?) do embaixador da China Francisco Xavier
de Assis Pa4:heco em 1762. »
Em 3 pag. de foi., manuscri]}to.
Existe na Bibliotheca Eborense.
N.'»44
EsteYão Soares de lello
Foi senhor da villa de Mello, e lá nasceo : prezou muito
33
as sciencias, e deo-se particularmente ás mathematicas.
Vivia pelo meio do século xvii, e sérvio na guerra da
acclamação. Escreveo:
« Tratado de Cosmografia universal. »
Manuscripto de que dá noticia o auctor da Historia Ge-
nealógica no ApparatOy e que não julgámos alheio do
nosso intento nestes apontamentos.
N.*45
Félix de Jesns (Fr.)
Escreveo :
^Primeira Parte da Chronica eJRelação do principio
que teve a congregação da ordem de S, Agostinho nas ín-
dias Orientaess ác. Escripta pelo P. Fr. Félix de Jesus. . .
Dirigida ao illustrissimo e reverendissimo Senhor D. Fr.
Agostinho de Castro, Digníssimo Arcebispo de Braga, e
Primaz das Hespanhas. »
Manuscripto, na Bibliotbeca Eborense, com 93 fl., sem
numeração. Â dedicatória he datada de Goa a 15 de Ja-
neiro de 1606.
N.«46
Fernão Gomes de Lemos
Sendo mandado pelo grande Âffonsò de Albuquerque
por Embaixador ao Xeque Ismael (Shek Ismael), Rei da
Pérsia, muito betn acompanhado, cumprio dignamente
esta honrosa commissão, da maneira que escreve Casta-
nheda no liv. 3.°, cap. 143'.°, e seguintes, e voltou á índia.
Escreveo a Relação do seu caminho e embaixada em hum
livro, que mandou a el-Rei D. Manoel, como elle mesmo
lhe diz na Carta escripta de Cochim a 4 de Janeiro de 1517,
a qual se acha original no Real Arquivo da Torre do Tombo .
no Corpo Chronologico, part. 1.% maç. 21, num. 4.
TOMO VI 3
34
N.'47
Fernão Guerreiro
Escreveo:
€Relaçam annal das comas qm fizeram os Padres da
Companhia de Jesus nas partes da índia Oriental, e em
algumas outras da conquista deste reyno nos annos de
607 e 608 j e do processo da conversão e christandade dor
quellas partes^ com mais huma addiçam á relaçam de
Ethiopia^
c Tirado tudo das cartas dos mesmos Padres, qm de lá
vier ao, e ordenado pelo Padre Fernão Guerreiro da Com-
panhia de Jesuy natural de Almodovar de Portugal.
€ Yai dividida em cinco livros.
c o primeiro da provinda de Goa, em que se contém as
missões de Manomatapa, Mogor, e Ethiopia.
tiO segundo da provinda de Cochim, em que se contém
as cousas do Malabar, Pegú, Maluco.
€ O tercdro das provindas de Japam, e China.
<K O quarto em qm se referem as cousas de Guiné e
Serra Leoa.
c O quinto em que se contém huma addição d relação
de Ethiopia.
c Com licença da Sancta Inquisiçam, Ordinário e Paço.
Em Lisboa: impresso por Pedro Craesbeeck. AnnoMocxi»,
em 4.° (Raro.)
Do Padre Fernão Guerreiro, Jesuíta, diz o Padre Cor-
deiro, na Historia Insulana, que fora natural de Almo-
dovar, na província do Alemtejo, Secretario da Província
de Portugal, Vice-Preposito da Gaza de S. Roque, e que
compozera as Cartas Anntmes do Oriente, e em S. Roque
faUecêra. Foi o primeiro, ou hum dos primeiros supe-
riores do Gollegio Jesuítico de Ponta Delgada na ilha de
S. Miguel, fundado pelos annos de 1591.
Yej. Historia Insulana, liv. S.'', cap. 21.''
Escreveo mais :
^Relaçam annal da» cotisas qtíe fezeram os Padres da
Companhia de Jesus nas partes da índia Oriental, e no
Brasil, Angola, Caboverde, Guiné nos annos de seis cen-
tos e dous, è seis centos e tres^ e do processo da conver-
sam, e christandade daquellas partes, tirada das Cartas
dos mesmos Padres, que de lá vieram. Pelo padre Fernam
Guerreiro da mesma Companhia, natural de Almodouuar
de Portugal. Vay diuidido em quatro liuros. O primeiro
de Japa. Onda China, e Maluco. Omáa Índia. O mi do
Brasil, Angola, e Guiné.
€Em Lisboa: per Jorge Rodrigues impressor de liuros.
Anno M.D.cvi^, 4.^
Fernão Lopez de Castanheda
Foi natural de Santarém. Quando o Governador Nuno
da Cunha foi governar a índia em 1528, foi Fernão Lopez
cm companhia de seu pai, o licenciado Lopo Fernandez
de Castanheda, que hia ser Ouvidor da cidade de Goa.
Voltando a Portugal doente, e pobre, acceitou servir na
Universidade de Coimbra os oflQcios de Bedel da Facul-
dade das Artes, e Guarda do Archivo. Tanto na índia
como em Portugal^, tendo resolvido escrever a Historia
do descobrimento, e conquista daquellas terras orientaes,
nSo cessou de informar-se de tudo, e de todos os que
podiSo dar^ihe noticias certas do acontecido até então,
que era espaço de cincoenta annos, fazendo para isto
largas despezas disso pouco que tinha (como elle mesmo
se explica), gastando nestas indagações vinte annos, o
melhor tempo de sua idade ; e sendo sempre tão perse-
guido da fortuna, que por n5o ter outro remédio com
que se mantivesse, aceitou os officios que dissemos, &c.
Escreveo a ^Hisíoria da descobrimento, e conquista da
36
índia pelos Portuguezes^, que dividio em 10 livros, dos
quaes somente se imprimirão 8 ; a saber :
O i.° livro foi impresso em 1661, em 4.®, de qife não
sabemos, que exista exemplar algum. Foi porém reim-
presso, emendado, e acrescentado pelo próprio auctor
com este titulo :
«i/o livro primeiro dos déz da Historia do descobri-
mento e conquista da índia pelos Portuguezes, Agora
emendado, e acrecentado. E nestes dez livros se contêm
todas as milagrosas façanhas, que os Portuguezes fizerão
em Ethiopia, Arábia, Pérsia, e nas índias, dentro do
Ganges, e fora dèlle, e na China e nas ilhas de Maluco,
do tempo que dom Vasco da Gama conde dá Vidigueira,
e almirante do mar Indico descobrio as Índias, até d
morte de dom João de Castro, que lá foy governador, e
visorey. Em que se contém espaço de cinquoenta an-
nos.T»
No fim:
€Foy impresso este primeiro liuro da Historia da ín-
dia em a muyto nobre e leal cidade de Coimbra por João
da Barreira, impressor dei rey na mesma vniuersidade.
Acábou-se aos vinte dias do mes de Julho. De M.D.Limi», foi.
O 2.® livro sahio com este titulo:
iíHistoria do Livro Segundo do descobrimento, e con-
quista da índia pelos Portuguezes, feyta per Fernão Lo-
pez de Castanheda. »
No fim :
0iFoy impresso este segundo liuro da historia da índia
em a muyto nobre e leal cidade de Coymbra por João de
Barreira, e João Aluarez, empressores dei rey na mesma
vniversidade. Acábou-se aos vinte dias do mes de Janeiro.
de M,D,LU'» , [o\.
O 3.® livro sahio á luz com este titulo:
«jÉfo terceiro livro da Historia do descobrimento, e con-
quista da índia poios Portugueses, feito por Fertião Lo-
37
pez de Castanheda. Com priuilegio Beal, Em Coimbra.
M.D.Lm, foi.
No fim:
dFoy impresso este terceiro liuro da historia da índia
em a muyto nobre e leal cidade de Coimbra, por João de
Barreyra, e João Altmrez, empressores delrey na mesma
vniversidade. Acabou-se aos doze dias do mes Doutubro.
De M.D.Ln. D
O 4.® e 5.® livros sahírSo com este titulo:
a Os Livros quarto e quinto da Historia do descobri-
mento e conquista da índia pelos Portugueses. Com pri-
uilegio Real. M.D.Lin, »
No fim:
€Acabou-se de empremir a presente obra per João dà
barreira, e Joã aluarez em a muyto nobre e sempre leal
cidade de Coimbra. Aos xv. dias do mez de Outubro de
M.D.liiii^y foi.
O livro 6.° tem este titulo:
«íTo sexto liuro da Historia do descobrimento e con-
quista da índia poios Portugueses. Feyto por Fernão Lo-
pez de Castanheda. Impresso em Coymbra. Com priui-
legio Real. M.D.Lnui>, foi.
No fim:
^Aqui faz fim ho seysto libro da historia do descobri-
mento e conquista da índia pelos portugueses. Feyto por
Fernão Lopez de Castanheda. E impresso em a muyto
nobre e sempre leal cidade de Coymbra, per João de bar-
reira, empremidor da vniversidade. Acabou-se aos iij dias
do mes de Feuereiro de M.D.Lnn. »
O 7.® livro sahio com este titulo:
€Ho sei timo livro da historia do descobrimento, e con-
quista da índia pelos Portugueses. Feyto por Fernã Lo-
pez de Castanheda. Com priuilegio Real. Í554», foi.
O 8.^ livro tem este titulo :
« Ho octavo livro da historia do descobrimento, e con-
68
quista da índia pelos Portuguezes. Feyto por Fernão Lo-
pez de Castanheda, que Deos tem. Impresso em Coimbra.
Com Real Priuilegio. m.d.lzijí^ foi.
No fim:
€Foy impresso este Octauo liuro da historia da índia
em a muyto nobre e leal cidade de Coimbra^ por João de
Barreyra, impressor dei Rey na mesma miiuersidade.
Acabou-se aos vintaseys dias do mes Dagosto de 1661.
ânuos. 9
Reimprimio-§e o 1 .** livro da Historia da índia de Cas-
tanheda, em 2 yol. de 8.^ Lisboa^ na officina de Simão
Thaddeo Ferreira^ 1797, por empreza (lo Professor Fran-
cisco José dos Santos Marrocos, que não continuou a pu-
blicar os outros livros.
Reimpriípirão-se porém todos os oito livros com o ti-
tulo :
^Historia do Descobrimento e Conquista da índia pelos
Portugueses: por Fernão Lopez de Castanheda. Nova edi-
ção. Lisboa. M.Dcccxxxm. Na Typographia RollandianaJ^
(que correm juntos, e distribuídos em 8 vol. de 4.°).
Esta edição be exactissimamen^e feita segundo as edi-
ções originaes, que acima vão descriptas, e pdde ter-se
como fiel cópia delias. Parece que foi formada sobre o
exemplar da Real Bibliotheca da Ajuda.
Em hum Catalogo de livros, impresso em Londres,
achámos notada a existência de outro exemplar completo
em õ voL, foi., fazendo-se grande elogio a esta Historia,
e em prova ou testemunho delle as notáveis palavras de
Meuselio:
aOpus rarissimis adscribendum. Mjínore quidem aucto-
ritate Castagneda, quam Barros; frui tamen majore di-
gnus praedicatur, licet admodum verbosus, et minutia-
rum studiosus sit. »
E com efieito nos parece acertadíssimo este breve, mas
judicioso conceito do escriptor, se se attender com es-
89
pecialidade á fidelidade, imparcialidade, e exacçSo de
Fernão Lopez, que nestas virtudes nos não parece de
modo algum inferior a Barros, postoque o seja no estylo.
Emquanto á nota que se faz a Castanheda de verboso e
minuciosoj sem querermos negar de todo esta espécie de
defeito, limitámo-nos a dizer, que para o leitor Portuguez
não be inútil a miudeza da narração de Fernão Lopes,
aliás demonstradora da diligencia, e cuidado, que elle
poz em suas indagações, e informações antes de começar
a escrever.
Pelo próprio Fernão Lopez, no prologo do 3.° livro,
sabemos que o 1.^ livro foi logo traduzido em Francez
por Mestre Nicoláo (Grouchi), que cá foi Lente de Artes
no Collegio Real de Coimbra, e impresso em França, como
se diz no prologo do 7.® livro.
Deste ultimo prologo consta também, que então se im-
primia em Itália o que já estava publicado da obra.
E finalmente achámos mencionada huma traduccão em
língua Castelhana. •
Os dous livros 9.° e 10.®, que completavão o trabalho
de Castanheda, e que estavão promptos para a impressão,
parece que não chegarão a imprimir-se, e não sabemos
que existão manuscriptos.
N.«49
Fernão Mendes Pinto
Foi natural de Montemor o Velho. De dez, oudozeannos
foi levado a Lisboa, quando se quebravão os escudos pela
morte de el-Rei D. Manoel, como elle mesmo diz; pelo
que parece que nasceo em 1509, ou em 1511. Partio
para a índia em 1537, e peregrinou por todo o Orienta
vinte e hum annos, recolhendo-se ao reino em 1658, de-
pois de ter passado os extraordinários, e maravilhosos
casos que elle refere. Escreveo:
40
fLPeregrinaçam de Fernam Mendes Pinto. Em que dá
conta de muytas, e muyto estranhas cousaSj que viOj e
ouvio no reyno da China^ no da Tartaria, no do Sornaii^
que vulgarmente se chama SiãOj no de Calaminhan, no
de Pegúj no de Martavão, e em outros muitos reynos, e
senhorios das partes Orientais^ de que nestas nossas do
Occidente ha muyto pouca ou nenhuma noticia.
« E também dá conta de muytos casos particulares^ que
acontecerão assi a elle, como a outras muytas pessoas.
E no fim delia trata brevemente de alguas cousas^ e da
mxyrte do santo Padre mestre Francisco Xavier ^ única luz
e resplandor daquellas partes do Oriente^ e Reytor nellas
universal da companhia de Jesus.
fL Escrita pelo mesmo Fernam Mendes Pinto.
^Dirigido d Catholica Real Magestade delRey dom Fe-
lippe o IIL deste nome nosso Senhor.
€Com licença do Santo Officio, Ordinário j e Paço. Em
Lisboa. Por Pedro Craesbeeck. Anno 1614y>, foi.
Sahio segunda vez em Lisboa, 1678, por António Craes-
beeck de Mello, foi.
Terceira vez no oflSicina de José Lopes Ferreira, 17H.
Quarta na oflSicina Ferreiriana, 1725.
Quinta na oflSicina de João Aquino de Bulhões, 1762.
Todas em Lisboa, e em foi. Cada huma porém destas
segundas edições alterou arbitrariamente tanto o titulo da
obra, como as palavras e frases da edição original, a sua
orthografia, ác.
Ultima e recentemente se reimprimio, copiando exacta-
mente a edição princeps, e pondo á frente delia este fron-
tispício :
€ Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Nova edição j
conforme á primeira de 1614. Lisboa. Na Typographia
Rollandiana. 1829 t>, 4 vol. em 12.
Dos quatro volumes porém, de que ccwista esta edição,
o ultimo consta de opúsculos, que não pertencem a Fernão
4i
Mendes, mas que em outras edições delle se tinhSo ajun-
tado, como peças pequenas, que tratão de cousas da Ásia.
Taes são as Viagens de Tenreiro, o Tratado sobre as cousas
da China de Fr. Gaspar da Cruz, ác, de que falámos em
seus próprios artigos.
Podemos asseverar, que esta edição Rollandiana se deve
ter como exacta, e fidelíssima cópia da edição primeira,
não podendo desejar-se maior escrúpulo no seu editor.
Deve a lilteratura Portugueza este serviço ao Ex."" e
Rev.°° Arcebispo de Lacedemonia, o Dr. António José
Ferreira de Sousa, já fallecido.
Francisco Alcoforado
Alguns antigos escriptores falando do descobrimento da
ilha da Madeira, dizem que fora na expedição Francisco
Alcoforado, e que a descrevera depois em huma exacta
Relação.
O douto fidalgo D. Francisco Manoel, na sua Epana-
fora 3." Amorosa^ tratando do descobrimento da ilha da
Madeira, diz que Francisco Alcoforado foi na expedição
dos descobridores, e a descreveo, e nomeando outros que
se derão a hum semelhante trabalho, acrescenta :
9. Antes e melhor que todos Francisco Alcoforado, escu-
deiro do Infante D. Henrique, fez de todo o successo huma
Relação, que offereceo ao mesmo Infante, tão cheia de sin-
gelleza como de terdade, por ser hum dos companheiros
neste descobrimento, a qual Relação original eu guardo,
como jóia preciosa, vindo d minha mão por extraordi-
nário caminho j>, &c.
N.-51
Francisco Alvares (Padre)
Foi natural de Coimbra, e Capellão de el-Rei D. Manoel.
Quando pela morte de Duarte Galvão, Embaixador á
w
Etbiopia» faliêcido na ilba de Gamaram em 1517, foi sub-
stituído para a mesma Embaixada D. Rodrigo de Uma,
ficou como Capellão da Embaixada o Padre Francisco Al-
vares* que já com esse titulo tinba acompanhado o Gal-
vão. Em 1520 entrarão com effeito na Âbyssinia, aonde
o Padre Alvares se conservou por alguns annos. Escreveo,
ou deixou Memorias para se escrever :
€ Verdadeira Informação das terras do Preste JoãOs se-
gundo vio, e escreveo ho Padre Francisco Alvares, ca-
peUão de elRei nosso Senhor. Lisboa. 1540 j>, foi., goth.
He obra mui rara, de que ha hum exemplar na Biblio-
theca Episcopal de Évora, e outro no Museo Britannico
em Londres.
Achámos notado, que esta Relação fora traduzida nas
linguas Castelhana, Franceza, eitahana: e nesta ultima
lingua â inserío Ramuzio na sua CoUecção impressa em
Veneza em 1 550 com o titulo :
ff Viãgêfn d Ethiopia por Francisco Alvares, i
Ahi mesmo vem, e se lhe attribue a obediência ao Papa
Clemente Vil em nome do Preste João, escripta em 1524.
A fteláção de Alvares se tem repetido nas seguintes edi*
coes de Ramuzio de 1563, 1606, ác, de cuja coUecção
di2 Camus, que he preciosa, e estimada dos eruditos, e
fazendo a resenha das peças inais importantes, que nella
se achão, conta neste numero as Viagens de Alvarez na
Ethiopia, ác.
No Real Arquivo da Torre do Tombo, no Corpo Chrú-
nologico, part. I.*, maç. 23, num. 6, se acha huma Carta
original do Padre Francisco Alvares, escripta de Cochim
a el-Réi D. Manoel, a S de Janeiro de 1518, em que lhe
dá breve relação do que até então se tinha passado nà
Embaixada; das discórdias entre Duarte Galvão, e o
Embaixador de Ethiopia Mattheus, e causas delias; e da
morte de Galvão na ilha de Gamaram, &c.
O Padre Francisco Alvares trouxe a Goa os ossos ãe
ti
Duarte Galvio, que depois forio transportados a Portugal
por António Galvão, filbo de Duarte.
Francisco de Andrada
Natural de Lisboa. Por Alvará de 34 de Julho de 1 599
lhe deo el-Rei D. Filippe II de Portugal, o lugar de Cbro-
nista-mór, de que já mcalmeníe o tinha encarregada el-
Rei seu pai em 1693, para continuar as Ghronicas de
D. João -III, D. Sebastião, D. Henrique, e de el-Rei seu
pai D. Filippe I de Portugal. Nesse mesmo tempo lhe deo
el-Rei a Superintendência da Torre do Tombo, e o fez do
seu Conselho. Mas não consta que tivesse Carta de Quar-
damór da Torre, constando que exercitara aquella Su-
perintendência pelo menos até o anno 1606, em que se
acha huma certidão expedida pelo Real Arquivo, no mez
de Novembro, e assignada por Luiz Ferreira de Azevedo,
Guarda-mõr, e do Conselho de el-Rei, e por Francisco
de Andrada, Superintendente da Torre. Escreveo a Chro-
nica de el-Rei D. João lII, em que se contêm muitos suc-
cessos das nossas conquistas de Africa, e Ásia, dcc, e além
disso escreveo também :
€ O primeiro Cerco, que Turcos poserão ha fortaleza
de Diu nas partes da índia, defendida pelos Portuguez^^.
Coimbra. 16899, em 4.® (Poema em vinte cantos.)
^Commentarios da memorável e gloriosa victoria, que
08 Portuguezes ouverão a 2 de Setembro de 1694 contra
o poderoso exercito do Inizamaluco, escritos de mandado
de S. Mag. por Francisco de Andrada do seu Conselho, e
seu Chronistormór. »
Estes Commentarios, que não vem notados na Biblio-
theca de Barbosa Machado, achão-se entre os Códices ma-
nuscriptos da Bibliotheca Apostólica Vaticana, e vem corao
taes indicados no índice dos escriptos relativos a Portugal
44
desde o anno ii20 até 1744, referindo-se ao vol. il.® da
Miscellanea Lusitana, que existe na Bíbirotheca Real do
Palácio da Ajuda.
N.-53
Francisco Cardim (Padre)
Escre veo :
9. Relação das províncias do Japão j Malaban>, ác.
Vem notado pelo Padre Bluteau entre os livros que leo
para a composição do seu Vocabulário.
Francisco . . . Coelho
Escreveo:
€Descripção da costa de Guiné desde Cabo-verde até
Serra-leôa. Offerecida ao Capitão-General de Cabo-verde
Manoel da Costa Pessoa, em data de 8 de Setembro de
1669 j por Francisco . . . Coelho. »
Manuscriplo, na Bibliotheca Publica de Lisboa.
N.-55
Francisco da Gama (D.)
Conde da Vidigueira. Escreveo:
fL Relação do que lhe aconteceo na viagem da linha até
Moçambique. »
Manuscripto, na Bibliotheca Real de Madrid.
N.*^ 56
Francisco Lainez (D. Fr.)
Natural de Lisboa. Escreveo :
€Defensio Indicarum Missionam Madurensis, May-
surensiSj et Camatensis edita occasione decreti ab III.'^'*
Domino Patriarcha Antiocheno D. Carolo May lar d de
Tournon Visitatore Apostólico in Indiis Orientalibus lati. »
48
N." 57
Francisco de Lemos
Foi Capitão Da cidade e ilha de Santiago, capital das de
Cabo Verde. Escreveo :
^Descripção da costa de Guinés e situação de todos os
portos, e rios delia y e roteiro para se poderem navegar
todos seus rios, feita pelo capitão Francisco de Lemos em
S. Tiago de Cabo-verde no anno de 1684. »
Manuscripto, na Bibliotheca Publica de Lisboa.
N.«58
Francisco Manoel (D.)
He tão conhecido entre nós este fidalgo Portuguez, e
distincto litterato do século xvii, que nos dispensa de fa-
zer aqui o extracto abreviado da sua vida, serviços, in-
felicidades, e escriptos. Diremos somente, que entre os
seus numerosos escriptos, tanto impressos, como ma-
nuscriptos, pertencem ao nosso especial assumpto os se-
guintes:
iiDo descobrimento da ilha da Madeira p (de que elle
mesmo fala nos seus Apologos Dialogaes, e he nas £jpa-
naforas impressas a 3.% que elle denomina Amorosa).
Lisboa, 1660 e 1676, 4.^
ft Relações históricas da expedição dos Lusitanos em
America » (de que elle também fala nos referidos Apologos
Dialogaes, pag. 408, e de que não temos outra noticia).
« Da Recuperação de Pernamhv/co » (de que dá noticia
no mesmo lugar, e he a Epanafora 5.% que denomina
Triunfante). Lisboa,. 1660 e 1676, 4.°
« Relaciones dei Oriente » (que vem entre as obras não
estampadas, históricas, no Catalogo impresso no l.^tom.
das Obras Moraks). Roma. 1664.
48
N.* 59
Fraifdgeê Pereira 4e Hâgalhies
Escreveo :
< Diário de huma viagem a Hfoçambique em 1744 por
Francisco Pereira de Magalhães. »
Mântfscripto, em Q., na Bibliotbeca Publica de Lisboa,
D. 4. 7.
frafitíseo ie âonsa^Táyares
Escreteo:
« Tratado dos descobrimentos maritimos dos Portugue-
zesiíj que se imprimio posthumo em 1563, segundo diz
o auctor do Agiologio nas notas ao dia 1 1 de Março, e
também :
(s Tratado de Malucos, em 10 livros, que passou (diz
6 mesmo auctor) a Damião de Góes, e se perdeo.
De hum Francisco de Sousa Tavares, na índia, em
tempo do Governador Nuno da Cunha, faz algumas vezes
menção Castaínheda, Hv. 8.**
O objecto de ambos os Tratados, e a impressSo do pri-
meiro em 1563, fez-nos suspeitar se haveria equivocaçSo
do auctor do Agiologio, confundindo este Francisco de
Sousa com GalvJo, e suas obras.
N.-61
Francisco Xavier da Roa (Prior de Re^eixo)
Escreveo :
€'Relação da Embaixada, e do qm por respeito deUa
suceedeOy que ElRey N. S. D. João o 5/ no anno de 1726
mandou ao Emperador da Tartaria e China, cujo rei-
nado era lum-Chim. »
He hum vol. manuscripto em fl., que tenho, e adquiri
neste anno de 1843.
Tem no fim:
€Breve e Sumaria noticia ie algumoê cousas perten-
centes ao Império da China, i»
Tem a data de
€ Lisboa Ocdd. aos 10 de Uarço d$ 1729. »
E logo
« Francisco Xavier da Rua, Prior de Requeyxo a fez. »
N.' 08
Gabriel de Magalhies (Paidre)
Este Padre nasceo do anno de 1609, de país nobres^ e
pios, e da mesma família de que tiaha sabido o famoso
navegador Fernão de Magalhães.
Aos dezeseis annos de idade entroQ na Companhia de
Jesus, em cujos estudos tinha sido educado. Pretendeo
com empenho ser enviado ás missões orientaes: e ha-
vendo chegado a Goa em 1634^ foi, dous annos depois,
mandado á missão do Japão. .
D'ahi passou á China, e a correo quasi toda desde 1640
até 1648. Neste anno se estabeleceo emPekim, aonde es-
teve quasi vinte e nove annos até íu) seu fallecimento, que
foi ém 1677, e não obstante ter padecido graves persegui-
ções, mereceo a particular affeição do Imperador, que até
na sua morte honrou com distinctas demoastrações a sua
memoria. O conhecimento, que tinha adquirido da» cousas
da China, o moveo a escrever hum Tratado, a qoe deo ot
titulo de ^
aDoze excelkncias da China. »
Este Tratado veio ás mãos do Cardeal d'EstFées, o quai
o fez traduzir, e publicar com este título :
aNouvelk RelaHon de la Chine, contenatU ia desmi^
ption des particularités lesplm consideraèka de Of^ grana
Empire. Composée en Vannée 1668 par k R. P. Gabriel
de MagaiUanSj de la compagnie de Jantf> mismnmre
48
apostolique. Et íraduite du Portugais en François, par le
S/ B.— A Paris . . . chez Étienne du Castin. 1690», 4/*
O traductor ajnntoo muitas notas suas, que iliustrão,
e explicao alguns lugares de Magalhães^ e trazem impor-
tantes notícias do império Gbinez. Desta obra se coliigem
também outros escriptos de Magalhães, especialmente os
seguintes:
1.® €Alphabeto Tártaro »j que o nosso escriptor pro-
mettia dar, o que não cumprío por não dar a ultima mão
á sua obra. (Yej. pag. 6 e 33.)
2.^ « Relação das ac0es do famoso tyranno Chãm hiém
chum» de que o Padre Martini deixou huma cópia em
Roma, e outra no Collegio de Coimbra. (Vej. pag. 44 e 67.)
3.® ^Tratado das letras e da Ungua Chineza para os
qm vem pregar a este Império». (Vej. pag. 84 e 91.)
Concluo a obra com o
€Abrégé de la vie et de la mort du R. P. Gabriel de Mor
gaillans . . . par le R. P. LouisBuglio, son compagnon insé-
parable durant 36 ans, et envoyé de Pekim Van. 1677. »
N.'63
Gabriel Soares de Sonsa
Natural de Lisboa, de nobre geração. (Vej. Barbosa,
Bibliotheca Lusitana.) Escreveo:
^Roteiro geral com largas informações de toda a costa,
que pertence ao Estado do Brasil, e descripção de muitos
lugares delle, especialmente da Bahia de todos os Santos.»
Consta (diz Barbosa) de dous Tratados. O primeiro com-
prende 74 cap., e o segundo 196, o qual tem por titulo:
fL Memorial, e declaração das grandezas da Bahia de
todos os Santos, da sua fertilidade e das notáveis partes
que tem. » (Manuscripto em foi.)
Conserva-se na Bibliotheca Real (diz ainda Barbosa),
dedicado a D. Chrístovão de Moura, em o anno de 1587.
49
Desta obra, e seu auctor, fazem memoria Pedro de Mariz,
Diálogos de varia historia, cap. 5.®, fl. 36, e o moderno
addicionador da Bibliotheca Geográfica de António de
Leão, tom. 3.°, col. 1710, aonde escreveo compozera Ga-
briel Soares :
€ Relação do descobrimento das Esmeraldas, i» (Manu-
scripto.)
Pelo que deixámos copiado de Barbosa, se vé qual he
o verdadeiro auctor, e titulo da obra, que com titulo di-
verso, e sem nome de auctor, se imprimio no tom. 3.^ da
Collecção de Noticias para a historia e geografia das na-
ções ultramarinas da Academia Real das Sciencias de Lis-
boa, part. 1.*, num. 1. Lisboa, 1825, em 4.® A epistola
dedicatória, que vem no impresso da Academia com a
data do anno de 1589, tem em Barbosa o anno de 1587»
e este mesmo anno be o que lia o Padre Manoel Ayres de
Gazal, auctor da Corografia Brasilica, no exemplar ma-
nuscrípto de que usou.
O Sr. Francisco Adolfo de Varnhagen, erudito man-
cebo, de quem a litteratura pôde conceber mui vanta-
josas esperanças, noloii os referidos erros do exemplar,
de que a Academia se sérvio para a sua edição, e recti-
' ficou muitos outros, que nella se achão, em hum Tratado,
manuscripto, que com grande, e generosa bondade me
communicou, e a que pôz este titulo:
€ Reflexões Criticas sobre hum escripto do Sec. 16 j que
foi impresso em 1826 com o titulo de ^Noticia do Brasil »
no tom, 3. da Collecção de Noticias para a historia e geo-
grafia das Nações ultramarinas, que vivem nos dominios
portuguezes, publicada pela Academia Real das Sciencias
de Lisboa: onde se pretende dar informações circurnstan-
ciadas sobre esta obra e seu auctor; mostrar que havia
adulterações no manuscripto que guiou a sua impressão,
e apresentar algumas correcções. Seu auctor Francisco
Adolfo de Yarnhagen. 1838. » (Manuscripto em 4.^)
TOMO VI . 4
BO
N/64
Garcia d'0i1a
Yi a edição original da soa obra com este titulo :
« Colóquios dos simples e drogas, he comas medicinaiê
da índia, e assi d'alguas frutcts achadas nella, onde se
tratam alguas comas tocantes d medicina, pratica, e ou-
tras camas boas, pêra saber, compostos pello Doutor gar-
çia dória: físico delRey nosso Senhor, vistos peUo muyto
Reuerendo Senhor, ho licenciado Alexos Dias falcam,
desenbargador da casa da Supricaçam inquisidor nestas
partes.
•Com priuilegio do Conde VisoRey. Impresso em Goa
por Joannes de endem aos x dias de Abril de 1563 annos » »
ein4.''
Consta desta obra, que o auctor tivera começado esíg
Tratado em lingua Latina, e que por ser importunado
dos seus amigos, e por o fazer mais familiar, determinou
escrevel-o em lingua Portugueza.
Consta mais que o auctor estudou nas universidades
de Alcalá, e Salamanca: que leo^or algum annos nos esr
tudos de Lisboa, exercitando ao mesmo tempo a pratica
da medicina na cura dos doentes: que na Ásia, por es*
paço de trinta annos tinha curado muita diversidade de
gentes, e estado nas cortes dos Reis Mouros, e gentios, de.
Consta mais que a conversão de passante de 50:000
Chistãos na Costa da Pescaria foi obra de Miguel Vaz, Vi-
gário Geral da índia, acrescentada depois por Mestre Fraoi-
cisco (de Xavier), ác.
João Baptista de Castro diz que este Tratado fora tra-
duzido em differentes linguas por Costa, Monardes, Mar-
rucino, e Carlos Clusio. Nós diremos as traducções qw
temos visto desta obra :
1/ €Simplicium medicamentorum ex novo orbe dela*
torum, quorum in Medicina mm est^ historia: hispçnico
gt
sermam duobus libris descripta a D. Niçolao Monardis
Bispalensi Medico^ latio deinde donatajt in unum vo-
lúmen contracta^ insuper armotationibus, iconibusque
affabre depictis illustrata a Carolo Clusio Atrebaíe. Ter-
Ha editio auctior et castigatior ex postrema autoris re-
cúgníHone. Antuerpiae: tx offic. PlarUin. apud Viduam
et Jo. Moretum MD^Jcan^ em 12.
v2.^ líSimplicium medicameniorum ex novo orbe dela-
torum^ quorum in Medicina usus est hisíoriae Hber ter-
tius. Hispânico Sermone nuper descriptue a D. Nicolau)
Mimardes Hispalensi Medico, nunc vero primum Latio
donatuSs et notis illustratus a Carolo Clusio A. Altera
editio amtior et castigatior. Antuerpiae . . . ' (Tudo o
mais como acima), em 12.
N. B. Destas duas obras, que aqui notámos poias achar-
mos juntas ás de Garcia d'Orta, duvidámos se com effeito
são delle, tanto por se nao fazer menção do seu nome,
eomo por se tratar de simplices vindos do Novo Mundo,
o que parece referir-se á America. Os exemplares porém
que dizem respeito ao nosso artigo, e que temos visto,
^0 os seguintes :
3.^ ^Aromatum et simplicium aliquot medicamento'
rum apud Indos nascentium historia, primum quidem
Lusitanica lingua dioá^iKsõç conscripta a D. Garcia ab
Horto Proregis Indiae msdico : deinde latino sermone in
epitomen contracta, et iconibus ad vivum expressis, lo-
cupletioribus que annotatiunculis illustrata, a Carolo
Clusio Atrebate, Quarta editio castigatior et aliquot locis
auctior. Antuerpiae ex o ffic.Plantin. apud ViduametJoan-
nem Moretum mvjcul cum gratia et privilegio » : em 12.
4.* a Christophori a Costa mediei et chirurgici Aroma-
tum et medicamentorum in Orientali índia nascentium
Hber, plurimum lucis adferens iis, quae a Doctore Garcia
de Orta in hoc genere scripta sunt: Cafoli Clusii Atrebatis
opera ex hispânico sermone kUmuB factus, in epitomen
51
contractus, et quibusdam notis illustratm. Altera ediiio,
castigatiorj etauctior. Antuerpiae: exoffic, Plantin. apud
viduam et Jo. Moretum uD.icnin : em IS.
Barbosa, Bibliotheca Ltmtana, menciona guatro edi-
ções Latinas de Antuérpia. Destas (segundo o que li
n'liuma Gazeta de Lisboa) ha duas na livraria do con*
vento de Jesus; huma delias:
5.* «JSáP offidn. Christoph. Plantini, Architypographi
Regii €So.^.Linv. »
E a outra com este titulo :
6.^ ^Aromatum et Simplicium aliquot medicamento-
rum apud Indos nascentium historia, primam quidem
Lusitanica lingua . . . conscripta a D. Garcia ab Horto,
Proregis Indiae medico: deinde latino sermone in epito»
men contracta et iconibus ad vivum expressis, locuple-
tioribus que annotatiunculis illustrata a Carolo Clusio
Atrebate. Quarta editio, dcc. (Gomo acima no num. 3.)
Moreri, no Diccionario, além de outras noticias, que
já fic3o apontadas, faz menção de huma edição dos Gol-
loquios em Italiano, em Sena, 1576, e 1616: e de outra
em Francez por António Colin, Boticário de Leão, e ahi
impressa em 1619, 8.®
O grande Camões, na ode ao Conde de Redondo, Vice-
Reí da índia, lhe recommenda, que favoreça a Orta, di-
zendo :
«Favorecey a antiga
Sciencia, que já Aquilles estimou :
Olhay que vos obriga,
O ver, que em vosso tempo rebentou
O íructo d*aqueirOrta, onde florecem
Plantas novas, que os doutos nSo conhecem.
Olhay que em vossos annos
Produz hum'Orta insigne varias hervas
Nos campos Indianos,
As quaes aquellas doutas e protervas
Medéa e Circe nunca conhecerão
Postoque a ley da Magica excederão. »
g3
Na Flora Cochinchinensis de Loureiro, vem notada:
^Historia simplicium et aromatumj de Garcia de Orla,
latino sermone contracta a Car. Clusio. Quinta editio,
Raphelengii 1606 » , foi.
Vi em 1839:
^Aromatum et simplicium aliqtwt medicamentorum
apud Indos nascentium Historia: Primum quidem Lusi-
tanica língua per Diálogos conscripta, D. Garcia ab
Horto, Proregis Indiae Medico^ auctore. Nunc vero la-
tino sermone in epitomen contracta, et iconibus ad vivum
expressis, locupletiortbusque annolatiunculis illustrata a
Carolo Clusio Atrebate.
^Antuerpiae, ex officina Christophori Plantini, ar chi-
typographi Regii. cio.ioixxnm (1 vol. em 12).
No mesmo volume vem :
We Simplicibus medicamentis ex occidentali índia de-
latis, quorum in Medicina usus est. Auctore D. Nicolao
Monardis, Hispalensi Medico: Interprete Carolo Clusio
Atrebate.
nAntuerpiae: Ex offic. Christophor. Plantini, archi-
tgpogr. Regii M.D.Lxinn. »
No Dictionnaire Universel des Drogues simples, par
Mr. L'Emery, Paris, 1760, 4.^ acho que a obra de Gar-
cia d'Orta fora traduzida em Francez com o título :
€Histoire des Drogues, Epiceries, et Medicaments sim-
ples 9, 8.**
Veio á miuha m3o em Abril de 1842 o
< Tractado de las Drogas y medicinas de las índias
Orientales, con sus plantas debuxadas ai bicco por Chris-
toval Acosta medico y cirujano que las vio ocular-
mente.
€En el qual se verifica mticho de lo que escrivio el
Doctor Garcia de Orta.
« Dirigido a la muy noble y muy mas leal ciudad de
Burgos cabeça de Castilla, y camará de Su Magestad.
g4
<£n Burgos. Por Martin de Vietoria impressor de Su
Magestád. M.D.LXxvin. Con Priuilegio. »
GhrístovSo da Gosta foi Medico assalariado pelo Senado
de Burgos.
Peregrinou diversas regiões, e provindas, examinando
as plantas de cada humá. Encontrou nas índias Orientaes
o nosso Portuguez Garcia d'Orta, varão grave^ de raro
e peregrino engenho, que naquellas partes compoz (diz o
auctor) hum livro em lingua Portugueza, intitulado Col-
loquios dos simples e drogas^ e cousas medidnaes da In-
diaj e de algumas fructas que por tá se crião, ác.
Vem neste livro huma espécie de attestado do Licen-
ciado João da Gosta, Cathedratico em Salamanca, em elo-
gio do auctor e da obra, e delle consta que Ghristovão da
Gosta escréveo a sua obra não en los descansos de sus
naturalezas e pátrias, sino en la dureza de tristes capti^
verios, qual el los padesdo en la Africa^ en la Ásia, y en
la China, dec.
Vem logo o retrato do auctor com este letreiro :
€ Christophorus Acosta Africanus, »
E logo adiante na seguinte pagina :
€Claudii Libessardi Atrehatensis. »
Sjpigraxnina
« Cai fortuna potens invidit, atracqae sorores,
Barbáries gentis, barbariesqne maris,
Dum non mercator velut, ast Epidaurius alter
Naufragus Indorum littora grata petit :
Plantarum primus noua docto ignota Galeno,
Atque aliis medíeis, ut genera inde ferat.
Ne tantos terra exhaustos pelagoque labotes
Nocte, die, túmida mergeret unda maris
Acostae docto meritam tulit alma Africano
Clarae virtutis aemula Palias opem.
Cujus quid referam laudes? cum fama superstes
Sit Superis, similem terra, nec aequor alat?
Si tamen (o Lector) cupias cognosse figuram
Eh tibi depictus candidus autor adest. »
^Ejusdem ad Autor em Distichonn
« Africa te genuit, íertilis et Ásia pavit,
Te mine Europa, Doctor Acosta tenet.»
N.° 65
Gaspar da Crai (Fr.)
Eborense, Dominicano. Passou á índia em 1548 com
outros companheiros, que fundarão conventos da sua or-
dem em Goa, e Malaca. De Malaca passou ao reino de Camr
boja, com intento de fundar também abi convento, e etn-
pregar-se na conversão daquelles povos: como porém
encontrasse gravíssimas dif&culdades insuperáveis, na-
vegou para a China, e ahi pregou o Evangelho. Voltou á
índia, e em Ormuz exercitou o santo ministério. Ultima-
mente depois de estar dezoito annos no Oriente, voltou a
Portugal, e falleceo em Setúbal. Foi sepultado em Azeitão
em 1 580. Escre veo :
a Tractado, em que se contam muito por esterno as
cousas da China com suas particularidades^ e dssi do
Reyno dormuz^ composto por el R. Padre Frsy Gaspar
da Cruz da Ordem de Sam Domingos. Ditigido ao muito
poderoso Rey Dom Sebastiam nosso Seflor. impresso com
licença. 1669. Segunda edição. »
Findo o Tractado da China, segue-se :
€Relaçam da Crónica dos Reys DormuZy e dafunddçam
da cidade Dormuzj tirada de hua Crónica, que coMpós
hu Rey do mesmo Rey tio, chamado Pachaturunxay scripta
em Arábigo, e sumariamente traduzida em lingoajem Por-
tugties por hum religioso da ordem de Sam Domingos,
que na ilha dormuz fundou hUa caza da sua ordem. »
No fim se lé:
< Poy impresso este tratado 4a China na muy nobre e
sempre lealcidade de Évora, em casa de André de Durgos
impressor e catmlleiro da casa do Cardeal Iffante. Acor
86
boU'Se 008 XX dias de Fevereiro de mil quinhentos e se-
tenta. »
Esta obra reimprimio-se em Lisboa, na TypograQa Rol-
landiana, do tom. 4.® da Peregrinação de Fernão Mendes
Penio, anno de 1829, 12.
N.'66
Gaspar Fraetaoso (Dr.)
Foi natural da cidade de PoDta Delgada na ilha de S. Mi-
guel, e nasceo em 1522. Seguio os estudos com aprovei-
tamento e credito, e recebeo o gráo de Doulor em Artes
e Theologia ua Universidade de Salamanca. Em Portugal
e nas ilhas mereceo a estima de muitas pessoas notáveis,
e tendo recusado a dignidade de Bispo de Angra, aceitou
comtudo a de Parocho da villa da Ribeira Grande na ilha
de S. Miguel. Falleceò em 1591. Escreveo huma obra a
que <leo o titulo :
< Saudades da terra. »
E diz o Padre Cordeiro, que lhe hia ajuntando outra,
com o titulo: «i Saudades do Ceo. »
Esta obra, que ficou manuscripta em 2 vol., he citada
com o. titulo de Historia das Ilhas, ou do Descobrimento
das IlhaSj e trata de todas as que compõem o archípelago
chamado dos Açores. Existe hum exemplar na Real Bi-
bliotheca Publica de Lisboa, como testifica o Bibliothe-
cario-mór Ribeiro dos Santos: e delia se sérvio o Padre
Cordeiro para escrever a Historia Insulana, aonde a cita
a cada passo.
N.-67
Gaspar Pereira dos Reys
Na Arte de Navegar de Manoel Pimentel, edição de
1712, a pag. 459, vem:
c Viagem de Goa ou Cochim para Pegú em Abril e em
57
Setembro, escripta par Gaspar Pereira dos ReySj anno
de 163Õ. »
N.» 68
Gaspar de S. Bernardino (Fr.)
Religioso de S. Francisco, natural de Lisboa, missio-
nário na índia. Depois de fazer naufrágio na ilha de S. Lou-
renço, passou a Mombaça, Mar Vermelho, Gabo deRozal-
gate, e Ormuz. Passou d'ahi á Persis^ Chaldea, Syria, ilha '
de Chipre, ác. Visitou Jerusalém, e Lugares Santos, des-
embarcou segunda vez em Chipre, foi a Cândia, Zante,
Cefalonia, e Corfu. D'abi veio a Itália, Hespanha, e Por-
tagaL Escreveo:
•Itinerário da índia por terra até o reino de Porttêgals
COM a descripção de Jerusalém. Lisboa: por Vicente Al-
vares. 1611 1^, 4.®
Este Itinerário parece que foi éscripto pelo auctor de
mandado da Rainha D. Margarida de Áustria, mulher de
D. Filippe III de Gastella, e II de Portugal. O auctor o di-
vidio em três partes, de que somente vi a primeira, cujo
exemplar possuo.
N.» 69 .
Gaspar Villela (Padre)
Escreveo hum livro sobre as questões, que lhe propo-
zerao os sábios de Meaco.
Traduzio alguns livros na lingua mais elegante da corte
do Japão, taes como as Relações ou Cartas das cousas do
JapãOj que andão impressas no volume que mandou im-
primir D. Theotonio de Bragança, Arcebispo de Évora.
N.» 70
Gonfalo Ayres Ferreira
Acompanhou a João Gonsalves Zarco no descobrimento
da ilha da Madeira, e escreveo a Relação deste successo
em tmm etklefÉío, cpie stndava nòs escriptorios dos Gapí^
tSes daqaella ilha, e de que depois se sérvio o Conègò
Hieronymo Leite (ou Jeroiiymo Dias Leite) para escrever
sobre o mesmo assumpto.
Veia-se a Historia Insulana do Padre Cordeiro, liv. 3.®,
cap. f 0.*^ e <5.^, pag. 65 é 9á, àòndé acrescenta, por tes-
temunho dè baspar frructuoso, que Gonçalo Ayres Fer-
reira tei-a o primeiro povoador, que na ilha da Madeira
teve filhos, e que por isso pozera a hum o nome de Adão,
e á outro Heva.
N.» 71
Gonçalo Rodrigues (Padre Mestre)
Jesuita, mandado á Etbiopia em tempo do Vice-Rei da
índia D. Pedro Mascarenhas. Depois de voltar a Goa, es*
creveo â'abi aos Padres da Ciompanhia de Portugal:
« Carta de 13 de Setembro de 1566, em que narra os
trabalhos de sua navegação e caminho a Ethiopia, e o
que lá passou com o Rei d'aquelle paiz. d
« Tratado dos erros de Elhiopia^ e verdade de nossa Fé. »
que foi traduzido em Caldeo por Aflfonso de França, e
apresentado ao Rei Cláudio.
, De huma e outra cousa dá noticia o Padre Fernão Guer-
reiro tia tíèlâção annah já citada, pag. 281 , e seguintes.
(Vej. num. 47.)
íí.^72
6<m(alo Vaz Coutinho
Escreveo:
^Historia da Ilha de S. Miguel. » (Manuscripto.)
Era Governador da mesma ilha em 1592. Desta Hís-.
. toria fala D. Francisco Manoel nos Apologos Dialogaes,
pag. 386, dizendo, que lhe parecera bem principiada se
a eausa fóra ihaior, d'onde se pode coUegir, que Gonçalo
Y82 tík9 ebdgóa a acabar a sua composição.
N.'73
Henrlqae dá Slhrâ
Foi Ouvidor Geral nos estados da índia, e escreveò» e
dirigio a D. Gbristovão de Moura, em onze capitulos:
^Memorial do que se deve prover nos estados da índia
Oriental, feito pelo Licenciado Henrique da Silva, Ou-
vidor Geral, que foi naquellas partes^ para o Senhor
D. Christovão de Moura ver. »
Hanuscrípto da Bíbiiotheca Yaticana, no vol. 5.^ da Mii^
cellanea Lusitana, que se conserva na Bibliotheca de el«
Rei no Real Palácio da Ajuda.
N.- 74 •
Infante D. Henriqne
Hesitámos por algum tempo se devíamos, ou não, es^
crever o nome deste immortal Príncipe entre os escripto*
res, que tratarão de nossos descobrimentos, navegações»
e viagens. Comtudo parece incrível, que elle não lançasse
em escriptura os seus planos e projectos, e o progressivo
desenvolvimento, e resultado de emprezas tao sabiamente
combinadas, e com tanta perseverança executadas.
O elegante Chronista Dominicano Fr. Luiz de Sousá^
na Historia de S. Domingos, diz que vira em Valença de
Âxagao hum livro dos descobri meditos do Infante D. Hen-^
rique, que parece (slo as suas próprias palavras) ser obra
sua, mandado pelo Infante a bum Rei de Nápoles, d'onde
passara ao poder do Duque de Calábria, ultimo descen-
dente da linha masculina daquelles Príncipes, e Yice-Rei
de Valência de Aragão. Na portada deste livro se vião de:
buxadas humas pyramides, e a conhecida letra do Infante :
^Talent de bien faire», 4c.
Occorreo-nos, que o Rei, a quem o Infante fez presente
daquella preciosa obra, poderia ser D. Affonso V, Rei de
Aragão» Sicília, e Nápoles, denominado o Sábio, e falle-
cido em 1458, cujo bisneto D. Fernando Príncipe de Ca-
lábria morreo sem geração. Outros farão mais acertada
conjectura.
N.-75
Jeronymo Leite (Cónego)
O Padre Cordeiro na Historia Insulana, nos lugares
citados no num. 69, fala deste Cónego, a que chama Ca-
pellão de Sua Magestade, e diz que a Historia dos Capitães
do Funchal fora composta primeiro por Gonçalo Ayres
Ferreira, e depois pelo Cónego Hieronymo Leite, a quem
o segundo 'Conde e sexto Capitão João Gonsalves da Ca-
mará mandara a Relação de Gonçalo Ayres. (Vej. os lu-
gares de Cordeiro.)
Na Bibliotheca Histórica de Portugal, edição de 1801,
em 4.^ num. 87, pag. 50, achámos indicado como es-
criptor da Historia da Ilha da Madeira, Jeronymo Dias
Leite, natural do Funchal, e Cónego na Cathedral desta
cidade, e diz o auctor, que escrevera :
< Insulana, ou descobrimento e louvores da ilha da Ma-
deira. » Poema em oitava rima (manuscripto).
Este escriptor, que pelo nome, e dignidade nos pareceo
idêntico com o outro de que fala Cordeiro, vê-se agora ser
diflferente, tanto por ter escripto em verso, como porque
o auctor da Bibliotheca o suppõe vivo em 1732, o que não
concorda com a existência do primeiro em tempo do se-
gundo Conde da Calheta, e sexto Capitão do Funchal.
N.«76
Jeronymo Lobo (Padre)
Nasceo em Lisboa pelos fins do século xvi, e entrou
na Companhia de Jesus em 1609. Sendo mandado ás
6i
missões da índia, partia para lá em 1621, mas como
a náo arribasse, tornou a sahir em 1622, e chegou a
Goa.
Em 1624 partindo para Moçambique, tomou terra em
Patê, entrou o paiz dos Galas, e penetrou até a Âbyssinía,
aonde viveo vários annos, não sem grandes trabalhos, e
perseguições. Embarcando depois para Portugal, naufra-
gou na costa do Nataly aonde se demorou alguns mezes,
até se construirem dous barcos, em que elle, e os com-
panheiros do naufrágio passassem ao reino. Hum dos
barcos perdeo-se no mar: no outro chegou Jeronymo
Lobo a Angola, e navegando d'ahi para o Brasil, foi to-
mado pelos HoUandezes, e lançado em huma ilha deserta.
D'ahi passou ao continente, e logo a Cartagena. Voltando
para Portugal, sofreo ainda huma grande tormenta, e por
fim chegou ao reino, d'onde passou a Roma em favor das
missões orientaes; mas nota a historia, que não achou
naquella capital o que esperava.
Fez ainda nova viagem á índia, aonde foi Reitor da Gaza
Professa de Goa. Voltou em fim a Portugal, aonde estava
em 1 658. Falleceo em S. Roque de Lisboa, quasi aos oi-
tenta e cinco annos de idade, em Janeiro de 1678. Es-
creveo :
iíltinerario de suas viagens. »
Este he o titulo^ que lhe dá a Bibliotheca Histórica Por-
tugueza, tirado (segundo me parece) da Bibliotheca Lu-
sitana de Barbosa Machado.
À obra de Lobo nunca foi impressa (que nos conste)
em Portugal. Achámos escripto, que delia se fizera huma
edição em Inglez com o titulo :
^AshwortrelationoftheriverNilo. London, 1673* ^ 8.°
Tevenot o traduzio do Inglez ao Francez. Paris, 1678,
foi.
O Florentino Magalotti o publicou em Italiano com o
titulo :
68
aRelazioni varie, cavate da una traduzione inglese dal
original por tugheze, fatta da Girokmo Lobo Jesuita. Fio-
renda, 1693 j^.í.''
Ultímameate o Abbade Joaquim le Grand o traduzio
em Francez com o titulo :
^Voyage historique de VAbbyssinie, conlinuée, et au'
gmêntéenleplusieurs disser tatiom, lettres, etmemoires. . .
Paris, 1728 w, 4." £ segunda vez em Amsterdam, 1728,
S vol., IS.
Dertas duas edições Franceza^ de Mr« le Grand achámos
noticia em Catálogos Inglezes de livros, aonde também se
annonciSo as duas Inglezas seguintes:
^'Lobo's myage to Abyssinia by Dr. Johnson. London,
173Ô3,S.^
xLobo's voyage to Abyssinia by Dr. Johnson. London,
17893, 8.^
Por termos observado, e notado as muitas liberdades
que tomão os estrangeiros, maiormente os Francezes,
quando traduzem, ou dao como traduzidas, as obras de
escriptores Portuguezes, muito desejáramos, que appa-
recesse entre nós hum exemplar manuscripto de Lobo,
e que se imprimisse na língua Portugueza tal como o
auctor o escreveo.
Joio Rodrigues Giram
Vi bum man^scripto em 4.^ com este titulo;
áCarta annua da Vice- Provinda do Japão do anno
de 1604 pêra N. P. Geral. í / via. »
He o original, escripto em papel do Japão, com data
de Nangasãqui a 33 de Novembro de 1604, e assignada:
«Por commissam do P. Viceprovindal: De V. P. Indino
filho em o senhor — Joam Roiz Giramw.
No Deposito de S. Francisco da cidade.
N.-78
Joio Baptista LaTanha
Dizem ser natural de Lisboa, sobre o que se podem ver
os Apologos Dialogaes de D. Francisco Manoel, pag. 461.
Foi Cosmographo-mór do reino, e Mestre de Geographia
de el-Rei D. Filippe IV. Entre varias obras que escreveo,
attribue-se-lhe:
€Descripção de Guiné, ífn que $e trata de varias na-
ções de negros, que a povoão, dos seus costumes, leis, ri-
tos, ceremonias^ guerras, armas, trajes, e das qualidades
dos portos e commerdo, que nelles se faz. »
(Vej. num. 10.)
Joio MrH Çfêtré^
Foi natural de Celorico da Beira, e professoy na Com-
panhia de Jesus em 161,5. Passou á índia, e querendo os
seus superiores da provinda do Malabar enviar Missio-
nários ao Tibet, foi escolhido para isso o Pa(Jre Caibrai,
que fez a sua viagem por Bengala, evitando ^travessar
as serras por onde tinha feito caminho o P^dre Andrade.
Foi Cabral Provincial do Japão, e Preposito da Caza do
Bom Jesus de Goa, onde falleceo. Escreveo:
c Aelação copiosa dos trabalhos, que padeceo na missão
de Tibet. j>
Vej. Barbosa Machado, Bibliotheca Lusitana.
N.° 80
Joio de Cieeros (Padre)
Presbytero, filho de Luiz Mandes de C^cere^, $wbor
4e Algodres, Pwavard«» ForAQs» e LauOa» j^ 4a im m?
64
meira mulher D. Isabel de Mello. Falleceo Da Lousaa em
1564, eescreveo:
< Tratado dos rioSj e portos marítimos da índia, que
até seu tempo estavão descobertos. » (MaDoscrípto.)
Deo-Dos esta noticia o Agiologio Lusitano ao dia 7 de
Fevereiro, DOta g, aonde diz, que o manascripto se per-
dera com outros do mesmo auctor.
João de Castro (D.)
Ha na livraria do Marquez de Castelio Melhor hum ma-
nuscripto em foi. com este titulo:
c Roteiro da costa do norte de Goa até Dio, no qual se
descreuem todos os portos, alturas, sondas, demarcações,
differenças de agulha, que ha em toda esta costa.
di Composto pelo grande D. João de Castro, Governador
e Yiso-rey que foi da índia. »
A íl. 38, falando D. Jo3o de Castro do reino de Cam-
baya, diz: ^E porque em hum tratado, que tenho come-
çado da Cosmografia das terras, que jazem entre o Eu-
frates e o Gange, trato largamente dos costumes e modos
de vida desta gente (Bramenes, e Baneanes), basta por
agora o que delles tenho dito ...» &c.
Em outros lugares refere-se também a hum segundo
Roteiro. Assim, v. g., a fl. 17 diz: ^lEste banco soldei (as-
sim escreve sempre o que hoje se diz sondar) o primeiro
dia de Fevereiro de 1640, como se dirá no segundo Ro-
teiro i^, de.
Do Roteiro do Mar Vermelho do mesmo Castro, que re-
centemente se imprímio em Paris, a pag. 25, in fine, se
vô, que elle já tinha escripto os Commentarios da costa
da índia, pois a elles se refere no anno de 1541.
Gompoz o mesmo Castro outro Roteiro da viagem que
fez de Lisboa até Goa, a primeira vez que foi á índia em
6S
1S38, do qual havia hum exemplar em foi., doado pelo
Cardeal D. Henrique ao GoUegio dos Jesuítas de Évora»
com este titulo na pasta :
c Roteiro de D. Joam de Castro, do Collegio da Com-
panhia de Jesus em Évora.
9 Foi dom delRey D. Henrique de gloriosa memoria^ seu
fundador. »
Dentro > se lê o verdadeiro titulo da obra, que diz:
c Roteiro da viagem, que D. Joam de Castro fez, a pri-
meira vez, que foy á índia no anno de 1638. »
No alto da primeira folha tem a nota «iVon prohibetur.
Car. », que parece ter sido escripta, e assignada pelo Car-
deal D. Henrique, Inquisidor Geral. (Existe huma cópia,
ou o original na Bibliotheca Publica Eborense.)
Existe na mesma Bibliotheca :
«i Cosmografia e Descripçam da Ásia per D. João de
Castro. y>
Manuscrípto em 44 íl., dedicado ao Infante D. Luiz.
N. B. He cópia exacta, tirada do original pelo distincto
antiquário Eborense o Licenciado Padre José Lopes de
Mira, que falleceo em 1822 ou 1833.
€ Roteiro da viage, que D. Joam de Castro fez, a pri-
meira vez que foy á índia no anno de 1638. »
Manuscripto em 47 fl. de grande papel, sem numera-
ção, dedicado a D. João III.
N. B. He cópia incompleta em letra do passado sé-
culo xvm. Tem no principio a nota: n DelRey D. Henri-
que, dado ao collegio do Spirito S. dEvora, sendo ainda
Cardeal » .
Em Setembro de 1836 veio á minha mão hum manu-
scripto em foi., que tem este titulo:
t Livro das mercês, que fez o Senhor D. João de Cas-
tro, sendo Visorrey da índia, aos capitães, e fidalgos da"
quelle Estado, e a todas as pessoas, que o ajudarão no
cerco e soccorro da fortaleza de Dio. »
TOMO VI 5
66
Este titulo he escrípto de letra moderna; mais «diiiQte
porém se acha o titulo original, que diz :
aLíuro em que estáo as mercês que , tenho feyUxs a(^
capitães e fidalguos da Imdia, dos quaes não tenha^^ nem
espero de ter nenhuu agardecimemto. n^
Segue-se logo :
c titollo de dom João mascarenhas. 9
E logo seguidamente vários titulos, dos quaes alguns
trazem (como este) mercês feitas a huma só pessoa ; ou-
tros trazem muitas a diversos, com os seus nomes, e i|iui
summariamente aquillo, em que servirão, e o motivo por
que se Ibe fazião as mercês.
escríptor fala sempre de si mesmo, e em seu noqte;
por onde se vê, que este era o próprio Uvro, aonde Castra
registava as suas mercês. A letra parece ser do SecrQta-
rio, de quem tenho visto outras.
Neste mesmo livro manuscripto se acha :
1 .^ c titollo dos Oficyaes da ribeira. »
^.° f[ f^ti^s são Qs carguas, que mandeyperct o reyno:
e cabedal que veyo para ellas do reyno. i»
3.^ € titollo dos paguamentos g^raes, que mandet/ fur
z^ na Jmdia. »
4.^ a Estes ^ão os Officiaes macanyquoSj que sermm
na ribeyra, a que o feyfor paga cada mez seus soI(]{qs e
mamtimentos. d
Note^se que no titulo dos pagamentos começa o pri-
meiro assento por estas palavras:
^A y de Setembro de 1645 cheguey á Imdia, e sorgy
na barra de Guoa . . . », ác.
Don4e se vê que D. João de Castro chegou á índia a 2,
e não a 1, nem a 10, como alguns tem dito.
Este livro dá bom conhecimento da prudência, e jifstiça
de Castro no seu governo, e de algumas cousas da admi-
nistração daquelles estados.
He digno de se notar, que entre os Apontamentos áo^
67
lífelajlps do reiao sobre as cousa^, que se devjão tratar
Das Cortes de 1 562, se lé este artigo :
«Que devjB S. ^t mandar aos Viso-reis e Governado-
res, Que assentem em hum livro todas a$ mercês que fize-
rpm da fazenda delRpy, e as razoes porque as fizerem, p
a quem se fizerãq^ p ipandalo por duas vias nas náps que
yiprem cad'anno, assi para S. ^. saber a cantidade q ca-
lidade das mercês, como também para se conformar cáa
n^ obrigação das q]ie pzer aos liomens por respeito dos
serviços da índia. »
Quando isto se escrevia em çpQntqmentç para as Cor-
tes, já D. João de Castro, muitos annqs antes o tinha pra-
ticado no seu governo da índia.
Existe na livraria do Marquez de Castello Melhor:
« Chronicq de D, João ^e Castro VisoRey qm foy da
Ipdiaj dirigjida ao muito esclarecido e illustre Senhor o
Senhor D. António de Ataide^ Conde da Castanheira, Se-
nhor de Povos e de Cheleiro^, alcaide n^ór de Colares, e
Veador da fazenda delRey nosso Senhor. »
No fim tem esta nota :
« Acabada por Leonardo N^nes escrivão do Provedor
moor dos defuntos da índia a 22 de Fevereiro de 1550
annos. v
» » ♦ . ' . • •
(Manuscripto em folha graqde.)
Esta obra contém mais particularnaente a historia do
governo de Castro na índia desde Í545 até 1848, em que
eile falleceo: mui poucas cousas diz do mais tempo fia
sua vida.
Vi outro manuscripto em folha com este titulo :
« Chronica dos valerosos e insignes feitos no governo
da índia do Viso-Rey D. João de Castro, de gloriosa me-
moria, em que se refere a grande batalha da fortaleza
de Diu: por J). Fernando de Castro seu neto, filho na-
tural de D. Álvaro de Castro. »
No cap. 8.° vem huma descripção do reino de Daquem,
68
e diz O auctor, que a tirou do Livro que o Viso-Rey fez de
muitas descripções, que dirigio ao Infante D. Luiz.
No cap. 49.^, trazendo a descripção de Diu, torna a
dizer: c A qual descripção tyrei do livro, que o Viso-Rey
deixou feito de sua letra, aonde estão as descripções de
todas as fortalezas, que temos na InéUai^.
Da Ghancellaria de el-Rei D. João III, no Real Arquivo
constSo as seguintes datas :
«A 14 de Agosto de 1532 teve D. Jo3o de Castro Carta
de privilegio de fidalgo. »
<cA 31 de Janeiro de 1538, Carta da Commenda de
S. Paulo de Salvaterra, em attenção aos serviços feitos
na guerra contra os infiéis, e a ter servido huma Com-
menda dos dous annos em Tangere» (1).
<c A 7 de Janeiro de 1545, Carta de Conselho. »
tf A 28 de Fevereiro de 1545, Carta de Governador da
índia. 9
«A 13 de Outubro de 1547, Carta de Vice-Rei da ín-
dia. 1»
«A 16 de Outubro de 1547, Carta de Capitão-Mór do
mar da índia a seu filho D. Álvaro de Castro. »
A 15 de Novembro de 1545 escrevia André de Souza
a el-Rei, referindo-Ibe como D. João de Castro, chegando
á índia, se houve com os Príncipes de Ceilão, que ali es-
tavão. (Real Arquivo, gav., 2, maç. 6, num. 12.)
No Real Arquivo, Corpo Chronologico,.pdíii. 1.*, maç.
77, doe. num. 20, está hum Parecer dado a D. João de
Castro sobre o contrato da pimenta, por Fernão de Kna,
em data de Goa, a 19 de Novembro de 1545.
Para o negocio dos bazarucos (moeda que corria na
(1) Vejão-se os AnnaysdeD. João III, agora impressos (em 1844)
a pag. 354, aonde se refere, que no anno de 1542 foi D. Jo2o de Cas-
tro mandado a despejar as terras de Çafim, e Azamor, e se diz o
bem que executou esta melindrosa commissSo.
69
índia) ouvio os Fidalgos/ GhaDceller, Desembargadores,
e Ouvidor, a qoem mandou» que tomassem acordo so-
bre o que se devia fazer. O mesmo ordenou ao Yeador
da fazenda, e Contadores delia: e o mesmo ao Bispo, e
Cabido com os pregadores, e letrados da Igreja. E ou-
vidos todos os pareceres, mandou fazer novos bazarucos
melhorados, com que o quintal de cobre, que estava em
36 pardáos da moeda pequena, ficou em 25, que 50 ba-
zarucos valilo 60 réis. £ nestes se pôz de huma banda
huma cruz como a do meio tostão, e da outra hum Y
grego. Logo concorreo abundância de tudo, de. (Gaspar
Correia, Lendas da índia.)
Quando Lourenço Pires de Távora foi á índia em tempo
de D. João de Castro, mandou el-Rei, que fosse também
com elle Francisco Pires, grande mestre de obras, para
fazer a fortaleza de Moçambique, o que não fez porque
Lourenço' Pires passou por fora da ilha de S. Lourenço,
e não tomou porto em Moçambique. Foi porém Francisco
Pires o que dirígio a obra da nova fortaleza de Diu, fun-
dada por Castro depois da famosa victoria com que ter-
minou o cerco da praça. (Gaspar Correia, Lendas da ín-
dia, tom. 4.% fl. 343, v.)
Lançou-se a primeira pedra da nova fortaleza com
grande solemnidade, no baluarte S. Martinho, a 24 de
Novembro de 1546.
A 2i de Fevereiro de 1547 lançarão-se pregões, que
toda a pessoa que tivesse emprestado dinheiro viesse á
Gamara recebel-o. Concorrerão todos, e forão todos pa-
gos á vista dos livros da receita : retirárão-se contentes,
e dizendo, < que nunca arrecearão de emprestar se lhe
tam boa paga haõ de fazer » . (Consta da Carta de Ruy
Gonçalves Caminha a D. João de Castro de 22 de Feve-
reiro de 1547.)
Castro chegou a Goa a 19 de Abril de 1547, em terça-
feira: esteve em Pangim na quarta e quinta-feira, e a 22,
70
em sexta-ieira, entrou na ciáàde em Iriuíiífo. (Gaspar Cob-
reia, tendas dà Inâia.)
Na porta jpor ond'é eiltroú estavão dotis leões com Bfe
ièscudós de artaas do Governador nos t)eitos, fe âbaiiò
delles este letreiro :
«BEMAYEKTURADO E IMMOBTALL TRTHUNFO.
POLLA LEY, POR ELRET, E POLLA GEBY.>
D. João de Castro na sua marcha triunfal, chegando i
Caza da Misericórdia, tentrou, fez oração, é ofifertou hiiínà
peça de brôcado.
O mesmo fez em Nossa Senhora dá Se&a, aoilde àèf-
tou agoa benta sobre Àffonso de Albuquerque, Cahi foi á
cathedral.
Existe rio Real Arquivo da Torre do tombo, no Corpo
Chrònologico, part. 1.*, ttiaç. 81, doe. num. 66, htíiàa
Carta, escrípta de 'Goa a el-Réi D. João III, com "dâlsi iJfe
22 de Outubro de 1 548, cujo sobrescripto diz :
a Pêra ellRey nosso Senhor — De mestre Pedro VigcUro
geral, e de frey antònio do Casall, Custodio, e ãe me$Íí^e
francisco, e de frey Joarti de "vila àe conde. »
Dizem a et-Rei, que estando D. João de Castro ^âraféV-
tècer, lhes dissera a todos quàlro, que escrevessem â Sua
Alteza, e lhe fizessem lembranças em seu nome delle :
1.® «Os muitos, e grandes serviços, que fizera Mândfei
de Souza de Sepúlveda na batalha de Dio, e no ifazer da
fortaleza, e que em outras cousas o ajudou tauito, 'e com
muító trabalho : e pede a Sua Alteza lhe faça mercê, é q'tiè
se algum desprazer teve por não aceitar a fortaleza de DÍ(S
lho perdoe. »
2.® Francisco da Cunha, que tambein serviò muito há
batalha, e nas obras, provendo gente, e doentes, ác. E (Jtte
lhe perdoasse o não tomar o governo da fohalèzà.
3.® Recommenda D. Francisco de Lima, e Vasco tíii tu-
nha. D. t^rancísco assistio-lhe até á úiorte.
n
4.^ D. Diogo Áe Almeida, Capitão de Goa, qtie maito
o ajudou toas guertas das terras-firmes, e sempre nellas
foi dos dianteiros.
5,^ António p.*, que o ajudou muito na armada para
Dio, e em outras, e que tendo-Ihe dado a foro huma$ al^-
dêas nas terras de Baçaim, pede a Sua Alteza lhas con-
firme.
6.* Pede também a Sua Alteza, que perdoe á Amrique
de Sousa Chichorro, havendo respeito a estar pobre> e ter
cazâdo pobre. (Assignão) — Petrus fernandes; — Fr. An-
tónio do Casal ; — Custos. — francisco; — Frei Jokam de
villa de conde.
Na Historia da índia em tempo do Viso-Rei D. Luiz de
Ataide, por António Pinto Pereira, no liv. 2.®, càp. 7.^,
locando o autor de passagem em D. João de Castro, lhe
faz este grande, mas justo elogio:
« . , • Em tempo do VisoRey dom Joam de Castro, cuja
gloriosa memoria, e desetoostumados merecimentos naõ
sofrem ser (em historia da Índia) nomeados singelamente.
Pois juntas á tanta ^gràndeisa de animo, e a hum taS rúro
valor das armas, se viram resurgir neste capitaS ^ mcm
'es^eddas Vir^des ãa continência e desinteresséêda pu-
reza dà antiguidade Romana, com spirito temperado,
mc^ manso, que severo, em que se achou sempre hum
puro e verdadeiro concerto de vida virtuosa. »
No fteal Arquivo, Corpo Ghronologico, part. 4 .*, maç.fil ,
títoi. B2, está huma Carta original de Fernão de Lima, es-
cripta da índia a el-Rei em 12 de Novembro de 4S48 so-
bre dbjeCto jparticular, na qual diz :
« Ho vysoRey dom Joam é fallecido: foy gramde perda
pêra esta terra, e pêra vosa Allteza, porque lhe certefy-
quo, que hera muito pêra ella, porque agora estava hoffe-
tecido ho tenipo pêra se ganhar muyta parte delia. »
Em hum Catalogo de livros, impresso em Londres,
acho "notado ;
7Í
€Andrada'$. Life of Dom John de Castro, ViceRoy of
Índia. Brilliant impression of the portrait, and plates,
by Faithorne. 1664^, foi.
D. Thomás Caetano de Bem, Clérigo Regular, compoz
bum poema em Latim, intitulado :
a Castr eidos Libri v. (em 4.°) Ulyssiponc. 1739 1^
No qual cauta a insigne victoría, com que D. João de
Castro terminou o segundo cerco de Dlo, defendido he-
roicamente por D. João Mascarenhas em 1546.
Diogo de Teive, Bracarense, doutor em leis, e distincto
litterato, chamado de Paris por el-Rei D. João III para
Professor de Humanidades em Coimbra, escreveo:
€ Commentarius de rebus in Índia apud Dium gestis.
Conimbr. 1648 ^
Que be buma elegante, e exacta relação do dito segundo
cerco de Dio.
N.° 82
Joio de Empoli
Este escriptor era Florentino : comtudo foi a primeira
vez á índia no anno de 1 503 em buma náo, que fazia parte
da esquadra do grande Affonso de Albuquerque, bindo
como commissario dos Marcbiones, ricos conunerciantes
Florentinos estabelecidos em Lisboa, e depois sérvio na
índia nas esquadras Portuguezas, como se pode ver em
Castanheda, Historia da India^ liv. 3.% cap. 100.°, e
Uv. 4,% cap. 4,°, aonde lhe chama Joannes Impolim, Ac.
Escreveo em Italiano, em forma de Carta, a Relação da
sua primeira viagem, que João Baptista Ramuzio Inserio
na sua CoUecção, e a Academia Real das Sciencias de Lis-
boa a publicou traduzida emPortuguez na CoUecção tantas
vezes citada, tom. 2.®, num. 6, com este titulo:
« Viagem ás índias Orientaes por João de Empoli, Fei-
tor de huma náo Portítgueza, armada por conta dos Mar-
cMones de Lisboa, traduzida do italiano, 1812 » , em 4,°
73
N.-83
Joio Gabriel
Foi hum dos príncipaes Portuguezes, e CapitSuHnór
de todosj os que andavão na Ethiopia, quaudo o Padre
Fernão Guerreiro escrevia a sua Relaçam Annal dos an-
nos de 1607 e 1608, que se imprimío em 161 1 . Nella vem
hum capitulo (IS."" do lív. 1.^) em que se dá noticia de
algumas Igrejas^ Rios, Lagoas, mais notáveis da Ethio^
pitty e dos muitos Reinos, em que se divide aquelle grande
império, e diz o escriptor, que foi João Gabriel o que deo
esta noticia, e que era o que trasladava os livros provei-
tosos da lingua portugueza na de Ethiapia para utilidade
daquelles povos.
(Vej. Guerreiro no lugar citado.)
N.-84
Joio de Loureiro (Padre)
Sendo religioso da Companhia de Jesus foi mandado á
Cochinchina annunciar o Evangelho. Soube vencer as
grandes difSculdades, que encontrou no desempenho da
sua missão, e haver-se com tal prudência, dexterídade, e
constância, que persistio na Cochinchina trinta e seis an-
nos, e foi encarregado da direcção das cousas fysicas,
e matbematicas no palácio do Bei. O exercício que fazia
da medicina em grande beneficio dos Cochincbinas, tanto
Gbristãos como gentios, o obrigoua babilitar-se nos es-
tados da botânica, em que fez notáveis progressos. Em
1779 tinha já sabido da Cochinchina, e estava em Can-
tão, aonde se demorou três annos. Visitou Camboja,
Champaa, Bengala, Samatra, o Maiahar, de. De volta
para Portugal esteve três mezes em Moçambique. E
em todos estes paízes colbeo os materíaes para a obra
da sua Flora, que a Academia Real das Sciencias de Lis-
boa (de que era Sócio) publreou pela imprensa, e que
tem merecido em toda a Europa a estimação dos sábios,
« jmndpaUaente *dos «migos da bótanieai O tituio da
^$rafae:
«^ro €€chmcln4^msisc sistem plantas in regne €&-
tkinekinã naseenfes: quíbus accedunt aliae observentae in
^mensi império, Afrim Orientali, Indiãeque loas vaniisi
Ofàfiês âisposkm sècmídmm Sffstema Sexuale Linnaeeh
num. Laòere ac isMéio Joannis de Lon^rOj Regiae Scten-
iiárum Aoetãenme íHymponensis S&cii, olim in Goehiip'
úhina {Jatíioiieae FiSmPrmconis, ibique rebus Mathema-
4mÈ '^ 'Physiciè in èctáaVraefeeii. Jmsu Acad. Ji* SciefH\
in lucem edita. Ulyssipon. typis et easpenm Acodem.
an. Í7P0», 2 vol., em 4.^
Falleceo este douto, e estimável varão pelos annos
de 1795.
João Monteiro (Padre)
Navegou para a Índia. EnsiDou filosofia, e theologia em
Macao^; em 1636 entrou na China; falleceo ^b 1648. Es-
creveo, e jmprimio em lingua Siníca hum Compendio da
Lei Divina^ e outro livro do verdadeiro e falso culto de
Deos.
N.*86
João de loura
ES*èVeò:
"iLÚòtcfrãh Pdrtngrue!tày (fue èontéfn tre^s Tratados: ko
ptUnétro Ée àèfsâreve o Estado do Maranhão e forma do
'StU Wc^ento : No segtmdo se trata à cttHura áe algumas
4à^ ârògaSy « frtícios da 2kmà iorridâ: O terceiro e nl-
^níò ^'óti^fnlí ^i/Hà bm^e noticia âa Arte-^ilií^r. Ao
»5
Vhttífo àtló t %mto fíòàérÓÈò Áei ». Pèdirò §;* nésò Sé^
nAor. Por João de MmH, tá)l^allèm ][iHfèi'^ 'èá Ó. íiè
Christo. Armo 1684. »
Manuscripto em 4.^, codi 22t fl., e 28 estampas» que vi.
Joio Ribeiro
Pouco podemos dizer da pessoa do Capitão ^9o Ri-
beiro. A sua obra , Vjue adqtjmmos em manuserífrtO) com
a assígYiatúra autografa de io96 Ribeiro^ foi por dós ofe-
recida á Academia Real das Sciencias de Lisboa, que a
mandou publicar na sua Xypograíia, no anno de 1836, na
Collecção de Noticias para a historia e geografia das na-
ções ultramarinas^ éiÃ4.® À freftte dfli edição escrevemos
o pouco, que de si mesmo nos diz o auctor, e lá ^ J)ôde
ver. OtituíôyfeiobhiAe:
t Fatalidade fítàoricà 4a Ilha de €!eilk&s ãedtâixdà H
Magestade do ISerenissimo D. Pedro 11. 'Rã dePõrWji&k
nosso Senhor: Escrita pêlo Capitão Jaãò HibeiM.^
No fim da obra ajuntou-se :
<í Doação, que o Rei de Ceilão fez dos estados daquella
ilha aos Senhores Reis de Portugal, extrahida do R. Ar-
chivo da Torre do Moinho i>, '&c.
A obra de João Ribeiro tinha sido muito antes publi-
cada em Frahcez com ô 'títu^lo •
€Histoire de Vlsle de Ceyhn, de J. RiVeyro, pãr !Mfr. fc
Grand. Paris, 1701 », em 12, e no mesmo anno éiíí ÍÍHc'.
voux, e Amsterdàmj em 8.®
E postoque Mr. le Grand lhe fèz áddrfa'nle'átos, còtíi-
tudo a sua chamada tràducção he ^oticò ekafdfà, ííôttio
provámos na Advertência anteposta á edíçSo àa ÂtaÔè-
mia; e pôde ter-se éstà como ediçSo original, te cfóp5àfl'el
do que escrèveo João Ribeiro.
Ô hosso Barbosa Mâdhàdô, nà WiUâtMch títóriVdii&,
76
taBdbem mostra não ter visto a obra de Ribeiro» senão
nas tradacções do escriptor Francez.
N.-88
Joio Ribeiro Gaio (D.), Bispo de lalaea
Escreveo :
c Roteiro, que fez para elRei, com Diogo Gilj e outros,
das Costas de Achem, »
Foi escrípto em Malaca em 23 de Dezembro de 1584,
e acha-se assigDado pelo^Bispo. Em 26 pag. de foi.
N.* 89
Joio Rodrigiei (Padre)
Escreveo :
€Arte da Ungoa de Japam, composta pello P. João Ao-
driguez. Com licença do Ordinário e Superiores, em Nan-
gasaqui, no Collegio de Japão da Companhia de Jesu.
an. 1604, el608i^, em 4.*^ (Raríssimo.)
N.* 90
Joio dos Santos (Fr.)
Religioso da Ordem de S. Domingos, nataral de Évora,
Missionário na índia, e nas terras da Africa Oriental. Es-
creveo :
^Ethiopia Oriental, e varia historia de^ cousas notar
veis do Oriente, em que se dá relação dos principaes
reinos desta larga região, dos costumes, ritos, e abusos
de seus habitadores, dos animaes, bichos, e feras que
nelles se crião, de suas minas^ e cousas notáveis que tem,
assim no mar como na terra, de varias guerras, e viciO'
rias insignes, que ouve em nossos tempos nestas partes
77
etUre christãoSy mauros, e gentios. Évora: no convento
de S. Domingos: por Manoel de Lira, 1609 1^, em foi.
Achámos notado, que esta obra, resumida em liogua
Franceza, fora publicada em Paris em 1684, e 1688, em
12, e que o auctorFr. João dos Santos fallecôra em 1622.
N.«91
Joio de Soasa Ferreira
Escreveo :
^.Noticiário Maranhense, Descripção do Estado do Mch
ranhão; em que tempo se descobrio o Estado; por quem;
que governadores o tem governado; como está; sitas ri-
quezas e noticias, que de presente temos; sem muitas
mais, que não se conhecem» e como se pode augmentar, e
sua capacidaâ/e, donde vierão os moradores índios deste
Estado, e outras peregrinas circunstancias. Por João de
Sotísa Ferreira, Provedor da fazenda dos ausentes do
Grão-Pará. »
Manuscripto em 4.^, com 40 fl., letra de 600, na Bi-
blíotheca Publica Eborense.
Falta-lbe a dedicatória, que a Bibliotheca Lusitana lhe
attribue no 2.® tom., pag. 771.
Ha outra obra differente, do mesmo auctor, postoque
análoga a esta de que fala a Bibliotheca Lusitana, que se
intitula:
€ America abreviada, suas noticias, e de seus naturaes,
e em particular do Maranhão, titulos, contendas einstruc^
ções d sua conservação e augmento mui úteis: pelo P. João
de Sousa Ferreira, Presbytero da Ordem de S. Pedro, na-
tural da villa de Basto.
^Dedicada ao illustrissimo senhor D. Fr. José de Lan-
castre. Bispo de Leiria, e Inquisidor Geral i^, de.
A dedicatória tem a data de Lisboa, a 20 de Maio de
1693. Hum vol. de 4.S com 185 pag., na Bibliotheca Pu-
blica Eborense.
78
V 9?
Jaio Imim
E^revee:
t^Bsicmpçãa de toda a cosia da Provinda de Santa
Cruz, a que vulgarmente chamão Brasil. Por João Tei-
xeiraj Cosmógrafo de Sua Mag. Anno 1642 1^. (Manu-
scripto em 4.°)
Contém hum mappa geral de toda a costa do Brasil
áesdâ o rio da Prata fité o Pqrá, e aella vem a linha de
demarcaçãp entre Portugal e Castellc|> traçada ao poente,
e eomprelifindendo humas Ayres na parte de Portugal.
Vem no principio deste m^nuscripto. o juizo que delle
fez Bimenteii, em qpe o tacha de pouco exacto, e cheio de
eiTds, 6 eanclue : c Em summa digOj que este livro não
tem mais que koas piníurm, e Hhimiuaçôes » ; e assigna:
cJfofMtfl Bimemtel. 9
Ahi mesmo fala Pimentel, com louvor, das (Cartas qu9
entaa descrevia outro João Teixeira Alberaax, neto do pri-
meiro, e também Cosmógrafo de elrRei, e de outros dQV|s«
que 6l4lei mandara ensinar, e as fazem (diz) j4 com per-
feição. E ainda acrescenta: «iEste João Teixeira Albernaz,
quf hê uetQ do outro João Teixeira, via também e^te Uvro,
e lhe r^ecaníeceQ os mesmos erros, postoqw o primeiro sejQ
feito por seu avôi^,
N.°93
4Q^f ním Ge^ar f iganiere e Morão
psçrçypo:
€Descripção de Serra-Leóa, e seus contornos. Escfiptq
ejfi i2 çarfas. Á qfiql se ajufitãQ o^ trabalfios da Com-
missão-m^ixtajfprtifgftezq e jnglezaj ^fabelecidan'aquellq
cgfqt^iq. Q: 0. Ç. fí Sociedade Litteraria Patriótica o d-
dfl^ ^fiaguifíi C^sar Figaniere e Morão, membro da
mesma Sociedade, e ex-commissario arbitro de S. M. F*
em Serra-Leôa. Lisboa, Na impressão de João Baptista
Morando : anno 1822 », em 12, com 97 pag.
Escreveo:
< Descripção curiosa das principaesi pPo4uQ0esi^ fios,
€ animaes do Brasil, prinoipahnente da capitania de Mi-
naS'GeraeSy por Jmquim M^é Us^^ Alferes do regi-
mento regular de Villa-rica. Lisboa. Na Impressão Regia.
1804. Por ordem superior. »
He bqm folheto de 62 pag.» em 12 (Raro.)
Jorge ée Lemos
Foi natural de Goa, aonde servia de Seopetaris de dil^
ferentes Vice^Reis, e teve o Officio de Bsori^wo ài Malri-
cula.
Ssereveo 3
€Histopia dos cercos, que, em tempo de Anêenio Moniz
Barreto, Governador que foi dos estados da índia, os
Achem e Jaós poserõo d fortaleza de Malaca, senda TríS'
tão Vaz da Veiga capitão delia. Lisboa ! por àkmael de
Lira, 168õi>, em 4.^
Existe esta obra manuscripta na Bibliotbeea Publica
Eborense ^n hum vol. de 4.*, com 39 fl. sem numeraçSe.
N.« 96
Jorge da Silya
Escreveo :
f Discurso §obre as cousas dq. Indig^, ? M^Wir^ i
ManuscriptO; q^ pibliotbeca Qe^ de M^iifl;
80
N.* 97
José Cabreira
Vem referido a este auctor no Catalogo de Bluteau:
^Naufrágio da náo N. Senhora de Belém, Lisboa: por
Pedro Craesbeeck. 1636. »
(Vej. num. 30.)
N.* 98
Lopo de Sonsa Gontinho
Escreveo a obra, que vi, com este titulo :
eiLiuro primeyro do cerco de Diu, que os Turcos pose-
ram á fortaleza de Diu. Per Lopo de Sousa Coutinho,
fidalgo da caza do invictissimo Bey dom Joam de Portu-
galj ho terceyro deste nome. Foy impressa apresente obra
em a muy nobre e sempre leal cidade de Coymbraper João
Aluar ez, ymprimidor da Vniuersidade aos jvdiasdomêz
de Setembro udlvii^, 4.®
Gomprebende o liv. 1.^ e 2.^ em 85 fl. de 4.^ No verso
da fl. 85 tem esta nota :
^Acabourse a presente obra em a muy nobre e sempre
leal cidade de Coymbra, per Joam Alveres ympressor da
Universidade a xv dias de Setembro mdlvi. »
Segue-se ainda buma folba de impressão, notada com
a paginação </b. 7d», que parece ser ali mettída depois
de acabada a obra, e tem este titulo :
€SaHs façam e mercê que elRey nosso Senhor fez a An-
tónio da SUveyra: e em summa a todos os que em este
cerco se acharam. »
Em bum Catalogo Inglez de livros, por Tbomaz Tborpe^
vem esta obra de Lopo de Sousa Goutinbo com a nota de
< extremamente rara » .
Escreveo mais :
€ O primeiro Cerco de Diu, em verso. Coimbra, 1569.9
Assim o cita Bluteau no seu dito Catalogo.
81
^.•99
Lniz AntODÍo da Silva e Sonsa (Padre)
Escreveo :
€ Memoria sobre o descobrimento da capitania de Goiaz,
e seu governo, população^ e cousas mais notáveis: pelo
P. Luiz António da Silva e Sousa, natural do Serro do
Frio, Capitania de Minas Geraes. »
Vej. Jornal de Coimbra, num. 76, part. 1.*, art. 1.°
N.* 100
Luíi Froes (Padre)
Além de muitas Cartas suas sobre cousas do JapSo^ teve
ordem do seu Vice-Provincial do Japão para escrever a
Historia do Japão, em que elle diz que gastara cinco ou
seis annos continuos, e a dividira em três partes: 1.% do
clima, situação, qualidades, costumes, dec; i2.^, dofructo
que ali fizerão os Padres desde 1549 até 1578; 3.*, desde
a conversão deURei de Bungo até agora.
N.° 101
Lniz leírelles do Canto e Castro
Escreveo :
€ Memoria sobre as ilhas dos Açores, e principalmente
sobre a Terceira, considerando a educação da mocidade,
a agricultura, o commercio, a administração da Fazenda
publica, e o governo municipal: Offerecida aos Senhores
Deputados pela Comarca de Angra, por Luiz Meirelles
do Canto e Castro. Paris, imprensa de MJ^ Huzard (nas-
cida Vallat la Chapelle) Rua de VEperon, n. 1.* 1834i^,
em 4.^
TOMO VI 6
82
N.» 102
Luiz Pinheiro (Padre)
Foi natural de Aveiro : Jesuita, Superior do Goliegio de
Ponta Delgada na ilha de S. Miguel desde 1506 até 1600.
Foi neste reino companheiro do Provincial muitos annos,
Visitador das ilhas, e Procurador na corte de Madrid. Es-
crevèo em lingua Castelhana :
€Relaci(m dei successo, que tuvo ntiestra Santa Fem
los reynos dei Japon, compuesta por Lups Pinheiro. Ma-
drid, 1617r^s foi.
Obra, que em hum Catalogo Inglez he qualificada de
muito rara. Vej. Historia Insulana do Padre Cordeiro,
liv. 5.^ cap. 21.", art. 259.^ pag. 230. Vej. também fit-
bliotheca Histórica de Portugal, edição de 1801, em 4.®,
pag. 377.
N.« 108
Luís da l^lya loftEÍnho de Albuqfterque,
4) sea Ajudante Ignacío Pita de Castro e lenezes
Publicarão :
^Observações sobre a ilha de S. Miguel, recolhidas p^
Commissão enviada d mesma ilha em Agosto de 1825, e
regressada em Outubro do mesmo anno: por Luiz da
Silva Mouzinho de Albuquerque e seu Ajudante Ignacio
Pitta de Castro Menezes. Lisboa. Na Impressão Regia:
anno 1826. Por ordem superior y>, em 4.°
N.*» 104
Luiz de Sousa (D.)
Escreveo :
M^Tractatus de Jure Patronatus Indico-Lusitano, &c.
Auctore D. Ludovico de Sousa Episcopo Portalegrensi,
Br achar ensi Archiepiscopo^, &c.
Manuscripto original em 134 £1., na Bibliotbeca Ebo-
rense, aonde existe huma cópia moderna em 4."
N
83
N.° 105
Lniz Teixeira
Foi este Portuguez Gosmogr^lo 4,e ^l^Rei. P&IIb diz Or-
telio no Catalogo dos auctores de Taboas Geográficas :
(íLudovicus Teixera Imiiafius As sores Insulas des-
cripsit: item Japoniam Insulam: anuo a Christo nato
1584.1^
m
O mesmo Ortelio no seu Theatrum orb. terrar. traz
copiadas as Cartas Geográficas de Teixeira, tanto a dos
Açores, como a do Japão; e na primeira põe esta in-
seripçao :
€Has Insulas perlustravitj summaque diligentia ogcu-
ratmime descripsit, et delineavit lAidovicus Teisera, Lu-
sitanusj Regiae Majestatis Cosmographus : anno a Christo
nato 1684. »
N.° 106
Manoel de Abreu louzinho
Foi o auctor do Discurso sobre a conquista do Pegú
pelos Portuguezes, sendo Vice-Rei da índia Ayres de Sal-
danha, no anno de 1600. Este Discurso, que o escriptor
escreveo em Castelhano, foi impresso em Lisboa, ndoffi-
cina de Pedro Craesbeeck, 1617, em 8.®, e delle faz men-
ção Barbosa na Bibliotfieç^ f^u&itçfi^.
Sahio em Portuguez com a Peregrinação de Fernão
M^des Pinto em 1711, sem a (dedicatória ao Puque de
Lerma, sem o prologo ao,leitor, e sem o nome do auctor.
Sobre esta se fez 9 reicente edição com o titulo:
íiBreve Discurso, em que se contq, a conquista lio reyno
jj^ Pegú na índia Oriental^ feyta pelos Portuguezes em
tempo do Visorrey Ayres de Sald<mha, sendo capitão Sal- *
mâor Ribeyro de Sousa, chamado Mf^^singa, mtwal de
Guimarães, a quem os naturaes de Pegú elegerão pof ^^
84
Rey no armo de 1600. Nova edição. Lisboa: na Typo-
graph. Rollandiana. 1829. Com licença daMeza do Des-
embargo do PaçoT^: em 12.
Vem DO 4.^ vol. da nova edição de Fernão Mendes
Pinto, de que ha pouco falámos.
N.» 107
lanoel de Almeida
Escreveo :
^Historia Gerai da Alta Ethiopia^ impressa em Coim-
bra em 1660 i>j em foi.
Manoel de Almeida (diz Mr. Gamas na obra citada,
num. 6, supra) era hum Portuguez, missionário Jesuíta.
Existem delle Cartas, que todos os aonos escrevia ao seu
Geral, e que forão impressas em língua Italiana, em Roma,
1629, 12.
Destas, e de outras Memorias de muitos Jesuítas com-
pilou Telles (Baithazar) a Historia Geral da Ethiopia a
alta, ou Preste João, dcc., de que aqui se trata.
Thevenot publicou extractos desta obra, e de outras
do mesmo assumpto, com notas interessantes, e pre-
ciosas.
(Vej. num. 117.)
N.» 108
lanoel Ayres de Cazal (Padre)
Presbytero secular do Gran-Priorado do Crato. Es-
creveo :
n Corografia Brasílica, ou Relação Historico-Geogra-
fica do Reino do Brasil, composta, e dedicada a Sua Jto-
gestade Fidelissima, por hum Presbítero Secular do Gram
Priorado do Crato. Rio de Janeiro,, na Impressão Re-
gia, M.Dccc.xvn. Com licença e Privilegio Rèah, 2 vol.,
em4.^
85
N.*» 109
lanoel do Cenáculo (D. Fr.)
Bispo de Beja, e depois Arcebispo de Évora. Existe na
Bíbliotheca Eborense, instituída por este sábio e iliustre
Prelado :
« Correspondência entre elle, e os Bispos e Missionários
da Chinay acerca das missões daqueUe paiz nos fins do
século 17 e principios do sec. 18. >
Muito interessante. (Manuscripto.)
N.° 110
Manoel Constantino (Dr.)
Com este nome achámos em alguns escriptores o mesmo
que D. Francisco Manoel na sua Epanafora 3.^ noméa
Doutor Manoel Clemente. Foi natural do Funchal ua ilha
da Madeira; professou Artes em Roma, aonde foi Prega-
dor Pontiflcio, e lá falleceo no anno 1614. Escreveo, e
dedicou ao Santo Padre Clemente Vil:
(í Historia insulae Mater iae. Romae, 1699 y^y 4.°
Escreveo outras obras, que nao pertencem ao nosso
especial assumpto.
N." 111
lanoel Gaspar
Existem na Bibliotheca Eborense (manuscriptos) :
fiLxbro universal de derrotas, alturas, longitudes, e co^
nhecensas de todas as navegações destes reinos de Portu-
gal, e Castella, índias Orientaes e Occidentaes, o mais
copioso, e claro que pode ser em serviço dos navegantes.
Ordenado por pilotos consummados nesta sciencia, e vir-
tudes de aproveitar en serviço de Deos. En Lixboa o pri-
meiro de Março de 1694, De Manoel Gaspar^j I voL, 4.**,
até pag. 83 com figuras, escripto em Castelhano. Depois
segue em Portuguez :
« Roteiro da carreyra da Índia e dos rumos a que se á
de governar, e dos sinaes que nesta viagem se achão com
as differenças da agulha. Composto por Vicente Rodrigtm
piloto mór delia. »
Em 15 fl;^ sem numeração, letra de 500.
(Vej. num. 138.)
^Roteiro da viagem e costa de todo o Brasil, navegando
para elle das ilhas.de Cabo verde até o rio da Prata j», 7 fl.
<i Roteiro que conta desde a ilha de Santa Catarina até
o rio da Prata j>j 3 fl.
N.^ 112
lanoel Godinho (Padre)
toi natural da villa de Montalvão, e religioso dá ex-
tincta Companhia de Jesus. Passou depois a Clérigo se-
cular, e foi beneficiado em S. Nicoláo de Lisboa, Prior
desta parochia, è ultimamente Prior de Loires. Senáo
Jesuila foi mandado ás missões da índia, e em 1663 vol-
tou por terra a Portugal, mandado pelo Vice-Rei António
de Mello de Casíro. Acho notado na Biblioiheca Histórica
o seu nascimento em 1633, e o fallecimento eín 1712. Ès-
creveo :
(íRelação do novo caminho; que fez por terra e mar^
vindo da índia para Portugah no anno de 1668 ^ o Padre
Manoel Godinho, dã Companhia de JèsUè, Lishúã: por
Henrique Válmte de OHveird, 1665 i, $."
Vem em hum Catalogo Inglez de livros com o mesmof
titulo, e cotn a notaf de (n excéssivaniènte roTon.
Reimprimio-se, erii Lisboa, na Typographia da Sotiè-
dade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, e por ella pu-
bMcada, eto 8.%- 1842, em 284 pag;
87
N.M13
lanoel Godinho Cardoso
Escreveo :
<i^Relaçãp do naufrágio da náo Santiago^ 1602. »
Assim cita o Padre Bluteau esta Relação no Catalogo
dos livros, que leo, para a composição do seu Vocabu-
lário, Yej. porém nestes nossos Apontamentos o num. 30.
N,M14
lanoel Gonsalves (Piloto)
Escreveo :
«í Jornada que fizemos da capitania de Pernambuco
•cow a armada, em que veio por capitão Alexandre de
Moura d conquista do Maranhão^ e trouxe por piloto na
capitania a Manoel GonsalveSj o Regefeiro de Leça. »
Manuscripto, em fl., na Bibiiotheca Real de Madrid.
Acaba : <íEsta he a viagem que fizemos de Pernambuco
a esta terra do Maranhão )k E assigna n Manoel Gon-
salves».
N.° 115
lanoel José Gomes Loureiro
Natural de Lisboa, formado em Leis na Universidade
de Coimbra em 1792, e Bacharel em Filosofia. Sérvio vá-
rios lugares da magistratura no reino, em Moçambique,
e Goa, e ultimamente foi Conselheiro no Conselho do Ul*
tramar, de.
Escreveo :
€ Memorias dos Estabelecimentos Portuguezes a Veste
do Cabo da Boaesperançaj pelo Cofiselheirêf Mãn&ei idwê
Gomes Loureiro^ que sérvio no extincto Conselho Ultra-
marino. Lisboa. Na typographia de Pilippe Nery. AnH^
1836 1», 4.*^
Esta obra deve ser lida pelos que tem a sen cargo di-
88
rigír e governar os negócios daquelles paizes: be escripla
com muito conhecimento das leis e costumes dos povos,
e o auctor dá os mais saudáveis conselhos com a intelli-
gencia, e pureza de moral, e amor do bem publico, que
sempre o tem caracterisado. Ainda vive (1843).
N.° 116
lanoel Pinheiro (Padre)
Escreveo :
<tAnnuas de 1599 da missão do Mogor. »
N.° 117
lanoel de Sá (Padre)
Escreveo :
^Relação de successos no cerco de Mombaça. »
N.» 118
Manoel da Veiga (Padre)
Vi em 1841 o seu livro intitulado:
a Relaçam Geral do Estado da Christandade de Ethio-
pia; Reduçam dos Scisma ticos; Entrada e Recebimento
do Patriarcha D. Affonso Mendes; Obediência dada pelo
Emperador Seltã Segued com toda sua corte á Igreja
Romana; e do que de nouo socedeo no descobrimento do
Thybets a que chamam gram Catayo.
€ Composta e copiada das Cartas j que os Padres da
Companhia de Jesu escreueram da índia Oriental dos
annos de 624. 625. e 626.
fíPelo Padre Manoel da Veiga da mesma companhia,
naUtral de Villaviçosa.
€Com todas as licenças necessárias. Em Lisboa. Por
Mattheus Pinheiro. Anno de 1628», l vol. em 4.® pe-
queno.
(Vej- num. 12 e 107.)
m
N.* 119
laria Antónia de S. Boayentnra e lenezes (D.)
Esta Senhora foi malber de Rodrigo de Soasa, filho ser
gundo do primeiro Conde de Redondo. Passou do Italiano
ao Portuguez:
. « Historia da Igreja do Japão j em que se dá noticia da
primeira entrada da Fé naquelle império, dos costumes
daquella nação, gentes, suas terras, e cousas muito cu-
riosas e raras y para os eruditos estimáveis, e para todos
gratas. . . Lisboa. 1749-1766 i^y 3 tom. de 4.°
O 2.** e 3."* tom. tem "por título:
<í Historia da Igreja do Japão, em que se continuão os
progressos da religião catholica, e vários successos, e
perseguições da mesma Igreja naquelle império. . . »
A obra Italiana, d'onde esta Portugueza foi traduzida,
he:
aLa Storia delia Chieza dei Giappone dei Rev. Padre
Giovanni Crasset delia compagnia di Jesu, traduzione
dei franceze di Selvaggio Canturani. Venetia, 1722 ^y
4 tom., em 8.®
E a original de Crasset be :
. a Histoire de VEglise du Japon. Paris, 1716 » , 2 voL, 4.*
 nossa íUustre traductora somente traduzio quinze
livros, faltando ainda cinco, que ella não concluio, acaso
prevenida pela morte.
N.-120
larqnez de Aloma
Vi hum folheto de 85 pag., em 4.^, com este titulo:
c Instrucção dada pelo Excellentissimo Marquez
dr' Aloma ao seu successor no governo do Estado da ín-
dia o Ex."^ Marquez de Távora. Góa. Na Typografia do
Governo. Anno de 1836. »
90
Contém Resumo Histórico da vida do Marquez de
Alorna; as suas Instrmçoes : Lista das pessoas premia-
das pela tomsHia de Alorna ; Resumo íHèUtritb dos sue-
cessos da campanha de 1746, em que se tomou a praça
dè Aloiina.
N.« 121
Mijídé] d« Castanhoto
Foi od expedição de D. GbrístovSo da Gama em auxilio
doRéi d(J» Abexis, © esereveo hum copioso Tratado desta
jornada, dií Diogo do Couto^ dec; 5.*,» liv. 8.^ cap. 7.®, e
liv. 10.^ cap. 4.^ A expedição foi no anno de 1541, e acho
designado o Tratado com este titulo:
€ Historia das toiísasi què o mui esforçado capitão
D. ChristovSo da Gama fez nos reinos do Preste João,
Uèbúãf lõ64i^3 4;^ (Obra raríssima.)
N.« 122
Nieolio Pimenta
Acho nos meus apontamentos notada :
€Nova Relatio histórica de rebus in índia orientali
gestis a Nicol. Pimenta. Moguntiae^ 160U^ em 8.°
N.°123
Nuno da Síha
Piloto Portuguez, aprisionado pelo Inglez Francisco
Draèck junto das ilha^ de Cabo Verde. Na Histoire de la
náíHgátion dè Jéan Hugues de Linschotj hollandais, aux
indes Orientales. . ., impressa em Amsterdam eín 1619,
temho tap. 55.°:
€ Relação feita na cidade do México èm presença dú
,9t
mce-Rei da nova Hespanha, por Nuno da Silva^ piloto
portuguez, tomado por Francisco Draeck, inglez, junto
das ilhas de Caboverãe; dú que ellé observou na viagem
do dito Draeck passando pelo Estreito de Ma^dlhãés até
ao havre de GUatulco na nóvá Hespanha^ áònd^ foi pústo
em liberdade. »
Pareceo-nòs nãò" devef* omlttif aqui este nolòe, por-
quanto delle temos ainda otitíá noticia, ^uè hos dâ ííír. Ca-
mus na sua « Memoire sur la collection des gratíds etpètits
voyagesj et sur la collection des voyages de Melchisedech
Thevenot. Paris, 1802», 4.^
Diz este douto escriptor, que a viagem de Francisco
Draeck começou á Í8 de NWembro de 1S77, àahíndo de
Plimouth, e acabou, entrando elle em Inglaterra aâdè
Novembro de 1580. Qué d primeira Relação destU via-
gem foi escripta por Nuno dá Silva, Portuguez, á qtiem
Draeck fizera prisioneiro ; è que segundo ésíd títídçãO he
que Artus escreveo a RelaÇao Latina, publicada por De
Bry na sua coUecçao.
Não achámos em Barbosa Machado o nome deste Por-
tuguez.
N,°124
Paiilo Rodrignes dá Costa
Escreveo :
<í Relação da jornada e descobrimento da ilha de S, Lou-
renço, que o Vice-Rei da Ihdiá D. Jeronymo de Azevedo
mandou fazer por Paulo Rodrigues da Costa, capitão e
piloto descobridor. »
Partirão os descobridores eni 27 de Jatíeirò de 16Í3.
Existe hum eiempiar desta obra na Bibliotheca Publica
Eborense, e consta de 227 pag. em 4.**
Também existe hum manuscripto em foi. desta obta na
Bibliotheca Real de Madrid. Tem no fim huma Carta (jue
Fr. Athanazio, Religioso dè Santo Agostinho, escreveo dó
sul ao Arcebispo D. Fr. Aleixo de Menezes.
98
lí/126
Pedro de Almeida Cabral
Escreveo:
€ Informação dos reinos de Monomotapa^ e Rios de
Manuscripto em 6 pag. de fl., feito por ordem regia
em Carta de 15 de Novembro de 1630. Na Bibliotbeea
Real de Madrid.
N.» 126
Pedro da Costa Perestrello
Poeta celebre no seu tempo, contemporâneo de Ca-
mões, Secretario.de el-Rei, e Capitão de hnm navio na
batalba de Lepanto. Compòz bum Poema com o título :
^Descobrimento de D. Vasco da Gama. t>
Manuscripto em seis cantos, em oitava rima. Dizem,
que abandonou a idéa de o publicar, depois que safaírão
á luz os Lusíadas.
N.'» 127
Pedro Lopes de Sonsa
Escreveo:
€Historia do primeiro cerco de Diu. Coimbra, lõ6õ.»
Vem no tantas vezes citado Catalogo de Bluteau.
N.*128
Pedro lascarenhas (D.)
Vice-Rei da índia. Escreveo :
11 Roteiro dos portos, derrotas, alturas, cabos, conhe-
censos, resguardos, e sondas, que áper toda a costa des
do cabo de boaesperança até o das correntes. »
Um vol. de foi. com "áI fl. sem numeração, dedicado a
el-Rei D. Sebastião. Letra de 500. Parece original. Biblio-
tbeea Publica Eborense.
9a
N/129
Pedro TaYares-^Joio de Payya (Padres)
Escreverão :
€ Carta e verdadeira Relação dos successos do Padre
Pedro Tamres, da Companhia de JesuSs em as suas mis-
sões dos reinos de Angola e de Congo, tudo também com-
posto pelo mesmo Padre, em quanto a saúde lhe deo lu-
gar, &c. E depois continuado pelo Padre João de Payva,
vice-reitor do collegio do Porto, como testemunha de vista,
pessoa de muita virtude. »
Original em foi. com 40 fl. Manuscripto na Bibliotheca
Pablica Eborense.
N/ 130
* Pedro Teixeira
Ignorámos a sua naturalidade, e as circumstancias da
pessoa. Foi duas vezes á índia. Da primeira, veio a Or-
muz, correo a Pérsia, esteve nas Filippinas, e na Nova
Hespanha, e aportou a S. Lucar em 1601, d'onde veio a
Lisboa. Da segunda vez sahio da índia, vindo de Goa a
Baçorá, Bagdad, Alepo, de. D'ali passou a Veneza, e por
ultimo a Anvers, aonde residio, e publicou as suas Rela-
ções, obra rara, com o titulo :
^Relaciones d'el origm, descendência, y succession de
los Reys de la Pérsia, y de Harmuz, y de un viagè hecho
por el mismo autor dende la índia Oriental hasta Itália
por terra. Amberes, 1610-6^ em 8.°
N.» 131
Salvador Dias
Escreveo :
^Relação da fortaleza, poder, e trato com os Chinas,
que os Hollandezes tem na ilha Formosa. »
9k
Era o auctor natural de Macáo ; esteve captivo na ilha
Formosa, e d'ali se escapou em Abril de 1626. Manú-
scripto em f^ p^g. .# íbl I^g Bibliptbcica Rd^ de Madrid.
N.° 132
Simão António da Rosa Pinheiro
VilioannodelSiO:
« Carta plana da cosia fio Brazil, que eantém das ilhas
de Santa Anna thé a pontç, de Juatínga, feita por Simão
António da Roza Pinheiro j para uso da marinha portu-
gueza. Primeira impressão feita no Rio Janeiro, 1786, »
Nesta mesma Carta vem :
(íPlanta do Rio de Janeiro, em petipé de 3 léguas. »
Tudo em buma folha de quasí dous e meio palmos de
largo, e pouco mais de p^lçio p meio de alto^ e tem no
fundo «-4. i. H. Faria f.^i^.
OuCra Carta em pergaminho de quatro palmos de com-
prido, e pouco mais de outro tanto de alto, com esta in-
geripçao:
c Carta Reduzida, e ém muita parte reformada peias
observações mais justificadas dos melhores autores, eis-
trommos modernos, que parecerão mais coher entes pelas
exactíssimas averiguações de piláíos eruditos, e do Ro-
teiro portuguez. Em que se comprehendem as costas do
Oceano e Mediterrâneo para uso da marinha. Offeredda
ao illustrissimo e egpcellmtissimo Senhor Luiz de Vascon-
cellos e Sousa, do Conselho de Sua Mag. Fidelissima,
vice- Rei e Capitão General de mar e terra do Estado do
Brasil, por Simão António da Roza Pinheiro. Primeira
impressão no Rio de Janeiro. Anno de 1786. »
Na parte da America V0n)i esta declaração :
<c Declaração preliminar. — Não se faz muito sensivel
o parecer dos geógrafos sobre a positura, em que assi-
gnalão a foz de Bio das Amazonas, nem a terra que desta
díBcorre para oestes i^súm t^wbaiQ fioiicor^o r^ sUk^^p
do cabo (te Sant^ Am^ na cost» ^ Gm^. — Pprép ym»s
£9rtas iii9pressas m Norte appreé^atlp dijivi4a ^a siMia-
ção, em que poserão a jcost? jQ^ieft^al dp Sraâii> pQf^o 9^
vé nos lagares indicados com as Ip^r^s a, q, a, ^ mQ,$)QP
passO; que sendo nellas a differ^nçi^ dç loi;tgiti;i4e ef#^ os
meridianos do cabo de S. Roque, e a po^ta da Tjgjpca de
13% 30^ Pilotos peri^tos, e de bum jcaracf^Qr djgiap 4« atteç-
ção, acbão a difi^renfia destes mer)diauP3 4e IS""; |.5^ no
que justamente jcona^rdão ^om o Roteiro pprtugi^a;. —
Os astrónomos mod^rnqs sf tuão jC^frio m loj^ií^dQ (jie
339^, W : logo a differenç» de longitude ^este n^ri^m)
para a de cabo-^eg^o da cosjta de A/r^ea $erf,a 4§ W» 46',
por^ nao acontece iassiqi pejk) ipie ;ie fioji|^g^ ^s j^^-
qujentes derrotas dos pilotos, os q^iíps. . . a.(^ar|io ^ djffe-
renç^ 48"^, 45', m que h^em jcancoi;<?a o nosso BQteW); .• •>
se infere, que d^e seguir-se a prjjjçiejrtí OBfWlíQ PPíJ^^jí f ft-
sultar gravi. • . prejuízo á navegafão portugpez^, — Êoji
todas as cartas assignal|o bunjia ilb? da^^^õo w ^Itvrja
de 20°, W de latiítu4e aijistraj, qm pão existe. PB,s#r
guindo o ja(iesipio> advirto ^ erro. 1
N," 133
« ' •
Vi em Outubro de 1841:
m Relação Summaria das cousas do Maranhão, Escrita
peb capitão Symão Estado da Sylveira.
^Dirigida aos pobres deste Reyno de Portugal.
^Em Lisboa. Com todas as licenças necessárias. Por
Geraldo da Vinha. Anno de 1624i>^ foi.
N.« 134
Valentim Fernandes
96
PatUo pelos paízes mais orientaes no século xiii. Esta via-
gem sahio em língua Portugueza com este titulo :
€ Marco Paulo traduzido em lingoagem, impresso por
Valentim Fernandes alemãaOj em Lisboa: era de 1Õ02 a
4 de Fevereiro », em foi.
Vem logo no principio :
€Epistola sobre a trcUladaçã do liuro de Marco paulo,
feita por Valentim Fernandes, escudeyro da ex."** Raynha
D. Lyanor^ enderençada ao serenissimo e inuictissimo
Rey de Portugal e dos Alguarues, daquem e alem mar em
Africa; Senhor de Guynée, e da conquista da nauega^om,
e comercio de Ethiopia, Arábia, Pérsia, e da índia, »
Nesta Epistola, falando da extensão dos paizes, a que
tem chegado o nome Portuguez, diz a el-Rei D. Manoel:
tPassou vossa senhoria, nõ digo soomente toda a linea
Equinoccial, mas ainda aos últimos fins do occidente, e
começo de oriente até ás terras do gram Cham, onde já
começa de soar vosso poderoso nom". onde jazem as muy
nobres prouincias Tenduch. Mangy. Tanguth. etc. o prin-
cipio das quaes, segundo o meu pequeno saber achou a
muy honrrado fidalguo Gaspar Corte-reah , drc.
Logo depois :
< Começa-se a introducçam em o liuro de Marco Paulo
^eyta pello dito Valemtim Fernandes. »
Depois:
tSeguenhse certos capitulos das provindas do titulo Real
de vossa Senhoria. E primeiramente deEthiopia. . .», de.
Sem embaixo de poder parecer pelas frases, que dei-
xámos copiadas, que Valentim Fernandes foi o traductor
de Marco Paulo, temos comtudo por muito mais provável,
que elle não escreveo senão a epistola, e introducção, e
que o corpo da obra foi traduzido por outrem, e he de
data mais antiga. A razão que temos de assim pensar, he
que no Catalogo da livraria de el-Rei D. Duarte, que vem
impresso no 1 .^ vol. das Provas da Historia Genealógica
97
já se acha notado n Marco Paulo, per lingoage» (2). E se
e^ta he, como parece, a iraducçao agora impressa, não
he verosímil que fosse feita por Valentim Fernandes, quasi
setenta annos antes do tempo, em que a imprímio.
N.M35
Vasco da fiama
Sempre me pareceo fora de duvida, que o grande Vasco
da Gama havia de apresentar a el-Rei D. Manoel a Relação
e Roteiro da sua navegação á índia, escripta por elle
mesmo, ou por elle dictada, e mandada escrever, con-
forme a pratica de todos os navegadores.
Ortelio me confirmou nesta conjectura : porque no seu
Thealrum Orb. terrar.^ impresso em Antuérpia em 1612,
na nota, que precede á Tab(ía 4 de Africa, apontando os
auctores, que descreverão esta parte do globo, diz: ^Ex
recentioribus consule Aloysium Cadamostum, Vascum
de Garm, Francis ctim Alvarez j qui Aethiopiam perlus-
traviti» ác.
Na Collecção das Cartas de Américo Vespucio^ publi-
cada por Bandini em 1745, vem no art. 3.^ aRelação de
huma expedição^ feita por ordem de el-Rei de Portugçl,
pelo Cabo da Boa-esperança a Calicuty dirigida a Lou-
renço Pedro de Medicis, a que Bandini chamou inédita.
Esta Relação (segundo Camus) he a própria de Vasco da
Gama, cw 1497, compilada por Américo Vespucio, ou co-
piada por elle da outra.
Agora mesmo (quando isto extrahiamos dos nossos an-
tigos apontamentos, neste anno de 1838) soubemos que
se achara o Roteiro de Gama, e que se dera á luz na ci-
dade do Porto com o seguinte titulo :
fL Roteiro da viagem que em descobrimento da índia
(2) Aliás Marco Paulo latim e lingoajein, em hum volume.
TOMO VI 7
pelo Cabo da Boa Esperança fez Dom Vasco da Gama
efn 1497 — Segundo hum manuscripto coetâneo existente
na Bibliotheca Publica Portuense, Publicado por Diogo
Kopkej Lente de Mathematica na Academia Polytecknica
do Porto, e o Dr. António da Costa Paiva, Lente de Bo-
tânica e Agricultura na mesma Academia. Porto, na ty-
pographia Commercial Portuense, 1838. »
N.-» 136
Vicente Ferreira Pires
Natural da Bahia: partio desta cidade a 29 de Dezem-
bro de 1796, por Enviado Apostólico de Sua Alteza, em
companhia do Embaixador Ethiope do Rei de Dabomé
D. João Carlos de Bragança : foi ao reino de Dahomé, . e
voltando chegou á Bahia a 5 de Fevereiro de 1 798. No
anno de 1 800 escreveo, e offereceo ao Príncipe Regente
a sua
« Viagem de Africa em o Reino de Dahomé. »
Manuscripto em 4.'', que se conserva na Livraria Real
da Ajuda, neste anno de 1839.
N.'» 137
Vicente de Nazareth
Entre os livros, que vierão da Cartuxa de Évora para
o Deposito de S. Francisco da cidade, vi hum com este
titulo :
« Cartilha, que conlém brevemente o que todo christã
deue aprender pêra sua saluaçam. A qual elrey dom Jo*
ham. terceiro deste nome, nosso senhor ^ mandou impri-
mir em lingoa Tamul e Português, com ha decraraçam
do Tamul, por cima, de vermelho. »
Logo depois do frontespicio tem:
(n Prologo de Vicetite de Nazareth: e Jorge Carualho: e
m
de Tkamé da Crm, Índios. A elRey no&so Sefêor sobre ka
doctrina xpãUj q, S. A. lhes mandou tresladar na lingoa
que se chama TamuL »
Forão auxiliados neste trabalho, segundo elles mesmos
referem no Prologo, por Fr. Johã de Villa do Conde da
Ordem de S. Francisco da província da Piedade, ])eh no-
ticia que tinha da christandade da índia, por alguns annos
que nelta lá andara por mandado de Sua Alteza.
No flm do livro se lô :
«Foy impressa a presente obra em a muy nobre e sem-
pre leal cidade de Lixboa^ per mandado delrey nosso Se-
nhor, e vista pola saneia inquisiçam: impressa per Oer-
mão GalhardOj impressor de S. A. aos ij de feuereiro^
anno de mil e quinhentos, e cincoenta e quatro aUos: Laus
Deoif, em 4.®
N.* 138
Vicente Rodrigues
Manoel Pimentel, na sua iríe de Navegar, ác, edição
de 1712, pag. 223, cita deste escriptor o
« Roteiro da Índia. »
Varias obras de anetores anonymos
N.'» 139
'^ Breve Relação das Escripturas dos Gentios da Índia
Oríentalj e dos seus costumes. »
dNoticia summaria do Gentilismo da Ásia. »
Estes dous curiosos Tratados forão publicados pela
Academia Real das Sciencias de Lisboa no tom.^l.^ da
Collecção de Noticias para a historia e geografia das na-
ções ultramarinas, num. 1 e 2, 1812, 4.°; e parece terem
sido obra dos Missionários Portuguezes, que andavão na-'
100
quelles paizes, e talvez dos Jesuítas. Vej. a Prefação aos
mesmos Tratados.
N.'' 140
« Catalogo dos Governadores do Reino de Angola, com
huma prévia fwticia do principio da sua conquista, e do
que nella obrarão os Governadores dignos de memoria, i
Este opúsculo foi impresso na Collecção de Noticias e
Memorias para a historia e geografia das nações ultrama-
rinas, da Academia Real das Sdencías de Lisboa, anno
de 1826, tom. 3.®, part. 2.'; e foi escripto pelos annos
1784, em que o auctor termina o seu trabalho com a
posse, que o Barão de Mossamedes tomou do governo de
Angola.
Parece escripto com verdade e singeleza, e pôde ter-se
como hum resumo dos principaes successos daquella con-
quista Portugueza, da ampliação successiva dos seus li-
mites, e da fundação dos presidios delia dependentes até
á referida época.
N.^ 141
Vi em Setembro de 1841:
^Relaçam d'algumas cousas mais notáveis, que os Re-
ligiosos de Santo Agostinho fizerõo na Pérsia em serviço
da sancta Igreja Romana, e de Sua Magestade até o
anno passado de 1607. Que mandou fazer o Padre Pro-
vincial de S. Agostinho. Impressa com licença da sancta
Inquisição. Em Lisboa. Por Vicente Alvarez. Anno 1609.
Vendese na tenda de Simão de Carvalho, mercador de
livros. »
He hum pequeno vol. em 12, com 31 fl., e na ultima,
no verso, huma estampa de Santo Agostinho.
A fl. 14 deste livrinho vem:
« Relaçum da guerra, que o Xá Rei da Pérsia tem mo-
vido contra o Turco desde Setembro de 1603 até Dezem-
iOi
br o de 1604. E das victorias que alcauçou, e dos bens,
que se seguem delias pêra a christandade, e dil(Uação da
ley Evangélica. »
N.° 142
Manuscrípto em fl. intitulado:
« Descripção Geográfica, Topográfica, Histórica^ e Po-
litica da Capitania das Minas Geraes, seu descobrimento,
estado civil e politicOj e das rendas Reaes. Anno 1781. »
N.*» 143
Publicou-se em Lisboa em 1786, em 4 vol. de 4.^, tra-
du7.ida em Portuguez a
•Histoire des decouvertes, et conquétes des Portuguais
dam le nouveau monde: par Lafiteau.* Paris, 1733,
2 vol. em 4.®
Alguns attribuem a traducção ao Capitão Engenheiro
Manoel de Souza, bem conhecido entre nós pelas suas
traducções, e por outras obras.
N.» 144
M Memorial das Missões , que se fizer ão desta província,
desde o an. de 1641, no qual se começou a fundar a Com-
panhia em Portugal. i>
Caderno manuscripto original, em 26 fl., na Bibliotbeca
Eborense. Contém o catalogo dos padres, e irmãos da
Companhia, que forão enviados á índia em cada anno
desde 1541 até 1607.
N.'» 145
^Navegação d ilha de S. Thomé. »
Esta navegação escripta por hum Piloto Portuguez, na-
tural de Yilla do Conde, foi inserida na collecção de Ra-
muzio em lingua Italiana, donde a fez passar ao Portuguez
a Academia Real das Sciencias de Lisboa, por não haver
noticia da existência do original Portuguez. Vem na Col-
lecção de Noticias para a historia e geografia das nações
ultramarinas^ tom. 2.®, nuna, 2.
Foi impresso em 18i2 com este titulo:
^.Navegação de Lisboa á ilha de S. Thomé, escriptapor
hum Piloto PortugueZy e mandada ao Conde Raymundo
de la Torre, gentil-homem Veronezi>, 4.°
Não sabemos o nome do escriptor, sobre o que pôde
vêr-se a Introducção, que vem á frente da edição Acadé-
mica. Parece que a obra foi escripla pelos annos de 1531,
pouco mais ou menos. O auctor tinha navegado para
S. Thomé cinco vezes, como elle mesmo diz. Era muito
versado não só nos estudos da sua profissão, mas também
na leitura dos antigos geógrafos, principalmente de Pto-
lomeo, e foi o primeiro, que deu htima interpretação
sufficiente do Périplo de Hannon, monumento, que até
então era reputado iiiintelUgivel, Ac Assim se explica o
douto auctor da citada Introducção,
N.» 146
^Navegação do Capitão Pedro Alvares Cabral, escripta
por hum Piloto Portuguez. »
Ignoramos o nome do auctor deste escripto, e somente
sabemos que foi na armada de Cabral, sabida de Lisboa
em 1500, e que presenciou os successos que refere.
Esta Relação escripta em lingua Portugueza, foi tradu-
zida em Latim por Archangelo Madrignano, e inserida no
Novus Orbis Regionum ac Ifisularum, de Grineo, donde
passou em Italiano á Collecção de João Baptista Ramuzio.
Não havendo esperança alguma de se achar o original
Portuguez, a Academia Real das Sciencias de Lisboa a fez
m
traduzir do Italiano de Ramuzio, e a publicou na Collecção
de fwHcids para a hisloria e geografia das nações ulirQ"
marinas, ác, tom. 2.®, num. 3.
Foi impressa em Lisboa na Typografia da Academia
em 1812 com este titulo:
(^ Navegação do Capitão Pedro Alvares Cabral, escripta
por hum Piloto Portuguez, traduzida da língua portu-
gueza para a italiana, e novamente do italiano para o
Portuguez^^k,^
Se esta he (como parece) a Relação, que Barbosa Ma-
chado attribqe ao próprio Cabral, certaniente elle se equi-
vocou neste ponto, pois delia mesma se vê, qqe aquelle
illustre Capitão não foi o seu auctor. Comtudo parece ve-
rosímil que Cabral escrevesse, ou mandasse escrever o
Roteiro e Relação da sua navegação para o apreseptar a
el-Rei, como era pratica geral naqqelles tenapos.
No Supplemento ao Catalogo Inglez de Thomaz Thorpe,
de 1834, vem no num. 31 hum artigo, que sem duvida se
refere a esta obra, e por isso o poremos aqui tal como se
lê no dito Supplemento, sem emendarmos os palpáveis
erros typograflcos do compilador Inglez :
«5Í. Aliares (Pedro) Navigatione per V Oceano à le
Terre de la bassa Etiópia — Navigatione de Lisbona a
Callichut; de lingua Portugallese — Chr. Colombo Navi-
gatione delle Isole e Paese nouamente ritrouate — Alb.
Vesputio a Lorenzo Petre de Mediei, dei Nouo monde, de
lingua Spagnola interpretato in idioma Romana — Li-
bro de la cose da Calichiit conforme a la Nauigatione de
Pedro Aliares, acrissime per alcune littere lÔOU, ác,
em 4.° — Milano, JJ" Angelo Scinzenzeler, 1519. i^ Extre-
mamente raro, impresso a expensas da Família Legnano
de Milão, e não conhecido de Richarderie.
Por este tão incorrecto artigo se vá manifestamente,
que a Navegação de Pedro Alvares foi logo conhecida na
Itália, e lá traduzida, ou extractada na Collecção de Milio
104
de 1519, já coDferida com outras Cartass que provavel-
mente tratavão do mesmo objecto.
N.'» 147
Na pasta de hum livro antigo, em pergaminho, do car-
tório do convento de Palmella, li em letra do século xvi,
esta nota :
a Na era dfi Ôlô aos 26 dias de notienhro troxeerama
este convento hu bordam, e hua vieira, e huas contas,
tudo douro, as quaes peças mandou a" dalboquerque da
índia pêra ho noso paira Stiago, as quaes hos freires e
crelligos da villa com muita parte do pouo trouxeram
com honrrada persisã a este convento, em ho quall tempo
era do anta soprior, e J/ rcliz samcristam.
fíEpor ser verdade asiney aqui.=Joham roíz. »
N.* 148
a Papeis do Maranhão. »
Livro manuscripto de 40 fl. em foi. com noticias e do-
cumentos relativos áquelle estado. Do principio do sé-
culo de 700, na Bibliotheca Eborense.
<f Noticias do Maranhão 9, em foi.
Em hum livro de 509 fl. com noticias, c documentos,
muitos dos quaes authenticos, e originaes a respeito do
Maranhão.
N.* Í49
€ Relação da viagem do soccorroy que o Mestre de
Campo D. Diogo Lobo levantou nas ilhas dos Açores, e
levou em desaseis navios d cidade da Bahia, e das cousas
mais notáveis, que neste caminho succederão, principal-
mente na náo N. Senhora de 'Guadalupe. »
• Manuscripto em 12, com 55 fl. Letra de 500. Parece
original. Bibliotheca Publica Eborense.
. N.'» 150
c Relaçam verdadeira de tudo o succedido na restau-
ração da Bahia de todos os Santos, desde o dia, em que
partirão as armadas de Sua Mag, até o em que em a
dita cidade forão arvorados os seus estandartes, com
grande gloria de Deos, exaltação do Rey e reyno, nome
de seus vassallos, que nesta empreza se acharão, anihi-
lação e perda dos rebeldes Olandezes ali domados. Man-
dada pelos Officiaes de S. JUag. a estes reynos. Foy
visto pelo P. Fr. Thomaz de S. Domingos Magister. Em
Lisboa: por Pedro Craesbeeck Impressor delRey. anno
•
N.^ 151
d Roteiro da costa de Angola, e de altura de 16 gr. e ^a
para a Loanda, de como corre a costa, das conhecensas
delia, dos portos, bahias, e enseadas, ilheos, arrecifes,
de suas alturas: o que tudo foi visto, e demarcado pelo
conquistador Manoel Cerveira Pereira, e pelo capitão do
mar Domingos Fernandes, piloto mór nesta armada, a
qual demarcação vai posta, e arrumada em hum papel
a este junto, o anno de 1617. »
Manuscripto na Bibliotheca Eborense, em 7 fl. de 4.%
que pertencerão a hum livro, de que ainda mostrSo a nu-
meração. Letra de 600.
(Vej. a Bibliotheca Lusitana, pag. 7H do 1.° vol.)
N.» 152
n Roteiro de todos os sinaes, conhecimentos, fundos,
baxos, alturas, e derrotas, que ha na costa do Brasil,
toe
des do Cabo de Santo Agostinho até o Estreito de Fernão
de Magalhães 1^, em 4.% £om mappas íliuminados. (Ma-
nuscriplo.)
No mappa geral traz a \\nh^ (le demarcação ao poente,
e nota a distribuição das capitanias com linhas rectas. Não
me pareceo exacto, ate nas noticias puramente históricas.
Como já faz menção da cidade de S, Sebastião do Bio
de Janeiro, he claro, que foi cscripto depois do anno de
1567, em que se lançarão os fundamentos á dita cidade.
N." 153
ê Roteiros da Ásia 9, voK incompleto, sem principio nem
fim, manuscripto, na Bíbliotheca Eborense, em 37 fl. de k,^
Contém:
d Derrota de Pullo-condor por fora dos baixos de Pulio-
cicir em Junho, Julho, e Agosto. »
iíRoteiro de Pullo-laor para Macáo por fará dos bai-
xos, i^
^Roteiro de Pullo-condor por fora dos baixos de Pullo-
sici para Macáo. »
d Roteiro de Pullo-laor para o Macassar. »
fíRoteiro de Namgassaqui para Macáo. »
(í Roteiro de algumas conhecensas de Jappão e da
China. »
9 Roteiro por dentro de Lantão, e da ilha nova e velha,
até se porem no mar, ou se verem de fora até Macáo por
dentro. »
€ Roteiro de Manilha por Macáo, em Novembro e De-
zembro. »
€ Roteiro e conhecensa de Samatra pela banda de fora
para o Sunda. »
aRoteiro de Macassar para Malaca. »
c Roteiro de Pullo-laor, quando tomar derrota para
Malaca. »
107
» ■
9i Roteiro de Pullo-laor para Macassar por Carimatd. »
« Roteiro de Macassar para Pullo-pimão. »
•Roteiro de Solorpara a China. »
€ Roteiro da China para Japão. »
N.- 154
^Viagem de D. Álvaro da Costa. ^ (Manuscripto em
foi. com mais de 200 paginas.)
Começa pela costa de Africa, segue á índia, volta pelo
Egypto, e Palestina, discorre pela Itália, &c. Foi feita
em 1611.
Manuscripto na Bíbiíotheca Publica Eborense, a que
faltão as primeiras cinco folhas.
ROTEIRO
DA VIAGEM DE FEBNAM DE MAGALHÃES
PREFAÇÃO
Tendo a Academia começado a útil empreza de publicar
a collecção de Memorias, e escriptos, que podem dar \m
á HistQria das nossas navegações, viagens, descobrimen-
tos, e domínios ultramarinos, ou dos que com elle^ con^
finSo; pareceo-nos que poderia ter algum lugar nessa
collecçSo o presente Roteiro inédito da famosa navegação
de Fernam de Magalhães, que por cópia apresentámos, e
offerecemos á Academia.
Dous exemplares manuscriptos tivemos á vista ao tirar
esta cópia.
O primeiro, que faz parte do códice ^, em foi. ma*
nuscripto da Bibíiotheca do Rei em Paris, foi copiado com
escrupulosa exacção no anno de 1831 pelo nosso honrado
amigo, e doutissimo litterato o Sr. Dr. António Nunes de
Carvalho, que de nós confiou a sua cópia com a franqueza
e generosidade, que he própria do homem de letras, e do
zeloso amigo da sua pátria.
O segundo açha-se manuscripto no Deposito de livros
de S. Francisco da Cidade, e foi da livraria dos monges
ii2
de S. Bento da Saúde, aonde estava junto a outras obras,
e encadernado com ellas em hum livro de foi., todo es-
cripto de huma só mão, e em letra do século xvi.
O primeiro tem no fim esta nota: (íEsíe terlado sayo
doutro, que sayo de hum caderno de hum piloto genoés,
que hia na dita armada, que escreveo toda a vyagem,
como aquy está, o quall já foy pêra o rregno^».
O segundo tem a mesma nota, mas com alguma diffe-
rença. Diz assim: «B isto foy treladado de hum qua-
derno de hum pyíoto genoês, que vynha na dita não, que
espreveho toda a vyagem, como aqui está, e foy pêra Por-
tugall ho anno de 1642 com dom Amryque de Menezes ».
Ambas estas notas parece terem sido escriptas no
Oriente, pois dizem do piloto Genovez « que foy pêra o
rregnoi^ que foy pêra Portugália, e por ellas conjectu-
rámos haverem ambas as cópias sido feitas sobre alguma
outra, tirada do original daquelle piloto, no próprio tempo
em que a náo chegou ás Molucas, ou logo depois : nem jul-
gámos temerário presumir, que seria este Roteiro hum
dos papeis da viagem, que por occasião da arribada da
náo Trindade a Ternate, vierão a poder de Duarte de Re-
zende, então Escrivão da Feitoria Portugueza, e sobre que
elle escreveo o seu Tratado da navegação de Magalhães,
ofiFerecido a João de Barros, como refere este mesmo es-
criptor na sua dec. 3.% liv. 5.^ cap. 10.®
Não temos podido averiguar quem fosse o auctor do
Roteiro, e somente sabemos pelas notas apontadas, que
foi hum piloto Genovez, que hia na armada de Magalhães.
Dos escriptores, que podemos examinar, he Barros o
único, que no lugar citado faz menção de mestre Bautista
Genoês, dizendo delle, que por morte do piloto João Car-
valho fora encarregado da pilotagem da náo Trindade,
que foi q que por ultimo acabou em Ternate. Este poderia
ser o auctor do Roteiro. O que porém nos parece certo
he que o Roteiro foi escripto originariamente em portu-
*/
ii3
guez, porque na sua frase não achámos vestígio algum
nem do italiano, nem do castelhano. Como quer que seja,
o caracter da letra, e a ortografia de ambos os manu-
scriptos; a simplicidade da narração; a coherencia delles
entre si, e com as outras relações, que temos, dos suc-
cessos daquella memorável expedição, não nospermittem
a mais leve duvida sobre a fé, e authenticidade litteraria
deste escripto. Diremos pois tamsómente, e muito em
breve, o modo com que procedemos em tirar esta cópia.
Primeiramente, seguimos como texto principal o ma-
nuscripto de S. Bento da Saúde, por nos parecer menos
defeituoso em miudezas de letras ou palavras, que em
ambos se acbão talvez erradas, como succede em quasi
todas as cópias de antigos documentos, ou escriptos.
Quando entre os dous manuscriptos achámos alguma
discrepância hum pouco mais substancial, apontámos em
nota a differeijça, a fim de que o leitor possa fazer o seu
juizo sobre a verdadeira lição. Neste caso citámos o ma-
-nuscripto, e logo. pomos a variante, devendo sempre en-
tender-se por manuscripto a cópia tirada em Paris.
Algumas vezes, ou para melhor intelligencía do texto,
ou para maior illustração da historia, comparámos os
nossos manuscriptos com a Belação desta viagem por
Pigafetta, testemunha de vista de todos os acontecimen-
tos delia, e com a Carta de Maximiliano Transylvano,
escripta de Valladolid a 24 de Outubro de 1522, e diri-
gida ao Cardeal de Saltzburgo, na qual refere o que poucos
dias antes ouvira, e alcançara dos próprios Castelhanos,
que voltarão a Sevilha na náo Victoria, única que escapou,
e se salvou dos trabalhos e perigos da expedição.
Para a Relação de Pigafetta servimo-nos especialmente
da edição de Ãmoretti, tirada de hum códice da Biblio-
theca Ambrosiana de Milão, e impressa na mesipa cidade
em 1800, em 4.®, tendo também á vista a tradocção fran-
ceza, impressa em Paris no anno ix, em 8.^ e o extracto,
TOMO VI 8
il4
qtie se publicou em italiano na Coliecçio de Kamuzio,
tom. 1.** da 3.^ edição de 1563, em foi.
Para a Carta de Maxímilíano Transylvano servímo-nos
da edição original de Colónia, publicada em Janeiro de
1533, em 12, com este titulo: ^De Moluccis insuliss
itemque aliis pluribus mirçndis, quae fwvissima Castela
lanorum navigatio, Sereniss. Imperaloris Caroli V. aus^
picio mscepla, nuper invenií: Maximiliani Transylvani
ad Reverendiss, Cardinaletn SaUzburgmsem epistola^
lectu perquam jucunda » . Esta Carta foi outra vez «im-
pressa em Bazilea no anno de 1536, em foi., e com esta
data vem na collecção intitulada Novus Orbis de Grineo,
impressa na mesma cidade no anno seguinte de 1537, e
acha«se também traduzida em língua italiana no tom. 1.^
da collecção de Ramuzio da 3.^ edição acima citada.
Além destas duas obras lemoi o nosso Barros, e Cas-
tanheda, e talvez aproveitámos alguma noticia por elles
referida.
£mquanto á ortografia, julgámos dever conservar a do
manuscripto, que nos sérvio de texto, mas não com tão
extremo escrúpulo, que copiássemos quantos hh, quan-
tos yy, quantos 11, &c., nelle se achão, ás vezes bem fora
de propósito, como em ryho, fryho, havyka, ác, em
lugar de rio, frio, havia, &c. A minuciosa exacção nesta
matéria apenas pôde ter lugar nas cópias de escriptos
scientificos, de auctores mui conhecidos, ou de papeis, a
que se quer dar hum certo caracter de authenticidade e
auctorídade. No nosso caso pareceo-nos que bastava fazer
aqui esta advertência; e ainda assim verá o leitor que
não abusámos da liberdade, que esta nossa opinião po*
deria dar-nos.
 pontuação be em grande parte nossa, e a tivemos
por conveniente para facilitar a leitura, e a intelligencia
do texto ; e pela mesma razão escrevemos com a primeira
letra maiúscula os nomes próprios de pessoas, e lugares^
ii5
que todos nos manuscriptos vem em minúscula, como
era pratica mui geral nos escriptos antigos.
Finalmente acrescentámos na margem algumas notas,
que posto que não sejão absolutamente necessárias para
a intelligencia do Roteiro, nem contenhão noticias des-
conhecidas aos homens instruídos, serviráõ comtudo a
outro género de leitores, ou farão menos fastidiosa a lei-
tura deste escripto.
NÀVEGÀÇAM E VYAGEM
QUE FEZ FERNANDO DE MAGALHÃES DE SEUILHA
PÊRA MALUCO NO ANNO DE 1519 ANNOS
Partio de Seuílha aos iO dias de Agosto da dita hera,
e pòs até barra até hos 21 dias do mez de Setembro, e
tamto que foy fora, governou ao sudueste a demandar a
ilha de Tanaryfe, e chegaram á dita ilha dia de Sam Mi-
guell, que hera 29 de Setembro (i); e daquy fez sua rota
a demandar as ilhas do Cabo-verde, e pasaram por amtre
as ilhas e ho cabo sem aver vista de hum nem do outro.
Fazendo-se tanto.avamte como a dita paraje, fez sua rota
a demandar ho Braspli e tamto que houveram a vista da
outra costa do Brasyll, governou ao sueste (á), ao lomgo
delia té ho Cabo-frío, que está a 23 gr. da banda do
suU (3), e deste cabo governou a loeste hobra de 30 le-
goas a demandar ho Rio-de-Janeiro, que está em a mesma
(1) Pigafetta diz que a armada sahio de Sevilha a 10 de Agosto
de 1519; que partio dé S. Lucar a 20 de Setembro;, que chegou a
Tenerife a 26, e que d'ahi continuou viagem a 3 de Outubro, nave-
gando para o suL
(2) Manuscripto •oú sudueste*. Esta deve ser a verdadeira lição.
(3) Pigafetta «Até que chegamos a huma terra chamada a Terra
dd Verzino (do Brazil) aos 23 gr. e V2 ^^ l^tit. austral.»
ii7
altura do Gabo-frio, e entraram no dito rio ho dia de santa
Lozya, que hera 13 Dezembro, em o qual rio tomaram
lenha, e estiueram em elle té a primeira hoitava do natall,
que hera a 26 Dezembro do mesmo anno.
Partiram deste Rio-de-Janeiro a 26 Dezembro, e nave-
garam ao lomgo da costa a demandar ho cabo de SanUa"
Marya, que está em 34 gr. e '/a : e tanto que delle hou-
veram vista, fez seu caminho a loesnoroeste, cuidando
achar pasage pêra sua viage, e acharam-se metidos em
hum rio de agoa doce, grande, a que se pôs nome ho rio
de Sam Crystovamj e está em 34 gr«, e nelle estiueram
até 2 dias de Feuereiro 1520 (4).
Partio deste rio de S. Crystovam a 2 do dito Feuereiro :
navegaram ao lomgo da dita costa, e mais avante ao sull
descobriram buma pomta, que he no mesmo rio mai»
pêra o sull, a que se pôs nome ^pontía de Samtamtanio,
que está em 36 gr., e daqui correram ao sudueste hobra
de 25 iegoas, e tomaram outro cabo a que poseram nome
ho Cabo de Santa Apelonia, que está em 36 gr., e daqui
navegaram a iões- sudueste em huns baxos (5) a que po-
seram nome hos baxos das Correntes, que estão em 39 gr. ,
e daqui navegaram ao mar; e perderam a vista da terra
hobra de 2 ou 3 dias, bonde tomaram a demandar a terra,
e vieram a huma bahía, que entraram, e correram todo dia
por demtro delia, cuidando que avia sayda pêra Maluco,
e vimdo a noy te acharam-se em todo cerrado, e na mesma
noyte se tornaram a sair por domde entraram, e esta ba-
(4) Pjgafetta denota este rio, que he o (ia Pratay a 34" e W:
«Aqai (diz elle) foi comido em outro tempo pelos Cannibaes, de
quem demasiadamente se fiara, Jo2o de Solis, capitão hespanhol,
com 60 homens, que andavão a descobrir novas terras, como nós
fazíamos».
(3) Manuscripto «e acharam-se em huns baxos*. ^
(6) Manuscripto nesta emillk gr.*, o que parece manifesto erro
de cópia.
ii8
hia está em 34 gr. (6), chamao-lhe a ilha (7) de Sam Ma-
teus.
Navegaram desta ilha de S. Mateus ao lomgo da costa
até chegarem a outra bahia, domde tomaram muitos lo-
bos marinhos e pasaros : a esta se pôs nome a bahia dos
trabalhos (8), que está em 37 gr., homde se houveram
de perder a náo capitania com temporall: e daqui nave-
garam ao lomgo da dita costa, e chegaram ao derradeyro
dia do mez de Março da hera de 1520 ao por/o de Sam Jô-
liam, que está em 49 gr. e Ys (9)> 6 aqui emvernaram,
e acharam hum dia pouco mais ou menos de 7 horas (40).
Em este porto se leuantaram 3 náos contra ho capitam
mõr, dizendo hos capitKes delias que o queriam leuar
prezo a Castella, que os leuava todos a perder: homde
por imdustria do dito capitam mór, e ajuda e favor dos
estrangeyros, que comsigo leuava em a sua náo, se foy
ás ditas 3 náos, que heram já leuantadas, honde foy morto
ho capitam de huma delias, e tisoureyro de toda a ar-
mada, que avia nome Luis de Mendoça, ho quall foy
morto tia mesma sua náo (1 i) ás punhaladas por ho mey-
rinho mór darmada, que pêra hiso foy mandado por Fer-
nando de MagalhBes em hum batell com certos homens :
e cobradas asy as ditas 3 náos^ dahy a 5 dias mandou
Fernando de Magalhães degollar, e es(]uarttzar a Gaspar
de Queyxada, que hera capitam de huma das náos (12), e
hera do conto dos que se aviam leuantado.
Em este porto corregeram as náos. Aqui fez o capitam
(7) Manuscripto «a bahia»,
(B) Não temds achado noticia desta denominação da bahia dos
ti^aòdlhos em outro algum escriptor.
(9) Pigafetta pOe este porto em 49», 30'. O Trahsylvano em 49* Va-
Barros etn po^, e diz qué chegarão ali a 8 de Abril.
(10) Manuscripto «de oito horas»,
(11) Luiz de Mendoçà era capitão da nátí Victoria, e thesoureiro
da ârinâda.
(12) Da náo Conceição^
ii9
UMir capitam de buma das náos, a que aviam morto hos
capitães, Álvaro de Mesquita portugés(13). E partiram
deste porto a S4 dias do mez de Agosto 4 nátís, por que
a mais pequena hera já perdida (14), que avia mandado
descobrir, e carregou bo tempo, e a lançou á costa, domde
se cobrou toda a geate, e mercadería, e artilheria, e apa-
relhos da mesma náo : e estiueram em este porto, domde
enuernaram, 5 mezes 34 dias (15), e havia delles ao suU
73 gr., menos 10 minutos (16).
E partiram aos 24 dias do mez de Agosto da dita hera
deste porto de Sam Joliam, e navegaram bobra de 20 ie-
goâs ao lomgo da costa, e asy entraram em hum rio, que
se chamava de Santa Cruz, que está em 50 gr. (17),
homde estiueram tomando mercadería, e ho que mais
poderam; e a gente da náo perdida vinha já em has ou-
tras náos, que se tornaram por terra adomde estava Fer-
nando de Magalhães, e estiueram em recolher esta mer-
cadería toda, que ally Qcára, ho mes de Agosto té 18 de
Setembro, homde tomaram agoa, e muito peyxe, que
elles pescavam em este rio : e em ho outro, homde eq-
(13) Álvaro de Mesquita era primo de Magalhães.
(14) A náo, que aqui se perdeo foi a Santiago, de que era ca-
pitão João Serrão.
(15) Parece haver aqui alguma equivocaçãd, ou erro de cópia.
, Pela ordem da narração se yê, que tendo os navegantes chegado ao
porto de S. Julião no ultimo de Maiço, ou na entrada de Abril, e
sâhindo delle a 24 de Agosto, estiverão ali invernando por espaço
de quatro mezes e vinte e quatro dias; e isto mesmo lie o que diz
Pigafetta «que ali passarão perto de cinco mezes, drca cinque mest*,
(16) Não nos foi possivei entender o calculo do escriptor neste
lugar.
(i7) Pigafetta : MPartinimo d fine daquel porto^ e giunti a 80^,
40^ de kUU, austr, trovammo wi fiume de acqtia dolce», &c. A nota
do editor a este lugar diz que as Cartas de Cook põem este rio a 51°
austraes : e o anonymo Portuguez, companheiro de Duarte Barbosa,
diz que lhe pozerão o nome de Santa Cruz, por chegarem a elle a
14 de Setembro, dia da Eítaltaçõo da Santa Crm
c*
vernaram, avia gentes como saivages, e hos bomeDS sam
de allura de 9 até 10 palmos, muito bem despostos (48),
e liam tem'cazas, soomeate amdam com gados de buma
parte a outra, e comem carne mea crua, e sam lodos fre-
cheiros, e matam muitas animarias com as frechas, e das
peites fazem vestiduras, scilicet, fazem as pelles muito
masyas, e as feições á feyção do corpo, ho melhor que
podem, emtam cobrem-se com eilas, e hatam*se por a
címta. Qâudq nam querem cobrir da cimta pêra riba, le-
xam cayr aquelle meio, que tem da cimta pêra cima,
ficam pêra baixo depimdoradas áquelia cimgidura, que
tem cemcyda. Trazem çapatos, que lhe cobrem acyma do
artelho 4 dedos, de demtro cbeos de palha, pêra trazerem
bos pés quentes. Amtre elles nam ha ferro, nem outro
artefycio darmas, soomente de pedemall fazem bos ferros
das frechas, e asy hos machados, com que cortam, è as
emxõs e sovellas, comque cortam e cosem bos gapatos,
e as vestiduras. He gente muito ligeyra, e nam fazem mall,
e hasy amdarii apôs o gado : adomde lhe anoytece ally
dormem: trazem as molheres apôs sy com todo ho fato
que tem, e as molheres sam muito piquenas, e trazem
gramdes cargas ás costas, e hasy mesmo callçam, e ves-
tem como hos homês. Destes homês houveram 3,' ou 4,
e traziam-hos em as náos, e morreram todos, soomente
bum, que foy a Castella em a náo que pêra llá foy (19).
Partiram deste rio de Samta Cruz a 18 de Oytubro (20) :
(18) Pigafekta diz «de estatura gigantesca j de estatura de gigante»,
e acrescenta que hum destes homens era tamanho que «nÓ5 (diz) lhe
dávamos pela cintura». Estes são os chamados gigantes, que habi-
tavSo a terra firme da banda do norte da bahia de S. Julião. Maga-
lhães lhes deo o nome de patagões, com que ainda hoje são coniie-
eidos.
(19) Provavelmente em a náo, que fugio do caminho, de que logo
se falará.
(20) O editor de Pigafetta nota, que em quanto a armada esteve
no rio de Santa Ouz, aos 50^ e 40^ anstraes, houvera a ii de Ou-
navegaram mais ao longo da dita costa em té 21 dia do
mesmo mez de Oytabro, e descobriram hum cabo, a que
poseram nome ho Cabo das virgens, porque houveram
vista delle ho dia das 1 1 mill virgês, e pouco mais ou
menos está em 52 gr., e deste cabo a hobra de 2 ou 3
legoas achamos-nos em a bouça de hum estreyto (21).
Navegamos ao lomgo da dita costa em aquelle estreyto,
que abocaram ; entraram nelle hum pouco, e surgiram ;
e mandou Fernando de Magalhães daqui descobrir ho que
avia dentro, e hacharam 3 cauaes, scilícet, 2 mais ^era o
sull, e bum que atravessava a terra da bamda do Maluco,
porque ainda isto nam hera sabido, soomente ver*se hos
3 boqueirões; e foram hos bates Uá, e trouxeram recado,
e flzeram-se á vella, e sorgiram aos propíos boqueirões,
e daquy mandou Fernando de Magalhães a 2 náos, pêra
saber ho que demtro avia, as quaes foram; huma se tor-
nou ao capitam mór, e ha outra, de que Álvaro (}e Mes-
tubro hum eclipse do sol tide que fazem menção (diz) og e-êcriptoreit
Portuguezes e Hespanhoes, e que se acka registado nas Taboas astro»
nomicas» : e julga ser erro em Castanheda pór este fenómeno a 17
de Abril, e attribuir a Magalhães o calculo da longitude, de que ahi
faia. Barros também faz menção de hum eclipse do sol em Abril.
He notável, que nem o nosso Roteiro^-nem Pigafetta notassem hum
fenómeno, que, ainda naquelles tempos, náo acontecia sem causar
alguma impressão nos ânimos, e pelo menos, sem excitar a curio-
sidade publica.
(21) Este he o famoso Estreito, que até hoje se ficou chamando
Estreito de Magalhães para eterna e gloriosa memoria do famoso Por-
tuguez que o descobrio. Castanheda diz que Magalhães, por chegar
a elle ao 1." de Novembro, lhe pozera o nome Bahia de Todos os San»
tos; e na resposta que André de S. Martin deo aos quesitos, que elle
lhe propoz acerca daquella navegação, também lhe chama o Canal
de Todos os Santos (Barros, dec. 3.*, liv. 5.^ cap. 9.«). O Portuguez
anonymo, companheiro de Duarte Barbosa, que já acima citámos, e
que hia na náo Vietoria, diz que ao principio lhe chamarão os na-
vegantes da armada Estreito da Vietoria, porque a náo deste nome
foi a primeira que o vio, (Colleeção de Ramuzio, 3." ediç., toro. l.<*,
pag. 370).
m
quita era capitam, abocou em hum dos boqueirões, que
heram pêra o sull, e nam tomou mais. Vendo Fernam de
Magalhães, que nam vinha, se fes á vella (23), e ho outro
nam quiz bir a demandar os boqueirões e hiam ao sull,
e tomou outro^ que se corre noroeste sueste quarta de
leste-oeste : leixon cartas ally, domde se partto* peraque
se a outra náo tornase, que fizesse o caminho, que lhe
lexava hordenado: e depois disto entraram em ho canall,
que tem de largo a lugares 3 legoas, e 2, e 1 ^ e a lu-
gares mâa, e foy por elle em tanto que foy dia; como
hera noyte, sorgia ; e mandou hos bates, e as náos apôs
hos bates, e trouxeram nova que avia sayda, que já viam
ho mar grande por a outra banda, por domde Fernando de
Magalhães mandou tirar muita artilheria com prazer (23);
(22) Desta náo que foi á exploração dos boqueirões do Estreito,
e nflo voltou, era capitóo Álvaro de Mesquita, Portuguez, primo de
Magalhães, e era piloto Estevão Gomes, também Portuguez. Este Es-
tevifo Gomes tinha andado na pretençâo de que o Imperador Carlos Y
lhe confiasse algumas caravellas para hir descobrir novas terras : eomo
porém então mesmo se interpozesse, e fosse attendida com preferen-
cia, a proposta, e empreza de Magalhães, ficou Estevão Gomes sendo
grande inimigo deste illustre capitão, e aproveitou agora a oppor-
tunidade de se vingar deile, e desenvolver a sua raivosa inveja.
Gonspirou-se pois com outros contra o capitão da sua náo Álvaro
de Mesquita ; pozerão-no em ferros, e assim o trouxerão a Hespanba
cpm a náo, dizendo ao Imperador, que o Magalhães era doudo, e
mentira a Sua Magestade, porque não sabia aonde estava Banda,
nem Maluco, &c. Além disso accusárão em juizo o Mesquita de ha-
ver aconselhado e persuadido a Magalhães a severidade, e crueza,
com que castigara os primeiros conspiradores, &c. (Yej. a Carta de
Transylvano, e também Castanheda, liy. 6.^ cap. 8.°)
(23) A esta exploração do Estreito forão mandadas as náos Sanio
António, e Conceição, as quaes com difficuldade poderão dobrar o
Cabo dei possesso, designado com este nome na Carta de Bougain*
ville, e em outras. Entrarão em fim por huma estreita abertura, que
nas Cartas se ebama primeira garganta, e sahírão a outra bahia, a
que se dá o nome de bahia Boueant, ou Bouoam, No fundo delia
entrarão por outro estreito chamado segunda garganta, e passado
e amtes dè sayrem deste estreito acharam 2 ilhas, a pri-
meira mais grande, e ha outra mais contra a sayda he
mais peqaena: e sairão por amtre estas ilhas e ha costa
da banda do sull por ser mais alto que per a outra parte.
Tem este Estreyto até á saída cem legoas: a saida llá, e
a entrada está em 52 gr. (24).
Fizeram demora em ho dito estreyto des 31 dias de
Oytubro até 36 dias de Nobembro (25), que sam 36 diaB
da dita era de 1520 annos: e tantoque foram do estreyto
ao mar, fiíeram seu caminho, a maior parte deile, a loes**
elle sahirão a outra bahia maior que as precedentes. EnUo vendo
que o Estreito se alongava oiTerecendo sempre sabida ás náos, vol-
tarão com estas boas novas ao Magalhães que os esperava, e a cuja
vista dispararão toda a artilheria, e levantarão grandes gritos de
alegria. A armada navegou então junta até áquella terceira bahia,
e como achassem. dous canaes, expedio Magalhães as duas náos, que
dissemos. Santo ArUonio, e Conceição a examinar se o canal, que sa
dirigia a sueste, hiria sahir ao mar pacifico. D'aqui he que fugio a
náo Santo António, adiantando- se para isso á sua companheira. As
outras duas náos Victor ia, e Tnndade entrarão entretanto pelo ter-
ceiro canal, aonde por quatro dias esperarão as exploradoras. Neste
inlervallo expedio Magalhães hum batel bem esquipado a descobrir
o cabo, em que o Estreito devia terminar : avistado o qual, e vol-
tando o batel com esta noticia, todos derramavão lagrimas de con-
solação, e derão ao cabo o nome de Cabo Desejado, que he o que
está á sabida do Estreito da banda do sul. Voltarão então atrás a
buscar as náos Conceição, e Santo António; e deixando sinaes pelos
quaes esta se governasse, caso andasse perdida (pois ainda igno-
ravão a sua faga) navegarão avante até sahirem ao mar pacifico.
(24) Manuscripto : «em 52 gr, largos», «Este Estreito (diz Piga-
fetta) tem de comprido iiO legoas, isto he, 440 milhas. . . e de largo
meia legoa, já mais, já menos . . . he bordado de altíssimas monta-
nhas, cobertas de neve : não podíamos achar fundo, senão com a
proa em terra, e ahi era de 25 a 30 braças».
(25) Pjgafetta nota, que no estreito em que estavão, e no mez
de Outubro, era a noute de sós três horas: e o Transyivano diz, que
no Novembro acharão os navegantes a noute de pouco mais de cinoo
horas: e que em huma das noutes virão á esquerda muitos fogos»
D'aqni he que veio dar-se áquella terra o nome dé Terra do fogo*
i24
noroeste, liomde acharam, que lhes noroesteavam as agu-
lhas caysc V*» c depois de asy navegarem muitos dias
acharam huma ilha pouco mais ou menos em 18, ou
19 gr., e así outra, que está em 13 até 14 gr., e isto da
banda do sull (26): sam despovoadas: e correram tè que
chegaram á lyiiha, domde dixe Fernam de Magalhães que
já estava em paraje de Maluco. Por terem emformaçam
que em Maluco nam avia mantimentos, dixe que queria
hir da banda do norte até dés ou doze gráos, domde che-
garam até 13 da banda do norte, e desta paraje navega-
ram a loesle, e quarta de sudoeste bobra de cem legoas,
homde tomaram, a 6 dias do mez de Março da era de 1521 ,
duas ilhas povoadas de muita gente, e sorgiram em huma,
que está em 1 2 gr. da banda do norte, e he gente de pouca
verdade, e vieram a bordo, e nam se precataram, saluo
quando viram que lhe leuavam ho esquife da capitaina,
e cortaram ho cabp, com que estava amarrado, e leva-
ram-lho a terra sem lhe poderem valer: e a esta ilha po-
scram nome a dos ladroes (27).
Vemdo Fernando de Magalhães que o esquife era per-
dido, fez*se á vella por ser já noyte, e amdamdo asi bar-
lauenteamdp té ho outro dia, e tanto que foy menhaã
sorgiram adomde viram leuar ho esquife, e mandou
aprestar dons bates com hobra de 50, ou 60 bornes, e
foy em pesoa a terra, e queymou ho lugar todo, e mata-
(26) Mnnuscripto : •easy outras que estavam», &c. Pigafetta pQe
estas duas ilhas a 15*', e a 9<> austraes. Sobre a situação deUas
veja-se a nota de Amoretti a pag. 4{i, aonde as su'pp6e no archipe-
lago das ilhas da Sociedade. Em algumas Cartas vem designadas com
o nome de Infortunadas.
(27) Alguns escriptorcs uotão, que Magalhães dera a estas ilhas
o nome de lUtas das Velas, pelos muitos barcos á vela que observou
naquellas paragens. Commummente porém se íicárSo chamando dos
Ladrões; e depois tomarão o nome de Mariannas, em honra da Rai-
nha D. Marianna de Áustria, viuva de D. Filippe IV, e Regente na
menoridade de D. Carlos II de Gastella.
ram 7 ou 8 pesoas amtre homes e molheres, e cobraram
ho esquife, e tornou-se ás náos, e estando asy viram vir
40, ou 50parós (28), que vinham pêra as náos da mesma
terra, e trouxeram muito refresco (29).
Fernam de Magalhães nam quis fazer mais demora, o
fez-se logo á vella, e mandou governara loeste, e a quarta
de sudoeste, e asy tomaram huma terra, que está em
11 gr. escasos, ha quall terra he huma ilha, e nam quis
tomar esta, e foram tomar outra mais avamte, que pare-
cia a primeira (30). E mandou Fernando de Magalhães ho
esquife a terra pêra verem ha desposiçam delia ; e che-
gando o esquife em terra, viram das náos sair 2 parós
por detrás da pomta : entam chamaram ho esquife. Yemdo
a gente dos parós que ho esquife se tornava ás náos, se
tornaram os parós atrás, e ho esqtiife chegou ás náos, e
logo se fizeram á vella a outra ilha muito perto daquesta
ilha, que está em 10 gr. e puseram-lhe nome a ilha dos
bons Synaes (31), porque acharam em ella algum houro:
e estando asy surtos em esta ilha vieram a elles dous pa-
rós, trouxeram-lhes gallinhas e cocos, e digeram-lhe que
jálly aviam visto outros homes como elles, domde preso-
miram que podiam ser lequios, hou mogores (32), huma
(28) Parós: assim escrevem sempre os nossos manascriptos. Na
edição de Pigafetta vem constantemente praôs, He a mesma espécie
de barca, que os nossos escriptores das cousas da Ásia denominão
paraó, a qual he de varias grandezas, e mui frequentemente usada
nas ilhas do mar do sul. Pígafetta diz que he espécie de fmta, ou
galeota.
(29) Manuscriplo: «muito refresco de frtiyta».
(30) Manuscripto: nque parecia da primeira» , isto he, que se
avistava da primeira. Vej. a RelaçSo do Pigafella da edição de Amo-
retti, pag. 54, ao dia 16 de Março de 1521.
(31) Pígafetta : «nós a chamamos agoada dos bons sinaes; por-
que tínhamos ahi achado duas fontes de excellente agua, e os pri-
meiros indícios de haver ouro no paiz».
(32) Manuscripto: «ou ^t{oroo8».
m
naçam de gemtes qae tem este name, ou Chiís; e daqui
se fizeram á vella, e navegaram mais avamte amtre muitas
ilhas, hás quaes poseram nome ho vali sem petciguo, e
asy Sam Lazaro (33), Q correram a outra 20 legoas da*
quella (34), domde partiram, que está em 10 gr., e foram
sorgir em outra ilha, que ba nome macangor (35), que
está em 9 gr., e em esta ilha lhes fizeram muito boa com^
panhia, e poseram em ella huma f (36). Este Rey os
leuou daqui hobra de 30 legoas a outra ilha que ba aon^e
Cabo (37), que está em 10 gr., e em esta fez Fernando
de Magalhães o que quis, por consentimento da terrsi» e
tornaram-se em hum dia 800 cristãos, homde por isso
quis Fernam de Magalhães que os outros Rays a este eo-
marcante (38) lhe fosem SQgeytos a este que se avia tor^
nado cbristão : hos quaes nam quiseram dar a tall bobe*
(33) Manuscripto : «ás quaes poseram nome o ardpelago de ^am
Lazaro». Nós suspeitámos que ha aqui no nosso texto algum erro
de cópia, não só pela novidade do nome vali sem periguo, mas tam-
bém pela sua impropriedade. O manuscripto copiado em Paris diz
simplesmente ardpelago de S. Lazaro. Pigafetta lambem diz que
«lhe poserão nome o archipelago de S. Lazarç», por chegarem abi
na quinta dominga da quaresma, que se chama de Lazaro, Hqje tem
estas ilhas o nome de Filippinas, que lhe foi posto pelos annos
de 1542 em' honra de D. Filippe de Áustria, filho de (Carlos V, e de-
pois Rei de Gastella. Estão entre os gráos 335, e 335 de longitude
occidentai da ilha do Ferro, e consequentemente ficavSo entre os
195 e 305 da linha de demarcação.
(34) Manuscripto : «e correram ohra de 35 legoas daçtulla, . .» &c.
(35) Manuscripto: «maçaguoaa.
(36) Parece que esta* cruz foi collocada na ilha de Massana^ aonde
no ultimo de Março, que nesse anno foi domingo de páscoa, se ce-
lebrou Missa. Â ilha he denotada por Pigafetta a 9« e 40^, é o editor
a põe a i00° de longitude occidental da linha de d^nareaçSo.
(37) Esta ilha, que em ambos os manuscriptos se noméa, e se es*
creve Cabo^ he a ilha Zebu, huma das Filippinas, que outros escre-
vem Çahu, Zabu, SubstUh, Zubut, Cubo, Subo, e Zuho, que de todos
estes modos a achámos em differentes escríptos.
(38) Manuscripto: «a este comarcãos» ^
Íi7
diencia. Vemdo Fornam de Magalbies isto^ fez*se huma
noyte com os seus bates prestes, e foy llá, e queimou bos
lagares daquelles que asy nam queriam dar a dita obe*
dieacia (39); e despois disto feyto a obra de 10, ou iS
dias mandou a bum lugar hobra de meia legoa do que
avia queimado, que ha nome Matam (40), que be também
ilha, qoe loguo lhe mandasem 3 cabras, 3 porcos, e 3
fardos de arroz, e 3 fardos de milho, pêra mantimento
das náos, e ho que responderam, que de cada adiçam a
sua que de todo lhes mandava pedir de 3 em 3, lhe que*
riam mandar de 2 em 2 ; que se diso fose contente que
loguo o compriain, se nam que fose como elle quisesse,
e que bo nam aviam de dar : e porque asy nam quiseram
conceder ho que lhe* pediam, mandbu Fernando de Ma*-
galhSes aparelhar 3 bates com hobra de 50, ou 60 hor
mes (41), e foy sobre ho dito, qoe foram a 28 dias de
Âbrill polia menham (42), domde acharam muita gente,
que seriam bem 3 mill, ou 4 mill bornes, que pelejaram
de tam boa ^lente, que aly foy morto ho dito Fernando
de Magalhães com 6 homes dos seus (43), na era de i 521
annos.
Semdo morto Fernando de MagaMes, recolheram bos
(39) ManuscfiptQ : «« queimou hum lugar daquelles j que asy nam
queriam dar a dita' obediência». Na ReiaçSo de Pigafetta se dis:
* queimou vinte, ou trinta cazas do lugar»»
(40) O Transyiyano escreve Mamthan; Pigafetta; Matan; Gasta*
uheda, Matão,
(4i ) Pigafetta : « éramos 60 homens armados : 48 sahirS^ em terra
com Magalhães, os 11 ficarão na guarda dos bateis».
(42) Mannscripto : «e foy sobre o dito lugar, efoy aVl dias de
Abril», Pigafetta também pde este successo a 27 de Abri), e nota
qae era sabbado, o que na verdade se verificou oaquelie anno a 27,
e não a 28 de Abril.
(43) Pigafetta : «com 8 homens dos nossos perecerão 4 indianos
dos que se tinhSo feito christãoè, e tivemos muitos feridos, sendo
eu hum dellesi Dos inimigos morrerão somente 11^ homens».
cristãos ás náos» domde houveram por bem qae se fizes-
sem 2 capitães, e governadores a que bobedecesem (44),
e temdo isto feyto, tomaram conselho que fosem hos 2
capitães á terra, domde se aviam tornado cristãos, a ptdir
pilotos, que hos leuasem a Borneo, e isto foy ao prím^ro
dia de Maio do dito anno, e hindo hos 2 capitães conser-
tados pêra o que dito hera, a mesma gente da terra, qae
aviam feito cristãos, tinham armado sobre elies, e tanto
que achegaram a terra, leixaram-hos desembarcar segura-
mente, como de amtes o fizeram. Emtam deram em ôllés,
domde mataram 2 capitães, 26 homes cavaleiros (45), èa
outra gemte que ficou se recolheo aos bates, e tornaram^se
ás náos, e achando-se outra vez sem capitães acordaram,
por quanto a principal gente era morta, que hum Joam
Lopez (4U) que hera ho tezonreiro mor darmada fose ca-
pitam mor, e ho meyrinho alferes mór darmada fose ca-
pitam de huma das náos, ho qnall se chamava Gonçalo
Váz Despinosa (47).
(44) «Elegemos entSo (diz Pigafetta) em lugar do capitão a Duarte
Barbosa, portuguez, seu parente, e a Jo2o Serrão, bespanhol. O pri-
meiro ficou governando a náo capitania », &c.
(45) Manuscripto: «mataram os 3 capitãe$i e asy 26 ornes com
eUes», Nesta occasiSo he que foi morto Duarte Barbosa, Portuguez,
e cunhado de Magalhães, que era hum dos dous capitães de que aqui
se fala. Alguns nossos escriptores tem dito, ou conjecturado, que
Duarte Barbosa fora morto com veneno : mas he hum ^rro. Os bár-
baros attrahirão na verdade os Castelhanos a terra com pretexto de
lhes dar hum banquete ; mas d' aqui não se segue que os envene-
nassem. O Transylvano diz que «Inter epníandum, ah iís, qui in w-
sidiis collgcati fuerant, opprimuntur, Fit damor undique : nuntiatur
protinus in nambus nostros oceisos . . . », &c. Vej. Barros, dec. 3.«,
liv. 5.°, cap. lO.*» O outro capitão, que era João Serrão, não foi
morto; mas ficou vivo em podei* dos bárbaros ao tempo que os ba-
teis se retirarão; porque não obstante as lastimosas supplicas, que
de terra fazia, para que o resgatassem, João Lopes de Carvalho, te-
mendo outra traição, mandou levantar ferro.
(46) Manuscripto: «hum yoam lopez de carvalhon,
(47) Manuscripto: •Gonçalo Gomez despynom».
129
— — ^^^
Feito isto fizeram-se á vella, e correram hobra de 25
legoas com 3 náos, que aimda tinham, e contaram-se, e
hacharam-se por todos 108 homes (48) em todas estas
três Dáos, e maitos delies feridos e doentes, polo quall
nam se atreuiam navegar has três náos, e houveram por
bem que se queimase a huma delias, e a que mais fose
pêra iso (49), e que se recolhesem ás duas os que ficavam,
ho que fizeram no mar, sem terem vista de nenhuma
terra. Homde isto faziam chegaram muitos parós a falar
com elies ; e navegando por aquellas ilhas, em aquella
paraje heram muitos (50), que se nam entendiam hos
huns aos outros, que nam tinham lingoa, que Ihaviam
morto com Fernando de Magalhães: e navegando mais
avamte por amtre ilheos, foram sorgir a hUma ilha, que
se chama carpyam (51), homde ha asaz d'ouro, e esta
ilha está em 8 gr. largos.
E sorgindo em este porto de capyam (52), houveram
fala da gemte da ilha, e trataram pazes com ella, e Car-
valho, que era capitam mór, lhes deu ho batell da náo,
que aviam queimado : e esta ilha tem três ilheos (53) de
fora, e haqui tomaram algum refresco da terra, e nave-
garam mais avamte a loes-sudueste, e toparam com outra
ilha, que ha nome Caram, que está em' 11 gr., e desta
foram mais avante a loes-sudueste (54), e toparam huma
ilha grande, e correram ao longo da costa da dita ilha ao
(48) Barros diz 180 homens, e isto parece mais verosímil, atten-
deodo ao numero dos homens, que forâo na armada, dos que até
então se podião ter perdido, dos que depois se perderão, e dos que
ainda por ultimo chegarão a Ternate, e a Europa.
(49) Queimarão a náo Conceição (PigafeUa).
(50) Manuscripto : «qiie em aquella parajem ha muitas».
(51) Manuscripto : vque se chama quype».
(52) Manuscripto: «de Quype».
(53) Manuscripto : «tem dovà ilheos».
(5i) Manuscripto : « Que ha nome Cagujam, e está em 7 gr., desta
foram mais avante alloesnoroeste»,
TOMO VI 9
130
nordeste (85), e chegaram té 9 gr. e */« (86), domde foram
hum dia em terra, com os bates esquipados, a buscar man-
timentos, que em as náos nam nos avia á mais que pêra 8
dias. Chegando a terra, a gente delia lha nam leyxaram
tomar, e tirav3o-lhe com frechas de canas (57) tostadas,
de maneira que se tornaram para as náos.
Vemdo isto, acordaram-se de hir pêra outra, domde
aviam ávido alguma pouca pratica, a ver se podiam to-
mar mantimentos. Eutam lhes deo ho vento contrario, e
faimdo já hobra de huma legoa domde queriam hir, sor-
giram, e estamdo asy surtos, viram que de terra lhes es-
tavam capeando, que fosem Ilá ; homde foram com os
bates, e estando falando com a dita gente por sinaes, que
de outra maneyra nam se entendiam, arreceando-se cbe-
guar a terra, dixe hum homem darmas, que chamavam
Joam de Campos, que o leyxasem hir a terra, pois que
em as náos nam avia mantimentos, e que poderia ser
averiam algum remédio pêra mantimentos; e que se ho
matasem, que em elle nam perdiam tanto, pDrque Deos
se alembraria da sua alma; e também se achase manti-
mentos, que se ho nam matasem, que daria maneyra
comque se trouxesem ás náos, ho que asy houveram por
bem. E foy á dita terra, e tamto que a ella chegou, o re-
colheram hos da terra, e ho leuaram por a terra demtro
huma legoa, e sendo no lugar, a gente toda o vinham a
ver, e lhe davam de comer, lhe fizeram muito boa com-
panhia, maiormente quando viram que comia carne de
porco ; porque em esta ilha tratavam com hos mouros de
Borneo, e porque case a terra e a gente era sofreganha,
faziam-lhes que nao comesem porco, nem hos criasem em
(35) MâDuscrJpto: ^^ao noroeste»»
(56) Esta posição parece indi(^r a ilha de Pálãpanj que Pigafetta
pfle a 9« e 20'.
(57) Mantiscripto : «com frechas e canasji.
131
a terra. Esta terra se chamava Df/guasam (58), e está
em 9 gr.
Yemdo já o dito cristSo que da gente era favorecido e
bem tratado, por seus sinaes lhe deu a entender que le-
uasem mantimento ás náos, que se lhe pagaria muito
bem. Em a terra nam avia, soomente arroz por pilar, e
entam se meteo a gente a pilar toda a noyte; e vimdo a
menham tomaram do arroz, e o dito cristão, e vieram ás
náos, domde lhes fizeram muita honra, recolheram o ar*
rôz, e pagaram^lhes, e tornaram-se pera terra; e sendo
este homem já Uançado em terra, vieram ás náos outra
gente de outro lugar mais avamte hum pouco, e di^eram
que fosem a seu lugar, e que lhe dariam muito manti-
mento por seu dinheiro; e lamto que asy chegou ho dito
homem que aviam mandado, se fizeram á velta, e foram
sorgir ao lugar dos que os vieram chamar, que se cha-
mava vay palay cucara canham (59), honde ho Carvalho
fez paz com elrey da terra, e fizeram preço do arroz, e
davam-lhe-2 medidas de arroz, que pesavam 114 arra-
ies (60), por três braças de lemço de Bretanha ; domde
tomaram quanto arroz quizeram, e cabras, e porcos, e
estando no dito lugar, veio ter ahy hum mouro, que es-
tiuera no lugar de Dyguacam (M), que he de mouros e
de bom hucello (62), como acima he dito, e com este se
foy pera sua terra.
Estando asy junto deste lugar de Diguacam (63) sur-
tos, veio ler hum paro com elles, domde vinha hum ne-
(58) Manuscriptôí «se chama De gamcão».
(59) Manuscripto: •ypalajru cara canão»,
(60) Manuscripto: vque pesavam hum.quymtall e 14 libras*,
(61) Manuscripto : «de Digoção».
(62) Assim parece ler-se no texto. O manuscripto de Paris tem :
tque he de mouros de Bruneo»»
(63) Manuscripto: *fno Itigar de Digamçã», e logo abaixo outrft
yet : •de Digãçã».
138
gro, que se chamava Bastiam, pidimdo huma bamdeyra,
e hum carlaz pêra o governador de Diguacam, e deram-
Ihé todo, e mais outras cousas de presente. Perguntaram
ao dito Bastiam, que falava rasoadamente portugês, por-
que avia estado em Maluco, domde se avia feito cristão,
se queria hir com elles a lhes ensinar Borneo, e elle dixe
sy de muito boa vomtade, e vindo a partida, esconde-se,
e vemdo que nam vinha, se fizeram à vella deste porto
Diguacam a 21 dias de Julho (64), buscar Borneo ; e em
partindo veio ter com elles hum paro que vinha pêra ho
porto Diguacam, e tomaram-ho, domde tomaram 3 mou-
ros, que deziam ser pilotos, e que hos leuariam a Bor-
neo.
Tendo asy estes mouros, governaram ao lomgo desta
ilha ao sudueste, toparam com 2 ilhas ao cabo delia, e
pasaram por mêo delias, e da bamda do norte se chama
bolyna, e da bamda do sull bamdym (65). Navegando a
loes-sudueste até hobra de 14 legoas, toparam com fundo
branco, que heram huns baxos debaxo dagoa, e hos ne-
gros que leuavam, lhes dixeram que se chegasem á costa
da ilha, que era mais fundo porque hera esta parte mais
pêra Borneo, porque já desta paraje viam ailha de Borneo.
Este próprio dia chegaram a sorgir a humas ilhas, que
lhe poseram nome hos ilheos de Sam Paulo, que estam
da ilha grande de Borneo hobra de duas legoas e Va té 3,
e asy estam em 7 gr. pouco mais ou menos ao sull destas
ilhas (66) : em a ilha de Borneo está huma grandíssima
montanha a que pôs nome monte de sam p,\ e daqui na-
vegaram ao lomgo da costa da ilha de Borneo ao sudueste
por amtre huma ilha, e ha mesma ilha de Borneo, e foram
sempre avamte por ho dito rumo, e chegaram em paraje
(64) Manuscripto : t^deste 'porto de Dygamção a 21 dias de JunJw» .
(65) Manuscriplo : «e a ilha da banda do norte se chama Boleta,
e a da handa do sull BamdilU.
(66) Manuscripto: ^em 7 gr, pouco menos ao sull destas ilhas».
133
de Borneo (67), e hos mouros, que comsiguo levavam
lhes dixeram que ally era Borneo, e ho vento hos nao
lexou chegar llá por ser contrario. Sorgiram em huma
ilha, que dahy está, e haverá delia a Borneo 8 legoas.
Junto desta ilha está outra que tem muitos mirabola-
nos : e ho outro dia se fizeram á vella pêra a outra ilha
que está mais perto do porto de Borneo; e himdo asy
viram tantos baxos, que sorgiram, e mandaram hos bates
a terra em Borneo, e leuaram hos ditos mouros pilotos
a terra, e foy hum homem cristão com elles, e chegaram'
os batôs a deytalos em a dita terra, homde aviam de hir
á própria cidade de Borneo, que eram 3 legoas, e dally
foram leuados ao Xabandar de Borneo, e perguntou que
gente heram, e ha que vinham nas náos, e foram apre-
sentados ao rey de Borneo com ho cristão ; e tamto que
asy hos dos bates poseram hos ditos homens em terra,
sondaram com os bates pêra ver se podiam chegar-se
mais (68): e nisto viram 3 juncos (69), que vinham do
porto de Borneo, da dita cidade pêra ho mar, e tamtoque
viram as náos se tornaram pêra demtro, e todavia asy
somdando acharam ho próprio canal por domde entraram
pêra o porto, e loguo se fizeram á vella, e entraram por
ho dito canal, e sendo asy no canal, sorgiram, nam qui-
seram hir mais demtro até nam saber recado da terra,
ho que veio ao outro dia com 2 parós, e traziam certos
berços de metall, e mais cem homens em cada paro, e
traziam cabras, e gallinhas, e 2 vacas, e figos, e asy ou-
(67) Manuscripto : «^m paraje do porto de Borneo».
(68) Manuscripto : «se podiam as náos chegar-se mais»,
(69) «Os juncos (diz Pigafetta) são as suas grandes náos, fabri-
cadas deste modo : o fuado todo, até a altura de dous palmos acima
da agoa, he de taboas cavilhadas entre si com cavilhas de páo, e
mui bem fabricado. D'ahi para cima são de cannas muito grossas
que sabem fora por contrapezo. Hum destes juncos leva tanta^carga
como qualquer das nossas náos : os mastros são de cannas (bambu),
e as vellas de casca de arvore», &c.
134
tras frutas, e diseram que entrasem mais pêra demtro
contra as ilhas que estam hy perto que hera o verdadeiro
porto : e deste pouso á dita cidade averia 3, ou 4 legoas,
e estando asy surtos trataram pazes, e asentaram que
vendesem ho que avia hy em a terra, especialmente sêra,
ao que responderam que de boa vontade lhe venderiam
todo o que houvese em a terra por seu dinlieiro. Este
porto de Borneo está em 8 gr. (70).
E por esta reposta asy ávida do dito rey lhe mandaram
hum presente por gonçalo mendes despinosa (71), da náo
Vicíoria capitam, lio quallelrey recebeo ho presente, e
- lhes deu a todos panos da China: e havendo já ãO, ou 23
dias que ally estavam tratando com os da ilha, e tinham
llá 6 homens em terra, na mesma cidade vieram sorgir
em a própria barra, junto delles 5 juncos a horas de ves-
poras, e estando asy aquella tarde, e ha noyte, té ho ou-
tro dia polia menham, viram vir da cidade 200 parós,
delles á vella, e delles a remo. Vendo asy hos 5 juncos,
e parós, lhes pareceo que podia ser treyçam, se fizeram
á vella pêra hos juncos, e tanto que a gente dos juncos
hos viram á vella, se fizeram também á vella, e fogiram
pêra domde o vento lhes milhor servia, e alcançaram hum
(70) No Précis de Geographie Universelle de Malte-Brun, tom. i.*»,
edição de 1831, pag. 612, se diz, que só em 1530 he que os Portu-
guezes derSo o nome de Borneo a esta ilha, e que Magalhães a cha*
mára Bunné. Não sabemos d'onde o auctor tomou esta noticia, nem
como lhe constou o nome que Magalháes dava a Borneo, O que sa-
bemos de certo he que, pelo menos, em 1521 já os Portuguezes a
denominavão com este nome, que muitas vezes vem repetido em
ambos os manuscriptos do nosso Roteiro. No outro manuscripto de
Duarte Barbosa, que também temos presente, se lé constantemente
Bomeho, e Broneho: e Pigafetta, na edição de Amoretti, escreve
sempre Buméj (e não Bunné): sendo muito de presumir, que os
navegantes da armada de Magalhães já davão á ilha o nome Portu-
guez Borneoj e que Pigafetta o escreveo em Italiano com mui pe-
quena alteração.
(71) Manuscripto: •Gonçalo Gomez Despinosa»» Yej. a nota 47.
i35
delles com os bates, e tomaram-ho com 27 bornes (72), e
foram sorgir as náos a par da ilha dos marabolanos com
o dito junco amarrado por popa da capitayna, e bos parós
se tornaram a terra, e vindo a noitei veho buma travoada
de ponente, domde o dito junco se foy ao fundo abordo
da capitayna sem se aproveitar nada delle.
Ao outro dia polia menbam viram buma vella e foram
a ella» e tomaram-ba, a quall bera bum junco grande»
domde vinba por capitam bo fllho delrey de Lucam, e
trazia comsigo 90 bomes, e tanto que bos tomaram, man«
daram a elrey de Borneo certos delles, e Ibe mandaram
dizer por bos mesmos, que Ibe mandasem os cristãos que
llá tinham que beram 7 homês, e que lhe dariam toda a
gente que no junco tomaram, por bo quall lhe mandou
ho rey bos 7 homês (73), que llá tinha 2 delles em bum
paro, e tomaram-lhe mandar dizer que lhe mandase bos
5 que abimda lhe ficavam, e que lhe mandariam toda a
gente, que do junco tinham. Esperando 2 dias por a re*
posta, nam lhe veo recado nenhum : entam tomaram 30
bomes do junco, e meteram-bos em hum paro do mesmo
junco, emandaram-bos ao dito rey de Borneo, efizeram-se
á vella com 14 bomes daquelles que tomaram, e 3 molhe-
res, 6 governaram ao lomgo da costa da dita ilha ao nor-
deste pêra trás, e tornaram a pasar por amtre as ilhas
gi'andes de Borneo (74), domde a náo capitayna tocou na
pomta da ilha, e esteue asy por davante 4 horas, e tornou,
a maré, e sayo» bomde se vio craramente, que a maré
hera de 24 horas (75).
Fazendo bo caminho já dito, saltou bo vento ao nor-
(72) Manuscripto: «cow 17 owês.»
(73) Manuscripto : vãos sete homês*.
(74) Manuscripto: «'por amtre as ilhas, e a ilha grande de
Borneo»,
(75) Manuscripto : «c esteue asy per obra de 14 horas^ que tomou
a maré esquaça, omde se vyo craramente, ser a maré de i4 /wms».
I3G
deste, e foram em a volta do mar, e viram vir liama vella,
e as náos sorgiram, e foram a ella hos bates, e toma-
ram-ba, que era bum juDCo pequeno, e nam trazia outra
cousa senam cocos, e fizeram aguada, e tomaram o ta-
uoado, e fizeram-se á vella ao longo da costa da ilba ao
nordeste até ser na fim da dita ilba, e acbaram outra ilba
pequena, homde recorreram as náos. Cbegaram a esta ilha
bo dia de nosa Senbora de Agosto, e nella acbaram muito
bom porto pêra pòr as náos em monte, e poseram-lbe
nome parto de Santa Maria de Agosto^ e está em 7 gr.
largos.
Tanto que vieram ao dito resgate (76) se fizeram á vella,
e governaram ao sudueste, até ver vista da ilba que se
chama Fagajam (77) e be rota de 38 té 40 legoas : e tanto
que bouveram vista da dita ilba, governaram ao sudueste,
e tornaram a demandar buma ilba que ba nome Selo-
que (78), e bouveram noticia, que bavia nella muitas
perilas: e já avendo ba vista da dita ilha, saltou-lhe ho
vento por proa, e nam ba poderam tomar polia navegaçam
que fizeram, e lhes pareceo, que podia estar em 6 gr.
Esta mesma noyte cbegaram á ilba de quipe, e correram
ao longo delia ao sueste, e pasaram amtre ella, e outra
ilba, que se chama Tamgym (79), e sempre correndo a
costa da dita ilba, e vimdo asy asy, acharam hum paro
carregado de xagra (80) em pães, que he bum pão feylo
de bum arvore que se chama cajare, que junto com
aquella terra comem por pão (81), ho quall paro trazia
(76) Manuscripto : «^resguardo».
(77) Manuscripto: ^Cagamjã».
(78) Manuscripto: ^SoUoque»,
(79) Manuscripto: «Tamgyma»,
(80) Manuscripto: «carregado de sagú em pães».
(8i) O manuscripto de Paris, em lugar do nome cajare, que aqui
se dá á arvore de que se fazia o pão, repete «que se chama sagú«.
Pigafetta, falando dos usos da ilha de Geiiolo, diz : «O seu pão he
i3r
21 homes, e ho principall delles avia estado em Maluco
em caza de Francisco Serram (82), e leuados mais ao
longo da dita ilha chegaram á billtam de humas ilhas que
ham nome Semrrym, estam eto 5 gr. pouco mais ou
menos (83). A gente desta terra veo a ver as náos, e asy
vieram á falia hos huns com hos outros, e daquella gente
hum velho dixe que os queria leuar a Maluco.
Estamdo asy ávido prazo (84) do dito velho, se fez con-
certo com elle, e deram-lhe certo preço por iso; e vindo
ao outro dia, que avia de partir, ho velho quisera fogir, e
entenderam-ho, e prenderam a elle, e a outros, que com
elle estavam, também diziam que sabiam de pilotos, e
feito do lenho de huma arvore semelhante á palmeira, e o fazem
deste modo : tomão hum pedaço deste lenho : tirão-lhe huns espi-
nhos negros e compridos, que tem, e depois o machucão, e fazem
deile pâo, que chamão mgu. Deste pSo fazem provisões para as via-
gens do mar». E em outro lugar falando dos povos do Brasil, diz :
«Fazem hum pão redondo e branco do mióllo, ou antes da casca
interna, que está entre a cortiça e o lenho de huma arvore, e parece
requeijão, ou nata; sobre o que reflecte Amoretti que Bougainville,
e quasi todos os navegadores falão do pão tirado do miôHo de huma
palmeira, chamado Sagu», Vej. Barros, dec. 3.*, liv. 5.°, cap. 5.°
(82) Este Francisco Serram era Portuguez, grande amigo, e com-
padre, ou parente de Magalhães, e foi sem duvida quem o induzio
a emprehender aquella viagem, tanto em desserviço da sua nação.
«Quando a armada chegou a Maluco (diz Pigafetta) não havia ainda
oito mezes, que Francisco Serram tinha fallecido em Ternate. Era
elle capitão general de el-Rei de Ternate quando este fazia guerra ao
de Tidore ; e tanto trabalhou, que o de Tidore se vio obrigado a dar
sua filha por mulher ao de Ternate, e em reféns quasi todos os filhos
dos principaes senhores de Tidore, e então se fez a paz. O Rei de
Tidore porém nunca perdoou em seu coração ao Serram, e tendo
este hido depois de muitos annos a Tidore, ao contrato do cravo, o
Rei o fez envenenar nas folhas do betle, de maneira que apenas so-
breviveo quatro dias», &(v Assim, nem Magalhães, nem Serram che-
garão a ver o fim, e o fructo de sua empreza.
(83) Manuscripto: «chegaram á vista de hum ilheos, que ham
nome Samyns, e estam . . .», &c.
(84) Manuscripto: f^prazmor».
138
fizeram-se á vella; e tanto que a gente da terra bos vio
hír, armaram pêra hir apôs delles: e desles parõsnam
chegaram ás náos mais que % e chegaram tam perto,
que lançavam demtro nas náos frescbas, e ho vento hera
fresco (85), e nam podaram ter com elles : e á mea noyte
daquelle dia houveram vista de bumas ilhas, e governaram
mais adiante, e ao outro dia viram huma terra que hera
huma ilha; e á noyte, que daquelle dia se seguia, se
acharam muito perto delia, e vindo a noyte lhes acallmou
ho vento, e as correntes bos lançavam muito a terra,
domde ho piloto velho se lançou ao mar, e acolheo-se a
terra.
Navegando asy mais avamte depois de lhe ser fogido
bum dos pilotos, houveram vista de outra ilha, e chega-
ram junto com ella, e outro piloto mouro dixe que ahimda
Maluco estava mais avante, e hasy navegando, ao outro
dia polia menham houveram vista de 3 montes altos, que
beram de huma naçam de gemtes, que chamavam os Sa-
labos (86), e logo viram huma ilha pequena, domde sor-
giram pêra tomar alguma agoa, e por aver medo que em
Maluco lha nam leixasem tomar; e dexaram de fazer,
por ho piloto mouro dizer que em aquella ilha avia
huns 400 (87) homens, e heram todos muito róis, e imdo
lhe poderiam fazer algum mall, por serem bornes de
pouca vertude (88); que lhes nam daua tall conselho,
que á dita ilha fosem : e asy também que Maluco, que
elles buscavam, hera já perto, equehos.reys delles heram
bons bornes (89), e qúe aguasalhavam a todo género de
homês em suas terras: e imdo em esta paraje (90), viram
;(86) Manuseripto; «ffraquo».
(86) Manuseripto : «(» Cdibeê».
(87) Manuseripto: «500».
(88) Manuseripto: «de pouca verdade»,
(89) Manuseripto : «heram muito bons homes».
(90) Manuseripto: «e ymdo em eêtas pratyquasj».
189
as próprias ilhas de Maluco, homde por festa tyraram
toda artelharia, e chegaram á ilha (91) a 8 do mez de
Nobembre de 1521, e asy que poseram de Seuilha até
Maluco 2 annos, 2 mezes, 28 días^ porque partiram a 10
de Agosto de 1519 annos (92).
Tanto que chegaram á ilha de Tydor que está em méo
grão (93), ho rey delia lhes fez muita bomra, que uam
podia ser mais: domde trataram paz com o dito rey pêra
sua carga, e o rey se lhes obrigou a dar a carga, e asy
todo o que ouvese em terra por seus dinheirosi e asem-
taram que davam por ho babar de cravo (94) 14 varas
de pano amarello, de 27 tem (95), que valem em Cas-
tella bum + a vara (96) : de pano vermelho da mesma
sorte dês varas; e asy davam 30 varas de bretanha, cousa
destas (97) lhe davam hum babar de cravo : e asy mesmo
por 30 machados 8 babares (98) : e tendo asy asemtado
hos ditos preços acima decrarados, lhe deram novas a
gente da terra, que mais avamte em outra ilha dahy perto
estava hum homem portugés, que podia ser daliy 2 legoas
(91) Manuscripto: «á ilha de Tidore».
(92) Pigafetta: «Sexta feira 8 de Novembro de 1521, três horas
antes do pôr do sol, entramos no porto de huma ilha chamada Ta-
dore . . . Tinhão-se passado vinte e sete mezes, menos dous dias, que
buscávamos Maluco».
(93) Pigafetta põe esta ilha a gráos 0,37'.
(94) «Hum babar, diz Pigafetta, são quatro quintaes e seis libras,
6 cada quintal tem 100 libras». Duarte Barbosa: «Hum babar sáo
quatro quintaes velhos de Portugal; cada quintal velho s2o três
quartos e meio de quintal novo, e he de 128 arráteis, de 14 onças
cada hum». A respeito dos preços das mercadorias confíra-se Piga-
fetta.
(95) No manuscripto' de Paris falta esta palavra *tem»i
(96) Com este signal -j- se acha muitas vezes designado em an*
tigos documentos o cruzado,
(97) Manuscripto: te por cada conUia destas».
(98) Manuscripto; vpor 30 machados outro bar».
140
áquella ilha, que se chamava Targatell (99), que hera
principal de Maluco, domde nós aguara temos a forta-
leza (iOO). Emlam espreueram cartas ao dito portugês,
que viesem a fallar com elles, ao que lhes respondeo que
nam housava, porque o próprio rey da terra lho defendia;
que houvesem elles licença de ellrey e que loguo hiria, a
quall licença elles loguo houveram, e veo o portugês a
fallar com elles (iOl). Dando-lhe conta dos preços, que
tinham asemtados, do que elle bem se espantou, e dixe
que por iso lhe mandara elrey que nam viese por nam
saberem a verdade dos preços da terra: e estando asy
tomando carga, veo a elles ho rey de Baraham (102), que
he d'ahy perto, e dixe que queria ser vassallo dellrey de
Castella, e que asy tinha 400 babares de cravo, e que ho
vendera a elrey de Portugall, e que ho tinham comprado,
e que ho nam tinha aimda entrege, e que se ho quisesem
que lho daria todo, ao que os capitães responderam que
trazendo-ho a elles, e vimdo, que o comprariam, que de
outra maneira, nam : e vemdo elrey que lho nam queriam
tomar ho cravo, lhes pedio huma carta, e huma ban-
deyra (103), ha quall lhe deram asynada por hos capitães
das náos.
Estando asy pêra lhes darem sua carga, pareceo-lhes
que por a tardança do despacho, que ho rey hordenava
(99) Manuscripto: «^tte se chamava Tamate»,
(100) Esta clausula parece ter sido acrescentada ao texto por
quem tirou a cópia; porque a fortaleza de Ternate somente se co-
meçou a edificar no anno de 1522, Im dia de S. João, sendo capitão
António de Brito. (Castanheda, liv. 6.% cap. 12.°)
(101) Este Porluguez, de que aqui se faia, parece ser Pedro Affonso
de Lourosa, que trahio os Portuguezes, e se passou aos Castelhanos,
segundo a Relação de Pigafetta. Pôde ver-se na edição de Amoretti,
pag. 137 e seg., e pag. 153.
(102) Manuscripto : «da Bargão».
(103) Manuscripto: dhes pedio huma bandeyra, e hum cartaz
de seguro«.
i4i
alguma Ireyçam contra elles, e ba maior parte da gente
das náos se aluoraçou, e deziam aos capitães que se fo-
sem, que aquella demora, que ho rey com elles amdava,
nam hera saluo alguma treyçam, parecendo a todos que
podia ser asy, deixavam já lodo, e queriam-se hir, e es-
tando para desferir as vellas, veo ter com elles ho rey,
que tinha com elles feyto ho concerto, á náo capitayna, e
perguntou ao capitam porque se queria hir, porque ho
que hera concertado antre elles, que o queria comprir
como Qcára. O capitam respondeo, que a gemte das náos
deziam que se fosem, que nam estiuesemmais, que aquillo
nam hera saluo Ireyçam que lhe armavam : ao quall res-
pondeo elrey, que tall nam era, e que por hyso loguo
mandava por seu alcorám, em que elle queria fazer ju-
ramento, que lhes nam fose*tall feyto: ho quall alcoram
loguo trouxeram, e nelle fez juramento, e dixe, que sobre
elle descansasem, do que as gentes das náos descansa-
ram, e prometeo que lhes daria sua carga fasta 15 De-
zembro 1S21, ho quall comprio no dito tempo sem nada
fazer (104).
Estando as duas náos já carregadas pêra desferir as
vellas, a náo capitayna (105) abrio huma muito grande
agoa, e temdo isto elrey (106), da terra lhes mandou 25
amergulhadores pêra tomarem agoa, ho que nam se po-
derá fazer (107): acordaram que a outra se fose, e que
aquella se tornase a descarregar de todo, e que lhe desem
descargaçam; poisque nam podiam tomar hagoa que lhes
dariam todo quanto lhes fizese mester, ho que asy fize-
ram, e deram descarregaçam á dita náo capitayna: e ha
dita náo asy corregida, tomaram sua carga, e detrimi*
(104) Manuscripto: «sem faltar nada».
(105) A náo capitania era a Trindade, Yej. adiante a nota 110..
(106) Manuscripto : «e sendo sabido isto por elrey»,
(107) Pigafetta diz que o Rei lhos mandara cinco mergulhadores,
e depois mais outros três, que não poderão vedar a agoa.
Í4t
naram hir tomar a terra das Amtilhas, que era da rota
de Maluco a ella 2000 legoas, pouco mais ou menos.
A outra náo, que primeiro se partio, partio a 21 Dezem-
bro da dita era, e saio por Teymar (108) fora, e cortou
por detrás da Java, 2053 legoas (109) ao Cabo de Boaes*
per anca {MO).
Corregeram a náo, e tomaram ha carga em 4 mezes,
16 dias: partiram a 6 do mes de Abrill da hera de 1522,
e tomaram sua rola pêra terra flrme das Amtilhas, via do
estreyto (IH), por domde aviam saido, e logo navegaram
ao ijiorte té saírem das ditas ilhas de Ternate e Tymor (112),
e depois navegaram ao lomgo da ilha de Betachina ao nor-
deste (113) dés, ou onze legoas, e despois governaram
hobra de 20 legoas ao nordeste, e asy chegaram a huma
ilha, que ha nome Doyz (114), que está em 3 gr. e Va da
banda do sueste, e daqui navegaram a leste 3 ou 4 legoas,
e houveram vista de duas ilhas, huma grande, e outra pe-
quena: a grande chamavam a Porqmnampello (il5), e
(108) Manuscripto : ^/por Timor»,
(109) Manuscripto: ^'iO^ legoas»,
(liO) O leitor se lembrará, que das cinco náos, que Magalhães
levou na sua expedição, huma se perdeo no porto de S. Julião; ou-
tra, fugindo, voltou a Hespanba; e a terceira foi queimada perto da
ilha de Zebu. Restavão tamsómente as duas Trindade e Victoria,
Esta foi a que sahindo das Molucas em Dezembro de 1521, tomou
o caminho do Gabo da Boa Esperança, e veio a Sevilha em Setem-
bro de 1522. Nesta foi, e veio Pigafetta. A Trindadej depois de con-
certada, tomou o caminho opposto, e dirigia-se a Yucatan, ao isthmo
de Banen, que aqui se diz a terra das Antilhas: mas vio-se obri-
gada a voltar arribada ás Molucas, e estando a descarregar em Ter-
nate para se reparar, ahi deo á costa.
(111) Manuscripto : «ou ao Estreitoo.
(112) Manuscripto; «e Tydúre».
(113) Manuscripto: «ao nomordeste».
(114) Manuscripto: <iha nome Bomy».
(115) Manuscripto: «e a grande â nome chãd; a pequena py-
liomv.
143
pasaram por antre ella e Batechina, que lhes ficava da
banda de estríbordo. Chegaram a bum Gabo, a que po-
geram nome Cabo de ramosj porque houveram vista
delle bespora de ramos. Este cabo está em 2 gr. e Va:
e daquy governaram ao sull a demandar a Quimor (416),
que he terra delrey de Tydor, e mandava ho dito rey
que lhe mandasem todo o que em a terra houvese
por seu dinheiro, e ally tomaram porcos, e cabras, e
gallinhas e cocos, e hava (i 1 7) : estiueram no dito porto
8, ou 9 dias. Está este porto de Cornar fya (418) em
hum gr. */*•
Partiram deste porto a 20 (119) do mes de Abrill, e
governaram até 17 legoas (120), e saíram por ho canall
da ilha de Batechína, e da ilha do Charam (121), e tanto
que foram fora, viram que a dita ilha do Charam (122)
corria ao sueste bem 18, ou 20 legoas, e nam hera o seu
caminho; porque ho seu caminho era alleste (123) e a
quarta de nordeste, domde navegaram no dito rumo huns
dias, e acharam sempre hos ventos muito ponteiros pêra
seu caminho. E aos 3 de Mayo tomaram duas ilhas pe-
quenas, que podiam estar em 5 gr. pouco mais ou menos,
a que poseram nome as ilhas de Samtantonio (124). Da-
quy navegaram mais avamte ao nordeste, e já chegaram
a huraa ilha que chamam Cyco (125), que está em 19 gr.
(116) Manascripto: «a Quemarre».
(117) O manuscripto de Paris tem «^ agoa»^ mas hí^va ott ava
he huma Lebida usada naquellas terras.
(118) Manuscripto: «de Camarro», .
(119) Manuscripto: «a 25».
(120) Manuscripto: «e governaram aUeste 17 legoas»»
(121) Manuscripto : «de Chão*,
(122) Manuscripto: «ilha de Báteckina»,
(133) Manuscripto: «aloeste».
(124) Manuscripto: «as ilhas de Sam Joarti», é áh que ás to-
marão aò de Maio.
(125) Manuscripto: uChyquomn,
144
largos, e tomaram aquesta ilha H de Julho (126). Desta
tomaram bum homem, que leuaram comsygo, e daquy
navegaram mais avante tomando bordos de huma banda
e da outra, por terem hos ventos contrários, até que che-
garam a 42 gr. da banda do norte.
Sendo em esta paraje, lhes faltou o pam, vinho, e carne,
e azeite : nam tinham que comer, somente aguoa e arroz
sem outro mantimento, e ho frio era grande, e nam tinham
com que se cobrir : comeoçou-lhe a gente de morrer, e
vendo-se asy detreminaram de arribar caminho de Ma-
luco, ho que loguo poseram em hobra, sendo delia obra
deSOOlegoas, quiseram tomar a ilha, que ha nome Quam-
gragam (127), e por aver vista delia á noyte a nam qui-
seram tomar: pasaram asy até ho outro dia amanhecendo,
e nam poderam tomar ha dita ilha; e o homem, que leua-
vam, que antes aviam tomado na dita ilha, lhes dixe, que
fosem mais avamte, que tomariam 3 ilhas, homde tinham
bom porto, e isto que ho negro dizia, hera pêra nellas
fogir, como de feylo fogio ; e arribando ás ditas 3 ilhas,
as tomaram com asaz periguo, e sorgiram no meo delias
em 15 braças, as quaes ilhas a huma delias, que hera a
mais grande, pavoada de 20 pesoas, amtre homes e mo-
Iheres, esta ilha se chama Pamõ (128): está em 20 gr.
pouco mais ou menos, e aqui tomaram agoa de chuva,
por nao aver outra, na terra. Em esta ilha fogio ho ne-
gro (129): e daqui partiram a demandar huma terra de
Camafo, e tanto que a viram, tiueram callmarias, e as
correntes hos arredaram da terra, e despois lhes deu hum
pouco de vento, e demandaram ha terra, e nam a pode-
(126) Manuscripto: ^ii de Junho».
(127) Manuscripto: ^^quiseram tornar a tomar a Hka, que ha
nome magregua».
(128) Manuscripto: o se chama mão».
(129) Manuscripto: «/to negro, é ires Cristãos»,
145
ram tomar; homde quiseram (130) sorgir antre a ilba de
Domi e a Batechina, e semdo surtos, pasaram em hum
paro por elles huns bornes que beram de bum rey de buma
ilba que se cbama Geilôlo (131)» e deram-lbes novas que
estavam Portugeses em Maluco fazendo fortaleza. Sa-
bendo asy isto» mandaram logo o esprivam da dita náo
com certos bomês (132) ao capitam mór daquelles Por-
tugeses, que avia nome António de Bryto pêra que viese
e leuase a náo adomde elles estavam; porque a gente da
Dáo bera a mais delia morta, e ba outra bera doente, não
podia navegar a dita náo. E tamto que António de Bryto
vio s^carta e recado, mandou a dom Gonçalo (133) amri-
quiz, capitam do navio sam gorge (1 34), e asy buma fusta
com certos parós da terra, e foram asy em busca da náo,
e acbando-a trouxeram á fortaleza, e estando-a descarre-
gando, veo do norte (135) bum tempo, que a lançou á
costa. Domde esta náo tornou arribar pêra Maluco, 1050,
ou 1100 legoas da ilba, pouco mais ou menos.
E isto foi tresladado de hum quaderno de hum piloto
Genoés, que vinha na dita náo, que espreveo toda a viage
como aqui está. E foi pêra Portugal ho anno de 1624 com
dom Amrique de Menezes (136). Deo gracyas.
(130) Manuscripto : nhomde quiseranij e foram sorgir»,
(131) Manuscripto: •Geloio».
(132) Manuscripto : «com certos homês com cartas».
(133) Manuscripto: «a dom Garcia», parcia e não Gonçalo era
o nome deste fidalgo. Yej. Barros, e Castanheda, que se devem ler
sobre estes últimos successos da expedição.
(134) Manuscripto: «SamJozé»,
(135) Manuscripto: » de noite»,
(136) Esta nota bem se vé que não pertence ao Roteiro, e que
foi acrescentada por quem o copiou : e também já notámos a diffe-
rença que havia entre ella, e a outra semelhante do manuscripto de
Paris. Parece-nos que quem a escreveo teve alguma equivocaçSo,
TOMO VI 10
nascida acaso de haver naqnelle tampo na índia muitos idalgos do
appeilido de Menezes. Castanheda diz que D. Doarte de Menezes,
acabando ie Governador da índia a 4 de Dezembro de 1524 par-
tira para Portugal depois de 20 de Janeiro de 1525, com cinco náos:
que hunia deliaS; em que vinha seu irmSo D. Luiz de Menezes, des-
apparecéra no caminho; e qtte D. DuaHe; chegando a Portugal eom
as outras quatro, se perdera em Cezimbra, aonde a sua náo deo á
costa (liv. 6.0, cap. 77.<^ e 78.<»). A D. Duarte succedeo o Goad^ Âl^
púrantç D. Vasco da Gama, que logo falleceo : e aberta a primeira
successão, ficou por elía governando a índia D. Henrique de Meneies :
por onde se vé, que n9o podia este D. Amrique de Menezes vir para
o reino em 1524, como diz a nota. Este benemeritd Governador ftl-^
leceo em Cananor, com grande sentímeáto de todos os bons Mrtu-
guezes, em dia da PuriâcaçSo de Nossa Senhora do anno 4e iSM
(liv. 6.*, cap. 133.«). *
BREVES NOTAS
Á VIDA DE D. JOÃO DE CASTRO,
ESCRIPTA POR JACINTO FREIRE DE ANDI5ADE,
AUCTORISADAS COM DOCUMENTOS
ORIGINAES £ INÉDITOS
BREVES NOTAS
Á VIPA DE D. JOÃO DE CASTRO,
ESCRIPTA POR JACINTO FREIRE DE ANDRADE,
AUCTORISADAS COM DOCUMENTOS
0RI6INAES E INÉDITOS
PREFAÇÃO
No mez de Março do corrente anno de 1827, em que
começámos esta breve escríptura, tivemos a inesperada
fortuna de adquirir duas preciosas coUecções de docu-
mentos originaes: buma, que contém oitenta e tantas
cartas de el-Rei D. Jo3o III» da Rainba Senhora D. Gatha*
rina, do Infante D. Luiz, e do Cardeal Infante D. Henri-
que, escríptas, a maior parte, a D. Jo3o de Castro, e al-
gumas a seu filbo D. Álvaro de Castro, desde o anno de
1527 até o de 1549. E outra, muito mais volumosa, tam-
bém de cartas originaes, dirigidas aos mesmos pai e filho
por alguns Príncipes, e Senhores do Oriente, pelos capi-
tães das fortalezas dos estados Portuguezes da Ásia, pelas
camarás, veadores da fazenda, fidalgos, e outras pessoas,
que ali servião a el-Rei no tempo do governo de D. João
de Castro.
Logo que em nosso poder tivemos estas collecções,
passámos bum por bum todos os seus numerosos doeu-
150
mentos; e comparando os factos, que delles anthentíca-
mente constao, com os que refere Jacinto Freire de An-
drade na Vida de Castro, observámos, que era fácil veri-
ficar huns, acrescentar outros, rectificar aquelles, em que
o escriptor parece ter sido menos bem informado, e de-
terminar as datas, de que elle muito se descuidou.
Reflectindo pois, quio grato seria ás pessoas amantes
da virtude, e do verdadeiro heroismo tudo o que illus-
trasse a vida de táó excellente varSo; e quão útil, assim
para a historia, como para a litteratura, a publicação de
muitos dos referidos documentos, pareceo-nos satisfazer
a hum e outro empenhp, escrevendo as breves notas, que
se contém neste opúsculo, e auctorisando-as com as có-
pias fieis dos documentos, que tivemos por de maior in-
teresse, principalmente com relação ao particular objecto,
que queríamos tratar.
• O fructo deste trabulbo he p que agora apresentámos
á Academia; tendo por muito certo, que se as notas não
merecerem ft sua approraçio, ou nio parecerem dignas
da lu2 publica, nem por iss^ perderio Valor oa preciosas
documentos, «até «gota iodéHofi, Que lhe «ig untámos, •
que, sem duvida» hio de s^ devidamwte avaliados por
todas âs pessoas judiotesus e druditaé.
NOIA 1/
Sobre ò§ primeirdá a&nos dâ Tlta de D. João de Castro (1)
Supposta 4 natur^sa dos âoeumentò$, que derão oceit
fitfo a eàte qpudcuio, e o tempo, em que foi^o escríptos,
laèilmente ajuizará o leitor, que nos não he possivd 11-
taistrar com factos novos o pouco, que Jacinto Freire es-
creveo, sobre os primdros annos da vida de D. João d«
Castro; e somente diremos, quando for tempo, feágtflia
(1) Prain, tiv. l:o, 9| i^.
m
cottsa de stàos estudos, e applicacões filosóficas. Cabe po-
rém aqui DOtar, que a primeira carta de elRei, que temos
oa nossa coliecção, be datada de Coimbra, aonde então
estava a corte, a 25 de Outubro de 1527 (doe. num. i),
e nella lhe diz el-Rei, que querendo servir^se delle em
cousa que muito cumpria, lhe encommendava e man-
dava, que viesse á sua presença, o mais em breve que
pudesse, edeho assy fazerdes, como de vós confio (con-
due a carta), receberey prazer, e vo-lo-aguardecerey.
Reflectindo na data desta carta, e notando que D. Joio
de Castro nasceo em 1500 (2); embarcou para Tanger aos
dezoito annos de sua idade; e sérvio allí nove annos (3);
fácil be de concluir, que no mesmo anno, em que elle
voltou de Tanger, o mandou el-Reí chamar á corte, para
o empregar em cousas de seu servi$o, estando já, sem
duvida, informado do nobre esforço» e severa disciplina,
de que o iUustre mancebo bavia dado provas e isxemplp
naqueila praça, e guerra de Africa.
NOTA l."
Imada !• fmi (I)
Mo aos consta em qm serviço fosse empregado D. Mo
de Castro naqueUe anno de 4827, e ainda nos seguintes
até o de 1535, data da segunda carta de el-Rei, que tmios
na collecçao (doe. num. 2).
Neste porém de 1535 lhe escreveo el-Rei de Évora, a 8
de Março, diziendo-lbe que pelo Conde da Castanheira ti-
nha ^bido, como elle D. João de Castrp era chegado a
Lisboa, e vinha com desejos de bir servir na armada de
António de Saldanha, que então se preparava, em auxilio
do Imperador Carlos V, para a facção de Tunez, o que él-
{%) Frare, Uv. 4.% § ilO.
(3) Id., liv. l.«, § 4.
(4) Id., liv. l.«, §g 9-14.
Rei lhe agradecia, e mandava dizer ao Conde, que lhe
desse buma caravella. E acrescenta el-Rei: •Bem certo
som^ que nom he necesario emcomendarms da maneyra,
que me nesta vyagem aveis de seruir^ por quam bem vysto
tenho como o fazeis em todallas outras » : palavras, que
parece referirem-se a serviços immediata e precedente-
mente feitos, e que porventura encherião o vazio dos oito
annos, que decorrerão desde 1527 até 1335 (5).
Três dias depois desta carta tornou el-Rei a mandar es-
crever a D. João de Castro, recommendando-lhe a brevi-
dade, que da sua parte devia pôr em aprestar-se, sem
detença alguma, para aquella viagem, visto que o Impe-
rador era já partido para Barcelona, e ao Conde da Casta-
nheira se expedia ordem para fazer prestes, e partir a
armada, com a moor breuidade e presa.
A armada sahio com eSeito da barra de Lisboa peio
meado- de Março do dito anno de 1533, e parece haver-se
recolhido em Outubro, segundo se collige da Chronica de
Azinheiro (6).
NOTA 3.-
Primeira passagem i ladia (7)
Na armada do vice-Rel D. Garcia de Noronha, que sábio
de Lisboa no fim de Março de 1338, passou D. João de
Castro, a primeira vez, á índia, hindo por Capitão da náo
(3) Não sendo crivei, á vista do que deixámos dito, que D. João
de Castro estivesse ocioso nestes oito annos, conjecturámos que el-
Rei o mandaria por Capitão de algum dos navios das armadas, que,
por aquelles tempos, anda vão guardando, quasi de continuo, as costas
do reino, infestadas de corsários, e de que elle mesmo foi depois
Capitão-mór; ou que também seria empregado na armada que em
1534 foi mandada em soccorro de Çafim, sob o commando de D. Gar-
cia de Noronha. (Andrade, Chronica de D. João III, part. 2.*, cap. 90.°)
(6) Inéditos da Real Academia das Sciencias de Lisboa, tom. 5.%
pag. 361
(7) Freire, liv. 1.% §§ lo e seguintes.
i53
Grifo (8)9 e levando em sua companhia seu filho D. Ál-
varo, ainda muito moço.
Já então foi D. João de Castro nomeado por el-Rei em
terceira successâo para governar a índia no caso do fal-
lecimenlo do Governador e vice-Rei D. Garcia, e dos ou-
tros indicados nas primeiras successões, como consta da
provisão original, que copiámos do Heal Arquivo da Torre
do Tombo, e se acha no Corpo Ckronologico, part. 1 .*,
maç. 61, doe. num. 28 (entre os nossos documentos
num. 2 A) : nomeação, que muito honra a D. João de
Castro, e de que nos não lembra ter encontrado noticia
nos escriplores que delle escreverão.
Durante esta viagem, escreveo de Moçambique ao seu
iliastre amigo o Infante D. Luiz, a 5 de Agosto do dito
anno de 1538, e pela resposta do Infante (que vai copiada
num. 3) se vê, que D. João de Castro se havia occupado
no mar èm escrever observações e reflexões, que o douto
Infante julgava serião mui proveitosass e necessárias
áquella navegação, e que até então não tinhão sido con-
sideradaSs nem comprehendidaSy de.
Chegado á índia a 11 de Setembro de 1538 (9), acom-
panhou o vice-Rei na expedição de Dio, em Novembro
do mesmo anno (10), não como soldado de fortuna (se-
gundo a frase de Freire, Uv. I.^ | 17), mas sim hindo
por Capitão de bumá galé, como expressamente refere
Diogo do Couto, dec. 5.% liv. 5.°, cap. 6.°
Por aquelle tempo escreveo D. João de Castro a el-Rei,
como vemos pelas duas respostas, que temos na collec-
ção, datadas de Lisboa, huma em 22 de Maio de 1539, e
outra em 10 de Março de 1540, as quaes ambas copiámos,
e vao entre os documentos com os num. 4 e 5. Por ellas
se collige o zelo, inlelligencia, e avisado conselho, com
(8) Andrade, Chronica de D. João III, part. 3.*, cap. 57.<»
(9) Ibidem.
(10) Id., part 3.«, cap. 67.»
que I^ Mo de Castro otbava as cousas do Oriente, e as^
crevia sobre ellas a el-Rei ; e se mosjtra ao nesoio tempo
o ooaoeito, que el-Rei tioba deste illustre varão, e quão
má fiindado be o que em contrario pretende iasinuar
Couto» dec. 6»% liv. 1/, cap. I.^ e o próprio Jacinto
Fluirei nesto iiv. 1.% 1 86^ e em outros lugares.
Depois que o vice-Rei D. Garcia de Norooba voltou de
Dia a Goa, qm foi meado Já o mez de Março de 1539 (1 i) ;
mandou seu âlbo D. Álvaro de Noronba a Panaoe, para
abi concertar, assignar, d jurar as pazes com o çamorim
de Galecot, b Ibe deo p«f coadjutores dom João de Cas-'
trOs e Fernão Rodrigues de Castellebraneo veador da
fazenda e $^Gre$ario (f â)<
Foi com effeito D. Joio tle Castro nesta jornada por
Capitão de bum galeão ; a «justadas as capitulações, se
CMcnMo anfre tod9s o aeseftío dês pazes^ que foy es^
cfilo poUo seeretoiio» em que assinarão dom Álvaro, o
vaador 4a fazenda, dom Joio de Castro, e os capUaSs
dê Cochim e Chalé, éc. (13); nova prova do respeito,
que já então se tinba aos dístinctos tal^tos, probidade,
e prudência do illustre Castro, e da particular conside-
rafão, que se dava á sua pessoa, e ao seu grmide juizo e
intelligencia nos negócios públicos.
Sobre e que acrescentaremos ainda aqui o grande tes*
temuBhú dé D. Cbrístovão da Gama, que escrevendo de
Goa a el-Rei em 1 8 de Novembro de 1 540, Ibe dizia acerca
de D. João de Castro as seguintes notáveis palavras :
A Sem duvjída qqe deve Vossa Alteza de fazer gramde
oomta de dom João de Castro, porque até aguora nao vy
(Huem que mays necesaryo fose pêra a Imdía, que ele ;
porqu« certefyquo a Vossa Alteza que mays merecem
estes dous anos que ho qua servyo, que déz doutrem
(11) Andrade, Chronicaj part. 3.*, cap. 70.<»
(12) Couto, dec. 5.«, liv. 6.^ cap. 7.» Andrade, part. 3.*, cap. 71.*»
(13) Andrade, Chronicaj part. 3.*, cap. H.""
■
mayto bem servydos: porque alem de ho servyr 0QW Q
seu na yda dos Rumes, ele foy causa de se despachar ^r*
mada ao tempo que se aca))ou; porque segumdo a comt
dysão forte de dom Garcya, $e nao ouvera quem lhe sô-
poY*tára tudo, lhe lembrara per muytas vezes ho que
Gomprya a voso s^vyso, muy mal se pudera aqqabar
nada: e depois de nosa vymddy estamdo ho VysoRei en-
b^yado por ver a total destruição em sua armada, e en)
todas as outras cousas, ele se pôs a todo o rysquo a IbQ
fazer lembrança do que comprya a servyço de Vossa Al-
teza, e não foy pouquo acon^er ysto, por quamto arre-r
ceavam todos as repostas do vysoRei por quam perygosas
eram pêra os que querem ser omrados nesta terra, a qual
lembransa a ele lhe custou qaro, e crea Vossa Alteza que
a maoeyra de seu vy ver he tam necesarya qua, quomo
as prégasons : e certo eu ieeho pêra mym que se algum
omem pode merecer mnylo em pouquo tempo, qae he
ele: em outra cousa ho nSo vejo trabalhar sen^o tias de
seu servyso, e ele o vay servyr nesta vyagem tam ou-
rada, que dom Estevam faz, num galeão, em que á de
gastar ho que per vemtura tíío tem, e leva huma Iusí9
em que á dyr de Yuda a Sues» (14).
Depois do fallecimento do vice-Rei, ficando por Gover-
nador da índia D. Estevão da Gama, e resolvendo em-
prehender a expedição do Estreito, tantas vezes recom-
mendada por el-Rei, o acompanhou D. João de Castro^
hindo por Capitão do galeão Coulão-novo (15).
A armada se fez á vela da barra de Goa a 31 de De-
zembro de 1S40; entrou o Estreito nos últimos dias de
Janeiro de 1541, e navegando até junto de Suez, ahi foi
D. João de Castro incumbido do difflcil, e arriscado em-
penho de reconhecer a armada Turca, que estava naqueila
(14) Real Arquivo, Corpo ChroAologiGo, part. l.«, maf. 7c{, doo.
num. 20, original.
(15) Andrade, Chronica^ faii 9.*, f2^p< 76.<»
186
paragem, o que executou no dia 27 de Abril de { 541 (16).
Nesta jornada escreveo D. João de Castro o Roteiro , de que
fala Jacinto Freire neste lugar, e cujo nome be t3o conbe-
eido dos eruditos, quanto desejada a sua publicação (i7).
A armada voltou á costa da índia em Agosto de 1541,
e em Janeiro de i542 embarcou D. João de Castro, com
outros fidalgos, para o reino, na náo S. Thomé, que che-
gou a salvamento na entrada de Julho (48), e logo a 25
de Setembro do mesmo anno, eslando elle na sua quinta
junto a Cintra, o mandou el-Rei chamar a Lisboa para
objecto de seu serviço, como se vê pela carta regia, que
temos na collecção, escripta por Fero de Alcáçova Car-
neiro, com a referida data, e assignada por el-Rei.
(i6) Andrade, Chroniea, parL 3.*, cap. 79.*»; Couto, dec. 5.% liv. 7.»,
cap. 9."
(17) Acerca deste Roteiro, esperámos que o leitor nos releve o
copiarmos aqui as palavras de Fr. JoSo dos Santos, na sua Ethiopia
OrierUalj liv. 5.^ cap. 20.^ aonde tratando incidentemente dos di-
versos modos por que se tem pretendido dar a razão deste nome de
Mar Vermelho j diz assim : «Este mar nunca teue nem tem as agoas
vermelhas; mas comtudo algumas vezes aparecem ruyuas em muitas
partes delle, {y)r causa do muito coral vermelho, que tem nacido
pollo fundo daquellas mesmas partes; e por essa rezam não appa-
rece' todo da mesma cór, senão somente naquelles lugares, onde ha
este coral, que faz parecer a mesma agoa vermelha, ou roxa, com
a reuerberação do sol, quando as agoas estão claras. Esta experiên-
cia fez dom João de Castro, quando veio a este mar, em huma grossa
armada da índia, da qual elle depois foy gouemador. Este prudente
capitão correo de propósito quasi todo este mar roxo, como elle
conta nos seus commentarios geográficos, que fez de todas estas ter-
ras; e nos lugares, onde via estas manchas vermelhas, mandaua mer-
gulhar alguns homens, grandes mergulhadores, que ja leuaua pêra
este effeito, os quaes indo abaixo, ao fundo do mar, pêra hzevem
experiência daquella vermelhidão, trouxerão muytos pedaços de
coral vermelho, que arrancarão do fundo, e aífirmarão que toda a
mais vermelhidão, que aparecia, era coral vermelho.» Este Roteiro
sábio finalmente á luz publica em Paris no anno passado de 1833,
como diremos adiante. Nota 14.*
(18) Couto, dec. 5.*, liv. 8.», cap. l*"
157
NOTA 4.'
He lUMneadd Gapitio-mór da armada da gnarda-eosta (19)
A ordem, qae D. João de Castro recebeo para vir á
corte, e de qae acabámos de falar na precedente nota,
teve sem du\ida por objecto querer el-Rei encarregal-o
de capitanear a armada, que se mandava fazer prestes
para guardar a costa destes reinos; porquanto logo no
1.'^ de Dezembro do mesmo anno de 1542 o achámos no-
meado Capitâo-mõr delia, por alvará de el-Rei, no qual
se contém, além da nomeação, o regimento que havia de
seguir no desempenho daquelle cargo. Deste regimento
nos pareceo conveniente ofierecer aos nossos leitores a
integra, e vai entre os doe. num. 6.
Parece que D. Jo9o de Castro sahio logo ao mar no
próprio mez de Dezembro de 15i2; visto que por outras
cartas de el-Rei consta ser chamado á sua presença em 14
de Abril do seguinte anno de 1543, e dar-se-lhe em 10
de Maio nova ordem para hir esperar as náos da índia
naquella paragem, aonde parecesse que eUas devi3o vir
ter; cumprindo em tudo o mais (diz a carta) o regimento,
que lleuasles, quoando fostes por capitão mór da outra
armada da costa» o anno pasado; as quaes ultimas pa-
lavras se não podem commodamente entender, senão do
mez de Dezembro precedente, de Cujo principio data a
nomeação e regimento.
Nesta segunda sabida ao mar tomou D. João de Castro
huma náo Franceza, com a qual entrou em Cascaes, por
ordem que el-Rei para isso lhe mandou em carta de 16
de Junho do referido anno de i 543 (doe. num. 7), vol-
tando logo ao mar, aonde successivamente lhe forão di-
rigidas differentes providencias de el-Rei, em cartas de 20,
(19) Freire, liv. l.^ §§ 21 e 22.
m
e 23 de Janho, de 30 de Julho, e de S, e 7 de Âgosio do
mesmo anno, na ultima áaê (}tiae$ lhe manda que agra-
deça a S0U íUba D. Álvaro, ^ a outros Capitães, o que ti-
nhão feito para salvar a náo S. Filippe, que tocara no ca-
tkídfpOi e lhe fala já da jornada de Ceuta, para que o tinha
dèdtltiado, e que ei-Rei desejava se fizesse com a mor bre-
vidade.
NOTA 5/
Joniada tê «Mia (W)
Por alvará de 9 de Agosto de 1 543 foi D. Jo3o de Castro
encarregado de hir á cidade de Ceuta, levando em sua
conserva os navios da gente, artilharia, munições, e noLâis
cousas, que naquella praça haviSo de ficar; e se lhe deo
o regimento, que devia seguir em sua hida e estada.
Pdr hum dos artigos deste regimenta lhe eneommenda
eURéi o e^tame das fortificações de Ceuta, Alcácer, Tan-
ger, e Arzilla ; dos reparoi^, ou obras, que nellas se deviio
fazef; do estsido dos armazéns, gdnte, armas, &c. ; e ao
mesuno tempo lhe ordena, que havendo nova da armada
dos Turcos (SI), elle D. Joiô se fique em Ceuta, asêy
cofHô (diz) me mandc^tês lembrar que o queryeis fazer;
e que nesse caso escolha, para vir por Capitão do seu
gâle8o, e conduzir a armada a Lisboa, huma pessoa, que
paM esse mister seja idónea, porquanto (acrescenta el-
Rei) ainda que pêra me seruirdès nesa armada seju
téfkpOi e ajtè necesydade 'diêo; pala confiança que dê vós
imho, ê pda grande inporíanela da eousa, sendo oaso
que os Turcéie viesem, me quero servir de vós nyso,
(2(Q Freire, liv. 1.°, §§ 23-51.
(21) Parece que se temia então algum» intçrpresa do celebre Bar-
baroxttj que andava infestando as costas da Itália. Os nossos escri-
ptores, que podemos consultar, não fazem menção destas prevenções
de el-Rei, nem indicão os seus motivos.
m
No segointo ãia, 10 de Agosto, mandou el-Rei chamar
D. João âe Castro, e tendo praticado com elle, Ibe fes
eipedir novas e partionlares ordens sobre o qtie deTia
fazer em Alcácer, as qnaes constão de ootro regimento
de 13 do mesmo mez e anuo. Ambos es regimeniOB vld
copiados, e s3o os nnm. 8 e 9 dos documentos.
Depois daquelle dia 13 de Agosto (e nao ali, eomo
die Freire no | 28), sab)o D. JoSo de Castro com a ar-
mada para Ceuta, sem se deter no caminho, nem podtít
(ao que parece) ter então cabimento a fóOQ3o do Estreito
de Gibraltar, de que fiila o mesmo Jacinto Freire nos
{§ 38-^30; n3o só porque as suas instrucçSes, e os regi^
mentos, que levava, n3o dav3io hsgar a teso; mas tànAem
porque em 22, e 27 do dito mes já et«Hei o supp9e em
Ceuta, pois lhe escreve para a dita cidade (doo. num^ 10
e il): e por outra carta regia de 28 se manifesta haver
D. JoSo effectivamente lá chegado, e ter já feito a desem-
barcaçao das munições^ e começado a oumpt^ir as ooti^tt
cousas que el-Rei lhe ordenara nos citados regimento^
(doe. num. 12).
A 24 de Deaembro estava ()* Jqío de Qastro no Tejo,
de volta da expedição de Africa, e nesta volta he que pa-
recie haver succedido o enecmtro da armada cota sete liáos
de corèarios, segundo consta da carta regia de 27 daqueH«
mez, da qual damos também cópia (doe. num. 18); nS6
só porque ella mostra bem a conta, em ^e eMIel fifiUia
este grande homem, a quem jamais escrevia sem ex-
pressões de grande louvor e confiança; mas também por-
que este, e os mais documentos, que deiítámiO^ aHegados
na presente e antecedente nota, podam servir para recti-
ficar o que diz Jacinto Freire nos lugares respectivamente
apontados, e para desvanecer alguma confusão, com què
eUe parece ter descripto esta época da vida do seu herpe.
Dissemos, que D. João de Castro estava ao Tejo a 24
de Dezembro de 1543: tíSo tardou porém muitos díàs,
160
que tornasse a sahir ao mar, com o mesmo cargo de Ca-
pitSo-mór da armada, e com grandes poderes e alçada,
que el-Reí lhe concedeo por seu alvará de 28 do dito mez
e anno (doe. num. 14), da qual expedição se recolbeo em
Fevereiro de 1544, bindo então descançar de tantos, tao
contínuos, e tão importantes trabalhos até o principio de
i545, em que foi nomeado Governador da índia.
E para que se não entenda que estes mesmos poucos
mezes de descanço forão obra do seu génio isento (como
algumas vezes parece querer inculcar Jacinto Freire) ou
de. menos consideração, que el-Rei tivesse a seus emi-
nentes serviços, damos debaixo do num. i5 a própria
carta de el Rei, que o manda descançar, e que por ex-
tremo honra o Monarca e o vassallo; e ainda acresceu-
tâoQos, que por outra de 1 1 de Julho do mesmo anno
de 1544 (doe. num. 16) lhe pedio el-Rei parecer e con-
selho sobre a organisação da nova armada,- que queria
mandar ao mar para guarda das costas do reino.
•
NOTA 6.'
Vai por GoTernador da índia (22)
A 5 de Janeiro de 1545 já D. João de Castro estava no-
meado para Governador da Índia; porque nessa data se
lhe expedio o regimento, pelo qual havia de dirigir-se no
apparelhar^ e prover de gente e mantimentos os navios
da armada (23).
. (22) Freire, liv. !.•, g§ 32 e seguintes.
(23) A carta patente, que D. João de Castro levou, para por ella
se lhe entregar a índia, he datada de Évora, a 28 de Fevereiro de
1545; e por huma nota, posta no reverso, sê vé que foi registada
no livro do registo da casa dos contos, e fazenda da Índia, a fl. 96,
por António Gonsalves, Escrivão da Mesa da mesma fazenda, em
Goa, a 26 de Agosto de 1547. Esta carta está registada com a mesma
data na Chanceliaría de el-Rei D. João UI. (Real Arquivo.)
i6i
Debaixo dos num. 17-24 damos este regimento, e mais
algumas das trinta e tantas cartas, que el-Rei, e a Rainha
lhe escreverão sobre varias particularidades da armada,
em quanto esta nao desaferrou do porto de Lisboa.
Por estes documentos se confirma o que diz Jacinto
Freire (§ 34) a respeito da inteira confiança, que el-Rei
tinha na intélligencia, zelo, e mais virtudes deste insigne
varão; e como entregou ao seu cuidado, e até, em parte,
ao seu arbítrio, a primeira e principal parte das disposi-
ções necessárias ao meneio, e prompta expedição da-
quella viagem.
Em quanto ao dia, em que a armada sahio do porto de
Lisboa, e que Jacinto Freire (§ 37) diz ter sido a 17 de
Março, parece-nos haver nisto alguma equi vocação; visto
que em 22 do dito mez ainda el-Rei escreveo a D. João
de Castro, ordenando, que Martim Âffonso de Sousa, que
ora está (diz) por meu capitão móor, e gouemador tuis
partes da Índias venha na naao Sam Thomé, em que ora
vós his, se ele for mais contente de vir nela, que na naao
Sm Pedro, que he minha, &c.
NOTA 7.*
Chega a Moçambique (24)
De Moçambique escreveo D. João de Castro a el-Rei,
como se vé da resposta, que el-Rei lhe deo em huma ex-
tensa carta de 8 de Março de 1546, a qual copiámos por
inteiro, entre os documentos (num. 25), por nos parecer
de alguma importância para a Historia. Pelo conteúdo
desta carta verá o leitor :
1 .^ Que a viagem de D. João de Castro até Moçambi-
que tinha sido boa e feliz; e que se deve ter, pelo menos,
por duvidoso o que diz Freire (| 37) do grave perigo, e
(24) Freire, liv. d.«, § 38.
TOMO VI 41
i6a
qnaM milagftma salvaç3o da sua náo, na costa de Gokié;
deTBDdo, porventura» referir-se este aconteeimento a ou-
tro logar, e occasiio, que adiante notaremos (25).
2.® Qtie nSo menos se deve ter por duvidoso o qne Ja»
cinto Freire affirma no § 38 sobre a reforma, ou nova
edificaçSo da fortaleza de Moçambique, mandada £azer
pelo Governador: porquanto da carta de ei-Rei somente
se infere qa» D. João de Castro Ibe mandara na verdade
o debuxo dâqueila fortaleza, e alguns avisos sobre os seus
defeitos, e possíveis melhoramentos; mas que nada eoã-
prebendêra sem esperar, como devia, a resposta, e ap-
provaçio de el-Rei (M).
3.^ Que a época do descobrimento dos rios de Lour
renço Marques se deve referir ao tempo (pouco mais ou
menos) em que D. JoSo de Castro escrevia de Moçambí*
(^) V^^k"^ a Nota 8.* no príacipio.
(26) O próprio Jacinto Freire, esquecido (ao que parece) do que
tinha escripto neste lugar^ quando no liv. 4.^ g 37 fala das náos,
qtie chegáráo á índia em Setembro de 1546, e Maio de 1547, diz
que nestas náos fora ordem ao Governador, que numdasse ahrgúif
o sitio á fortaleza de Moçambique j o que seria inútil, se a obra já
estivesse feita, como elle suppCe. O certo he, que nem D. JoSo de
Castro reformou a fortaleza de Moçambique, quando ali passou, nem
o pôde fazer depois que para isso recebeo as ordens de el-Rei, por
lho impedirem os trabalhos da guerra, e logo a morte. Fr. João dos
SanIOB, na sua BtMopia Orimtal^ liv. 3,«, cap. 4.*", falando da f&rtaL-
laca nova de lioçattbiqiie, diz assim: «Esla fc»^leza he buma das
mais lories que ha na índia : foi traçada assi ella, como a de DanoSo»
por hum architecto, que foy sobrinho do Arcebispo santo de Braga
Ô. Fr. Bertholameu dos Martyres, da ordem dos Pregadores, o qual
árôhitecto, sendo mancebo, se foy a Flandres, donde tomou grand»
official de architectura; e depois disso foy mandado á Inâia p<4a
Rainha dóâa Gatiwrina, qtiando governava este reyno, pêra fazer
estas fortalezas, o que foy no anno do senhor de 1558, quando
dom Constantino foy por vice-Rei da índia : e tornando este archi-
tecto da índia, foyse pêra Castella, onde tomou o habito da ordem
de S. Hieronymo, e foy muy aceilo a eIRey Philippe II, e por sua
traça se âzerão muitas obrâs no Escurial ».
163
que; e qae el-Rei^ tendo então a primeira noticia desta
empreza, julgou conveniente ordenar o seu prosegui-
mento.
4.^ Que el-Rei, informado das novas e repetidas tenta-
tivas dos Castelhanos sobre Maluco, tinba feito tratar este
negocio pelo seu Embaixador na corte do Imperador Car-
los V, e dava, em consequência disso, as suas ordens ao
Governador da índia para obstar aos progressos daquella
usurpação. .
5.® Que por aquelles tempos se negociava em Constan-
tinopla a paz com o Turco, sendo agente da negociação
por parte de el-Rei, ao principio Duarte Catanho (27); e
depois Gaspar Palha ; e que, sem embargo disso, el-Rei
se não descuidava de prev^ir os casos possíveis da
guerra, maiormente no que tocava á conservação do po-
der Portuguez na índia.
Achão-se finalmente na mesma carta outras providen-
cias de el-Rei, e entre ellas algumas, que dizem particular
respeito aos progressos da Christandade no Oriente, as
quaes não julgámos necessário especificar aqui, porcpie
mais adiante se nos offerecerá opportuna occasião de tor-
narmos a falar delias.
Além desta carta, e poucos dias depois da sua data,
escreveo el-Rei outras duas a D. João de Castro, huma
em i 3 de Março sobre os negócios da Ethiopia (28); e
(27) Sobre a naturalidade e caracter de Duarte Catanho, yeja-se
Andrade, Chronica, part. 3.*, cap. 50.<>
(28) Com esta carta se achSo, por cópia, outras duas, escriptas •
por el-Rei ao Imperador da Ethiopia, e aos Portuguezes, que lá exis-
tiSo desde o tempo de D. Ghristovfio da Gama. Por ellas verá o lei-
tor: i.°, que el-Rei ainda conservava o desejo, e a esperança de
descubrir alguma communicaçSo entre aquelle império e a costa
oriental, e occidental de Africa ; 2.^ o conceito, que se deve fazer
da pessoa e qualidades de D. João Bermudes, que os nossos, escri-
ptores cfaamão Patriàrcha da Ethiopia^ e sobre o qual se deve ler
o que diz Tellez, Historia da Ethiopiaj liv. 2.^ cap. 6.<> e 20.''
164
outra em 14, sobre as terras firmes de Goa, e sua pre-
tendida venda ao Hidalcão. Ambas nos parecerão dignas
de se publicaram, e são os num. 26, e 27 dos docu-
mentos.
Ultimamente damos debaixo dos num. 28 e 29 as res-
postas da Bainha Senhora D. Catharina, e do Cardeal In-
fante D. Henrique ás cartas que D. João de Castro lhes
escreveo também de Moçambique ; porque ainda que ellas
não importem tanto aos conhecimentos históricos, mos-
trão comtudo a estimação que D. João de Castro merecia
e gosava ; e nos dão, por outra parte, huma boa prova da
attenção benévola, com que os Príncipes Portuguezes tra-
tavão, naquelles tempos, os sujeitos, que por seus ser-
viços e relevantes qualidades se fazião beneméritos dessa
distincção.
NOTA 8.*
Sahe de Hoçambipe, e chega a Goa (29)
Na sabida de Moçambique, e através da ilha do Co-
maro, he que a náo de D. João de Castro correo o grande
perigo, de que falámos na precedente Nota, e que Jacinto
Freire, equivocadamente, refere á costa de Guiné na Africa
Occidental. Consta das duas cartas da Rainha, e do Infante
D. Luiz, escriptas a D. João de Castro, em resposta ás
que elle lhes escreveo depois de ter chegado á índia.
D'ahi em diante continuou a armada sua navegação
com prospera viagem até aferrar a barra de Goa, aonde
chegou a 10 de Setembro, excepto somente a náo Santo-
EspiritOj de que era Capitão Diogo Rebello, a qual por
má navegação, invernou esse anno em Melinde, e passou
á índia no seguinte de 1546 (30).
(29) Freire, liv. 1.», §§ 39-41.
(30) Gaspar Corrêa diz que D. João de Castro chegou a Goa no
l.<> da Setembro com Garcia de Sousa, e D. Jeronymo, e que aos 10
chegou D. Manoel da Silveira.
165
Da índia escreveo D. João de Castro a el-Rei, nas pri-
meiras nàos, que de lá vierão para o reino ; mas não te-
mos na collecção a resposta : temos sim as duas da Rainha
edo Infante D. Luiz, acima indicadas, as quaes julgámos
conveniente dar por cópia, não só por serem de taes pes-
soas, e comprovarem o que no começo desta nota deixá-
mos dito; mas também porque a do Infante, em especial,
merece ser lida com toda a reflexão, por quão própria
he para mostrar os elevados sentimentos daquelle Prín-
cipe; o alto conceito que elle fazia do seu illustre amigo;
os sábios e prudentes conselhos que lhe dava ; e até o si-
zudo, grave, e apurado estylo com que lhe escrevia. Estas
daas cartas são os num. 30 e 31 dos documentos (31).
NOTA 9/
DoTídas sobre a anthenticídade da carta de el-Rei de 8 de Março
de 1S46 para D. João de Castro, escripta de Almeirim,
segundo Freire
No § 69 do liv. 1 .^ traz Jacinto Freire copiada huma carta
de el-Rei para D. João de Castro, a qual pelo seu conteúdo,
estylo, e formulário nos pareceo sempre mui notável, e
talvez suspeita : não nos atreveremos comtudo a negar a
sua authenticidade, porque pareceria isso, em nós, sobeja
ousadia; e nos limitaremos tamsómente a notar aqui os
fundamentos da nossa desconfiança.
Primeiramente, reflectindo no que he, ou se pode cha-
mar, mero formulário, observámos, que de setenta e mais
(31) A carta do Infante, de que aqui falámos, vem copiada em
Freire, liv. 3.", § 4, sem alteração na substancia do texto : ha com-
tudo, na cópia, falta de algumas palavras, mudança de collocaçâo
em outras, e erro notável na data, que deve ser de 16, e nâo de 26
de Março : por isso não julgámos inútil produzil-a de novo entre os
documentos.
166
cartas originaes, que temos á vista, mandadas escrever
por el-Rei a D. João de Castro, e por el-Rei assignadas;
nem buma só começa como esta: n Governador amigo 9,
senão todas pelo nome do sujeito a quem se dirigem:
cZ). JoãoT^, ou «D. João de Castro n^ ou (depois que teve
carta de conselho): «Z>. João de Castro^ amigo if^ e acres-
centando sempre a formula : vEu El-Rei vos envio muito
saHáarT>, 8 somente huma destas cartas que el-Rei lhe
escreveo, depois de o ter nomeado vice-Rei, começa no-
meando-o pela dignidade ^Viso-Rei, amigou»^ e acres-
centando sempre: <£u el-Rei vos envio muito saudaria %
Em segando lugar: nenhuma das mesmas cartas traz
a formula da data com o anno do nascimento por extenso^
como nesta de Jacinto Freire: «Dada em Almeirim a 8 de
Março, anno do nascimento de Nosso Senhor Jesu-Christo
de lô46i>, formula que somente tinha lugar nas cartas pa-
tentes, e em outros tituloé, ôu diplomas de maior impoi*-
tancia. Pelo contrario, nas simples cartas regias, taes
como são todas as que temos na coUecção, se diz tamsó-
mente, v. gr. : <íEscripta em Cintra a 13 dias de Agosto
de 1543 Ti ^ ou ^Escrita em Almeirim a 8 de Março, N. . .
a fez, anno de 1646 j>, ou N. .. a fez em Evora^ a 8 de
Março de 1546 1>, &c.
Em terceiro lugar: não achámos em nenhuma das
mesmas cartas, nem em outros diplomas, que el-Rei fale
jamais de si no numero plural, dizendo, v. gr. (como
a cada passo diz líesta carta de Jacinto Freire) : tNossa
cidade de Goa; partes da índia a nós sujeitas; he nossa
vontade; havemos sido informados; vos mandamos; de
tudo isto nos pareceo dar-vos conta »; ác, ác. E este ar-
gumento he tanto mais forçoso e decisivo, quanto he
certo, que el-Rei D. João III ordenou por huma sua pro-
visão de 16 de Junho de 1524, que d'ali em diante, ena
quaesquer alvarás, provisões, cartas, ou escripturas suas»
se dissesse: (íEu el-Rei i^, e não ^Nós el-Rei i^; e qoíe
i67
aonde se dizia: ^Fazemos saberia, se dissesse: ^Faço m-
èer», ou ^Mandoit, ou ^lEypor bemn, <jtc. (32).
Deixando porém os formulários, e voltando ora as
nossas reflexões para o conteúdo da dita carta, notámos
neila ordens tão^positivas, e ao mesmo tempo t3o vk)l6i^
tas, e de tão difficil, e até perigosa execução, ácerea da
extincção da idolatria, e dos ritos e festas gentílicas* dos
lugares do Oriente sujeitos aos Portuguezes, e baUtados,
em grande parte, de Gentios, e Mahumetanos, que nos
parece não concordarem de maneira alguma com a grande
prudência de el-Rei, e com a circumspecção, que elle
sempre recommendava, ainda em objectos muito mem^
importantes, e de muito menor interesse para a conser*
vaçao e paz daqueUes estados.
Demais: o Padre João de Lucena, na Vida do Sanio
XameTy liv. 2.^, cap. 22.®, falando desta mesma carta,
sem dar a sua integra, e somente substanciando os seus
differentes artigos, aponta alguns, que se nao acàlk) m
cópia de Freire ; omitte outros, que nella se lêem ; e i^
fere outros, que em Freire vem com differem;^, e talvez
dizem o contrario ; como poderíamos mostrar pdo par al-
Mo de ambos os escríptores, e facilmente verificará qimo,
tiver a curiosidade de os comparar.
O mesmo Lucena, no fim do seu resumo diz tsfiiai:
« No que tocava a Mamr, erm estas as pe^was da
mnai^; e traz àum artigo, como c(^iado 4ella em te-
rnos formaes: comtodo este artigo nSo só se oio aebd^
em taes termos, na eópia de Jacinto Freire, mas parece,
além disso, ser tirado da carta, que nós damos ícapiada
a num. 2S, no § que começa : ^No negwsio do rey de M-
fcmapatcmit, e não ^n termos formaes^ voaA ooia vomíiA
diversidade rnsí matéria, frases, e palavras.
Finalmente parece pouco verosímil, que escrevendo iiri-
<38) Andrade^ «j^ontM éé ^UBei D.Mb Ul^ pait tf, «a|i. M.»
168
Rei a D. João de Castro a extensa carta que acabámos de
citar, e he entre os documentos o num. 25, e havendo
nella dous artigos sobre objectos relativos á christandade
d'aquelle Oriente, e aos meios de a promover, em ne-
nhum delles se refira el-Rei a esta oufra carta extraor-
dinária de Freire, e Lucena, que (como se suppõe) foi
escripta no mesmo dia 8 de Março de 1546.
Acresce ainda a estas razões, que nem Francisco de
Andrade, na Chronica de D. João 111, nem Diogo do
Couto, nas suas Décadas, fazem menção alguma de se-
melhante carta, nem das extraordinárias ordens, que
nella se suppõem dadas. E posto que este argumento
seja (segundo a frase dos críticos) meramente negativo,
nem por isso deixa de ter grande força, supposta a im-
portância do objecto, a diligente exacção d'aquelles es-
criptores, e a impressão, que taes ordens devião ter pro-
duzido nos estados da índia, aonde Couto escreveo as
suas Décadas, e aonde não só recolheo as tradições ainda
recentes, mas teve á mão os mais importantes documen-
tos, que em seu tempo se conserva vão.
Seja-nos permittido, por ultimo, e com o respeito de-
vido a hum escriptor tão benemérito, como Lucena, notar
aqui huma contradicção mui palpável, em que elle cahio ;
a qual tendo intima relação com o objecto de que tratá-
mos, augmentou fortemente a nossa suspeita, e quasi nos
induzio a suppor alguma particular e occulta intenção,
que todavia nos não he possível adivinhar.
No liv. 2.®, cap. S.*" da Vida do Santo Xavier, louvando
Lucena o zelo, aliás notório, que o Vigário Geral da índia
Miguel Vaz tinha mostrado na conversão dos infiéis, diz
que «M/e mandou derrubar os pagodes das ilhas de Goa;
fez desaparecer as publicas idolatrias, festas, e supersti-
ções gentilicas; desterrou com autoridade real os Bra-
menesy que mais impediam a dilataçam da fé; alcançou
se dessem aos christãos, nouamente feytos^ os cargos e
169
officioSy que dantes seruiam os gentios com grande pre-
juízo da conuersam; e só a buscar estes e outros seme-
lhantes despachos, veyo da índia a este reyno, e tornou
d índias, &c. Ao mesmo passo, que pouco adiante, no
cep. 22.^ do dito livro, aonde traz o resumo da carta de
que tratámos, esquecido (ao que parece) do que acima
tinha dito, e queixando-se do pouco efieito, que tiverão
as suppostas ordens de el-Rei, diz assim: ^Mas o que
resultou de todas estas diligencias do P. M. Francisco
(o Santo Xavier) e do vigário geral, foi, que a carta de
el'Rei, segundo acho per hua cota do secretario, que então
era do estado, foy lida no conselho da Índia, e nelle se res-
pondeo a cada hum dos capitulos de Sua Alteza, sem se
executarem senam muy poucos, e os de menos impor-
tâncias, de.
E advirta-se, que n3o só estes dous lugares de Lucena
são entre si incoherentes; mas que seria quasi impossível
verificar-se o que elle aflõrma no primeiro : porquanto o
Vigário Geral Miguel Vaz, vindo a Portugal com cartas
do Santo Xavier, em 1545, para sollicitar algumas provi-
dencias a bem d'aquella nascente christandade, foi des-
pachado em MaDço de 1546, e voltando logo á índia,
chegou a Cochim por Setembro do mesmo anno; d'ahi
partio para Goa, aonde estava em Dezembro; e no Ja-
neiro immediato de 1547 falleceo; sem ter visto D. João
de Castro (que ainda estava em Dio) para lhe commnnicar
quaesquer ordens, que levasse de el-Rei; e sem poder
elle mesmo executal-as (caso o devesse fazer indepen-
dente do Governador) no breve espaço de dous ou três
mezes, e em matérias tão árduas, e tão arriscadas, quaes
são as que Lucena aponta, e lhe attribue. As datas, que
aqui suppomos, constão de algumas cartas, que temos na
collecção, e cujos artigos copiamos no doe. num. 32.
Á vista de tudo o que deixamos ponderado, julgará o
leitor prudente o conceito que se deve fazer, tanto da
iro
«arta fiuintaadada por Lucena, e c(^[úa(h por Freire»
eome dos factos, que a ella se referem. Pela nossa parte,
o qne sabemos de certo, e dos moatrSo os documentos,
lie que Miguel Vaz veio a este rdno com o intuito que já
indicámos; e (júe el*Reí deferio ao seu zelo e instancias
com as providencias geraes, que constão da carta, por
nós copiada, e já tantas vezes citada, num. 25, aonde ex.*
pressamente se refere ás informações que tivera por Mi-
guel Vaz, e pelas cartas de Mestre Francisco (o Santo
Xavier).
Sérnepte acrescentaremos (para não omittir cousa al-
guma, que possa illustrar o leitor) que na carta da Ga-
mara de fíoa, escripta a D. lo3o de Gasta'o ^n 27 de
DeamilHM» de 1846, seM o empréstimo que elle Ibe pe-
dira (33), se lêem estas notáveis palavras : «Faz a cidade
lembrança a V. S., que os gemtios moradores, mercado-
res, 6 gancares fizeram parte deste empréstimo, como
ttie já dizemos; e mam aceremos por muilo aver ahy ho-
mens vertuasos^ fue faram crer a Sua Alteza, que nam
sermm de maia (os gentios), e que he bem, que os lancem
fára, desta Èsrra^, d€., das quaes palavra parece coUí-
gir-stt, que ou em Goa se receiava então alguma ordem
de d-Bei para a expidâSo dos gentios, m pelo menos ha-
via qaem lemin^ava, propunha, ou talvez publicava essa
medida, oi^io conveniente aos interesses da christandadte
0*3911608$ terras.
NOTA 10.*
Cerco de flio: soecerros pe Ike maada o fieToroadar (34)
Quaá todo o liv, 2.° de Jacinto Freire se emprega em
Rescrever as causas, que motivarão esta guerra de Gam-
(3B) Desta carta da Gamara fazemos adiante larga menção, e a
damos por integra entre os documentos num. 35.
(91) Frefe<), liv. 1*
171
baia, e segundo cerco de Dio, sendo Governador da for-
taleza D. João Mascarenhas ; os vários successos do mesmo
cerco; os frequentes soccorros que D. João deCa^ro man-
dou em defensão da fortaleza, drc. Sobre estes o])jectos
pouco achámos de novo nos nossos documentos, que me^
reça especial menção. Como porém Jacinto Freire se des-
cuidou de determinar as datas de alguns acontecimentos,
e nem he exacto nas que refere, sendo este hum dos
grandes e indispensáveis meios de dar ordem e clareza á
Historia, e de fazer proveitosa a sua leitura ; pareceo-nos
conveniente supprir agui este delfeito, valéndô-nos das
cartas e documentos da nossa cotiecção, e da Ckránica
de Andrade; porque também deste modo se fica melhor
conhecendo o grande trabalho, incrível actividade, e con-
summada prudência, com que D. João de Castro a tudo
attendia, e tudo providenciava, vencendo innumeraveís ,
dificuldades, e atè contrastando a faria dos tempos, e
dos mares.
He pois esta a ordem dos successos desta guerra e
cerco, na parte qm diz r^espetto ao t^osao principal in-
tento.
1646--15 de Abril
Chega a Goa o primeiro aviso de D. João Mascare-
nhas sobre a eflfectiva declaração da guerra de Cambaia.
(Freire, liv. 2.^ § 9 ; Andrade, part. 4.*, cap. 2.*)
O Governador da índia manda logo seu filho D. Fer-
nando com soecorro ; e despacha D. Francisco de Menezes
para Baçaim, aonde devia aprestar outra armada.
18 de Maio
Entra D. Fernando em Dio com o soecorro. (Freire,
liv. 2.^ § 40; Andrade, part. 4.*, cap. 6.") Diogo 4o
Couto, dec. 6.% liv. j .% c^ Q^\ refere asta ^trada ao
fim de Maio.
i72
^29 de Jnnho
Está D. Francisco de Menezes em Baçaím, aonde se fez
prestes a armada, com que depois foi em soccorro de Dio.
(Vej. a carta que dpimos entre os doe. num. 33, e cor-
rija-se por ella o que diz Freire, liv. i.^/ § 87; e Couto,
dec. 6.*, liv. 2.^ cap. 7.% e liv. 3.S cap. 1.°)
24 de Jtillio
He desta data o regimento, que temos original na col-
lecção, dado por D. Jo3o de Castro a seu filho D. Álvaro
de Castro, Capitão-mór do mar, para hir soccorrer a for-
taleza. Vai copiado, e he entre os doe. o num. 34. Por elle
se deve corrigir o que diz Freire, liv. 2.^ |§ 122 e 158; e
Couto; dec. 6.*, liv. 2.S cap. 7.° No próprio dia 24 de Ju-
lho sahio D. Álvaro de Pangim, segundo refere Andrade,
part. 4.*, cap. 9.**
Agrosto
Em dififerentes dias deste mez entrão successivamente
em Dio: 1.^, António Moniz Barreto, e Garcia Rodrigues
de Távora; 2.^ Luiz de Mello; 3.°, D. Jorge de Mene-
zes, e D. Duarte de Lima (35); 4.®, D. João de Taide, e
Francisco de Ilher (36); 5.**, Ruy Fernandes, Feitor de
Chaul (37). (Andrade, part. 4.*, cap. 13.°)
(35) Couto, dec. 6.«, liv. 3.°, cap. 3.°, e Freire, liv. 2.«, §§ 139 e
140 nomeSo estes dous fidalgos D, Jorge, e D. Duarte de Menezes,
(36) Couto, no mesmo lugar, e Freire no § 143, em lugar de
D. João de Taide, e Francisco de Ilher, dizem D. António de Ataide,
e Francisco Guilherme. Ilher he hum lugar ou bairro ao sul de Ma-
laca, donde provavelmente tomou o appellido Francisco de Ilher.
(37) A este Ruy Fernandes dá Couto, dec. 6.*, liv. 3.*», cap. 5.%
e Freire, liv. 2.', § 157, o nome de Ruy Freire; mas he manifesta
equivocaçâo; porque este bom Portuguez he o mesmo que escreveo
a carta num. 33, aonde está clara a sua assignatura.
i73
29 de Agosto
Cbegão a Dio D. Álvaro de Castro e D. Francisco de Me-
nezes, cada bom com a saa armada. (Andrade, part. 4.%
cap. 13.«; Freire, Uv. 2.^ § 158.)
4 de Setemliro
Chega a Goa a noticia de haver D. Álvaro entrado em
Dio. (Andrade, pari. 4.*, cap. U.® Vej. Freire, liv. 2.^,
§173.)
Fins de Setembro
Chega a Dio Vasco da Cunha. (Andrade, part. 4.%
cap. 14.^ Freire, liv. 2.^ § 178.)
Nestes fins de Setembro sahio D. João de Castro ao
mar para hir em soccorro de Dio. (Andrade, part. 4.*,
cap. 14.**; Lucena, liv. 6.% cap. 1.®) Freire, liv. 3.®, § 1,
e Couto, dec. 6.^, liv. 3.°, cap. 9.®, dizem que elle sahira
de Goa a 17 de Outubro; mas enganárSo-se ; porque a 16
deste mez escreverão os mesteres de Goa huma carta a
D. João de Castro, já ausente, e delia mesma se v6 que
tinha sabido antes do dia 13.
26 de Outubro
A 26 de Outubro parte de Baçaim para Dio, levando
sessenta fustas, e doze náos e galeões, em que podião
hir quatrocentos soldados. Toma a ilha dos Mortos para
fazer agoada, e recolher os navios, e manda entretanto
D. Manoel de Lima com vinte fustas guerrear a costa de
Cambaya. (Consta da carta escripta por D. João de Castro
aos Vereadores, Juizes, e povo de Goa, em data de 15 de
Novembro de 1546, dando-lhe parte da batalha e victoria
de Dio, a qual carta vem copiada na Chronica manuscripta
da índia de Gaspar Corrêa, tom. 4.^, pag. 391.)
i74
6 d0 NpV9fl:i)>ro
Sarge D. Jo3o de Castro diante de Dio. (Andrade,
píirt. 4.*, cap. 18.**; Freire, liv. 3.®, | 8, Ac.)
11 de IfoteinDrô
Dá a famosa batalha, # fica senhor da cidade. (Andrade,
part. 4.», cap. 17.^ Freire, liv. 3.^ 1 13, ác.)
A 15 de Novembro escreve aos Vereadores, Juizes, e
povo de Goa, dando-lfaes parte da vietoria. Esta carta he
lavada a Goa por D. Álvaro de Castro, que i^ega áquella
cidade a 19.
NOTA U.'
Err« dâ 4âta ém eartas de Iitfaile D. UkparaD. Joio do Ciotro,
qio freire diz trazidas a Gochis
jMf Louenço Pir«E de Torora em as nioo do roioo
Ha em Freire, liv* 3/, $ 4, huma notável equivocação
qm Bos pareceo coaveniente corrigir. Fala da chegada
de Lourenço Pirez de Távora a Cochim com as náos do
reino, e da sua inunediata partida para Goa, e logo para
Dio em soccorro da forta)êza> e dizendo que nestas náos
tivera D. João de Castro cartas do Infante D. Luiz; dá ahi
mesm(y, por cópia, a que o Infante lhe esci^eveo em 26 de
Marçode 1S47.
He ^biéo tyoe o cerco de Dio foi no anno de 1546,
e qfie no Outubro desse anno hc que Lourenço Pirez
chegott a Codiim. Fica pois claro, que huma carta es-
crípta em Ahneirim a 26 (aliás 16) de Março de 1547, hSo
podia hir «m náos, que chegáiSo á índia em Outubro do
anno precedente.
£sta oarta do Infante, bem como as outras que D. João
de Castro reoebee de el-Rei, e da Rainha, escriptas em
i75
Março de iHl, forSo levadas á Isdia na armada qae
nesse mesmo mez e anno partio do reino, e que lá die^
goo, parte em Setembro, e parte do Maio do anno ae^
guinte. (Conto, dec. 6.% Iíy. 5.^ cap- 3.**)
As que D. João de Castro reeebeo pela armada de Len^'
renço Pirez devião ser escriptas no reíno^ o mais tardar^
em Março de 1546.
Da carta do Infante, qae aqat traz copiada Jacinto
Freire, já fadámos na Nota 8.*j
NOTA 12.*
Sobre o empréstimo (38)
No § 30 do liv. 3.^ traz Jacinto Freire 6opiada a ie^
posta, qne a Camará de Groa deo a D« João de Castro, a
respeito do empréstimo de 30:000 pardáos, çie ^e Uie
pedira para reparo da fi^taleza de Pio, e despezas de soa
fortificação. Acha-se porém esta carta tão mutilada em
Jacinto Freire, que nos pareceo iadispensavel copiai-a de
no^ por integra, e fae entne o^ doonmentos a nank 35*
O leitor, que comparar a nossa cópia, tirada exacta e
fielmente do original, com a de Jacinto Freire, íáciiiBente
adivinhará os motivos por que este escriptor eommetteo
homa espécie de iafid^idade, tão allieia da sinoeiidaáe
histórica.
Primeiramente: a Camará de Goa faz tieata sua carta
pezadtos queixas da pouca conta que el4iet com ^a tir
y^^, e do esquecimento, ein qtie parecia estar de aens
serviços, não lhe escrevendo n'aqueHe anno: e ao meAnã
paseo que mostra a mais perfeita lealdade, obodíewni^ e
submífêão ao seu Rei, não deixa por isso de expor á
semrazão, com que (a seu juízo) era delle aggravada ; e
isto com aquelia nobre, e enérgica, posto que respeitosa
(38) Freire, liv. 3.», § 30.
i76
liberdade, que cumpre a hum povo houraflo; mas que já
ou não agradava, ou porventura se não tolerava no tempo
de Jacinto Freire: por onde nos parece, que elle julgou
mais conveniente faltar á obrigação de historiador, do
que parecer áspero aos ouvidos cortezãos, ainda repe-
tindo palavras alheias, e de tempos menos melindrosos.
Em segundo lugar, supprime Jacinto Freire muitos pe-
ríodos, que a seu parecer fazião menos generoso o pro-
cedimento da Camará e povo de Goa neste empréstimo,
por pedirem a restituição delle (39) quando fosse possí-
vel, e por indicarem para esta restituição hum metbodo,
que não fosse em prejuízo, e oppressão do povo, como
outras vezes, e determinadamente no tempo do vice-Rei,
D. Garcia de Noronha, tinha acontecido.
Acaso julgou Jacinto Freire, que isto causava algum
deslustre á gloria de D. João de Castro, a qual elle não
poucas vezes parece que pretende exalçar por meio de
semelhantes reticencias: mas enganou-se o benemérito
escriptor. As nobres e sobreexcellentes virtudes e quali-
dades do illustre Castro não dependem dos factos alheios,
e ainda menos da occultação da verdade, para merecerem
o nosso louvor, e o da imparcial posteridade. Por outra
parte o respeito, o amor, e a adoração que lhe tributavão
a Camará, os mesteres, e o povo de Goa, e a plena con-
fiança que nelle tinhão, he mui visivel nesta, e em outras
cartas, que damos copiadas entre os documentos. Nós,
pelo menos, somos de parecer, que esta carta da Camará,
ainda que não tenha aquèlla polidez de expressões, e per-
feição de estylo, que hoje se desejaria em tal género de
escriptura, honra comtudo a Gamara que a escreveo, o
Governador, a quem foi dirigida, e até (se nos he per-
(39) Andrade, Chronica, par. 4.*, cap. 18.°, diz que a camará de
Goa fizera serviço ao Governador dos 20:000 pardáos do emprés-
timo, sem querer pagamento delles; mas o avisado escriptor foi,
nesta parte, muito mai informado.
177
mittido dizer o nosso pensamento todo) honra o próprio
Monarca; pois que a Gamara, queixando-se delie em ter-
mos respeitosos, mas sentidos, não receiou ofifender a
sua alta soberania, nem desmerecer a continuação da real
benevolência, que parecia ser o objecto da sua nobre am-
bição.
Finalmente : omittio Jacinto Freire ainda outro notável
artigo da carta, cuja publicação lhe pareceo, porventura,
arriscada no seu tempo. Tinha a Gamara dito no corpo da
carta, que os gentios todos de Goa bavião concorrido para
o empréstimo com 9:200 e tantos pardáos, que era quasi
a metade do total: e no fim da carta acrescentou estas
palavras: fiFaz a cidade lembrança a V. S. que os gentios
moradores, mercadores j e gamcares fizeram parte deste
empréstimo, como lhe ja dizemos: e nam ateremos por
muito aver ahy homens virtuosos, que faram crer aS.A.,
que nam seruem de nada, e que he bem, que os lancem fora
desta terra: avemos poí^ escusado muitas pallavras ácer-
qua deste negocio, porque Y.S. o semte muy bemit.
Neste mui notável período alludia, sem duvida, a Ga-
mara (como já acima notámos) ao projecto, ou intento,
que então parece haver-se proposto, ou insinuado, ou
talvez publicado, de expulsar de Goa, e ainda dos outros
estabelecimentos Porluguezes da Ásia, os* gentios que
nelles habitavão, e de extinguir por meios violentos a
idolatria, e os ritos, festas, e superstições gentílicas. As
palavras da Gamara quasi apontão os auctares desta lem-
brança; homens virtuosos na verdade, mas destituídos da
prudência politica, e religiosa, que se requer em resolu-
ções de tanto melindre, e de tão arriscadas consequên-
cias. As mesmas palavras da Gamara indicão também o
que D. João de Gastro sentia a respeito de taes projectos,
sem embargo do .amor que tinha á religião, e á verdadeira
virtude, e do zelo, com que promovia os interesses de
ambas. Pode ser que este modo de sentir do illustre
TOMO VI 12
Castro desse occasíão ao que escreveo Lucepa a respeito
delle na Vida do Santo Xavier^ liv. 2.^ cap. 32.°, e flMiki
largamente no liv. 6.°, cap. l.^, perto do fim.
A esta carta da Gamara de Goa ajuntámos outras áe
Bi^o, dos mesteres, e de algumas pessoas publicáê e
particulares, que dirigirão a D. João de Castro os ea^
boraís da gtandè e mui assignalada victoriai que úatià al-
cançado de el-itei de Cambaia, às qoaes escolbemíi^ tte
entre muitas outras^ que temos na coUecçae, e qiie tédafe
conspirSo em mostrar a gràndesa e importância d'âqot4iè
feito ; o respeito o admiração, què com elle grangeeii e
Governador, e as publicas demonstrações religiosas eeivié
que, por esse motivo e oceàsião, tiverão lugar. Gmtèm
estes documentos desde ò num. 36 até o nam* 42.
NOTAIS.*
iSegiindá guerra de €aúibaía, b oltimaà àeç$ès
de D. João de Castro (4Ò)
Em abril de 1 547, depois de reparada e ampliada afor-
taleza de Dia, e compostas as cousas do seu governe «
fortificação, voltou D. João de Castro a Goa (41), aoflie
(40) Freire* liv. 4.°
(41) Nlb ntid íiè pô^ivéi Merminar precisamente é& àikti ^
que D. JoSo de Castro cfaeg;ou á barra d'6 Goa, e entrou na citaflè
em triunfo. Andrade, na Chronica, part. 4.*, cap. 19.<», diz c[ue o
Governador chegara a 19 de Abril, e que d'ahí a três dias entrará
nà cidade. Lucena, Vida de Xavier, liv. 6.°, cap. 1.% parece segúur
à mesma bpiniSo, quando diz qtíe ó OoVernador ekltrárà èm tíóà it
22 élè Abril. Diogo do Couto, pòí^m, na diec. 6.«, fiv. 4.^ cap. ^\
■põe a chegada de D. João de Castro a Goa a li de Abril, em kmifa
quarta feira, e diz, que ao domingo seguinte, que forSo 15^ fizera
a sua entrada solemne, e isto mesmo segue Jacinto Freire, liv. 3.<*,
I 40, dizendo que fará os 15 de Abril se destinara o dia do triunfo.
As datas de Couto e Freire sSo manifestamente erradas : porqiátalío
âe huma carta, que temos no coHécçSo, escripta de Goa a D. Jc^
i79
O amor e agradecimento dos Portugaezes o esperavSo
com a solemnidade do triunfo, e com as insólitas de-
monstrações de alegria e applauso, que referem os nossos
escriptores que disto falarão eom méis ou menos exten-
sSo (42), demonstrâçSes nunca d'antes, ou depois prati-
cadas com outro algiim Capitão Portugoez.
Sobre à guerra que se fez ao Hidalcão (43) nesses me-
zes do inverno, que D. João de' Castro passou em Goa,
e sobre os mais negócios do estado, que então occor-
rérão, não achámos em nossos documentos cousa notá-
vel, que mereça aqui especial menção: e «somente nos
pareceo dár tópia de duas cartas do Bispo de Goa, que
illustrão o que diz Freire (|| 1-4, 8 e 9) sobre a con-
versão e cbristandade de el-Rei de Candea (num. 43 e 44).
Logo porém que pela cessação dô inverno se abrirão
os mares, voltou D. João de Castro ao norte, aonde novas
de Castro em 12 de Abril, se vê que elle nSo tinha chegado a 11.
Has esta mesma carta nSo nos pèrmitte, por outra parte, fixar as
verdadeiras datas da chegada e triunfo. Começa ella assim: •Temús
quà cada dia nowu tão quenUes de ma partida ser de dio á pri-
meira o^ava, que hey por escusado dar meuda conta aV.S., .», &c.
Fácil seria determinar a quantos do mez cahio naquelle anno a pri-
meira oitava da páscoa ; mas como não sabemos se as novas, que
éòrríSo em Goa erSo verdadeiras; se o Governador partio com effeito
de Dio na primeira oitava, e se gastou muito ou pouco tempo na
viagem, forçosamente havemos dé deixar este ponto na incerteza,
em que o achámos; inclinando-nos porém mais a adoptar as datas
do chronista Andrade, tanto porque se não oppôem á nossa carta,
eomo pelo maidr conceito de exactidão, que nos merece este es-
ctíptõr (•).
(4t) Andrade, Chronicaj pjfft. 4.*, cap. 19.® ; Couto, dec. 6.*,
Mv. 4.», cap. 6.0; Freire, liv. 3.», §§ 40 e 41; Lucena, Vida de Xa-
ffiér, liv. 6.», cap. 1.», &c.
(43) Aliás Adet-Kan^ Barros, dec. 4.», liv. 7.®, cap. 3.«
(•) Gaspar Corrêa aponta para a chegada a Goa, e para o triunfo as datas que vão
indicadas a pag. 69, in fine, abraçadas pelo auctor uos Apontamentos bibliográficos,
posteriores na composição ás Notas sobre a Vida de D. Joõo de Castro. (O editor.)
i80
tentativas de el-Rei de Cambaia demandavão a sua pre-
sença, o seu valor, e o valor do^ Portuguezes.
Dos grandes feitos desta segunda guerra de Cambaia
chegou noticia a Goa em meio de Novembro de 1547 (44),
como se vô de algumas cartas que temos na collecção,
entre as quaes damos cópia d'aquellas, que a alguns res-
peitos nos parecerão dignas de curiosidade. Vão desde
num. 45 até num. 50.
Tendo então cessado, em grande parte, os receios de
hum novo cerco, e insistindo D. João Mascarenhas em
deixar o governo da fortaleza, sahio de Dio para passar
ao reino, e chegou a Goa em 25 de Novembro, como
consta da carta num. 53, escripta nesse mesmo dia ao
Governador, ficando em lugar delle por Capitão de Dio
Luiz Falcão, que o tinha sido de Ormuz.
Deste Capitão temos varias cartas escriptas a D. João
de Castro desde 15 de Janeiro de 1548, pelas quaes, e
por outras, se mostra ter havido nesse tempo algumas
negociações para a paz com el-Rei de Cambaia, a qual
comtudo somente se ajustou e concluio, depois do falle-
cimento de D. João de Castro, e em tempo do Governador
Garcia de Sá (45). Pôde fazer-se alguma idéa destas nego-
ciações pelas cartas, que damos copiadas desde num. 54
até num. 59, entre as quaes julgámos notável a do num. 56,
aonde Luiz Falcão faz algumas judiciosas, posto que bre-
ves reflexões, a D. João de Castro sobre a conveniência e
(44) Por aqai se vé qae D. JoSo de Castro nSo partio de Goa
para o norte, a fazer esta seganda guerra, wiz fins de Novembro,
como se lé na Chronica de Andrade, part 4.% cap. 21.<*, ediç^ de
Coimbra de 1796 ; mas sim muito antes, porquanto de huma carta
escripta de Goa ao Governador em 19 de Outubro se vé que já então
era partido para Cambaia, e o mesmo se collige do próprio Andrade,
combinando o dito cap. 21. <> com o 22.*': pelo que suspeitámos erro
typografíco naç citadas palavras.
(45} Couto, dec. 6.«, liv, 7.^ cap. 7.*
181
opportunidade da paz, e lhe anDuncia os trabalhos, que
havião de acrescer ao estado pela recente acquisição de
Adem, como effectivamente aconteceo.
Emquanto D. João de Castro esteve no norte, fazendo
gaerra a Cambaia, como deixámos dito, succedeo o novo
commettimento do HidalcSo contra as terras firmes* de
Goa, de que faz menção Jacinto Freire nos §§ 57 e 59 do
liv. 4.® Sobre o que, por esta occasião, occorreo em Goa,
devem ler-se as cartas num. 50 até 53, porque ellas con-
firmao, e rectificão algumas das particularidades referidas
pelo dito escríptor.
NOTA 14/
Reflexões geraes
Tem-se notado por muitas vezes, que Jacinto Freire,
escrevendo a Vida de D. João de Castro^ seguio antes as
leis de panegyrisla, que as de historiador, e na verdade,
que parece este pensamento auctorisado, não só pelo es-
tylo com que escreve, mas também pela liberdade que
ás vezes toma a respeito do modo de referir os feitos e
acções do seu heroe.
Já dissemos que o grande valor de D. João de Castro,
o seu perfeito desinteresse, a sua incontrastavel fideli-
dade, exacção, obediência, e pontualidade no serviço do
Rei e da pátria, finalmente as suas virtudes publicas e
particulares, são tão manifestas e patentes em todas as
acções da sua vida, que não necessitão, por certo, dos
artificios oratórios, para excitarem a nossa admiração e
saudade, e para merecerem a perpetua veneração de
todos ds homens, que amão o bem e a virtude. Por onde
nos tem sempre parecido pouco próprios do caracter do
illustre Castro, e não menos da sinceridade e severidade
da Historia, alguns dos meios que se empregarão para
exalçar o seu merecimento, já alterando a pura verdade
dos factos, já deprimindo talvez os generosos sentimentos
do Monarca, em cujo tempo etle viveo e sérvio; jáfina^
mente creando, em seu favor, na çpinião dos leitores,
huma espécie de affeiçao compassiva, que singularmente
contrasta com a nobreza de suas acções, e com a supe-
rioridade de seus merecimentos.
Lançando os olhos logo aos primeiros parágrafos da
Vida deste iiisigne varão, ao mesmo passo que o escríptor
nos diz, que elle estudara as mathematícas com o famoso
geometra Poptuguez Pedro Nunez, e que nesta sciencia se
fizera tão singular ^ como se a ouvera de msinar; acrea-*
centa, que D, João amava as letras por obediência^ e as
armas por destino, e que desprezara , como pequena, a
gloria das escolas, achando para seguir a guerra, em si
inclinação, em seus avós exemplo. Expressões, e clau-
sulas, que parecendo envolver huma espécie de contra-
dicçl[o, mostrão quanto o escriptor, aliás benemérito, sa**
criâcava a exactidão do discurso ao ingrato gosto das an*^
titheses, que não poucas vezes desfigurão a belleza de dio
elegante, e polida composição.
Nada hoje podemos dizer com certeza, sobre as incU*
nações naturaes de D. João de Castro para os estudos, ou
para a guerra: mas ae he verdade, que elle preferio, por
escolha suâ, o serviço militar, que aliás era no seu tempo
o ordinário emprego dos fidalgos Portuguezes, não be
menos certo, que se distioguio entre muitos no amor e
applicação aos estudos; que longe de os desprezar, os
continuou constantemente em toda a sua vida; e que m
meio doa multiplicados e assjduos trabalhos, a que o cha*
mavão seus empregos, já como Capitão, já como Gover^
nador, não deixou nunca de fazer uso dos conhecimentos
filosóficos e mathematicos, que havia adquirido, nem 4e
procurar adquirir outros de novo, que servissem de or*-
namento ao seu espirito, e lhe causassem útil diversão e
allivio.
Já aioima notámos, e consta do doe. num* 3» que hinda
Q. Joãp de Castro a primeira ve:^ á índia, não p^rdeo 9
â/ccasião de fazer úteis observações sobre aquella nave.-
g9çao> e fenómenos naturaes, qqe nella se lhe offeror
çérSo, dando conta deste seu trabalho ao Infante D. Luii;,
logo que chegou a Moçambique, e merecendo deste h§^
pemerito Príncipe ô louvor que se vô da §ua carta.
Hindo depois ao estreito do mar roxo com o Gover^
pador D. Estevão da Gama, escreveo não só o Roteiro
da viagem, e a descripção das costas, bahias, e portos
d*aquelle mar, mas também muitas doutas observações,
de que faz menção o próprio Jacinto Freire, liv. 1.^ §19,
^onde quasi esquecido do que pouco antes dissera, C0Bt9
agora como parte menor da grandeza de Castro o qu^ 09
RomanoSj com tão soberba eloquência^ escrevem d^ seu
César, que com tanto juizo tomava a, penna^ como cont
v^or a espadai Elogio exagerado; mas qjQcT ainda sendp
reduzido a termos razoáveis, não competiria a hum hOr
mem, que somente por obediência amasse as letras, e
qi]e desprezasse^ por pequena» a gloria das escolas (46),
fim putro lugar (liv. 4.^, § 1 1 0) nos diz o mesmo Freire,
que p. jQão de Castrq, estando Governador da índia, nas
ipra^j que lhe peréloavão os cuidados da guerra, descrer
viera em copioso tratado toda a costa que jaz entre Goa e
Bio, sinalando os baixos e recifes, a altura da elevação dq
polo, em, que estão as cidades, restingas, angras, e emeor
4fis, que formão os portos; as monções dos ventos^ e çon-
lições dps mares, de. («), tudo com tão miúda e acertada
(46) Agora mesmo, sendo passados alguns annos, depois que e$-
crefemps estas notas, ehegou á nossa mfto o Roteiro de D. João 4,9
CaUro, tirado á luz do manttscripto original, e acrescentadq eotf^ o
Itinerarium maris rubri, tudo impresso por cuidado e diliffj^nc^ ^o'
douto Portuguez, nosso amigo, o Doutor António Nunes de Carvalho,
da cidade de Viseu, Professor de Filosofia Racional e Moral, e de Ju-
risprudência CivU na Universidade de Coimbra. Fárís, 1833, 8.*
M Vj^. p^. 64, Un. 10.» 9 s^g. deste tomp 6.^ (O edit&rõ
i84
geographia^ que o podéra esta só obra fazer conhecido,
se já o não fora tanto pelo valor militar. Pôde ser (e nós
o presumimos) que desse occasiao a esta obra a recom-
mendação, que el-Rei lhe fizera na sua carta de 8 de
Março de 1546 (doe. num. 25, perto do fim), pedindo-
Ibe o debuxo das principaes fortalezas da índia, e asy a
cidade ou lugar em que cada huma delias estivesse, e o
seu sítio, tudo feito per petipé, em cartaz, ou em alguma
madeira leve, &c.
Quando el-Rei mandou D. João de Castro a Africa
(Nota 5.*), vê-se pelos regimentos que lhe deo, e por ou-
tras cartas, que depois Ihe.dirígio a Ceuta, a confiança que
tinha em seus conhecimentos relativos á fortificação das
praças, e portos maritimos; e outro tanto se collige da já
citada carta num. 25, pelo que D. João de Castro informou
a el-Rei sobre a fortaleza de Moçambique, como adverti-
mos na Nota 7.*
Finalmente, dos extractos que. damos, debaixo do
num. 60, de algumas cartas, que existem na nossa col-
lecção, podemos ainda deduzir a curiosidade litteraria
deste grande homem, que no meio de tantos trabalhos
procurava a Historia de Alexandre Magno, escrjpta em
lingua parsea; e julgavão os seus súbditos e amigos, que
lhe faziSo hum donativo de muito preço e estimação, offe-
recendo-lhe outros livros na mesma linguagem.
Do que tudo se collige, que se D. João de Castro amava
as letras por obediência, não as amava e cultivava menos
por inclinação, e gosto, nem jamais podia caber nò seu
grande juizo desprezar por pequena a gloria das escolas,
que parece ter sido sempre hum dos alimentos do seu
espirito, e até hum dos objectos da sua nobre e virtuosa
ambição.
O segundo ponto geral, em que Jacinto Freire parece
desviar-se hum pouco da rigorosa verdade histórica, he
o conhecido empenho, que manifesta em toda a sua obra,
i8S
de exaltar a independeDcia, e o desiateresse de D. Joio
de Castro, suppoodo, que logo que se recolhia de qual-
quer expedição, ou serviço publico, se retirava a Cintra,
OQ Almada, quasi afFectaudo huma excessiva altivez e
isenção, fttgindo ás ambições da corte; fazendo brio de
merecer tudo, e de não pedir nada; de não pedir, nem
engeilar o serviço da pátria^ &c. (47). E vai tanto avante
a exageração do escríptor, que não duvida dizer em hum
lugar: € Sabemos, que elRei D. João, ainda que o amava
por valeroso, lhe era pouco affecto por altivo^ de sorte,
que o que grangeava por huma virtude, vinha a perder
poroiUraM (48).
Mereceríamos nós grave censora, atrevendo-nos a ne-
gar, ou impugnar qualquer destas proposições de Jacinto
Freire, se não tivéssemos á mão tantos documentos orí-
ginaes, que plenamente o refutão, e convencem; e se elle
mesmo se não refutasse a si próprio em outros lugares
de sua obra.
Não duvidámos da nobre altivez, isenção, e desinte-
resse de D. João de "Castro. Assas nos informão destas
grandes virtudes todos os procedimentos da sua vida;
nem elle mereceria hum lugar tão distincto entre os mais
illnstres Portuguezes da sua, e ainda das precedentes, e
seguintes idades, se as não possuísse em alto gráo. Ne-
gámos porém, que ellas passassem os justos limites da
prudência civil, religiosa, e cortezãa, e muito mais, que
fossem causa da desaffeição de hum Soberano, que sabia
avaliar e estimar o verdadeiro merecimento.
E primeiramente : he falso que D. João de Castro fizesse
brio de não pedir, nem engeitar o serviço da pátria. Já
vimos na Nota 2.^, que para a jornada de Tunez foi elle
mesmo o que se ofFereceo, mostrando desejos de hir ser-
ial) Liv. !.•, § 26.», e liv. 4.*, § ilO.
(48) Liv. !.*, ! 26.
fskf na amiãàã da Ànêomo (fe Sa/donAa, coraâ Uto
a^Bai Ba carta de 8 de Março de 1535 (doe* num. 3).
Vimos maifl na Nota K.% qua foi taiBbem ello próprio p
que se offèreeeo, quaado el-Rei o mandou a Ceuta, pava
flear n'BqmUa praça, caso auveêse nova da vinda dos
tÊifeo$, eequo eoost^ do negimeoto, que elrftai entãd M
deo, e be o num. 8 dos documentos.
B vimos finalmente pela optra carta de el-Rei de 8 àn
fevereiro de i544 (num. 15), que D. João d& Castro se
làe havia offerecido para o tornar a servir no que cxmr
pyisse e fosse necessário ; e que el-Rei lhe agtpsidece muiêa
esta vontade, e offerecimento.
Em segundo lugar: fae menos exaetíe dia^er, ou su^^r
^le B. Joio de Castro, procurava, com excessiva isenção
o netiro de Cintra ou Almada para fugir ás anUnçSes da
ah^te, e ^ moatear dbeio a pretensões e empregos. .
D. iea& de Castro, i(indp em 1537 de Tangere, foi im-
mediatamente chamado á corte, que então estava em
Gfitmbffa, para sar de novo empregado em cousas do ser-
virá' publiõac e ainda que ignorámos, por Mta de docu-
mentos, o objecto de^ serviço, ou de outros até o anão
de 1585, )i eomtudo advertimos m Nota 8.^ os motiva^
qu^ tínhamos, para crer que elie não estivera ocioso em
todos ess^s oito annos. D'ahi em diante porém até o anno
de Í5A8, em qu9 &lleceo, que são quator^e annos, mm
poftcos mezes podemos contar, á vista dos nossos dpeur
mwtos, em que eUe estivesse sem eflGsctívo emprego, e
trabalho, para poder descansar no seio da sua família:
Bão sendo consequentemente de admirar, que nesses
poueos mezes, vindo ordmariamente de sofrer os atur
rados, e qmíí fastidiosos trabalhos do mar, e de longas,
e talvez arrisisadas viagens, preferisse a tudo a tranqmlT
lidade da sua casa e família, aonde o esperavão o amor
de sua mulher, a educação de SQug filbo§, 9 o çuíid^do
dos negócios domésticos; e aonde o cbampvãp o s^ ge-
W7
nio, o seu caracter, e as suas \irtqd#s; 8«n que ú^^kiM
possa de maneira alguma arguir hum retiro affec(ai^« 09
ãigoo ãe reparo, e muito menos que por is30 merecesse
a desaffeiçao de el-Rei.
Ultimamente: esla supposta desaU^icHo he ^ol^mne-
mente desmentida por h,uma serie nao interroqupidd d^
cartas, que el-Rei Ihè escreveo, que terjím Qrigipes p
nossa collecçao, e de que. damos por copia fiel a#. wais
importantes. Em todas ellas achará o Imlor, rep9(i(Jas, e
sempre uniformes expreaaoes da graodie conQaqça de
el-Rei, da sua parfeijta approvação a tudo quanl^D. íq^q
de Castro obrava em seu aervigo, do $e^ benévolo, e v^U
agradecimento, e das solemnes promes3as, que Ibe km
de ter em lembramça seus relevantes serviços, pjir^ p$
premiar, como era de ra;râú3.
A estas cartas se ajuntão as outras, n3o menos ei;presT
sivas, da Rainha D. CathariQ^, do illjuâtire tef aeíe^ P^ Lpz,
e do Cardeal Infante D. Henrique, depois Rei àfi 9oi;^
tugal : bem como as que estes Senhores, e q me^mp ^ei
D. João III escreverão por vezes a D. Álvaro de Cpstro^
filho de D. João de Castro, n^s qupes se o^^rvãQ. çqnjii
tantes testemunhos do merecimento do Alho, ligi^doit
sempre á lembrança, ao louvor, e á gloria dp pa^; e
se inculca ao primeiro a imitação do s^guodP^ Ç9(J4P
meio de merecer a real benevolência, e de cçn^rvqr
na posteridade a honra do seu uome, e d^ sun. ç^a?» 9
faiidlia.
He bem de crer que no estado de declinação, ewqud^ jA
então se achavão os costumes Portugueses, não ^Wá^j^esjn
cortezãos, que censurassem a severa austeridade de Ov J[o|q
de Castro, e porventura taxassem de orgulhosa a sua no-
bre e modesta independência. Hum homem d'aquell8 to-
que he ordinariamnte mal visto nas cortes, aonde não corre
ouro tão puro, e de tantos quilates. Mas nós não^chámos
motivo algum de presumir, que el-Rei D. João ^( &^ dei-
188
xasse levar dessa opinião (se a havia), e temos muitos
testemunhos positivos, que nos provão o contrario.
Lamenta Jacinto Freire algumas vezes (49) que D. João
de Castro não tivesse prémios, nem mercês, nem fosse
empregado em serviço algum do paço : e d'aqui parece
querer inferir, ou que o leitor infira, a supposta des*
affeiçSo de el-Rei.
Muito folgaríamos nós de podermos, nesta parte, fazer
huma apologia completa dos nossos Monarcas, e não en-
contrar na Historia Portugueza tantos homens grandes,
justamente queixosos da inveja, e da ingratidão da corte.
Mas, se os Gamões, os Albuquerques, os Pachecos, os
Galvões, os Cunhas, e outros muitos nos não permittem
esta satisfação, nem por isso devemos fazer applicação
geral e indefinida de huma tão triste e tão experimentada
verdade.
D. João de Castro era fidalgo (50) da casa de el-Rei ; e pa-
rece mui verosímil que, como tal, e segundo os costumes
d'aquelle tempo, cursaria o paço em seus primeiros ân-
uos, e d'ahi viria o ser condiscípulo do illustre Infante
D. Luiz, debaixo do magistério do insigne Pedro Nunez,
de quem ambos aprenderão as mathematicas.
Teve depois a commenda de Salvaterra (5i), que o pró-
prio Jacinto Freire confessa ter-lhe sido conferida , logo que
veio de Tanger, isto he, em idade de vinte e sete annos: e
hé notável que o mesmo Freire diga neste lugar, que
D. João se veo á corte j onde foi tão envejado pelas feridas y
como pelos favores^ e que el-Rei lhe fizera mercê da com-
menda, acordando aos homens de novo seu merecimento
a estimação, com que os tratava (52).
(49) Liv. 1.0, §§ 21, 26.
(50) Teve caria de privilegio de fidalgo em 14 de Agosto de i531
(51) Carta da Commenda de S. Paulo de Salvaterra em 31 de Ja-
neiro de 1538. — Carta de Conselho em 7 de Janeiro de 1545.
(62) Freire, liv. l.«, § 6.
m
Quando aos trinta e oito annos de idade passou a pri-
meira vez á índia, diz o mesmo Freire, que el-Rei lhe
mandou dar 1 :000 cruzados cada anno, o tempo que na
índia servisse, e portaria da fortaleza de Ormuz, que elle não
aceitou (53). E nós já acima dissemos, que então mesmo o
nomeou el-Rei em terceira successão para governar a ín-
dia, que era grande prova de confiança (Nota 3.*).
Aos quarenta e cinco anrios de sua idade foi nomeado Go-
vernador da índia (54), e antes de findarem os três annos
deste governo, lhe deo el-Rei o titulo de vice-Rei, e lhe
mandou dar 10:000 cruzados (55), como gratificação, re-
conhecendo os poucos recursos, que tinba da sua casa,
como filho segundo; o honradíssimo desinteresse com
que servia na índia, e o empenho, em que vivia, por
acudir aos soldados, e a outros objectos do serviço de
el-Rei, á ciista dos seus próprios ordenados, e até das
pratas da sua casa.
A morte immatura sobresalteou este grande homem
no melhor e mais alto ponto da sua carreira ; e devemos
crer, que se voltasse a Portugal, acharia por certo, na
real benevolência e justiça, o cumprimento das solemnes,
e bem merecidas promessas, que lhe havião sido feitas, e
a verificação dos prognósticos, que na índia lhe fazia o
amor singelo, e o virtuoso e desinteressado reconheci-
mento dos Portuguezes.
O que diz Diogo do Couto na dec, 6.*, liv. 1.®, cap, I.*,
já acima fica, em parte, refutado (Nota 6.*); e não pode-
mos deiíar de sentir que o douto e prudente escriptor
lançasse hum periodo tão inconsiderado, que verdadeira-
mente não sabemos se offende mais a memoria de D. João
de Castro, se a de el-Rei D. João III.
(53) Freire, liv. !.•, § 16.
(54) Caria de Governador da índia em 28 de Fevereiro de 1545. —
Carta de Vice-Rei da índia em 13 de Outubro de 1547.
(55) Freire, liv. 4.°, § 98.
490
DA Goafo^ que entre Mtfas c(msa8| (fde el-Rei D. Jo3o
pfòvèò pârá a índia, e deo por r^hAento ao Governador,
M tfS^ provesse três Vèadore^ da fazenda em Goa, qw
Mãtí HtífkèaãfíÉs hMta para a hbetra das armadas de
ati^, Vúltò para os contos, e outro para a carga das
TátA 9b Wm «M €octifM[. E Acrescenta logo estas pala^
vras: <'É posfò qúe cUgSê digãú', gue lhe pareceo a elRH
5^ ètèífí nécésmiòj pellú gtànde creiscimmtò, em que yão
tíé cdliíefó êto mtíia; o que sè íiein pM- mais terto he, que
d fel púi' fiãb ter tanta iôoHfUmça de D. João de Castre,
ntín à mléi^ ptfí" kò^em áé fn«iíè i^egocio > .
MSó fepetiremos a(}ui ás pròvas da inteira confiança,
1^ ét4téi tiííba de D. IMO de Gastrò ; peis flcao apon-
fàdteis tèís difièrentes NtMas deste opasculo, e mais que
Sob^mUxAè Comprovadas com todos os documentos, que
d«Éios {iortjóipíâ. Mas &et*ia por certo bem estranho que
nao tendo el-Rei tanta confiança do illnstre Castro, nem
b HHtíèhãò púi" hoíttem de muito negocio, o empregasse
cok^stâfítemente em cousas do seu serviço, e por ultimo
^zeâse em suas mãos o governo, e (digamos ousada-
mente) o destino da índia nas mais criticas e apuradas
Circirittstanciaâ d'aquelle império, e quando os mais po-
ãeròi^s Priúciptos do Oriente, fortemente auxiliados da
Casa Oetomàua, bavíão formado huma liga quasi geral
para o destruir.
Ò íieno he que o Cargo de Vèador da fazenda não
^a tíoVó na índia, e havia sido criado muito antes de
B. Ío% de Casftt^ò ser Gòverúador. Os homens que o
hiSO èèrvír erSo nomeados no reino por el-Rei, e esco-
ftdfflos d'éntre èiâ pessoa'^ de côtihecida intelligencia, fi-
delidade e confiança, levando sempre grandes poderes,
tanto nos negócios da fazenda, como em outros. N3o
houve pois nada de novo, nesta parte, em tempo de
D. João de Castro, senio serem três, em lugar de hum;
cousa que naturahnente demandava, e aconselhava o con-
191
síderavel augineoto em que se achava o poder Portu-
gaez na Índia, o grande numero de armadas» que cada
anno se lançavão ao mar, a extensão e crescimento das
rendas publicas, &c., &c.
Por onde nos parece que muito indiscretamente attrí-
baio Diogo do Couto hum Tacto tão simples, e tão natural,
a huma causa não só falsa, mas gravemente injuriosa ao
Rei, e ao vassallo.
D. João de Castro opprimido de trabalhos, e porven-
tura de alguns desgostos, começou a sentir-se doente logo
nos princípios de 154B, e Mò poáendo resistir á violên-
cia da enfermidade, falleceo com mostras do seu grande
caracter, e christandade, aos 6 de Junho do mesmo anno,
deixando aos Portuguezes perpetua saudade, e o mais
perfeito modelo do verdadeiro heroismo.
íi. B. No fira dos doemsentos ^âmos as teafta»» ^e
temos na coHeeçio^ escrrptes por el-Rei^ e p«lo Mante
D. Lbíz a D. Álvaro de Geeiro, tanto para metnmia ttoste
digno filho de D. João de Castro^ t^omo pirira demoneítraflle
ido que ha pògeo dissemos^ nesta tttitna Nota. ¥So ^stos
cartas driíiaise dos num. 6i-66i
DOCUMENTOS
N/ 1
Dom Joam : eu elrey vos emuio muyto saudar. Porque
eu me queria seruir de uós em cousa que muyto compre
a meu seruiço, vos encomendo e mamdo, que tamto que
esta virdes, venhaees a mim, e sejaees nesta corte o mais
em breue que poderdes: e de ho asy fazerdes, como de
vós comfio, receberey prazer, e vo lo aguardecerey. Es-
crita em coimbrã, aos xxv dias de outubro, pêro dam-
drade a fez, de mill e quinhentos e vinte e sete. «Rey.»
(No fundo da pagina) Pêra dom Joam de crasto vir a
v. a.
(SobrescriptoJ Por elrey — A dom Joam de crasto, fi-
dalgo de minha casa, filho do gouernador — em lixboa,
ou almada.
Dom Joham de crasto. eu ellrey vos enuyo muito sau-
dar. O conde da castanheira me enuiou dizer, como éreis
chegado a esa cidade de llixboa, e que vynheis com de-
sejo de me ir seruir nesta armada com amtonio de sallda-
nha, de que receby muyto prazer, e vos agardeço a voa-
193
tade, comque sey que foUgaes de me seruir. Eu escreuo
ao conde, que vos mande dar bua caravella. Bem certo
som, que nom he necesario emcomendaruos da maneira
que me nesta vyajem aveis de seruir; por quam bem
vysto tenho como o fazeis em todallas outras. Fernam
daluares a fez em evora^ aos vm dias de março de 1535.
cRey. »
(No fundo da pagina) Para dom Jo. de crasto.
(SobrescriptoJ Por elrey. A dom Joham de castro, fy-
dalguo de sua casa.
N.»2-A
Eu ElRey faço saber a todos meus capitSaes das forta-
lezas da Índia, capitãaes de nãaos e nauios das armadas,
que nas ditas partes andam, alcaides moores das ditas
fortalezas, feitores, escriuãaes das feitorias, capitãaes das.
naaos e nauios que vam pêra vir com a carregua pêra
estes regnos, fidalguos cavaleiros, e gente darmas que
nas ditas partes tenho, e a todas e quaesqúer pesoas e
oQciaes, a que este aluara for mostrado : que pela muita
comfiança que tenho de Dom Joham de Crasto, fidalgo
de minha caza, que nas cousas de que o encarreguar me
saberá muy bem seruir, e me dará de sy toda a boa
comta e recado, quero e me praz que semdo caso que
faleça dom Garcia de Noronha, do meu conselho, que
ora emvio por viso Rey e capitam moor e gouernador
desas partes, que noso senhor nam mande; o dito Dom
Joham de Crastp sobceda e emtre na dita Capitania moor
e gouernança da índia, pêra nela me seruir com aquele
poder^ jurdiçam, e alçada que tinha dada ao dito Dom
Garcia. Porém vo lo notefiquo assy, e vos mando a todos
em geral, e a cada hiiu de vos em espicial, que vimdo o
dito caso, o rec.ebaes por meu capitão moor, e gouerna-
dor desas partes, e lhe obedeçaes e campraes seus man-
dados, asy como ao dito Dom Garcia o fazieis, e como a
TOMO VI iS
IH
mm capitão moor 9oes obrignftdos o faser, e ^n todo D
leiíees htisar do poder, jardino, e allçada, que ao dito
dom Gareia tinha dado sem douida, nem embargao il^
gom a ello poerdes porque asy he minha mercê. B do o
taerdea asjr bem como de tos o espero, farees o qae de-
vM6 è aoys obrigoados, e volo terey muito em seraif^.
E nam sendo o dito dom Joham de Grasto presemte^ {Ar
ser fora em aliguma armada» ou em outra parte, ey por
Ima que goueme o capitam moor do tuar, e o ^eedof da
fazenda, e o capitam de Guoa, todos jumtamente, e bWÊt
se podendo loguo ajumtar por nom estarem em partes
donde loguo possam ser chamados, gouemará o dito
veedor da fazenda per si soo com qualquer dèlei, com
que se acertar^ atee se ajuntarem todos. E semdo casd
que o veedor da fatenda estee era parte donde loguo
uotn posa ser chamado, gouemará o capitam modr dd
mar na própria forma e maneira adma declarada. E tiotn
eaiauâo em parte donde loguo posa ser chamado, gou^
narà o capitam de Ouoa na sobredita maneira, de tal
modo que podemdo ser todos três, ou dous deles jUflH
toé, gouefnem juntamente^ e nom podendo ser gouéfâe
hiitn^ segurado estaa declarado* Os quaes seram loguo
matndados chamar pêra gouemarem, e gouerdaram atee
Tijr o dHò dom Joham de Grasto, que logo yso mesíao
lerá cMniiailo. E estando o dito veed«^r da fatenda soo
na dita gouemânça ou com alguu dos sobreditos, ou to-^
dofty lha emtregaram loguo tamto que vier pêra gou^ttar
segurado forma desta pro visam. E este mando que s6
compra e guarde, como nele se contém, posto que nom
seja paftado pela chancelaria sem embargo da Ordenatata
•M oofitrairo. Pêro Fernandes ò fez em Lixboa a ixviit
dias de Março de 1538* E sendo caso que esta socesffln
^ abrft sendo vivo Nuno da Cunha, como mando pela
Carta qne escreuo ao veador da Fazenda, mando ao dilo
Nuno da Cunha que entregue a gouernança <la índia áO
dito dom Joham de Grasto no próprio modo • mantira
em que a ounera de entregar a dom Garcia oa a Martj
4Í0DS0 de Soiiâa, ou a dom Bsteuam da Gama; ae ao ttl
tempo cada bflu deles íbra vivo. cRey^i»
(No sobrescriptô^ Esta terceira sobcesam se abriri
sendo caeo que se abra a segunda^ e que seja faleeida a
|>esoa nela nomeada» ou vinda pêra estes Reinos: e asy
se abrirá em qualquer tempo que Mecer a dita pesoa
nomeada na segunda. Em Lisboa a S8 dias de Mar$o
ée4838. tRei.»
Fechado com tros Sinetes:
Dom loham de castro, amigo. O i£inte dom lufe vos
emvio muito saudar. Hua vossa carta reeebjr do porto
de moçambique, feita a cinco dagosto do anno pasado,
comque ouue gramde prazer pelas boas nouasf, que nela
vejo de vossa pessoa, e asy do visorey» e b9a viagem,
que nosso senbor lhe deu a toda siia frota, a quall espero
que com seu b5o gouemo, e decefriina fará todo bõo
eleito de seruiço de deus, e debrey meu seiriíor. O que
me dísôes que tendes escrito» que uos a esfieriencia nesta
viagem mostrou, estou eu mui contente, e espero eom
gnande aluoroço pêra ver o fruyto de nòsos instromeotos,
e mais principalmente de vosso boo engenho, e s^umdo
vossa carta promete, he muy gramde; porque de vossas
prraúsas se emferem cousas mui prouéitosas, e necesa-
fías a esta nauegaçSo, e até agora bSas nom compren*
di^s, e outras nom comsideradas, e todas o seram muyto
de mi, quando vir vossa escritura pêra vos ajudar, em
parte, a leuar o peso de tam grande, e delicada filosofia,
êm que deue aver mui aitos mistérios. E pois a natural
asy se vos ofereccf, e se po^u em vossas mios, pêra com
ella dardes caminhos e regra aos qm por esseé mares
196
nauegSo a seus proueitos; nom mecios deuêes tratar e
comversar a moral, comque segunâo o que de vós co«
nbeço, sey que darôes exemplo, por omde os que nesas
terras amdão, poderam alcançar bonrra e gloria: e o que
deestes nesta viagem foy asas dino de louuar, segumdo
os bõos costumes e doutrina, que em vossa companhia se
praticou, como acho pela emforma(9o, que de tudo quis
tomar, de que elrey meu senhor se ouue por muito ser-*
uido. Eu espero em noso senhor que o seja sempre de
todas vossas cousas : e taes nouãs, como est^, me traram
de vós, em quanto lá amdardes : e escreuáme as que po^
derdes, porque com ellas, e com vosas cartas receberey
muito comtemtamento. De Llxboa, a xix de março da
1*^39. «Infante Dom Luis.»
(Sobrescripto) A dom Joham de castro, fidalgo da casa
delrey meu senhor.
Dom Joham de crasto : eu elrey vos emvio muito sau-
dar. Vi híia carta muito comjM^ida, que me escreu^tes ; '
porque aindaque as palauras fosem pouquas, ninguém
me escreueu mais meudamente, nem me deu mais de-
clarada informação, e follguey de ver que as pallaul^as se
conformam com a temçam do seruir, porque esta con-
fiança tenho de vós : prazerá a noso senhor, que me terá
feita grande mercêe em todas esas cousas, que eu tamto
desejo pêra acrecentamento de sua samta fee e o visorey.
vos dirá o que ácerqua de tudo lhe escreuo, e o funda-
mento de mamdar estes navios Iloguo, e o que se fiqua
pomdo em obra. Per elie soube como me seruieis, è o
ajudaueis, e per muy certo tiue que asy avia de ser; e
asy ey de ser sempre lembrado de vossos seruiços, pêra
■
por elles vos fazer as mercêes, que por eles merepês,,,e ^
aveis de merecer. Bertollameu fernandez a fes em lixbo^,
a XXII dias de mayo, 1539. «Rey.* ,
197
f No fundo da pagina) Reposta a dom jo. de crasto.
(Súbrescripto) Por elrey — A dom Joham de crasto,
fidalgo de sna casa.
N.*5
Dom Joam de crasto: eu ellrey vos emuio muito sau-
dar. Vy a carta que me escreuestes, e receby grande com-
temtam^to dos rumes serem bidos com tamanho des-
crédito seu, como dizes, e de se irem, sem quererem
esperar o visorey; porque, aindaque esperava em doso
seõbor» que nos daria a vitoria, por escusar o periguo
de bua só pesoa das que lá estaueis perà me seruir, lhe
deuo de dar muitos Ipuuores: prazerá a de que será esta
a .derradeira vez que bá india tornarão, e se tornarem,
que sempre nos dará o vemcimento. Tudo ho mais das
cousas de laa, em que nesta vosa carta me falaes, folguey
muito de uer, poloque em cada huua delas, em tantas fo-
lhas de papel, me escreuestes; e todas as olhastes, como
quem tanto cuydado tem de meu seruiço, e o também
entende: e por muy certo tenho, que sempre o farés em
tudo asy inteiramente, como ho de vós comfio: e emco-
inendooos que sempre me escrevaes, porque folguo de
ver ho estilo, e a prolexidade, por ser vosso. Diogo neto
a fez em lixboa, aos x dias de março de 1540. cRey.»
(No fundo) Reposta a dom Joam de crasto.
(Sobrescripto) Por elrey — A dom Joam de crasto, fi-
dalgo de sua casa.
Eu elrey faço saber a vos Dom João de castro fidalgo
de minha casa, que por confiar de vós que em todo o de
que vos encarregue/ me seruireys bem e com todo o re-
cado e deligencia, que a meu seruiço compre, ey por
bem de vos emviar por capitão mor darmada, que ora
mandey fazer pêra guarda da costa destes reinos, no
quoall cargo tereys a maneira seguinte.
198
Ireys dereytameate com toda a dita armada ao cabo de
sSo Vicente e ahy andareys afastado da terra, dandouos
o tempo lugar pêra iso, de maneira que ventando sul ou
sudoeste vós não torve dobrardes o cabo pêra cá, e como
fordes no dito cabo, mandareys recado per terra aos jui-
^gs e vereadores dos lugares do algarue de como ahy
estaes, peraf saberem omde vos acharão quoaes quer re-
cados seuSj que yos mandarem; por quanto eu lhes te-
nho mandado que vos avysem das novas, que teverem
cios ditos cosarios; e vindouos recado deles, os ireys bus-
car e tereys com eles a maneira que adiante será decra-
rada, e sendo caso que os nom acheis, vos tornareys
logup ao cabo : e se ém quanto nele esteuerdes vos pa-
recer bem piandardes huu navio na volta do maar, atee x
ou xn lego?s, g ver se parecem algus cosarios, o fareys,
ç será coip tal recado, que o dito navio se não perca
darmada, nem receba dano dos ditos cosarios.
Se no dito cabo de são vicente nom achardes cosarios,
e tecerdes recado dos lugares do algarue, que na para-
gem deles nom amdão alguns; sendo o tempo brandQ
pçra dardes hfiiai volta pêra cá, o fareis, e vos vireis ao
çs^bp (Jç.spichel, ç antre ele e são chete vos poreys eip
pai/o^ ç erjviareys per qualquer carauella, que pêra cá
vier, ou per feuu homem, que lançareys em terra, recado
(J^ com.9 ahy JiRda^es e as nouas que teuerdes pêra vos ir
reposta do que fareys; e se quando asy fezerdes a dila
volta do dito cabo de são vicente pêra cá, topardes alguus
cosarios, ireis no alcanço delles ate os tomardes, ou des-
aj^recerem da dita costa: e se teuerdes por enformação
que alguus dos ditos navios, apôs que asy fordes, tem
feito alguum roubo ou dano a portugueses, em talt caso
os se^uireys, e ireis apôs elles até os tomardes ou per-
derdes de vista, em tãll maneira que vos pareça que os
nom podereys achar.
E se em quanto asy andardes em pairo antre os ditos
cabos ventar leeste e les noordeste, com que posaes (ter
huma vista aa beriengua, a ver se ha la alguus cosaríns,
o fareis; e não os achando, vos tornareis loguo aa dita
paragem dantre os ditos cabos de são chete e espichel,
omde parareis, como dito he, ate vos ir recado do qod
liareis, e ventandouos vendaual, vq9 recolhereis oom a
dita armada a rasteilo, domdé não dexareis sair gentd
algoãa até verdes meu recado.
Avemdo vista dalguus nauios, de qualquer calidade
que sejão, os ireis logo demandar, avisando os capities
das carauelas da dita armada, que nunca demandem na*
vio alguu de soota vento, senão da banda de barlauento;
e chegando aa fala do tal navio sabereis que navio be, e
domde vem, e sendo destrangeiros, lhe direis copo soes
capitão desa minha armada, e que eu tenho paaz e ami*
zade com todos os reis cristãos, e que vós andaes contra
os ladrOes armados, por fazerem na costii destes reinos
muitos roubos e danos, e que por tanto, se elles nem
sio ladrões que com toda seguridade poodem chegap a
vós a vos dar rezão de quem são, e pêra omde navegSo;
e achando nelles tall enformação que vejaes que não ^
ladrões, os deixareys ir em paaz, nom lhes fazendo dane
alguS, e dizendo-lhe que vós andays contra os ditos aiv
mados, por andarem na minha çoosta. E parecendouos
navio de sospeita, farlheys langar o batel fora, e vir^ a
vós nele o mestre e piloto, pêra por elles, com as mais
ditigencias, que vos parecerem necesarias, saberdes que
navio he, e parecendouos de maao trato, o tomareys, e
fareys auto de como o tomastes, com toda a enformaçSo,
que achardes, de suas cuUpas. (nom faça duuida (màa
diz <t andays contraia e onde diz cjpor andarem 9).
Sendo caso que o tall navio oti navios, que adiardes,
vos nom queirão sperar, e virdes que os nom podeis tanto
alcançar que venhais aa fala, imdo a tiro de bombarda
Mie tkweys e o fareis amaynar, e cheg^mys a eUe; e
^■™"^^^^""~
achando que be de ladrões, o tomareys^ e nom o sendo,
lhe direys a caasa porque lhe tirastes, e o deixareys ir
em paaz.
Tereys coydado, e asy o mandareys aos capitães, que
comvosco vão, que tomando algun Dauyo, no entrar deUe,
se Dom faça roubo alguii, nem se escomda nada, e porém
isto seraa nos navios què se renderem, e se nom entra-
rem pelejando; porque nos que se entrarem pelejando,
nom se poode ter esta guarda ; e em todos, d^ois den-
trados, mandareys fazer inventario de tudo o que se
achar, e o fareys entregar a pesoa de recado, que dello
dee conta.
Porque nom ey por meu seruíQo, antes me desapraze*
ria muyto cometerdes cousa, que não fose muyto igoail
e arrezoada p^a cometer, vos encomendo e mando que
nysto tenhaes a tenperamça e conselho que .de vós confio.
Os navios que asy tomardes trareys em vosa compa^
nbia, e pêra virem seguros, tir^reys delles toda a gente
que trouuerem, e a rrepartireys pelos navios da dita ar-
mada ; e dos ditos navios darmada fareys pasar aos dos
cosarios a gente que vos bem patecer : os quais nauios»
e gente, e todo o mais que nelles se achar, se entreguará
nesta cidade a quem eu mamdar, e os ditos cosarios virão
presos e a bõo recado pêra serem entregues a minhas jus-
tiças com os autos de suas cullpas, e quando asy tomardes
alguu navio, vos vireis com elle aa paragem dantre os
ditos cabos despichel e são chete, pêra dahy o mandardes
ao porto desta cidade e de cá vos ir recado pêra virem os
ditos presos: e porém, se ao tempo que tomardes o tal
navio, teuerdes noua que amdão outros cosarios na dita
paragem, vos deixareys asy nella andar, até ser tempo
de trazerdes os ditos presos.
Mandareys aos capitães dos nauios da dita armada, que
se a>untem comvosco todolos dias pela menhã bua vez, e
aa noite outra, e que sempre andem aa vista huus dos
oolios, e de noite fareys foroli pêra os ditos nrtm se
nam perderem de vós.
Aos ditos navios fareys estes synaes pêra vos segpireia,
e saberem o que amde fazer: scilicet: por vos seguirem
fareys voso forol.
E por tirar moneta dous fognós.
E por virar três fogaos.
£ por amaynar quatro foguos.
E por desaparelhar muitos fogaos e tiros de bombarda^
E se amaynardes e tornardes a guindar fareys quatro
foguos, e esperareys que vos respondSo todos : em quanto
o Dom fizerem nom caminbareys.
Cada dia aa noyte dareys a.todolos navios da dita ar-
mada, e de quoaesquer outt*os que andarrai em vosa
companhia, o nome do santo, que aquele dia tomaes,
pêra que nom acodindo alguu por aquele nome, se saiba
qw nom he da companhia, e que qualquer que achar
algiiu navio estranho, tire três tiros, pêra os outros na-
vios saberem, que ha antre elles veela estranha.
Mandareys aos capitães e pilotos dos ditos nauios, que
eada dia pela menba vos saluem, e de dia lançareys diante
de vós todolos nauios, e flcareys atrás, e de noite ireys
vós diante; e tereys tal temperaQça nas veelas, que todos
os nauios vos posSo s^nir, e nenhuii nom pasará diante
do forol.
Na despesa dos mantimentos mandareys ter muito boõ
recado, pêra que se gastem como devem, e posão bem
•sl^tar pêra todo o tempo, pêra que forom dados.
Se algjia pesoa adoecer na dita armada, mandala^s
curar o, milhor que poder ser, e asy o encomendareys
aos capitães, pêra que o facão em seus navios.
Se algua pesoa falecer, mandareys fazer inventario polo
escripuao darmada do que lhe for achado, e entregarseha
a pe^a que o tenha em goarda pêra se dar a seus erdei*
ro^ e o dito escripuao fará decraraçao em seu líuro do
éta mes e aoM, em que a tal pesoa ftileceo, pêra se sater
o tempo que seraio, e a mesma âeerara^ ee fera se
riguflioglr da dita armada.
Btt mandejr os dias pasados, que se embarcasem algSas
cousas, que avião dir pm*a ceyta no galtiio trmdade» em
qae vós bis, com fundamento de o mandar com elaa aa
dita cidade : e porque ouue por mais meu seruiço que o
dito galeão fose na dita armada, e as ditas cousas se nSo
puderSo descarregar deUe, pêra se leuar«(n aa dita ci-
dade, depois de a dita annada tomar; vos mando que se
por aiguS caso fordes ter ao estreyto, façaes descarregar
as ditas cousas na dita cidade de ceyta, as quoaes vão
decraradás em huS ro( que leuaes assynado pcur pêro
afonso daguiar.
Encomendooes e mandouos, que eate regimento eum-
praes e goirdeys muito int^amente asy como nelle se
èoirtem! manuel ét moura o fes em lixboa,. ao prímeyro
de dezembro de mil quinhentos e quarenta e dois.
Porque depoisde ser f^to este regimento fuy emfor-
mado, que nas berienguas amdauSo alguns nauios de co-
saifos, que tomarlo quoatro navios no porto da vila da
atouguia, vos mando, que amtes de irdes ao cabo de são
Vicente, vaades aa parajem das ditas berienguas a buscar
os ditos eoeaiFos, e á^^s de deixardes a dita paragem
limpa delles, vos ireis ao dito cabo, e fareis o que neste
regimento vay decraraito. <Rey».
ffh fèmde da pagina) «O Cionde.»
Regimento que leua dom Jo. de Castro que vay por
eapitie meor desta armada da costa.
N.* 7
Dom loham: eu elrey vos emvio muyto saudar. Vy a
tMTta que me escrevestes, porcpie me fazeys saberia tor-
menta que pMistes, de ^le muyto me desapreuue, e ^m
miiytos Icuuores a nosso eashm por ves mm «contofiM*
perigo algiiH: e quem taota ouidado, e leiíbrafiça tmo âa-
codir em tal tempo a tuão^ asy he rezam que acjaà A Báo
franceza que tomastes, Iby muyto bem feito, e meay p(W*
bem servido de vós niso, e asy no modo qw tivealis
txM os franc^es dela, e todas vosas coBsideraçies &iso
Ibram de quem tanto desejo tem de me servyr: e poff^ne
me parece meu serviço faser-se áeerqua da t(»sada ^
dibi náo alguSas mais deiigencias das conteodas nos au-
tos, que me enviastes, vos encomendo nounyto, que taeto
que esta carta vos for dada, vos vepbaea com toda a ar-
mada a cascaes, e trarês oom vosquo a dila náo, t oono
hy fordes, me avisarás; e com os franceses daia terêa a
mesma maneira que me és^eveysi que tinhej^ com eles.
E femam rodrigues p^^ra pasarés logo ao voso navio,
e o nam deixares mays hyr á dita náo, nem Mar com
pesoa alguHa dela. E de easeaes Ibe mandarea de Hiinba
parte, que venha logo a my, e enviares com de huia
pesoa de recado. Fero dalcaçova carneiro a fez em Sintra
a XVI dias de Jnnfao de 1S43. aRey.»
(No fundo da pagina) Reposta a dom Joam de GaalfOw
Dom Jdbão : eu elr^ vos eouyo miúto aandar . Poupe
queria falar com vosquo algoSas cousae de meu semicô»
vos emcomendo muito que venhaes aquy ámeafaãa a gen-
tar, e muito voUo agradecerey. eecripia am ayntva a v.
tlias 4agosto de i 543. «Rey. »
(No fundo) Fera dom lohSo de crasto vyr a vosa alleea.
(Scbrescripío) Por elrey— a dom Jobaoi de castro ft-
dalguo de sua casa e seu capitão mor darmada que aftda
na garda da costa.
Eu elrey faço saber a vós dom Joam deLcai^o eapitio
meor darmada, que ordefiey que andaese em goaida da
2a&
■■^»»"*»—
coosta, que eu ey por meu seruiço, que vaades aa cidade
de ceyta, e leuds em vosa conpanhia os navios em que
vay a gente, artelbaria, monições, e todalas outras cousas,
que ora mando aa dita cidade, pêra nela ficarem, e a ma-
neira, que tereys em Yosa yda eestada lá, be a seguinte.
It. tanto que chegardes há dita cidade, fareys logo
desembarcar toda a dita gente, artelharía, e moniçoes,
que asy nela ouuerem de ficar, e sayreys em terra, e ve-
reys com dom afonso, e com irancisco de sousa, e symSa
guedez, e miguei da arruda o que mando que se faça, e .
se contém na carta que escrepuo ao dito dom áfonso, asy
pêra se a dita cidade fortificar agora, como todo o mais
que parecer que se deve de fazer sobre o que está tra-
çado na obra noua, que mando fazer; e nysto se dará
toda diligencia, pêra que vós posaes vyr o mais cedo que
poder ser: porque ey por meu seruiço, que todos prati-
queys e asenteys o que nas ditas obraslogo agora se deve
de fazer, e depois pratiqueys sobre a traça que miguei
da arruda leua da obra que ao diante se ha de fazer, se
ha algua cousa que se deva de emmendar, pêra mo fa-
zerem saber, segundo na carta de dom afonso se contém.
It. Se teuerdes noua que a armada dos turcos vem, em
tal caso ey por meu seruiço que vos fiqueis na dita ci-
dade, asy como me mandastes lenbrar que o queryeis
fazer; e mandareys emtão tirar dos navios darmada toda
a gente, artelharía, e moniçoes, que se neles poderem
escusar, de maneira que fique somente neles a gente, e
o méis que vos parecer necesario pêra os trazerem a lix- '
boa : e vós escolhereys pêra vyr por capitam no galeão,
em que amdaysv^ilguu criado meu, que vos parecer auto
pêra yso ; ao qual direis de minha parte, que se emcaf-
regue da dita capitanya, e aos capitães dos outros navios,
que lhe obedeçSo, e dprlheis o terlado deste capitulo, per
que lhes mando que asy o cumprão, e se venhSo com os
navios da dita armada a lixboa, sem no caminho come-
aos
terem» nem fazerem cousa algua mais que virem çUrey-
tamente aa dita cidade. E aiada que pêra me seruirdes
nesa armada seja tenpo, e aja necesydade diso; pola con-
flamça que de vós tenho, e pola grande inportancia da
cousa, sendo caso que os turcos viesem, me quero seruir
de vós nyso,
It. não avendo nouas que os turcos vem> como parece
que não virão, vós vos partiréys da dita cidade de ceyta
o mais breuemente que poderdes e ireys a alcácer, e da-
reys ao capitão da dita vila hua carta minha que lhe leuais,
e lhe direys o que comvosco pratiquey, que na dita vila
flzeseys, ,e loguo com deligencia o poereys em obra, e
emtão ireys a tangere e a arzila, dandovos o tempo lugar
pêra o bem poderdes fazer, e dareys aos capitães dos
ditos lugares as cartas, que lhes escrepuo, e vereys em
cada huii deUes os muros, e o daneflcaniento que tem, e
o corregimento, que crnupre que se nelles f^ça, e asy de
que maneira estão providos os almazeys, e o que lhes he
necesario, e a gente que nos ditos lugares ha» e as armas
que tem, o que tudo vos emcomemdo muito, que façaes»
como comvosco o pratiquey, e o eu de vós confyo que o
sabereys fazer, e tanto que ysto teuerdes feyto, vos víreys
com a dita armada ao lugar omde vo's eu mandar que ve-
nhaes, como vereys per outra provisão.
It, sabereys de fernam daluarez as cousas, que em vosa
conpanhia vampera tangere e aarzila, e como chegardes
a ceyta as mandareys aos ditos lugares a bóo recado, ou
as leuareys em vosa companhia, quando a elles fordes,
se não ouuer noua em ceyta de virem turcos.
It. çu mando a mazagão antonio de loureiro pêra de
lá trazer a ceyta os soldados, que escrepuo a luis de lou-
reiro' que emvíe aa dita cidade. Se ele vier, estando vós
aimda.nella, vir se ha com vosco ; e nom vindo em quanto
nela esteuerdas, deixarlheys aby recado per escripto do
que ha de fazer, porque eu lhe mando que o faça asy.
MmMfèl âe moQTft p fee eia Sintra a CL dias dag oste de 543.
n, eu ^sorepuo a dom aftmso, oomo me pareceo meo
s6f ^(», no qye tMa a vM^ aay naste tenpo qút lá aveys
ê^VÊt^f ê fio q{xé voa mamio que íteçaesi epmo se aecmta*
MSe tSe tm tureos virem^ e tõs lá ficardes.
A. eu escrepuo a francisco botelho meu feytor em am-
Aftlaaia, que eràvle a ceyta dea mitt cruzados pêra serem
énddrfegtfes a gaspar laudj, que mando aa dita cidade, pêra
téfcarguo de pagar dos soldos^ e que quando os asy quiser
mmáàv; Vd lo faça sabéfi pèH vós mabdardes bQu navio,
du Clous, danfiadá, segutido tas parecer que convêm pêra
&eguhífiça do tttto dinheiro : etnecmemdouos que tanto
qMl tyrdês recado do dito ílrancisco botelhò^ lhe mandeis
loguo o dito fiavio ou bavioSi eta qúe emvie o dito dh
tàmifO pot* algfiia pesoa de rseado, que pêra iso manda-
fejrs; que fecète dir ditd francisco belelbo o dito dinheiro,
6 \ffê deixe sett èonbeeimntd raso per que se obrigue a
iHé tkir mitro em forma do dito guaspar landj. aRey.p
(ffb fkndo) Regimento que leua dom Joam de castroi
^ víty à cejFlai
DcKÉ Joháfti dé cra^o. Postoque comvosquo pratícase
este neguocio daIeacere,.como vistes» todavia pareceo*me
tnètt sbriii^ datuos deile estas ieart^ranças^ que sam as
s^tiii^s,' aleu das quaaei» tenho por certo que vos len-
Ithii^ odtráS; cem aquelle boo euidado, que senpre ten«>
é((^ do que a tnèu Seroiçe compre.
Item. vereis O porto da dita vllla, e a largura e altora
dellé; o quâfl vôs sondarei per vtfs, e com aquelas pesoas
de Vossa armada, que vos parecer que o bem entendem.
tt: vereis eS Aãuios, ^ue nelle podem caber, e que eal^
lyiUrde e grandnra de nauíos; e se podem estar no dito
pófrto tísí todo te«â|ío, ou em que tempos somente podem
e^ar nieiie, è ò danno, que ôtáy podem faaer.
j
lu ^rett 88 da Aita Tilla se pode defeod»* a eilee uf
híob; que não entrem^ nem estém bo dito porto.
IL qnaado da dita viUa aim poder sen o lugnar^ éeade
se lhe pode defender, e ee se ba dé ftter pêra ieoíorta^
iesa^
Ri ee se pode este pwto eegmr coib pedida, ou oDm
odtra cousa, e de que maoeíTti 'Scrita eni Sintra a ml
cKas dagosto, 1643. «Rey-.»
».* 10
Dom Jobamt eu eUejr Tod^ eaiuío omito saudar. PoUa
breuidade eoasque mamão que eite oorrto parta vos nfe
escreuo mais largamente^ e me remeto aa oarta de dom
af(H)so, que avereis per vosa. Follgarey de saber quamde
chegastes, oom todas as mate coâsas que yirdee qtle a
meu seruiço cumprem aallêm do que vay per metas rtf»
^mentos, e do que cá lembra pftra se apoMar; e pra-
zermya que com toda breuidade viseis allcAcere» e que
per este me escreuaes o qae vos delle parecer, porque
tamgere e arzilla s3o mais loi^e, e ey por milbor que os
não vejaes, senam quamdo embora vos ouuerdes de viir;
e mtretamto fareis em tudo q que de vós eomfy6i faieado
ecmita què a armada se não ha de vir sem vóSi quando
se uam mudase e^ noua que cá tenhoi e lá ouueie
outra, porque emtio segutrets vosso reginenioj e natti
ni avendo, nam bulireis oomvosquo atee verdes meu re-
cado, o qual vos eu nam mandarey^ seuam depois de ter
visto a emformação desa obra, que se ba de fazer, se-
gmdo veres poUa dita carta. E por tamto ccnvân muito
a breuidade da reposta, vemdo porém tudo muito bem^
eobio eumpre que se|a. E quamdo vos pareoeseqiAeserjra
gram^ dilaçãm irdes a aloacere^ e praticardes todàe estas
óouns pêra me vyr recado, dmàreia amtes a ida dataa»
em*e pêra depois, e este recado da diira viraa wi toda di-
ligemcjra» porque contdm qae em toda a pratica deia se-
jaes sempre presemtes, e se o tempo yos tem dado lugar,
o que parece qae nam podeiia ser, pêra terdes visto al-
cacere, vimdo tudo jomto, muito me pr^izerya : e nam
podemdo ser, coíno o teuerdes visto, me mamdareis re-
cado, em deligemcya, per huu pyão, ou segumdo o tempo
fese que allguu navyo aoertase pera^caa de vyr, emtSo
seraa bem que venha per duas vyas. A tudo o que es-
creoo a dom afonso averey por meu seruiço que me res-
pondaes, porque com mais larga emformaçam maode ém
tudo prouer. E pela maneira que sey que aveís de ter
com a gemte de vosa armada pêra o ajudar a esta obra,
escuso emcomemdaruolo mais. JohSo de seixas a fez em
Itixboa a xxn dias dagosto de 1543. Manuel da costa a fez
esi^ever. «Rey.»
(No fundo da pagina) Pêra dom JfohSo de castro =:
dom Afonso.
(Sobrescripto) Por ellrey — A dom Johão de castro, ca-
pitão Moor da armada, que mandou aa cidade de ceyta.
N/11
Dom Joham. Eu elrey vos emuio muito saudar. Eu es-
creuo a dom Joham de menezes coitam de tamgere, e a
diogo lopez de calheiros, que per meu mandado estaa na
dita cidade compramdo o trigo dos m.^^S que delle man-
dem logo a essa cidade trezemtos moyos, e que nio
avemdo em tamgere nauios, que leçem o dito trigo, avi-
sem diso a dom afomso, capitam desa cidade pêra lhos
dy mandar. E porque be necesaryo pêra mais seguramça
dos ditos naujos, que vaa em guarda e comserua delles
huu nauyo armado, vos emcomemdo £ mando, que lhe
mandeis da vossa armada bSu navio, qual vos pêra iso
milhor parecer, pêra fazer companhia aos ditos naujosi
por que asy o ey por meu seruiço. Joham de seixas o fez
209
m
em iixboa a xxvii dias dagosto de mil e quinhentos e qua-
renta e três. Manuel da costa a fez escrever. cRey.i>
(N. B. O mais como na antecedente.)
N.n2
Dom Joham : eu elrey vos emvio muito saudar. Folguey
de ver vosa carta, e de saber a boa viagem que teuestes,
e as mais cousas que me escreveis, e vos agradeço muito
o trabalho, e deUigemcia que posestes na desembarcaçam
das munições, e em tudo o que mais fezestes. E porque
a dom afonso escreuo o que agora ey por meu seruiço
ácerqua das obras e cousas desa cidade, e lhe tenho man-
dado que tudo se veja comvosquo; me remeto ás suas
cartas, que vos elle mostraraa, e nesta nom ha mais que
dizer, senam que a lembrança, que me fazeis, do cegar
dos portos e calhetas d'allmina, vos agradeço muito, e
por ser cousa de tamta inportamcya, vos encomendo que
me escrevaes declaradamente o que nisso teuerdes feito,
e vos parecer que se poderaa fazer, e o modo que se nisso
poode ter, com todallas rezões, e particularydades disso,
porque follgarey de o saber, e vollo terey muito em ser-
uiço. Joam de seixas a fez em Lixboa a xxvui dias d'agosto
de mil e quinhentos e quarenta e três. Manuel da costa a
fez escreuer. «Rey.»
(No fundo da pagina) Reposta a dom Johão de castro
—Dom A.^—
(Sobrescripto) Por ellrey — A dom Johão de castro ca-
pitâo-Moor da armada, que mandou a ceyta. —
N.^ 13
Dom Joam de castro. Eu elrey vos emuio muito saudar.
Per híia carta vosa feyta a xvi deste mez de dezembro
soube o que até emtão com esa armada tinheis pasado, e
TOMO VI 14
m
receby mwto couLtenUameoito de uer o boifi mo(}|Q, cpie
em tudo tiiaestes, e em espicíal no que pasastes com as
sete naaos de cosairog, qm le&tauão ao cabo de são vi-
cemte. E quamto a voos náo haa por agora que dizer so-
bre o que neste caso he feyto» senáo que vosos seruiços
sâo muy comformes com a comfiamça, que eu em vós
teobo. Aos fidalguos e outros criados meus» de q[ue me
e$creu^stes que fostes bem ajudado, dirês de mioha parte
que lhes agardeço a vomtade, com qua folgão de me ^er?
uir, e que eu terey sempre lembramça dela, e de sen$
««druiços. Per outra carta vosa, feyta a xxnii da$)a mm,
soube pomo estaueis em restelo, e a causa porque yo«
xmtfiTm demtro nese porto : houue por meu seruiço fyr
ziBrdelo asy; porque em qu^uuto uáo poderdss mmgiw,
pdf o t^&ifípo uáo ser pêra yso, nele ,estareis melbor, qt^
em outro allguu. E porque eu queria que ^sa armãd#
tornase a sayr ao maar, como o teo^o estíuer pêra o por
d^f^des f99er; vos eo^omemdo, e mamdo, que pratiqiiês
çioítt pêro afonsp dagui^r» a que escreuo que ya aby iw
comvosco, a maaeira que ^e terá pêra t^des cert^ ôsa
Umt», c«dave^ 4iie o tempa fòr p^a poderdes partir; #
se seri milbor t|ka tpda nos uauios ; se tomar aos qu^
gpjzerm yr ^ terra outra fiamç^ de nouo, pela quaU q$
(SQm$tf^dD9ijfto a vyr, cadavez que comprir: e o que ambos
sobre ysto asemtardes, yso ey por bem qi^ se f^ça. @ co«^
9 j;emPQ for çgr^^egído, de maneira qmò yos p^reç? que
está seguro, sayrés ao maar com toda a armada^ porque
a yrdes $õmor^ ispm a^ carauelas, aahy algys ymcoauí-
nientes, e bum deles be^ deuerdes yós d.e yr milbor 9giàr
salhado, do que em bua delas podíeis yr. E a pêro afonso
mamdo, que vos dê a carauelai pescaresa, que vos parece
necesaria, e que a esa aimada proueja de mantimentos
de mais bpm naea, e de tp$lo o mais, de que a vós e a ele
par^cer que deue de ser prouíd^i. Çertolameu fropz a fe^
em almoiry a xxvn de dezembro de 1543. «Rey», &c.
Sil
N.-U
Eu elrey faço saber a vós capitães, fldallgos, caualeiros,
escudeiros, a a quaesquer outros (»rjados meãs, mestres,
pillotos, marinheiros, e companha dos nauios da armada,
de que mamdo por capitão mor dom Joam de castro,
fidallguo de minha casa, que eu ey por bem e me praaz
que vós aj«es ao dito dom Joam por CiapitSo mór da dita
armada, e como a capitão mór delia jh^ obedecaes no
alito e no baixo, fiaseando em tudo o qjiie vi» o 4Up dom
}oam de minha pante mamdar, porque de o fazterdes a^
o receberey de vós em smiiço, e o comtrairo vos esbrt-
^arey muyto. E por este meu aliuará lhe dou podar
pêra que posa degradar pêra os meus lagares daaUém
até dous annos: e asy poderá mandar açoutar aqueli^
pesoas, que taes madlefíâos cometeremi, que per bem de
minhas ordenações mereçSo ser na dita pena coBideoados,
semâo as taes pesoas de caUidade que a taU pena daçoutes
caaha nelles. E quero que nestes dous casos se dêm suas
semtemças a eixecuçao sem mais apelaçSo, nem agrauo,
porque comfio delle que guardará ymteiramemte justiça.
E sendo caso que allguas pesoas cometSo casos per que
mereção mayores penas que as acima ditas, ey por bem
que o dito dom joam os mamde premder, e trazer presos
a bom recado, e faça fazer autos de suas cullpas, os quaes
trará pêra os eu mamdao* ver,, e despachar como for jus-
tiça: e nos casos em que por meu seruíço lhe parecer ne-
cesareo, lhe dou poder pêra que posa poer pena de até
vinte cruzados, e mamdar por elles fazer ei&eouçio nos
cuUpados, sem mais apelação, nem agrauo. Noteficoo asy
a todos em jerall, e a cada huu em especyall : e mamdo
ao dito dom joam, que ymteiramemte vse do poder e
allçada que lhe per este meu aliuará dou, o quall se com-
prirá ymteiramemte como se ndle comtem, sem embar-
geo de não pasar pela chameellaria, e da ordenação em
212
contrario. BertoHameu froez o fez em allmeyry a xxvin
dias de dezembro de mil quinhentos coremta e três annos.
«Rey.»
(No fundo da pagina) Poder e allçada a dom joam de
castro.
N.* 15
Dom Joam de castro . Eu elrey vos emuio muito saudar*
Vy a carta que me escreuestes, per que me daes comta
da viagem que fizestes com esa armada, e dos trabalhos
e periguos que pasastes : receby muito prazer de como
me niso seruistes, e de serdes tomado a salluamento ao
porto desa cidade. E porque dizeis que não achastes em
toda esa costa atee o estreito nouas darmados, e taobem
me escreveo pêro afonso daguiar, que os nauios, que
vem da cidade do porto, dizem que os não ha da parte
de ponemte; ey por bem que esa armada se desarme, e
escreuo a pêro afonso que loguo a mamde desarmar; e
vós mamdareis desembarcar a gemte, e ireis descamsar
ore vosos trabalhos. Muito vos agradeço todo o mais que
me escreueis de quamto follgareis de me tomar a seruir
no que ao diamte comprir e for necesario. Dias ha, que.
tenho visto e sabido a vomtade, com que follgaes de a fa-
zer, de que eu terey sempre lembramça, pêra foUgar de
vos fazer mercê, como he rezão. Manuel de pomte a fez
em allmeiry aos viii dias de feuereiro de mil quinhentos
e quarenta e quatro. Fernam daluerez a fez escreuer.
«Rey. »
(No fundo) Reposta a dom Joam de castro.
N.'» 16
Dom Joam de Castro : eu elrey vos emuio muito saudar.
Eu tenho nouas, que de algQus portos de framça são saídas
muitas naaos de aarmados pêra estas partes, e porém, se^
2i3
gumdo tenho sabido, atee as naaos que agora vierão da
ymdía partirem das ylbas, não era laa vista mais que bua
soo naao deles ; e no caminho acharão as ditas naaos ou-
tra que lhes fogyo : E postoque segumdo são emformado,
na costa não aaja agora noua deles ; porque de bua ora
pêra a outra podem vyr, mamdo que amtonio pirez do
camto, que ora com as ditas naaos da jmdia veyo por ca-
pitão de buu galeão» se torne loguo nele, e lleue comsiguo
quatro caravela^, e amde na paragem das berlemgas, até
virem as mais naaos que se esperão da ymdia. E por que
com as ditas naaos, ou por vemtura primeiro, ha de vir
a armada que amdava na costa, de que ruy louremço de
tauora foy por capitão moor, a qual mamdey que ás fose
buscar ; e eu queria que dela e destoutra aarmada ficasem
em guarda da dita costa os nauios que parecesem nece-
sareos, sem se fazer despesa algua no que se podese es-
cusar: e porque voos amdastes daarmada nela, e destas
cousas temdes muita experiemcia, vos emcomemdo muito,
que segumdo a desposyção do tempo me escreuaes a
armada, que vos parece que aa dita costa deuo de emuiar,
e quamto tempo laa deue de amdar. Bertolameu froiz a
fez em evora a xi de Julho de 1544. «Rey.»
(No fundo da pagina) O Conde.
Pêra dom Jo. de castro.
(SobrescriptoJ Por elrey— A dom Jobam de castro,
fidalguo de sua casa.
N.*» 17 .
Dom Jobam. Como a principal cousa das que tocam á
armada da índia, em que aueis de ir, he partir cedo,
conuém que no aparelhar e carreguar das naaos da dita
armada se ponha muyta deligencia, fazemdo-se porém
tudo de maneira, que vam todas aparelhadas, como pêra
sua viagem he necesario, e se carreguem sem aver emlleyo
DQS offeciaes: e pêra se isto núlhor poder fazer tereis cui-»
«14
dSKÍa, como fordes em iixboa, ãe hirdes todollos díad
peks meohSs do allmazem de goinee e imdias, onde se
ajumtarSo comvoseo pêro afonso daguiar, e os offeciaes
do dito allmazem, e praticareis com elles em tudo o que
oouer perd fezer do aparelhar, e aperceber das ditas naaos.
E as tardes dos mesmos dias ireis todas aa casa da imdia
e miDa, e com o feitor e offeciaes delia fatiareis no qpie
enmprir pêra» despacho da dita armada, que a seus car-
gaos tocar; porque ey por bem que aSj na dita cast,
como nos sdlmazes se faça e dee a eixecuçao todalteis
cousâs ordinárias, que vós com os offeciaes de cada bOua
das ditas casa^, que niso emtenderem, fizerdes, e ord»-
.nardes: e taf]ti)em quero que se dêm a eixecuçlo a$o«H
trás cousas em que com elles asentardes que ordinárias
não forem, fezemdo-se delias primeiro asemto, e da de^
terminação, que niso tomardes, asynado per vós, e peto
diSo feitor e offeciaes da casa da imdia, que se acharem
presemtes, sendo na dita casa; e se fôr no alhnazem,
seraa o tal asemto asynado per vós, e pelo dito pevo
afonso dagttiar com os offeciaes delle, que se hy acharem^
pelo mesmo nrodo, em que mando que se faça na easa
da imdia.
It. tereis lembrança* que a jemte, que ouuer de ir na
dita armada da imdia, se comece a asemtar na dita casa
ao primeh^a dia do m^ de feuereiro, que ora vem; e tõs
sereis sempre presemte ao asemtar delia, porque se Mo
•posa asemtar pesoa sem voso comsentimento, e a pri-
meiro verdes, e se se ha niso a ordem que se teve nestas
armadas pasadas. E ho em que ouuer duuida no asemtar
da dita gemte, se faraa, como vos melhor, e mais meu
seruiço parecer, e procurareis porque se tudo faça com
a mais prouisão que pode ser.
It. tanto que chegardes aá dita cidade, sabereis se es-
tão prouidas todallas naaos, que na dita armada am de
iv, de mestres, e so sam taaes como çonuém, e são qq-
cesarios peia tall viagem, e se fallecerem allgSas, pro-
ifêlloseis logao com o proueedor e ôfifeciaes do allinazem,
eomo vos bem parecer, ouuindo primeiro os que tiuerem
minhas prouisoes, se allguus per eUas forem prouidos dos
mestrados das ditas naaos, pêra lhes ser feito justiça.
tt. porque ha allguus plilotos, a que tenho pasado à^
lÊias prouisSes de pillotajes de naaos de carreira pek^a a
ímdia, ey por meu seruiço, (pLè aos conhecidos no dito
allmazem se mande dele noteficar, que aprezentem as
prouisoes que tiuerem, as quaes vós vereis com o dito
proueedor, e offeciaes do allmazem, e sabereis dos mais
pilotos que ouuer, autos, e sofficíemtes pêra a viagem,
e ordenareis, que siruSo nesta armada os que vos pa-
recer meu seruiço, guardando rezão e justiça aos qúB
a tiuerem: e se os armadores das naaos pêra a imdia,
ou algiíus delles por sua parte alleguarem contra iso
allguua cousa, serão ouuidos, e guardar se lhes ha jus^
tiça, cuniprindo-se niso as prouisoes, que tenho pasadas,
sobre o moodo que quero que se tenha no prouer das
ditas pillotages.
Ey por bem, que vós ordeneis dos guardas da casa dá
imdia e mina os que deuem destar nas ditas naacrs, com
parecer de Joam de Barros feitor delia, e asy de vasco
femamdes césar guarda moor: e com eiles ambos èêci&^
Ihereis dos criados meus, que ha na dita cidade, os que
forem necésarios pêra estarem nas ditas naaos por guar-
das com os da casa, e serão dos que mais autos e comui-
âientes vos pêra iso parecerem: e a huus e outros masa»-
dareis notefficar de como na india, tamto que as naaos
com a ajuda de noso senhor laa chegarem, aueis de man-
dar tirar devasa, pelas pesoas^ que nellas forem, das mer-
cadorias, que sem minha hcemça se caa embarcarão, nãb
sendo dos tratadores, e das que suas forem, sendo de-
fesas: da qual deuasa aueis de mandar nas mesmas naa<oã
o trelado, per vyas, á minha fazemda, onde se attr de vi^^
2i6
pera se mandar fazer muy inteiramente eixecução nos qae
se acharem cullpados; e pera o milbor saberem, e terem
vjgya no modo de como me am de seruir de guardas nas
ditas naaos, lhes declarareis o que dito he per escriptos,
que mandareis fazer» -asynados per vós, de que se poraa
buu delles em cada naao ao pee do masto.
Mandareis saber aos fornos de valldezeuro, do prove-
dor e offeciaes delles, quanto biscouto ba, e triguo, pera
se aver de laurar, e a que tempo poderaa ser feito todo
o biscouto necesario pera a dita armada.
As mais cousas, que pera prouimento da armada ba
pera fazer, se não declarão aquy, porque ainda estas,
pera vós, se podéram escusar, visto cambem sabeis o que
comuém pera bom auíamento da armada, e quanto aueis
de follguar de neste negocio, e em todos, me seruir. E por
iso abasta o cuidado que sey, que vós aueis de ter, e de
m
caa vos irão as lembranças de quallquer cousa, que se
oferecer de nouo, de que deuaes de ser anisado, e vós as
fareis tanbem de laa, per cartas vosas, do que vos parecer
que cumpre. Pêro amrriques o fez em euora, aos cinco
dias de Janeiro de mil quinhentos e. quarenta e cinco.
«Rey.»
(No fundo da pagina) O Conde — Pera dom Joam de
castro.
N.* 18
Dom Joam de castro amiguo : eu élrey vos emuio muito
saudar. O comde da castanheira me deu comta do que
lhe voos e pêro afonso daguiar escreuestes; e ao dito
pêro afonso mamdo, que se faça acerca dos mestres e
pillotos da armada da ymdia, e das cousas que nella hão
de yr, o que vos pareceo, que se deuia de fazer. E porque
tudo se ha de fazer comvosco, como tenho mandado, e
compre tamto o aviamento desa armada, vos emcomemdo,
que precureis porque todos dém tall presa a yso, como
2i7
sey qae a voos aueis de daar ao que vos tocar. Bertol-
lamea froez a fez em evora a xvii de janeiro de 545.
«Rey.»
(No fundo) O conde — Pêra dom Joam de castro.
(Sobrescripto) Por elRey — A Dom Joam de castro, do
seu conselho, que ora emuia por gouemador da ymdia.
N.-19
Dom Jobam, eu a Rainha vos enoio muito saudar. Elrey
meu senhor me fez mercê que eu podesse mandar nesta
armada, que nosso senhor leue e traga a saluamento, oyto
pipas de vinho, forras, pêra se venderem na índia, e o
dinheiro, que se nelas fizer, se empregar la em merca-
dorias, que nam sejam defesas, as quaes mercadorias
outro sy nam pagem direitos; por que o proueito que se
nisso fizer he pêra ajuda das obras do moesteiro de nossa
senhora da asumpção da minha cidade de faram. E mando
frandsco mendez da costa meu moço da camará que com-
pre as ditas oyto pipas de vinho, e as meta na vossa naao;
porque por a cousa ser da calidade que he, e eu saber
com quanto gosto e contentamento vós fazeis as seme-
lhantes; além do desejo, que sey que tendes, pêra em
tudo me comprazer e seruir, não quis nisto encarregar
a outrem, senão a vós : e vos encomendo muito, que por
seruiço de nossa senhora, em cuja casa se ha de gastar
o proueito, que nisso se fizer, e por meu respeito, quei-
rais tomar o carrego de leuar esta mercadoria, e mandar
fazer a venda, e emprego dela ; e espero em nosso senhor
que também vos caberá parte do ganho, que será leuaruos
a saluamento, e com saúde, como eu desejo. E não ey por
necesario encarregamos mais este negocio; somente vos
encomendo que o emprego, que sey certo, que será muy
bem feito, e nas milhores e mais proueitosas mercadorias
que ouuer, venha entrege e encarregado per vós a tal
p6S§(tft, (}Mr ò ítÁ^a áf tod(y bõo rectfdô^, e dee dissò boàf
coA^a. í^eró fef Aáúdes a fez ém euora ft xxni dias de lah
neiro de 1545. aRayDba.» '
Pefã áotíí Jfôham dé castro.
(SòhreécHptó) Por aÈafinha— A dOíÉ Joitatt de castro
fidaigôf d* casa delròy sen senlw», Ac.
Dtim Jhy. de cr ásíô, ámíguór: eti* eíiíey vos e»vyo mmto
saudar. I^elat carta qtie me escretiestes de xxim deste mes
de Janefiro' e p^lo qoe ja* tinha sabido pelo comde da ca»-
tanheií^à; vejo còúi qiiánfo cuidado e delHgemcia me smús
fia cáígiíâ' e âpercebttWéftto desa anfiada^ que he muy com-
fofme á ciMnftáittf a qne em vós tenho ; he pêra como os
dias ^asádés foram fortes, hé nyso feito tudo ho que se
í)iodi* e dêíiya ftóer: er espero emdeos que, segumdo a
boa ordem, e aviamento que lhe temdes dado, e daes,
damdo ho tempo lugar, seja prestes pêra poder partir até
dez de marijo, como em vosa carta dezês.
tiíos aluarás metís, que dizés que vos laa apresemtam
pet^â nesa aírmada' se dar embarcaçaSo a cristãos novos,
^slsaIiQfs»ya por me dareín emformações micertas; porque
tnfíM^ teínçaSo natn he yrém elles ha ymdia; peílo que
éy põi^ BeiSài que nam cumpraes neohuu dos ditos aluaras,
asi os qtié vos ja tiue¥èm aprèsethtados, como os que
dttqtiy em dt$mte apresemtárem; porque por muitas re-
^es- éy por intry gfamde ymcomvinyente yrem os ditos
crisítaõs novos á india.
Quamto aos guardas que la prouestes pêra estarem
liíísas naSos ey por certo, que pois os vós pêra yso esco-
lhestes, seram táes como compre a meu seruyço. Da or-
deíãí qué lembraes que se deue ter cos mestres e pilotos
que amdam na carreira da imdía se terá lembramça pêra
ao diatUte; he o mais que escreuês que fezestto ey por
1Ê9
mny bei» feito. Ansdref s€«res a fez eiA raorsr « xtjn &ê
janeiro de 545. «Rey.»
(No ftmdq) Reposta st dom Jo. de* erasto.
(No sobreseriptoj Pof ellpey--- a dofli.Jo. dte erasto do
seu comseilbD'.
1T.« 21
Doam Joam de castro amigo : en elre; vos enfvioimuitio
saudar. Eu tinha ordenado que se asentasem mill bomes
pêra ir aa india nesta armada : e ora ey por meu seruiço
que se n3o s^enteifi mats^ que oito eentos pop(|tte*sSa en-
formado que senppe em tod^fs as armaiias vão>mais bornes
dos que se asentSo; pof omde parece que com^ os que
nesta armada ouuerem div aatem dos asemtadtís se per-
fará o numero dos^ ditos mylly que tinba ordenado que
fosem, ou pouquo menos»- Por tamto vos emcomendo e
mando que tão façae^ asentar em sotldo^ mais; que os di-
tos oitocentos bornes. Manuel de moura a fez em- evora
a cinco dias de feuereiro de 544. <Rey.»
(No fundo da pagina) Gonde. —
Fera dom Jo. de castro.
(Sobrescrip^) Por elrey — A dom Jo. de castro'dflí'Seu
conselho, que ora ?ay por eapitlo 'mor e gouernadoF aas
partes da india.
K.-22
Dom Joham: eu elrey vos enuio muito' saudai^. Mei^re
pêro fernsindez meu capeiam e pregador, que vos- esta
dará, vay por meu mandado aa india prouido do dayado
da see aa cidade de goa, onde espero^ que com suas le*
trás, pregações, e bôo exemplo nosso senhor sejai dète
bem seruido, e o pouo edificado : e porque be mal (tes-
posto, e pêra sua saiíde conuem que va bem agasalhado,
vos encomendo multo, que na vossa naao lhe façais dar
^asalbado conueniente^ e apartado, em que bem possa
iao
hir 6 leuar seus lioros, e nisso e em tado seja de vós
faaorecido e bem tractado como he rezam, e elle por sua
virtude merece, avendo por certo que me fareis nisso
prazer e volo agradecerey muito. Pêro fernandez a fez
em evora a xm dias de feuereiro de 1545. <Rey.»
(No fundo) Pêra dom Jobam de castro.
(Sobrescripto) Por elrey — A dom Jobam de crasto,
fidalguo de sua casa.
N.* 23
Dom Jobam amiguo : eu elrey vos enuio muito saudar.
Porque como sabeis rex xaraffo antes que se parta de
guoa ha de mandar a estes reynos seu filbo mais velho,
e me pedio que vos encomendasse sua embarcação e ga-
salhado^ vos encomendo muito que pêra o dito seu filbo
e pêra seus criados e pessoas, que consigno trouxer,
mandeis dar a embarcação e gasalhado necesario, e em
tudo receba de vós todo ffavor e bõo tratamento, porque
me prazerá disso muito e volo agradecerey. Pêro fernan-
dez a fez em evora a xii dias de março de 1545. «Rey.»
(No fundo) Pêra dom Jobam de castro.
(Sobrescripto) Por elrey — A dom Jobam de castro, do
seu conselho, e seu capitão-moor, e gouernador nas par*
tes da Índia.
N.^24
Dom Jo. amigo: eu elrey vos enuio muito saudar. El-
rey dormuz me enuiou pedir por seus apontamentos que
quizese prouer nestas cousas abaixo contiudas, nas quaes
vos encomendo que prouejais, e façais o que ao pee de
cada bQ dos capítulos desta carta be declarado.
It. primeiramente que mandasse a rex mamude guazil
de barem, e a rex badardim guazil de julfar, e aos outros
guazis, que lhe desem conta, por aver ja muito tempo,
que lha não dauSo. Encomendouos que mandeis loguo
aos ditos guazis que lhe dem conta de todo o tempo, qae
tem seraido, e lha n3o tem dada.
E que mandasse ao capitão do mar dormuz, que não
escandalizasse, nem agrauasse as naaos dos mercadores,
nem a jente da costa da arábia, nem fizesse costumes no-
nos : e que não inuemasem pela dita costa nenhus portu-
gueses, pelo muito dano, que faziao na terra. Encomen-
douos muito que vos enformeis dos agrauos que pelos
ditos capitais se fazem aas ditas naaos e mercadores e
na dita costa, e asy pelos que na dita costa inuernão, e
achando que nisso se faz o que não deue, o prouejaes,
como vos parecer que cumpre a meu serviço.
E que o alcaide do mar não fizesse asimesmo costumes
nouos, como ora fazia, nem leuasse de seu ofBcio mais
que o que lhe era ordenado per seu regimento. Tomay
disto enformação, e manday que asy se faça, e a quem o
contrario fizer ou tiuer feito, manday castigar, como per
justiça o merecer.
E que meus capitais não podesem degradar seus cria-
dos, escrauos, e seruidores pêra fora da dita cidade
dormaz, como ora o faziam pelo avexar, e que quando
os ditos seus criados, escravos, e seruidores fizesem o
que não deuesem, lho fizesem saber a ele, e ele os cas-
tigaria segundo o merecesem. Nisto manday que se cum-
pra e guarde inteiramente o que pelo asento e contrataçam
d^s pases for asentado.
E que os ditos meus capitais e ouuidores dormuz nom
determinasem as demandas, que os mouros, judeus, e
jentios tiuesem huus com os outros, saluo com sua li-
cença, e comissam: e que o meirinho náo fizesse nouida-^
des. Nisto das demandas manday que se faça e cumpra o
que pela dita contrataçam for asentado: e o meuinho,
que fizer o que não deue, manday castigar, como per jus-
tiça o merecer.
E que os ditos capitais, nem outros algus officiais
vfiQi, flOBai maurofi, que tiueneai lavido â jondâçam oa
cidade, nom lançasem pedido, iifim pedifisem eii^restmo
aoft ttiercadoree, bmi moradoras moiirflis^ judeus, sem
jeatías, tsfr aaloraes cofao «straogeírai, nem tties po-
deseai fluuodar tomar niiMs maotimeatos, oem m^ca-
doríM eontra soas vootadee, eomo ora se Csaia» nem de<^
feodesem, que não veodesem suas mereadorías a quem
quizesMd. feto ef por bem, e vos mando que logo de^
feudais, é oundeis que ae nom faça.
E qtie os ditos capitiUs dormus não tiuasem feiiores
em bafora, n^n em julfar, nem em outro alguu lugar do
dito reyno donnuz, nsm outro aiguu meu official, porque
se segiam disso muitos iiicoouementes. Disto vos enco-
mendo qne tomeis inlòrmaoio, e o prouejais, como vos
pareeer meu seruiço. E de tudo o que em cada bua destas
cousas achardes e prouerdes, me escreuereis comprida-
mente. Pêro fenundez afez emevora a kui dias de março
de 1545. «Rey.» ^
(No fimdo) Pêra dom Jobam de castro.
(Bobrestripto) Por elrey — A dom Jobam de castro, do
seu conselbo, e seu capitão moor e gouemador das partes
da Índia.
N.» 25
]>ott loam de castro Amiguo. Eu elrrey vos emuio
muito saudar. Per bemaldo nacere capitio da naao de
garda à» saa que diegou aquy no mes de feuereiro pa-
sado f Oi^by a carta que me escreuestes de moçambique :
e dou awytas graacas a noso senbor da boa viagem que
leuastes, de que lolguey de me dardes comta tão parti-
eidarmante : e por muy certo tenbo que após nosso se-
nbor ser seruido de vola asy daar foy muyta parte de asy
ser Q bom cuidado e vegya, que teríeis em todo o cami-
nbo, do que comprise a boa nauegação dele, espero em
neso senbor que jaa agora esteis na ymdia a saluam^to.
m
eomo des^o» «wa toda; as oaao$ àa v<m eomp/ambia; e
des^rouueme m^iyto 49 dM^oo rdt»lQ náo passar,
Foljs»^ KWirto 4e ver o (iebii^XQ ^«^ m» ^mmí^^ 4»
fortaleza de moçambígiM, ^ fiu]^ mUí ^iw dac^r^^
€omo «ra ae^f^ar^o pêra ^ PQ4^ eiBtend«ir : íb (}p #jtio
ter tão boa deposição para se ^ti^r re^$(^ f;^Mi9yb9n^
taoMfilo; ^ porque jbe cousa tão ymporiUiite .deyâji^ tegiyw
de ordeaar como se faça pela maa^a do debuxp q^^ w(^
aquy eauiyo, que çiaa maoi$[ey fai^er a wygel da 4rrP4a^
por ser Uo pratioo mUs^^ CQUSgs pomo saji^is : 9 quaiw);^
«ais br^iiem^te esta oabr^a for feita, tajntQ mais fs^
seniiço será; porqap estamdo 9^ e$la.a # muy grgfnd^
perigo e náo se pode desewnsar pisOt
Quamto ao u>9iv daquato cauaí 4ue no diâ))»»^ vam
fl^pOQtado, podemdo-se fasor aa^a por çqu^ de ipiy t<)
Qira seruíco: e post^ue a d^&çaldade d9 aver aiy PPHPa
pedra pera se fazer seja gr^judei loilauya tí¥> poodie ^
a mimgoa dela tapanba, que fdiíA a que fpr ne^ç^iMiría
pera se fazer: pio que vos lo^ipeqAdo mpyto que or^
á»nm logua mxio &Qfy<i4&o moodo qi^ njso j$6 ti^ptia,
e escreiueloiw^ 4^ miqha parte ^ capitão, $ ^pbre isto
vos ei&a*evo por outra carta da qual vsareys,
Do descobriíoento daqueles rios que fez toureu^çp warr
quês folgey de saber, e parepe que será cau^ wuy yjfir
portaute e necesaria acabasse beçi dg $aber« pálp que vpy
emcomemdp viuyto que ordenais ipguo mamdar da yio^
dia pera yso buu nauyp ou fu^la, qual vos parece ma»
pomueuieinte : e pela çffi|or|Qacâm e pratípa que ja^ di^
tem Ipuf emco marque? m^ parece íí^ ^nw QWfiVf
fegardelo desira viagem» ao qual darei§ regimemtp jmf
particular dP tudo o qup faca p prpçur^ de sabpr- G t^
recemdouos b€W Ipuar ele uq dito uauyp algua^ (Qprca--
dorias, como parecp que ser4 uecçsarea^ será ben mPí-
dardeslbasi com as quaes eip poderá milbor recatar av
da terra^ e saber verdadpirampntp as que baa w^a, jp; dQ
que se nisto fizer me avisaras. E posto que vos diga que
mandeys a isto Lourenço marquez, nâo o encaregareys
diso, senam parecendo vos que be tam soficiente pêra iso
que podereys escusar de mamdar a iso outra pesoa.
Do falecimemto do doutor francísco de maarvs me des-
aprouue muito, e este anno quisera loguo de caa mamdar
outra pesoa que seruise o carreguo que leuaua, e por ser
muyto tarde não ouue tempo pêra isO; pêra o ano, deos
queremdo, a emuiarey, e emtretamto deueis descolher.
laa algua pesoa que sírua atee eu de caa prouer, a qual
deue de ser a que comuêm pêra tal carrego. Sua molhw
e filhos vos emcomemdo muito, e eu terey dela e deles
lembramca pêra o ano que vem.
O homem que destes a bernaldo nacere pêra vir com
ele pela pratica que tinha desta costa, e ser necesario
pelo tempo em que a vinha demamdar, foy muy bem
feyto, e o ouue por meu seruíço.
Pelas naaos do anno pasado de que veyo por capdtão
fernao perez que caa chegarão todas a saluamemto, lou-
uores a noso senhor, soube as nouas da uimda da armada
dos castelhanos a maluuco e o que com eles dom Jorge
de crasto pasou, de que creo que teres ávido larga em-
formação. E posto que loguo emtão me parecese que
martim afomso proueria niso como comprise a meu ser*
uiço e que seria jaa feito, todauya ouue por bem pelo
negocio ser da calidáde que hee e ser necesario prouerse
nele comforme ao que compria a meu seruiço, de vos
avisar do que niso fizeseis. E mamdey fazer prestes huu
nauyo pêro vos leuar este recado com tamta breuidade
como compria e asy se fez e partio em dezembro, e pelo
tempo lhe ser comtrarío tomou a arribar e tomou o porto
de lixboa e por ser jaa muyto tarde pêra tornar a partir
e parecer aas pesoas praticas nas cousas do maar que
era o tempo passado de sua nauegação e que partimdo
emtâo jaa não poderia ser mais cedo na ymdia que
qaamdo as naaos chegasem, o mamdey desarmar, e pa«
receo-me por esta razão que seria milhor escreueruos
pelas naaos. E postoque este caso de maluco e dos cas-
telhanos laa yrem comtra forma do comtrato que amtre
my e o emperador meu yrmão he feito sobre yso, e o
moodo que eles niso tiuerão fose tudo pêra eu diso rece-
ber tâo gramde descomtentamento como o tenho, e fosem
dinos de gramde castiguo, todauya pelo gramde- amor que
amtre o emperador e my haa, e por outras razões muy
gramdes pareceo-me bem fazer-lho saber, e mamdarlhe,
posto que pelo dito comtrato eu nâo fose obrigado a o
fazer, pedir que os mamdase loguo vir: e ele me mamdou
respomder por meu embaixador, quamto semtia o que
seus vasallos fizeram, e que com todo o castiguo, que
lhes eu mamdase daar receberia elle gramde comtemta-
mento, e outras palauras comformes aas razões e obri-
gações que amtre noos haa : e mandoume a prouisáo que
com esta vos emuyo, pela qual lhe mamda que loguo se
sayam e se venhSo. E porque pêra se lhe ysto requerer
como convém e o moodo em que se lhe apresemtaria o
contrato e a prouísão do emperador compria saberse a
bordem que niso se deuya de guardar, mamdey fazer
diso a ymstruçao que vos com esta emuyo a quall aueis
de mamdar com o dito comtrato que asy mesmo vos
mamdo e com a prouisáo do emperador ao capitão que
ao tall tempo estiuer na dita fortaleza e asy a carta que
lhe escreuo. E lhe emcomemdareis e mamdareis de mi-
nha parte que em tudo cumpra e guarde a dita ymstruçSo
comforme ao que nela vay apomtado e declarado se faga
a dita delígemcia: e na dita carta que lhe asy escreuo lhe
mamdo que quando o dito capitão e gemte se n3o quise-
rem sayr das ditas terras e maares depois de feytos os
requerimentos que na dita ymstruçao váo declarados;
que feytos os ditos requerimentos e respomdemdolhe
que se não am de sayr, ou não se sayndo, e dillatamdo
TOMO VI 15
sua sayda maia do tmpo que Ibe per elle for asyoado,
fdca di$o com buu escríuão ou escriuães termo e auto e
Ibe requeira que se dem aa prisão ; e não se queremdo
daar premda o dito capitão e toda sua gemte; e faça es-
cr^er todas suas fazendas, uaaos, Dauyos» e artelharia
e quaesquer cousas que Ibe acbar, e de tudo faça ymuem-
tairo e o socreste e pouba a recado pêra acerca diso se
£uor o que for justiça: e defemdemdo se ou pondo se em
fugida em maneira que se náo queirâo daar aa prisão,
nem os ela poosa premder^ vse em todo com eles da mi-
oba ordenação no 5.'' liuro^ no titulo dos que resistem
ou desobedecem a qualquer ofeoíall de minba justiça^
m capitulo que começa «outro sy determinamos que
quamdo allgua pesoat, ^m cujo trelado vos emuyo asy-
nado por pêro díalcaçoua, £ que tamto que os tever presos
vpJos emuye presos e a bom recado^ como Ibe parecer que
buraô mai^ i^eguros, com os trelados de todos os auto$
que diso forem fey tos> os quaes voos ouuireis e farés niso
o (ptB for justiça^ guardamdo em tudo a forma do dito
QPmtratO' £ $emdo caso que allguus deles ou por serem
j^more^p W por quaesquer outras razões náo sejaõ juU-
gados a pena que ibe daa o oomtrato» tereis leoibramça
qm ^ estes taaes nâo comsymtaes virem a estes reinos;
e tereis gramde recado que nâo posão vir nas naaos es^
comdidos, pprque seria gramde ymcomuenyemte a meu
seruiço virem caa.
i^mdp caso que o capitão e toda a jemte obedeça ao
comtrato e aa prouisão do emperador, e se venbão como
nela «e declara» e requaresem que se queríaô vyr pela
ymdía escreuereis e mamdarês de minba parte ao dito
meu capitão que os deixe vyr em seus nauyos atee a
ymdia; e da by pêra caa Ibes mamdareis daar nas naaos
embarcação, porque será mais meu seruiço virem nelas
que UQS seu» nauyos: e quamdo ymsístisem em virem
neàm e Mp (luisesem vir nas naaos, e voos com toda$ aí
«7
boas maneiras e com comsemtime^nto seu náo podeseis
atalhar que náo vyesem nos ditos seus nauyos» emtão os
deixares vir neles.
Porque este negocio bee de tamanha ymportamcia
como vedes, e comvém proqer nele com muyta breuí-
dade averey por meu seruico mandardes com ele bua
pesoa de muyto recado e comfiamça a qual posa ajudar
ao dito capitão e emtemder no que compríse pêra bem
do negocio, e náo avemdo allgua embarcação em que
loguo a podeses emuyar, deueís despachar huu nauyo a
ysto sõmemte : e ao capitão aveis de mamdar a carta mi-
nha que lhe escreuo e o comtrato e a prouisSo do empe-
rador e asy a emformação do moodo que hade ter nos
requerimentos que baa de fazer aos ditos castelhanos.
Os dias pasados me escreueo o meu feitor em framdes
como per cartas de alexamdria e costamtinopla que vierSo
a mercadores se afirmaua que o turquo armaua este anno
pêra a ymdia, e mamdaua a suez cimcoemta ou sasemta
galés lauradas e acertadas pêra reformar as outras que
laa tinha, e fazer mais groosa armada. Dy a alguus dias
me escreueo também dom gylleanes da costa meu embai-
xador que resyde com o emperador meu yrmão, que o
embaixador de veneza tinha aviso damdrinopoly que em
costamtinopla se carregauão naaos de linhame, ferra-
menta, e artelharia pêra alexamdría e se dizia que orde-
nauão sasemta galés e fustas pêra a ymdía: E depois me
tornou ele mesmo a escreuer que em todos os avisos que
o emperador meu yrmão tinha do turquo, se não falaua
em ele armar pêra a ymdia, e que segumdo os ympidi-
memtos que tinha com os Jorgianos, e sospeitas de seu
filho o mayor, se podia esperar que não emtemderia niso.
E porque o caso bee de tão gramde ymportamcia que ne-
nbua cousa se poode aver nele por certa, nem he razão
que se descamse sobre yso, ouue por meu seruiço avi-
saruos de todas as nouas que tenho, asy como as tenho.
228
cremdo que por laa teres voos também cuidado e gramde
deligemcia de saber allgua certeza delas: e postoque aas
que eu caa podia daar mais credito fosem as do turquo
nâo armar, porque estas atee agora se hão por mais ver-
dadeiras, e porque amtre ele e my se trata o negocio da.
paaz por esas partes, no quall emtemdia duarte catanho,
e por covsas que socederao nâo ouue por meu seruiço
que ele mais emtemdese nelas, e mamdey a yso gaspar
palha do quall comfio que niso me seruirá muy ymteira-
mente, e espero com ajuda de noso senhor que averá
nele boa concrusio, e que a paaz averá efecto comforme
ao que comuém a meu seruiço e ao bem delias : todavya
em tamanha cousa tudo hee raz3o que se olhe, e por yso
e também pela emformação que tiue das pesoas que este
anno vierâo da pouca gemte que ficaua na ymdia me pa-
receo meu seruiço mamdar agora nestas naaos mill e
seiscemtos homes, com os quaes ymdo a saluamento,
como espero em noso senhor que seja, e com a gemte
que laa estaa, pareceo ás mesmas pesoas com que o pra-
tiquey que estaua bem prouido pêra qualquer caso que
sobrevyese da vimda dos rumes, o que noso senhor de-
femda.
Por miguei vaaz, e por cartas de mestre framcisco e
por outras soube quamta gemte nesas partes he comuer-
tida e se comuerte aa nosa samta fee católica pelas quaes
nouas dou muytas graaças a noso senhor e recebo com
elas tamto comtemtamemto que de nenhua outra cousa
o poderei receber mayor : e espero em noso senhor que
pois hee seruido de nesas partes tamto se estemder seu
nome e acrecentar a sua fee que ele terá especiall cui-
dado da sostemtação e defemsão delias. E porque a oobra
he tam gramde e noso senhor vay mostramdo que cada-
vez será mayor, e avera mais que fazer vemdo que os
que nela agora entemdem são muy poucos ; por esta razão
e também porque o bispo se hade vir como vos escreuo
por outra carta, pareceo-me bem tomar a mamdar a esas
partes miguei vaaz ao qual o bispo cometeo seu poder e
jurdição, e com ele dez cleriguos da companhia de Jesu
e seys frades da prouincia da piedade que me pareceo
comueníemte numero pêra emtemderem agora nestas
cousas de muito seruiço de noso senhor: dos quaes se
podem mamdar aos lugares em que ouuer mayor nece-
sidade os que parecer que conuem e sâo necesarios, o
que vós laa ordenareis com a pratica de mestre framcisco
e de migel vaaz e do bispo se ao taall tempo aymda laa
estiuer. E desejo eu que asy se gramgee esta oobra> e as
cousas necesareas a ela, que em meus tempos possa eu
aymda ver tão gramdes fruytos dela como bee razão
que os espere vemdo estes primcipios. E porque comfio
muyto em voos, que precurareis por vosa parte que eu
receba de noso senhor esta tão gramde mercê, vos lem-
bro que este he o mayor seruiço, e o mayor comtemta-
mento que de voos poso receber: e que no cuidado, de-
ligemcia, fauor, e bom tratamemto dos que jaa sâo feytos
xpãos e se ao diamte tízerem, e destes religiosos que
agora váo, e dos que laa estão, e de todos os que nesta
matéria emtemderem, e em tudo o que for necesareo
pêra o efeyto disto que desejo, mostreis que este he o
proueyto que eu desas partes quero tirar; pois de todos
bee o mayor e o que mais pretemdo : e aymda que nas
outras cousas tenhaes gramdes acupações, nestas que são
de noso senhor, e sem cuja ajuda em todas as outras não
poode ser nada feyto, trabalheis por vos desacupar pêra
emtemderdes nelas e numca por yso vos pareça que vos
pode falecer tempo pêra emtemder nas outras, porque
asy comvem que o façaes, por se não perder o que jaa
bee feyto e ao diamte se poderaa fazer, quamdo voos asy
o fizerdes.
No negocio do Rey de Jafanapatam e da morte que deu
a aqueles martyres receby muy gramde descomtemta-
230
memto e o semty tamto como era razão: e segumdo vy
por cartas de mestre framcisquo> martím afomso orde-
naua de lhe mamdar dar o castiguo comforme aa calU-
dade do caso. Se asy se fez receberey eu diso gramde
comtemtamemto, e se o não oune emcomemdouos muyto
que o ajaes asy como ele o merece, porque seria buu
maao emxempro nesas partes pasar semelhante cousa
$em o castiguo que be deuido a ella. Mestre framcisco me
escreue que este rey tem hum yrmão o quall diz que lhe
dise que se tomaria xp3o, e o pouo todo, se eu lhe dese
esta terra : e ysto seria muy bem por se ganharem estas
almas e se i^zerem xpSas: mas ha nisto outra cousa que
oufhar que he pedirme o mesmo o primcipe de Ceyíão,
que se tomou xpão, e mamdarme dizer a raynha, sua
may, por amdre de sousa que se eu dese esta terra a seu
filho ela se tornaria xp3a com todos seus paremtes e
criados. Também haa nisto outra cousa que ver postoque
âeja menos ymportamte que nenhua destoutras, porque
não me obriga mais que quamto eu quiser aceytar ou át-
largar o que compre a my, e he que diz eirrey de ceylãó
que lhe cúmpn a prouisao que lhe tenho dado em que
me apraaz de lhe restettiyr esta terra que diz que hèe
sua, e que me dard quatroeemtos quymtaes mães de ca*
nela, e me atai^rá a diuida que lhe deuo : a determina*
çSo (te quall destas cousas será melhor não poso eu de
caa tomar pela distamcra gramde, e por quamto tempo
se pasH pfitíieyro que ela laa posa chegar e também por-
que não poso saber a tempo comueniemte o estado ení
que laa estão as cousas: e parece que pêra voos nyso
pfrouefdes abasta somemte saberdes que eu não pre-
femdO' senão o seruiço de noso senhor e o acrecemta-
memto de sua fee, e que aquillo averey por milhor que
for mais a preposyto deste meu desejo. He verdade (Jue
peHo que fez este prlmcepe, e porque todos vejão que
nãt) somemte fazem» em se tornarem xpãaos, o que com-
pre a suas almas, mas aymda o qne toca tetnpor alínemte
a suas cousas; folgarey de lhe ser feyto em tudo o que
for mais sua homrra e acrecemtamemto de seu estado e
mayor comtemtamemto pêra a raynha suà iiiay, pois tam-
bém com yso se ganha fazer-se ela xp3a, e jumtamemté
todos os ditos seus paremtes e criados quamdo teuerem
por senhor o prímcepe. E quamdo nesta parte asemtasete
e vos parecese mais seruiço de nõso senhor e mett t pot-
que damdré de sousa que com ele Teyo de cejMó tenho
muyto boa emformaçSo e foy o que trabaDiou por cfle se
tornar xpão, e o defemdeo da morte, que lhe eirey qaem
daar, ey por bem que o mamdeis com ete e Ibe deis ô &st-
reguo de seu capitSo e guarda mor, do qual! por estos
razões ey por bem de lhe fazer mercê. E quamto ao^ cas-
tigo do rey de Jafanapatam, lhe dareys, podenâoHse betti
fazer.
O negocio do mouro de que martim afomso otme
aquele dinheiro do acedaquam, bem creo que o Uíttí&
sabido. Foy taal seruiça o que me ele fez niso (pte be
razSo receber de mf mercê e fauor. E porem parece mm
seruiço ser de taal míanetra que com yso S€f posa com éle
ganhar mais ; porque s3o yEoformado que em seu pod^r
ha aymda gramde soma de dinheiro, e por alijas ra^s
parece que asy deue de ser: ele im mamdott pedir que
lhe fizese mercê de hua prouisSo pêra meus gwerÉW-
dores e capitães lhe nAo-poerem ympedimefito a ele ôetíi
a seus fflhos e criados seus e do acedaquam poderem ft
víuer e estar em qualquer parte qtít quisesem e por cíéfe
lhe fose dado pêra yso toda a ajuda e fauor: e qtte sttte
naaos e nauyos podesem Kurememte nauegar, sefiNfo
porem buscadas por meus ofeciaes se leuau%> cousas âé-
fesas: e eu ouue por bem de fte fazer mercê cfefo aisy
como mo pede. E pareceo-me meu seruiço mamdapQOfe
a Toos pêra que com ele negoceaseis laa como viseis q<íe
era mafe meti seruiço segumdo o termo em qp^ as có(^
esteuesem: e porque ele em bua carta que me escreue
que parece que foy feita per sua mão e vem em arábio
se me aqueixa dos criados do gouernador e do moodo
que com ele tiuerão no dinheiro que Ibe lleuarão e tão
comfusamemte que não poso emtemder o que pasou no
dito negocio, como veres pello treiado dela, e me diz que
lhe mamde tomar disto comta, lhe escreuo esa caria de
que também vos emujo o treiado, na qual lhe escreuo
que me mamde dizer mais decraradamemte o como este
negocio pasou pêra eu prouer em qualquer agrauo que
lhe niso fose feyto, como eu folgarey de fazer, quamdo
elle o tiuese recebido : e porque eu queria que esta carta
lhe leuase pesoa que lhe não podese estornar fallar elle
verdade niso, amtes o ymcitase a dizela, me parece bem
mamdardeslha ou por bras daraujo, ou pelo doutor fran-
cisco toscano, ou pelo doutor fernão martiy quall delles
vos melhor parecer e estiuer mais desacupado pêra o
poder fazer : e por esta mesma razão, e elle não poder
comunicar a carta com allguu português, o que não po-
deria deixar de fazer pêra lha declarar, lhe mamdo dem-
tro nela o treiado dela mesma em arábio, emcomemdouos
muyto que lha mamdeis llogo, e quamto ao seguro e ao
mais que aveis de negociar hee escusado fazemos algúa
lembramça niso, porque voos teres todas as que forem
necesareas e o farés como for mais meu seruiço e com
todos os resguardos e cautelas que comprírem pêra com
ele poderdes bem negocear. E porem porque ele jaa me-
rece receber de my mercê pelo que tem feito he bem que
em tudo o fauoreçaes e trateis de tall maneira que veja
elle que o seruiço que me fez lhe aproueytou muito pêra
yso: e aymda comprirá fazerdelo asy pêra o que ao
diamte me ouuer de fazer: e do que neste negocio fy-
zerdes me avisares, e muyto vos emcomemdo que do
que he pasado nele precurês quamto vos for posyuel por
saber a verdade; e pela obrigação, que me temde9 vo3
>33
*
emcomemdo e mamdo que não aaja nelle allguua cousa,
que me não dygaes, e taô decraradamente como eu de
voos comfyo.
Com esta vos mamdo bua carta minba pêra o ydallcão
dagradecímemtos da boa vomtade que tem pêra minhas
cousas, e da com que me allargou aquellas terras firmes,
e oferecemdolbe minha amizade, como veres pelo trel-
lado dela que vos emujo : muyto vos encomemdo que lha
emuyeis por bua pesoa que vos bem parecer, e porque
ele veja allguu synal de minha boa vomtade e do com-
temtamemto que tenho de com elle ter esta amizade me
parece bem que lhe emuieis o arreo douro, e a sela, e
asy os panos da tapeçaria douro, que haa dias que laa
estão e que eu de caa emuiaua a elrey de cambaya por
Job nunez que creo que estão nesa feitoria de goa: e
aalem diso voos lhe escreuerés quamto vos tenho emco-
memdado e agora emcomemdo suas cousas, e o conhe-
cimemto em que sou das boas oobras que ele faz em
todas as minhas, com todas as mais pallauras que vos
bem parecer e de que virdes que elle receberá comtem-
tamemto. E folgarey de asy o gramjeardes sempre, que
o posaes ter certo pêra o que comprir a meu seruiço pella
necesydade que delle e de suas terras tem minhas ar-
madas. E comfio que náo somemte o farés asy com este,
mas com todos os outros que vos parecer que será meu
seruiço terdes com elles este moodo.
Por via de costamtinopla e veneza fuy emformado que
viera os annos pasados desas partes a allexandria muyta
soma de pimemta e drogas, o que hee em tão gramde
perjuizo de meu seruiço como vedes, e de que se seguem
gramdes ymcomveniemtes; e não poso emtemder bem a
causa por que tamta soma de pimemta e drogas ally veyo
ter senão se fose pella costa ser tão mall guardada que se
pasase por ella tamta pimemta : o que eu não deuo de
crer pois vay niso tamto de meu seruiço e se foy allgua
cansã díso o comtrata que se íáz em goa das drogas pêra
vrmnz, Jaa quaoido fostes, temdo ea allgQa emformaçam
disto vos mamdey que olhaseis bem nisto o que se deoya
fazer; e que parecemdouos todauia que o comtrato se
deuia fazer fose sõmemte daquela camtídade das ditas
drogas, que parecese que abastauão pêra se gastarem na
terra, e n5o pêra sayr pêra parte alfgua foora dela de que
se podesem seguir estes ymcomueniemtes : acerca do
comfrato, isto mesmo vos tomo a Ifembrar: e quamto ha
guarda da costa deueis de ordenar que se guarde e vygye
de taatl maneira, e p^r taaes pesoas que façSo nyso ver-
dade e nSo deixem pasár a dita pimemta e drogas, por-
que s3o ymformado que os mesmos que a amde guardar
e vigiai* s3o os que as pa^o : a ymportamcia deste nego-
cio he tSo gramde como vedes, e por yso ey por certo
que o prouereis de taatl maneira que eu seja bem ser-
uido. é para a comfiamça que eu em voos tenho ey por
escusado dizemos mais.
O íecemceado amtoriio Rodrigues de gamboa que mar-
iim afomso mamdou a baçaym pêra emtemder nos arrem-
damemtos è cousas dele me escreueo como tinha arrem-
dadas as ditas remdas por nouemta e sete mil seis cemtos
e cimqoemta pardaaos, e que seria muyto meu seruip)
depois de pagas as despesas que a fortaDeza fazia, scilicet,
em pagamemtos dos ordenados, soldos e mamtimemtos
da gemte delia, e pagamemtos de capitães naiques dos
piaes da gemte da terra, prouímento do espritall, corre-
gimemtos de todas as cobras e doutras meudezas em que
se despemdiao desoito mil e quinhemtos pardaaos ; leua-
retíi-íe sasemta e noue min cemto ô címcoemta, que so-
bejauSo, omde estíuese o meu gouernador e não mam-
dàrem-se aly fazer pagamemtos de diuidas que aalem do
proveyto que seria ter o meu gouernador este dinheiro
CDnsyguo pêra ele o mamdar despemder no que fosse
tnais neeeááreo e comprise a meu seruiço se gahbflua
m
tdmbem outro, em este (Unheiro yr ao gouemaâor, por-
que naquela terra vallião pouco as moedas e que da ma-
neira que as eu recebia se ganhaua em goa mil pardados
em cada vimte mil : e que fazemdo-se doutra maneira,
era dar ocasião aos feitores dizerem quamdo lhes mam-
dauão pedir dinheiro que o n3o tinhSo, e que era des-
peso todo per mamdados. £ porque ysto tne parece muito
meu seruiço vos emcomerado e mamdo que ordeneis
como se faça desta maneira daquy em diamte.
Eu folgaria de ver o debuxo das primcipaes fortalezas
que tenho nesas partes, e porque quamto mais parti-
cullarmemte as podese ver mayor comtemtamemto rece-
beria, vos emcomemdo muyto que se laa ouuer allgQa
pesoa que o saiba bem fazer me emuyeis cada hQa delias
e asy a cidade ou tlugar em que estiuer, e o sytio dellãr,
feita em cartaz, ou em allgua madeira leue feito tudo per
petipé, e de tall moõdo, que se posa beín ver o que se
delas quiser saber.
Eu escreuo a dom framcisco de menezes, e a Jo3o (J.^)
de sepulneda, que me fiquem laa seruimdo aymda mafs
huu ano, por me parecer que compria asy a meu seruíçõ :
vós direis também de minha parte a cada huõ dettes cotn
todas as boas pallauras, que vos bem parecer, que o fa-
çam asy.
Por hQa carta que me escreueo simâo botelho, que
estaa por capitão na minha fortaleza de malaca, soube
como alomso amrriquez se quisera aleuamtar com ela,
semdo o dito simáo botelho fora da dita fortafeza a em-
terrar ruy vaaz pereira que aaquele tempo era fallecido
e em cujo lugar elle socedera por prouisao de martím
afomso. E como niso ouvera ajumtamemto, e outras
cousas muy maall feytas: e porque o caso he de laall
caUidade que requere serlhe dado por yso o castigo que
merece, vos emcomemdo muyto e mamdo, que estamdo
ahy comvosco, ou tamto que vyer, semdo fora, o raan-
«6
deis Ilogoo premder> e mo emvieís preso em bua das
primeiras naaos que vyerem pêra esles reinos, e virá
emtregue ao capitão delia pêra o trazer a todo o bom
recado. Bertolameu froez a fez em allmeyrim a oyto dias
de março de 1546. «Rey.»
Pêra dom Joam de castro.
(No sobrescripto) Por EUrey — ADom Joham de castro,
do sea conselbo, capitão moor, e governador da índia.
N.»26
Dom Jobão de Grasto Amigao. Eu elRei vos emvio
muito saudar, per via de Hierusalem recebi cartas do
Preste lobão, que dabi me trouxerão estes frades, e assi
por Miguel de Gastanboso, em que me dá conta do fale-
cimento delRei seu pai, e do estado de suas cousas e
que nellas o aiude e fauoreça, e assi me pede que lhe
faça saber o que sei de lobão bermudez, que por elRei
seu pai foi emviado a my por embaixador por elle la
busar de cousas mui contrarias á fee, e a seruiço de nosso
senbor, e a tudo Ibe respondo o que vereis pelo treslado
da carta que vos emvio, e aos Portugueses, que ainda lá
estão, mando que se não venbão, por mo elle assi mandar
pedir, como assi mesmo vereis polia carta que lbe'es-
crevo; e porque aquella terra toda be de cbristaõs, como
sabeis, os quaes postoque algus erros tenhão na fee, es-
tão tam dispostos e aparelhados a se tirarem delles, se
ouver quem os doctrine, e emsine nas cousas dela, que
devo eu de ajudar e procurar sempre polia defensão de
sua terra ; e porque o tempo não daa podello aguora fazer
com mais que com Ibe mostrar o deseio que eu disso te-
nbo, e responderlbe a suas cartas e a seus trabalhos com
tanta quentura, como convêm pêra ele conhecer este meu
deseio e minha boa vontade, folgarei avendo algua boa
embarcação, em que estes frades possão hir, de os em-
237
viardes loguo nella, dandolbe ho necessário pêra sua via-
jem> e tratando hos em tudo mui bem, como hei por
certo que o fareis, e náo avendo, ou avendoa, e nam pa-
recendo tam segura, que os possais mandar nella, avisa-
reis loguo o dito preste Io3o> de como ali estão os ditos
frades com minha reposta, e que esperais embarcação
segura pêra lhos emviardes nella, com todas as boas pa-
lavras comformes a este meu propósito, que acima vos
diguo, e do que fizerdes me avisareis, escripta em al-
meírim a xm de março. Lopo Rodrigues a fez. Ânno
de M.D.xxxx.vi. E porque poderá ser que pêra virem de-
mandar as costas, que vereys pelo trelado da carta que
escrevo aos portuguezes, lhes será necesario alguns in-
strumentos, e aguUias, e cartas de marear, e estrelabios ;
lhos emviarês e asy huu regimento do modo que teram
em descobrir e escrever as derrotas e alturas do que ca-
minharem. «Rey.»
A dom Johaõ de Grasto sobre a embarcação dos frades.
Cópias, a qne se refere a carta antecedente
Fidalguos e criados meus, e homês darmas, que estais
nas terras do Preste Johaõ rei dos abexis, e que de maçua
com Dom Cristóvão da gama fostes emviados por dom
esteváo da gama seu irmão, meu capitão mór e governa-
dor pêra ajudardes o dicto rei na defensão de seus Reinos
e senhorios, contra seus imiguos: Eu elRei vos emvio
muito saudar. Por cartas do dito Rei que me escreueo
por via de Hierusalem, e depois por miguei de Casta-
nhoso soube novas do que era passado nas ditas guerras,
e da morte de Dom christovão e doutros Portugueses
meus vassalos de vossa companhia, das quaes recebi o
descontentamento que era rezão, perdendo tantos e tão
boõs vassallos; mas vendo como forão mortos em ser-
oiço de nosso senhor, e na defeosio daqoellas terras, qoe
de saa fee tem tanto conhecimento, e tao aparelhadas
estSo a virem no verdadeiro delia ; ouve soas vidas por
bem empregoadas e dei muitas graças a nosso senhor por
ser «eroido qoe por meyo deles a terra se não perdesse,
nem fosse ganhada de tam grandes imigoos seos, e spero
nelle qoe sempre a defenda pêra nelia ser seroido e co-
nhecido como des^o: mas pois os passais por seroiço de
n. senhor, e o dito Rei não está ainda tam pacífico como
conuêm, e elle assi mo pede, receberei eo moi grande
contentamento não vos virdes, e de o ajodardes e seroir-
des naquellas coosas, eoí que lhe for necessarea v. ajoda
e serníço: e assi vos emcomemdo muito e mando qoe o
façaes porqoe ho averei por muito meu semiço : e eu
Jie escreuo aguora que em vossas necessidades e em
tudo o mais, que uos comprír, vos ajude pêra o sopri-
mènto delas, como he obríguado ao fazer, o que tenho
por mui certo que fará e pêra ho anno que vem, apra-
zendo a n. senhor, espero de emviar hua pesoa e por ella
vos escreuerei mais larguamente. E porque são imfor-
mado que faciUnente se poderia achar caminho que viesse
ter ha costa de Melinde, ou a algQa outra parte daquela
banda, por onde podesse hauer antre o dito Rei e m-
mayor comunicação, e mais breueqiente podesse saber
de suas cousas, lhe escreuo que o mande buscar e des-
cubrir; tereis cuidado de lhe fazer disso lembrança, e
parecendolhe bem algus de vos outros fazerdes o descu-
brímento deste caminho, averei por meu seruiço emten-
derdes nisso, e espero que me seruireis nesse negocio
copio eq de vós confio. E porque pode ser que a terra
do Abexi venha tanto pêra oeste, e a de manicongo va
tanto pêra o leste, que não seja grande distancia de huma
terra ha outra, e podendo-se fazer caminho da terra do
abexi pêra manicongo, ou pêra qualquer outro Rio do
Gpbo da boa esperança pêra qua, seria muito meu ser-
339
uíco; vos mando qae procurejs gae S9 descobra leio-
brandoo a elReí pêra que bo mande fazer, ou se a ele
lhe parecer bem que algus de vós outros o facão, o fa-
reis; porque he cou3a de que eu receberei muito conten-
tamento, e me averei por muito seruido dos que bo 0ze-
rem, e Ibe farei a mercê que for rezão, e emtendendo-se
neste descobrimento nâo §e deixará de fazer o outro
que acima be dito. Scripta em almeirim a xv de março.
Lopo roi:?. a fes ano de ii • d* xxxx.vi. «Aos fidalguos
e seus criados e gente darmas que estão nas terras do
Preste.»
(Em lugar de sobrescripto) Trelado da carta que sqa
Alteza escreve aos portugueses que estam com o preste
João.
Muito poderoso Rei, Gq Pom JobSo per graça de deos
Rei de Portugal vos emvio muito saudar. Yi a carta que
me escreuestes em que me dais conta do çoscedimento
de vossas cousas e do falicimento delRçi v. pai, de que
muito me desaprouve, e pois nosso senbor disso foi ser-
uido deueis de comformar no que ele ordena vossa von-
tade com a sua, e dar Ibe por isso tantas graças e lou-
vores como se Ibe deuem por todas suas obra$, esperando
nele que apôs tamanba perda e tam grandes trabalhos
vos dará o descanso e contentamento que vós desejais 9
que elle sempre daa aqueles que tapto o desejao seruir.
S quanto ao que me dizeis que vos aiude e favoreça con-
tra vossos imiguos, eu estimo tanto vossas cousas, e te-
Qbo pêra ellas tam boa vontade, que nunqua minha ajuda
e fauor vos pode ser necessária, que a não acheis em m '
e em meus capitães mores, e muito me pesa de nâo aver
caminho polo qual eu possa tantas vezes, como desejo,
saber o estado de v, cousas, e o çoscedimento delas, e
do socorro e ajuda que recebestes do meu capitão mór e
meu governador da india, e do que meus vassalos fizerâo
240
em V. seruiço, do que tomei mais largua imformação da
que tinha por miguei do castanhoso, polo qual assi mesmo
recebi outra carta v., tive eu mui grande contentamento,
e posto que a perda deles seja tanto pêra sentir, ei hos
por bem empregados, pois acabaram em seruiço de n. s.
e em defensão do v. estado que eu tenho na conta de
próprio meu, e podeis ser mui certo que sempre de my
e de minhas gentes e capitães sereis ajudado comforme a
esta minha vontade, e amor que vos tenho, e quanto aos
vossos naturaes, que dizeis que estão cativos em poder
dos portugueses, e que os vendem a mouros, eu mando
ao meu capitão mór e governador que o não consinta
fazer; e do que lá tem feito ioam bermudez, que elUei
V. pai emviou a mi por seu embaixador, me desaprouve
muito por que são cousas muito contrarias ao seruiço de
n. s. pêra as quaes sabido he que lhe não podia dar algum
fauor nem ajuda, nem dele conheço mais que ser hum
cleriguo simpres, e dos poderes, que diz que o sancto
Padre lhe concedeo, não sei nada, e poios breues de
s. sanctidade sabereis milhor o que nisso he passado ; e
aindaque por isso mereça tam grande castiguo, não me
parece que lho deueis de mandar dar, senão de tal ma-
neira, que ficando com vida, fique com a pena devida a
seus erros; porque sendo ella outra, e usando iá desta
dignidade de Patriarcha, que ele sem lhe ninguém dar
quis tomar, e de tais poderes postoque tão indiuida-
mente, seria grande descrédito na cl^istandade saberse
que doutra maneira o mandavais castiguar, e porque eu
deseio que todas vossas cousas sejaõ também acertadas
que no efecto delias se veia a tenção, com que as fazeis,
e também porque dalguâs, que tocão á nossa sancta fee
catholica se dê o remédio necessário e conveniente ao
que compre ao verdadeiro conhecimento dela e à salua-
ção das almas, detremino de mandar a vós, e a vosso
reigno pêra o ano que vem, deus querendo, hua pesoa
por Patriarcha, que seja tal e de tal zelo, e bom exemplo
de vida, que nestas cousas todas possa e saiba serair
bem nosso senhor, e de que vós recebais muito conten-
tamento, e com que possais praticar mais larguamente as
cousas de ioaõ bermudez, e tomar acerqua dele a deter-
minação que vos bem parecer, e pêra que qua possa sa-
ber de vós e do estado de v. cousas mais breuemente
deveis de mandar saber por lá dalgu caminho ou nave-
guaçaõ que de v. terras e senhorios possa vir ter á costa
de milinde, ou a qualquer outra parte daquella banda,
donde com mais breuidade possa aver antre nós esta
comunicação, que segundo imformação que tenho pa-
rece que será mui fácil de achar, e eu mando aos por-
tugueses meus vassallos que la ficaram que se não ve-
nbão e vos siruáo em todas as cousas que tocarem a
vosso estado, e folguem de assi o fazer como o fariaO
em mea seruiço; e porque he rezão que quando eles
isto fizerem recebam de vós ajuda pêra suprimento de
suas necessidades, que teram tão grandes, como as
denem ter estando tam apartados de sua natureza vos
roguo que os subtenleis e olheis por eles assi como o
deueis a vassalos meus e que com suas vidas vos tem
também seruido, e ajudado a defender v. reinos de v.
imiguos. n. s. aja sempre v. pesoa e real estado em sua
sancta guarda : escripta em almeirim. Lopo Roiz. a fez a
xin de março A. m.d.xxxx.vi.
(Em o lugar do sobrescripto) Trelado da carta que Sua
Alteza escreue ao preste João.
N.* 27
Dóm Joham : amigo, eu elrey vos emvio muyto saudar.
A my me foy qua apontado que seria muyto meu seruiço
mandar vender ao Idalquão as terras firmes de goa, que
me ele alargou, asy porque avendo as de soster, me cos-
TOMO VI 16
taiiio fmjtof como pòr ser coasa díficil o podereose elaa
bem dâfââder; e também, que nunqoa em alguu tempo
que delas qnisese o peráque elas dizem que me sSo oe-
oesarias, deixarião aqueles^ cujas elas fosem de dar causa
por onde elas com rezam tornasem a ser mynhas; e que
vendeudo-as agora ao dito Idalqu9o^ ou ao loazamaluquo,
OQ a qualquer outro seu vezinbo, tiraria diso hutía grande
scnaa de difibeiro, que cada huu deles me daria por elas.
Estas fezões me pareceram todas de muyto ineo seruiço;
mas porqtie em todas as cousas ba sempre rezões por
htiua parte e pela outra, e nas de tam longe nm se deve
aada determinar, nem me parece bem fazelo, ouue pôr
milhor avisarvos de tudo, e tomar niso primeiro toso
parece, crendo que mo dareys com aquele respeito e
eoi£3idOTaçam em tudo, que em semelhantes cousas se
de?e de ter. e porem porque poderia acontecer parecer^
vos bem, e meu servido irenderem-se estas terras, par e«
eeo-me necesario falartos neste c»o mais declarada e
resolutamente asy como deve de ser em cousa que eu ej
por tamsi^ como esta he.
A Tenda destas terras he nmy importante, e pode ser
de muy grande meu seruiço, e he cousa em que priod-
palmeia convém ter se muy grande segredo : e postoqoe
a conSança, que eu em tós tenho seja a que vós mere*
eeys, e qoè se requere> qa» eu tenba em pesoa que nese
carego e lugar me serve; todavia ainda este negociei be
tam graode, que nam compria a meu seruiço constelo a
outrem : mas porque, como díg^, no de Iam longe po-
deria acontecer ocasiam em que eu podese ser bem ser-
vido, tendo vós comisam minha pêra o fazerdes, o que
nam poderia também ser quando a nam tiveseis, e ou-
uese» desperar por meru recado : como cousa que asy
pode acontecer, e tendo em vos e^ confiança, pareceo-
ma meu sêrviçoi dizervos o quaiifto averia por hefík que
afli á&stfSi ^fo» be de sete cenlos mil ^^uzados pêra ei&n
148
^panto mais podeseys; porque daquy pêra baixo nam
averey por meu serviço Tenderense» Tisto a calidade delas^
e ({liam importantes podem ser a (foem as eomprar: e
ainda em serem vendidas mais a eada bnS dos outros
qae ao Idalqoio^ pode ser qoe se aoreoente no preço, e
qne seja milbor pêra tudo. Mas asy vos deveys vos ayer
nieo que quem as ficar comprando máà que vos dee por
das o que digo, ou mais, fique sempre euidaado que lhe
fizeres na venda muyta amiaade : e porem tauto por tanto
vereys se avérá mais rezSes de fieareiBL «ites cont o Id^A*
qaiOs cujas elas primeiro foram; aindaque também d^
veys de pondmir muyto nisto, (pMi d^ será menos
peijudieial a meu serviço terdes nelas por Tezinho. Neste
negocio isto be o que av^rey por meu serviço que laçaes.
O como nele me aveis de servir tenho eu muyta confiança
que seja como de vós espero. E parecendl^vosba» dardes
disto conta a algufia pewBíf faloeys como de cousa^ què
v6s mesmo a moveys, e trabalhareys por se t^ niso muy
grande segredo até o dito negocio se acabar de concludir ;
p(H*que asy compre muyto a meu serviço. Pêro daleaçdua
carneiro a fez em ahneirim a xnn dias de março de 1547.
«Rey . »
(No fundo) Fera dom João de crasto sobre as terras
firmes de goa.
(Sobrescrípto) Por elrey-^A doÈof JoSo de crasto, do
sra cdnselbo, e im capitaifi mor e gouel*nador da índia;
Dom João de castro : eit a Rainba vos èmuio muyto
saudar. Yy a carta que me éscrepnestes de maçaobkipie
polia naao de garcia de saa, e da boa viajem que noiso
senhor tos deu rreceby gramde comtemllnaeado, é lhe
dou por yso muytas graças e lòuuofès^ 6* espero nelle
que vos ajude a seruilo, e a etrrey meu senhor em tudo,
244
como ey por certo que Ibe pedis e desejaees, e na lem-
bramça, que aly tíuestes, de oulbar pello que compria a
seu seruiço, e defemsâo daquella terra, se vio bem: e
maior a tereis das cousas, que mais pruncipabnente to-
carem a seu seruiço : e nesta matéria de moçanbique vos
responde S. A. o que vereis por sua carta. Nas cousas
dos xpãos e da conuersão da jemte da terra vos espreve '
S. A. muy emcarregadamente, e como em cousa que
tamto toqna a seruiço de noso senbor, e acrecemtamemto
de sua fee : a qual por ser desta caliidade, e de táo gramde
obrigação pêra S. A. em nenbua outra o podeis seruir
mais, nem lhe dar maior comtemtamemto : e eu vos qui-
sera sobre ysso também espreuer, mas pêra voos, ey-o
por escusado, porquQ sey que este seraa o voso primcipal
cuidado.
Do falecimento do Doutor francisco de maris, e do
desemparo, em que fiqua sua molher e filhos, me des-
aprouue muito e tenho por muy certo que no que em
voos for pêra lhe dardes alguum remédio o farees e te-
reis deUa lembramça que deueis e sois obrigado, e eu
vos emcomendo muito que ho façaees asy, porque rece-
berey diso muyto comtemtamento.
A lembramça que leuaes das cousas, que vos enco-
mendey, que desas partes me emuiaseis vos agradeço
muito, e folgarey de tomardes diso aquelle cuidado, que
6u de voos confio, e quamto mais cedo mas poderdes
emuiar, tamto maior prazer receberey, e a esta vosa
carta nam haa necesidade de reposta, e por outra vos
espreuerei mais larguo acerqua destas cousas que me
aueis de mamdar e do mais que niso aveis de fazer. Es-
prita em almeírim em xv dias do mes de março de 1546.
«Rainha.»
(No fundo da pagina) Para dom João de crasto.
(Sobrescripto) Por a Rainha — A dom João de castro,
capitam mor e gouernador da índia.
245
N.»29
Honrado gouernador. Depois de vosa partida receby
duas cartas vosas, a que nam haa que responder, senam
que uos nam pareça que me podem ellas ocupar tempo,
antes podeis crer, que folgo muito com ellas; por yso
nam leixeis de mescreuer tudo o que uos parecer nece-
sareo.
£ porque me pondes em muito grande obrigaçam com
me agardecer o que eu nam tenho feito, mas desejo de
fazer, e o aueis de ter por muy certo, quando de mym
uos comprir, vos deuo de lembrar a obrigaçam, que
tendes, de seruir a noso senhor nesse cargo, e a sua A.,
como se de vós espera, e eu comfio ; e porque a principal
pauirte he o que toca ao exalçamemto da fee e saluaçam
das almas, vo la lembro mais principalmente e pêra se
niso fazer o que compre a seruiço de noso senhor, sua A.
proueo o milbor que se pôde, como uereis poloque vos
escreue, e uos diraa o vigairo miguei u3z: seraa ysto
princypio pêra se hyr fazendo cadauez milbor o que obriga
tamanha disposiçam, e dar noso senhor em noso tempo
poder-se-lhe fazer tamanho seruiço, e uós deueis desti-
mar muito começar-se isto a sentir mais, e fazerse em
voso tempo, poUo que com muito cuidado, diligencia, e
feruor deueis de enderençar o que elrey meu senhor or-
dena, e uos manda: e o que de quá nam pode prouer, ou
em quanto nam poder prouer, de vosa parte deueis de
fazer como se consiga este tamanho effeito, e que sua A.
tanto deseja : e pêra yso o que comprir sempre auisar-
desme vos encomendo que o façaes: e porque o mais
sobristo uos diraa o vigayro, a elle me remeto. Jorge
Coelho secretario a fez em Almeirim, xvi de março de
1546. «O Cardeal Ifiante.»
(Sobrescripto) Ao honrado dom Joam de crasto, gouer-
nador da Índia, por eU*ey meu senhor, e do seu conselho.
t46
N/30
Dom Jobam de castro : eu a Rainha vos enuío muito
saudar. Vy as cartas que me escreuestes, e dou muitas
gr^icas e louuores a uosso senhor, pela mercê, que vos
fez em vos liurar de tamanho periguo, como foy o que
dizeis que vos aconteceo na viagem; e espero nele qoe
será pêra nessas partes lhe fazerdes tantos seruiços,
como sey que desejais. E de saber de vossa chegada a
esas partes, e de como nelas fostes bem recebido, recebi
muito contentamento, e das obras que começais a fazer,
e tendes feitas no seruiço delrey meu senhor, o tem sua
alteza muy grande, e eu asy mesmo pela muito boa von-
tade que vos tenho.
E quanto aas orfaãs que leuastes, por certo tenho, que
sendo cousa de tanto seruiço de deos, e de que sua al-
teza e eu temos o gosto que vós «abeis, as agazalharieis
tambeip, e procuraríeis tanto seus casamentos, como me
escreueis; e aas pessoas que as tem em suas casas es-
creuo, e dou disso os agradecimentos, que dizeis que SQ
lhe deuem, e v<is também lhos day de minha parte, por*
que me praaerá disso.
E o auidado que teuestes de mandar dk>guo vaz ouri-
vez a ceilam pêra se loguo começarepi a fazer as cousas,
a que o maadey, istimo muito, e he muy conforme aa
confiança, que tenho, qup asy folgareis sempre de o fa^er
^ tudo, o que for de meu seruiço. E 4 bras daraujo es-
creuQ, como soube per vossa carta o que me nela escre^-
um da boa vontade, comque trabalhou de aver os deus
mil quinheptos xerafins, que pêra isso mandastes buscar
emprestados, e trabalha de aviar tudo o mais, que he ne-
cesariOi e lho agradeço muito.
E de as pipas do moesteiro de faram, que leuastes a
carreguo, serem de tam maao vinho, me pesou, pelo
desgosto que disso teríeis: mas oomtudo ainda se nelas
w
fez proaeíto, e bem ereyo que seria |)eio cuidado, que to
mastes, de as aproueitar, e muito vo lo agradeço.
E com o beíjoim de boninas, e com todas .as mais
cousas, que me enuiastes, folgey omito, e era tudo muy
boõ, e o istímo como he rezam, e se deue aa muito boa
vontade, comque sey que foy enuiado.
E de achardes a gente desas partes tam contrairá ao
seruiço delrey meu senhor, me pesa mais do que me 88*
panto, porque ihe virá de longe esa desordem; mas es*
pêro em nosso senhcH*, e confio de vós que o ordenareis
e fareis como sua alteza seja inteiramente seruido: o naiQ
vos deue lembrar que podeis por isso ter aiguus immigos,
pois está tam certo que de immi^des tam injustas 89
vos nam pode seguir nenhuu danno, e de fazerdes q que
deueis, e nam consentirdes que ningurai faça o que nam
deue se vos segue ante deos e ante sua atteza muito ma*-
recimento : e podeis estar descansado que quando com*
prísse terei a lembrança, que me pediis, de tudo o que
tocar a vossa honrra e descanço.
E o cuidado que dizeis que tendes, que dos quinhentos
quíntaes de pimenta, de que me eirey meu senhor féz
mercê, pêra mandar a bengala, se faça o mais proueito
que poder ser, istimo muito, e folgey de pêra a feitoria
disso escolherdes manuel da gama, pela muito boa conta
em que o tenho, e do fauor e boas obras, que sey qqe fa<-
ms a elle, e a todos os outros meus cryados tenho muito
contentamento, e vos roguo, que aos que o merecerem
e flaerem o que deuem, folgeis de o fazer 9sy sempre,
porque me averey nisso por muito seruida de vós.
E das nouas que me dais que elrey de tanor voa enuiou
dizer, que se queria feaer xpSao, recebi muito contenta*
mento: prazerá a nosso senhor que o traria a efeito» e m
s^uírã disso muy grande seu seruiço no aerescentameM)
de sua santa fee catbotica, e que s^á causa de o sen santo
]Mme em todas esas partes ser muito naie aleoantada
3148
E sinaes sam eses muy claros que se ha ele por seroido
disso» pelo que lhe dou muitas graças e louuores ; e vós
asy lhas deueís dar por isto ser em vosso tempo, e tra-
balhar quanto em vós for pêra que de vossa parte uam
fique Dada por fazer nesta tam santa obra, como creyo
que tereis feito, e fareis.
E do modo que marty afonso teue conuosquo pêra vos
nam deixar o dinheiro que vos ficou e prometeo de dar
pêra a carrega da pimenta, me desaprouue pelo descon-
tentamento que sey que diso teríeis, e pela falta, que vos
poderia fazer no seruiço delrey meu senhor: mas eu
confio de vós e de vossa prudência e virtude, que a su-
priríeis muy bem, e que nosso senhor vos ajudaria nisso
e o primitiria asy pêra que mais claro se mostre a von-
tade, e o desejo que tendes de seruir a sua alteza, e pêra
muito mais vosso merecimento e louuor. Pêro fernandez
a fez em almeiry a xvm dias de março de 1547. «Baynha.»
(No fundo da pagina) Reposta a dom Joham de castro.
(SobrescriptoJ Por a Rainha. — A domJohan de crasto,
do conselho delrey seu senhor e seu capitammor, e gouer-
nador da índia — 2.* via.
N.» 31
Honrado gouernador. Pellas cartas que escreuestes a
ElRey meu senhor, a a mim, vi o discurso de uossa via-
gem despois da partida de Moçambique ate chegar á ín-
dia, e o que nella fizestes até a partida das naáos, e o
estado em que achastes a terra, e a condição dos homees,
e devassidão dos tratos, e a fraqueza d'armada, e como
vos ouuestes co Idalcao nas cousas de meale, e assi nas
cousas d'urmuz, e com os fidalgos que tinhao licenças
de Marti Afonso pêra leuarem lá drogas, e tudo o mais
que per uossas cartas dizeês: e porque ElRey meu se-
nhor vos responde a todas estas cousas em particular, o
nom farei eu senão em soma ; e porem nom deixarei de
249
■I ■
dizer quanto me assombrou, ca em terra, o perigo que
passastes atraués da ilha do Gomaro, por que verdadei-
ramente foi acontecimento mui grande e temeroso ; e po-
rém eu o tomo por boõa estreea, porque me parece que
vos quis nosso senhor mostrar nisto, que vos ha de sal-
uar dos perigos da terra da índia pêra que he necessário
tanto milagre como vsou com vosco em uos saluar de ta-
manho perigo, pello que lhe eu dou muitas graças e fol-
guei de saber que dom hieronimo de Noronha vos teue
companhia neste perigo, pois nosso senhor também o
saiuou delle ; e he cousa de homem tao honrado, como
elle he, participar dos perigos e trabalhos de seu Capitão.
Quanto as mais cousas, que mescreuees, porque ElBey
meu senhor vos responde a todas em particular, e eu
fui presente ás mesmas respostas, me parece escusado
tornar uol las a referir; porque per suas cartas verees o
contentamento que tem de como nessas partes o come-
çaes a seruir, e a boõa opinião, que a gente tem de vós,
e o que particularmente vos manda que façaes em cada
cousa. O que vos eu disto mais posso dizer he que estou
mui contente do modo que leuaes nas cousas dessa terra,
e do que nella fazees, e dizees; porque bem se mostra
nisto, que o passar tantos climas vos não mudou de quem
erees, e da conta em que uos eu sempre tiue, porque
nom vos contentaes de mostrar isto assi per obras, mas
alem disso vos iis sempre penhorando com palauras e de-
mostrações a fazer o mesmo, o que eu tenho por mui
certo, que vós sempre fareês inteiramente, quanto huma-
namente se pode fazer.
Do modo que escreuestes a sualteza nom estou menos
contente, porque vierão uossas cartas mui bem ordena-
das, e escritas, e nellas todallas cousas necessárias, e
nehuas supérfluas, e bem se vee nellas o mesmo que
acima digo, e que entendees as cousas dessa terra, e que
tendes zelo e desejo de as fazer sem respeito temporal
ftafnoF, 119111 interasse, o que muíte folgo de nos onuir,
pepqoe inda que eu tenho por eerto que o fáreSs assi,
parece bQa grande auoudança de coração, e dauirtude
que neite tendes, folgardes tanto de o dizer. Pello que eu
eapero em nosso senhor que uos ha de cumprir uossos
boBB desejos, e que yos ha de trazer dessa teira com
muito uosso contentamento, e honra, porque nom pode
deixar de soceder isto a quem nhua cousa procura senSo
o seruiQo de deos, e de seu Rey. E aindaque vos isto ha
de custar grandes trabalhos, lembreuQs que nelles está o
merecimento das cousas, e que a Ghristo conueeo pas<
salos para entrar na sua gloria : e se uos parecerem as
cousas difieiles, lembreuos que estas s3o as em que deos
põem a mio, e o que ^guda a quem o serue nelias com a
tenç9o, com que o vós ftnees, e os homeSs nom podem
pooF mais de sua casa, que a vontade e a diligencia; e
por isso sáo Pauto não atríbuia a si mais qae o plantar
das cousas, porque deos ha de dar o incremento : e assi
o dará ella em todas vossas cousas, como as plantardes
eom o zelo, que eu confio, que uós tendes em todas : e por
i860 não uos espanta» as grandes, n^n tenhaes em pouco
as pequenas; fazee igual ponderagio, e os fiís delias re-
mettaeos a nosso senhor; e posto que alguiis vqs nom
sailtB como desejaes, nunca entre em uos desconfiança,
em quanto fezerdes as cousas eom justo zelo e limpa ten-
çlo, porque muitas vezes permite nosso senhor aos que
o mato seruem que âiçao erros pêra que mereçio na pa-
ciência, e m confiança delie, e se espertem mais nas
cousas, e se acrecentem em mayor perfeiçSo. Fazee jus-
tiça como a entenderdes, tomando sempre conselho e
parecer nas cousas como iazeSs. Gonseruaiuos na limpeza
de uossa pessoa, que vsaes acerca dos combates dos
gostos temporaes e interesses dessa terra: e com isfo ve-
ahii o que vier, porque tudo será pêra bom fim.
Mas eousas, que tocão ao culto diutno, na conuersSo
dos íQfiees, vqs esmerai muito, porqu^^ esta» sAo «« Vr
mas, que principalmente báo de defender a Indí» : pro-
curai de lançar dessa terra as despesas sobejas dos bo^
meés, e as branduras e deHeadeeas de que vsSo» e os
vestidos e paramentos de casas que trat3o» desppudoos
pêra estas cousas branda e ^uaueiaente eom o e«Míip}o
que lhe daes, e de uossos âibosi e eom fazer façior e
mercê aos que vsáo do cantrarío : e se estas çousui^ )ogo
nom poderdes emmendar, nom uos espaiilteas disso, poF^
que as que se danio com tempQ> com tempo 90 bio de
tomar a emm^dar, e nom se podem repan^iar ^Impro^
uiso: por isso hi continuando em uosso boo propósito» a
fazendo as cousas segundo a disposição do tempo, e p
sogeito das pessoas em que auees d'obrar9 que eom is|o
espero em nosso senhor que encaminhe todas vossas
cousas a seu seruiço» e a e delBey meu senhor» e a vossa
honra» como desejaes»
Quanto ao que me dizees que procure que vossa estada
seja lá breue, bem vejo que tendes muita ra^o de o dese-
jar assi ; e me parece mui bem ddscjaf delo; ^ porem desta
matéria me parece que se nom pode trator até nom uer m
uossas cartas que este ano embora virão, e por isso deixo
a reposta deste ponto pêra o anno, que emboora virá.
E acerca do que me ^sopeu^es 4e dom ^ímvo "^asso
filho, eu falei a sualteza oaqueUe negecto» e sualteza o
conhece bem e estaa bem iafor mado ám calídades de sua
pessoa, e deseja de lhe fazer honra e mercê; e porém por
alguas razões que uos sualteza manda escreuer, e porque
este ano escreue que nom manda la nhum despacho, ouue
por bem deferir este pêra responder a elie o anno que
vem; e por entre tanto lhe manda fazer a merçe (}u§ ve-
reês per suas prouisoes. Â mim me fica mui bqo cuidado
de lembrar tudo o que a uossos filhos toca, e espero em
nosso sevhor que se faça de maneira, que eUas r^eebão
honra e mercê de sualteza, cobio vossos filbos, a quem
deseja fazer o que lhe vós merecees; e podeSs ter por
certo que sualteza está em mui verdadeiro conhecimento
da vontade com que o seruiis, e mui contente do modo
de que o tendes feito ate qui.
Eu faley a Sualteza em Afonso de rojas, e por uosso
respeito lhe fizera logo a mercê, que lhe eu pedi ; mas
porque, como digo, manda dizer ás pessoas, que andSo
na índia, que este anno nom manda la nbum despacho,
diferio o d'afonso de rojas pêra o anno que vem, e diz
que pêra então lhe fará mercê: eu terey cuidado, se a
deos aproQuer, de uos mandar a prouísao, e folgo eu
muito das booas nouas que me daes d'afonso de Rojas, e
de crer he, que sendo irmáo de mestre olmedo, e estando
em uossa companhia nom pode deixar de ser homem de
bem. O que me mandastes nas naSos que vierao me foi
dado, e com tudo folguey por ser cousa de uossa mão :
agradeçouolo muito: escrita em Almeirim a xvi de março
de 47. «Infante dom Luis.»
(Sobrescripto) Ao honrado Dom Johão de Crasto, do
conselho delRey meu senhor, Capitão moor e gouernador
nas partes da índia. — 1.* via. —
N.» 32
Artigo extrahido da carta, qne Roy Gonsalres de Caminha
eserereo de Goa a D. Jo. de Castro,
em i5 de Dezembro de iS46
Ho vigairo jerall he aqui cheguado, e loguo quer ir
pêra onde estaa Vosa S. : parese-me que hiraa na cara-
uela, em que for o dinheiro.
Artigo extrahido de hnma carta escrita pelo Bispo de Goa
a D. Jo. de Castro, no primeiro de FoTereiro de 1S47
De la muerte de migel vaz yo recebi gran desconsola-
ciou, y perdi mucho descanso, por yo averle dado todo
my poder, que do queria tener cargo destas cosas, seguo
mi condicion, y para el ano yrme. En esta determinadon
estava: agora llevólo nuestro senor : el quomo, el quando,
no lo se; solo dios es sabidor. Falsos testímonios aca se
dízen mucbos: desto le dare cuenta, quando nuestro senor
lo troxere a esta tierra, o me mandare a my ir alia.
Maestre diogoo es muerto : duro cinco dias con grandes
febres ; murio quinze dias despues dei vicaryo general, en
quarta ferya, esta pasada : son mistérios divinos. Estamos
espantados yo en especial de las cosas dei mundo. Jesuxpo
su tan ylustre persona por mucbos anos a su santo ser-
vicio prospere, ác.
Artigo extrahido de haoia carta escrita por Mestre Pêro Fernandes
a D. Jo. de Castro, de Goa a i4 de Ferereiro de iS47
Mestre díoguo faleceo: dizem que como Ibe deram
noua da morte de miguei vaz em casa do adaiam, que
loguo se saio com grandes vrros, e prantos, e se foi deitar
em cama, onde Ibe deu tam grande febre que em quatro
dias Ibe tirou a vida. Cousa natural e muito conforme a
rezam me parece sentirem bos bomens a morte de seus
amigos; mas sentiremna em tanto estremo que porisso
perquam sua vida nam be de descretos, nem de letera-
dos, e muy asinba deria que nam be de bons cristaons,
porque bo bom cristam be obrigado a conformarsse com
a diuina vontade, e nam lançar logo mão de joizos teme-
rários, e vulgares, fundados no ar. Ho padre mestre
dioguo em sua vida foi sempre mui crédulo, bo que
também mostrou na morte, em crer cousas que nam ti-
nbam peis nem cabeça; e com esta errónea dizem que
morreo. Noso senbor se queira lenbrar de sua alma.
Quanto á grosa que pôs á minba ida a Dio, e ao requeri-
mento, que fez ao bispo sobre se irem ambos pêra o
reino, e do requerimento que dous padres fizeram ao ca-
pitafid sobre a morte de migei nz, fique tudo pêra quando
Y. S. Yier, porque afitam yerá^ que se nam pode viuer
nesta terra oom eertos reUgiosoi^. Ho bacharel coibeo tam
grande medo da morte destes dous bomensi que se con-
fesíoUi e oommumgou, e á des dias que tomou a extrema
unçam^ èbiú mmqua lhe th* febre, nem outro acidente pe-
FígosiTi Noso sehhor mé perdoe; parque cuido que ho fez
por alvoraçar mais a terra^ porque também era da qua-
drilha} e eu dtgo ao bispo que nimguem ho pode sarar
sennm S. S. fazendo bum pontifioalé
Senhor. Yy a reposta ... que eservy a v. m. na que
escreve, que a mostrou ao senhor gouernador : cuydey
que nam soubese tam cedo a verdade de my, porque
quem sérvio e pai sem liec^a dum viso rrey, bem po-
derá acompanbar o filho sem iicei^^a do senhor gover-
nadeJ*, por nam perder o nome de altevamtadô nas taes
emprezas^ e nam põdéra ser, que ou tarde ou cedo não
ouv«[^uíBOS hiim perdam; e pois nam pôde ser, asy he
milboff.
Senhor: dyga v. m. ao senhor gouernador^ que t^oaos
por nova estar elrey de cambayat na quymta do miUyque,
e que em baçajf dyz^u que estam nove centos omêis, que
arrtbeu muita gemte: que escreva a dom firamcisco^ que
tFai)a)be por sâyr a três até quatro dagosto, que he a lua
ehea; e que tudOl será, se naln tiver tempo, tomar arri-
bar : qtíe se me derem licemça, daqui o cometerey. Y. m.
venfaffy o mais sedo que ped^, ter nesta terra, porque
daqui llevará duzemtos orneis. Escreva ho senhor gouer-
imÃor ao capytam, que nam dê líceiUQ» a nynhu navyo
pêra nenhua parte, só para dio^ pèr nenhua vya. Mande
trazer hum falcam pêra my por lastro, que nesta fortaleza
rnsa nos b»; i&tà^ quatro camarasiy se poder ser. Por
amor de d0O$> Que cometa o canúafao oedo^ qii6 miBlas
coiheytas tem peilo caminho i e tamos soceorrer a dom
feíriutmdo com ajuda do smíbor does^ Bejio as micfà de
Yé m. até soa yymda^ O cercjoo, per que esparavamosi
ieo& seja Uouvado^ que o desv jou^ que ette TyHha ; tenbb
a bom synídl, e espero ^e tudo á de vyif a bclm. De
GbâuQ a nii de jmho ds ^6. Nara ãqm em baçaym
smam diuemtos orneis. ^Servidor de Y. m. «Aã; fer-»
nandes^f
(SobrescriíÊio) Ao senhor dom ^tiaro de oraslD, med
senhor.
N/34
R«giment(^ ptn dom «Uliáf o de òá^tfo é^lttâtf ^ktt iú Att
Isto be o que vós dom alluaro de castro ateys de fazer
nesta viaje omde vos ora mamão por capitão mor do ntar^
a deseerqmyr a fortaleza de díO| e faaer a gnmra a eamba^a^
It. tamto que sayrdes pola barri fora, com todo cQy«
dado e delygemcia trabalhares por cbegoardes a chandi
sem fazerdes nènboãa detemça no camynho^ smáo aqoeta
qoe jQStattiemte se miô puder escoear ; por «sy omprir a
semyço delrey noso senhor.
It. se tomardes Agau porto daqny ate cfeNKd^ vos
mamdo que não sayaes em terra^ asy por se eiscitsareHi
bi^goas e deferemças com a gemte áa terrs^ e não^ vos
fogirem os marynheyros, como per outros reepeytos epe
pêra iso ha.
It. tamto que eiabora chegardes a ohaâU vos popte a
paguar toda a gemte que vay Gonrrosquo em vosa st^
mada, com a mor breuydade qoe for fmjwA: e em tím
guamdOy antes que a g^nto saya dos mvíos-, iRamdarès
fa^er abrrdo da gemte que for em cada navio, páoi e»^
criuão e feytor da feytorya, qne Êurão rol, e per ele será
a gemte pagua de buu quoffrtel^ o quoal pagametíit&lin4
o feytor e escryuão peramte róày e no caba dele asys»
reys e decrarareys per asemto a quoamtas pescas se fez
o dito paguamemto, e quoamto se momtoa nelle.
It. tamto que tíuerdes a gemte pagua, vos partires
logao, rota abatida, camynho de dio, sem fazer nenhaua
demora no camynho, salão aquela que vos o tempo cau-
sar; e leuarôs todoUos navios de vosa companhya jumtos,
e muy bem apercebydos, fazemdo comta que aves dachar
as fustas de cambaya, e de noyte leuarés voso forol aceso,
pêra que vos não posa perder nenhuu: e chegamdo á
barra de dio emtrarés com vosa armada demtro ; e loguo
desembarcares com toda a gemte dela, e vos meteres
demtro da fortaleza, omde por se escusarem bamdos, e
deferemças e outras muytas payxões, que emtre a gemte
da guerra soe aver ; quoamdo as jurdiçoes e allçadas, em
huu soo luguar, estão repartidas por mais de huií soo ca-
pitão; ey por seruyço delrey noso senhor, e vos mamdo,
que em quoamto estiuerdes demtro na fortaleza de dio,
e o cerquo durar, não huseis dos poderes e allçada que
por mynhas prouisoes leuaes de capitão mor do mar;
mas estares vos, e toda a vosa gemte há obediemcya e
mamdados de dom Joham mascarenhas capitão da dita
fortaleza, ao quoal vos mamdo e emcomemdo muyto,
que obedeçaes e acompanhes, e estes á sua ordenamça,
pêra dardes exemplo que asy o facão todos.
It. semdo caso que ao tempo que cheguardes a dio
seja o cerquo aleuamtado, ou se alleuamtar depoys de
vosa cheguada, e náo ouver nenhuua necesydade de vosa
estada, iruos és amdar á pomta de dio a esperar as nãos
de cambaya, que vem do estreyto, ou em quoalquer outra
parte omde vos parecer que será mais certo achalas; e to-
mares todas, asy as que vos amostrarem cartazes, como
as que os não trouxerem; por quoamto per direyto se lhe
não devem de guoardar, por elles serem os quebramta-
dores das pazes, e nos moverem guerra, e terem tomados
nosos navios e purtugueses.
S57
It. pêra qae a gemte que comvosquo vay, asy capitães,
como Uascarys, e toda outra gente, com mylhor vomtade
e aDymo foUguem de pelejar, e se fazer como deve esta
gd^rra a cambaya, lhes comcedo em Dome delrey noso
senhor escalla framqua por mar e por terra, de todo que
tomarem na sua emseada e costa, soomemte nas nãos
que vyerem de fora da costa da Imdia se não emtemderá
a dita escalla framqua ; porque nas laes vos mamdo, que
mamdeys pôr muyta guoarda e requado, pwa se delias
fazer repartição comforme ao regymemto delrey noso se-
nhor ; e nellas pores pesoas por quoadryibeyros, que mais
autas e fyeys vos padecerem, e as mamdareys a esta cy-
dade deguoa, omde se emtreguarão ao veador da fazemda.
It. sem embarguo do que vos diguo nos dous capi-
tólios acyma ; porque os casos sâo mais que as leys, e eu
de quá náo poso prouer nas cousas que lá podem soce-
der, vos mamdo que tomeys comselho com dom Joáo
mascarenhas, e com dom framcysquo de meneses, e se
a todos três vos parecer que deveys fazer outra cousa e
irdes a outra parte, farês tudo aquyllo, que per todos
três for asemtado.
It. porque eu tenho mamdado dom framcysquo de me-
neses a dio por capitão mor de hâa armada, que se avia
de fazer em baçaym, e pode ser que vos emcomtrés com
ele; sem embarguo de vós irdes por capitão mor do mar,
ey por bem que ele e vós vades com vosas bamdeyras, e
cada huu ordene e mamde a sua armada. Feyto em guoa
a 24 de Julho de 1546. António cardoso secretario o fiz
escreuer. «Dom Joham de castro.»
N.-35
Ilustrysymo e excelemte capitão geral e gouemador da
ymdia pelo muito Allto e muito poderoso e multo ece-
lemle primcipe Ellrey noso senhor.
TOMO VI i7
PiâgMQ Ro^riguaz dazeaedo chegou a esta cidacle se-
gunda (eir? seis dias do mes de dezembro, e o dia se-
gnyo^e dan em camará l)uua carta de sua liustrysima'
s£^oria, que foy lyda com muito prazer e gramd^ com-
(emtamieDto, por sabermos de sua saúde. A quoal boa
aova sempre queryamos saber, e muito melhores lhe de-
sçamos. E por ela a cidade e todo este pouo em jeral e
^m espícíal damos muitas graças a nosso senhor, e temos
«sta esperamça em nossa seiAora Virgem maria madre
de deos nossa avogada, que temdo os pouos da ymdia
y. S. ylustrysyma por seu duque e gooeroador, que em
OQsas afiromtas e trabalhos numoa careceremos de ajodas
diuinaes por o merecimento de seu catoliquo e modnsto
vlaer, lem auto e obras de muitas e louvadas vertudes:
jè com esta esperamça vy vemos em nouo r^ooso por o
qm a pTiesemte « gloryosa vitorya que per seu prudemte
Qomsi^o e gramále esforço e eavalarya vemceo e des-
cercou a fortalleza à» dio, e desbaratar e destroir o poder
àekey de cambaya com mais o«itros vimte mil homais
mraros, turcos, rumes, coraçones, e crystaSs arreae-
gados da fee de noso senhor, alemães, venezianos, Je-
nuezes, framceses, e asy doutras muitas e diuersas na-
ções, dos quoaes gram parte delles foram móortos a fenro
de lamça e espada, de que a cidade tem certeza de pèsoas
de bem, que de visla foram presemtes os quoaes bõs so-
cesos nos mostram craros synaes que ao diamte, pra-
zemdo a nosso senhor, e o seu emparo, nam temeremos
.ouiros trabalhos, que de futuro se apresemtam do pró-
prio rey de cambaya com outro novo poder e outros reys
e senhores, nosos comarcãos, e os de toda a ymdia que
são de certo ímigos nosos, de muitas ymisades, aliem de
serem ynfieis e ymigos de nosa samta fee catoliqua, dos
quoaes buus e outros nam temos segura nem firme paaz,
amtes temos synaes de fallsas e emganosas amizades.
E porque estes trabalhos em que Y. S. estaa que muito
cu^iftitim e eada dia se muito mm ^amtem foram d^
mvito$ dias de gramdes ymduslryas a áeHig/d&^m ao
pr^K)$yto piamsada^ per noe^ ymigQ$* p/^a o in^mo
cmiuo da fortaleza ^ dio« pêra outF<c^ mnlmo^ dAHa '
t^ra aosos imigo^ ^ lauamlar^m a oa» kímm «arras,
que a (aaperyMirâi 4i) tmpQ im mosira q avarmos aay
por certo, e no» lavisar pêra com a ajuda de Dao$ no^ pro-
i/iermos: e porqmafiato elrrey noso senbjiH* am o ireya^
sim he destas oovidades emíormado da maoeífa iQpie ela^
SM, e o mutto que ymfioirtam a aeu n»a} e^tadOí ^ aq txip
eofluua de aras poooa da ymdia; a íoidade &om todD 49^
Ilido aeatameoto, que d9admQ$, m Viereadories, e Qfipiaea,
em oome do poao, Ifaf pedimos por m«f C4» qm o «aeraua
a S. A* £ estea nouos aooesos, qm oaw sam l)os, mas
iflites muy perjudieiaes, com o maia q«te se nos repri^*-
aemta, e as mudamcas um estes rejrs ^ senhorea nosos
ymigõs tem mostrado e o temos visto per ^bra este ífom
ena que estamos, e iv^oaa ylustrysyma seiUioriia com com-
sefiu) e gramdes ymdustrías òmUò de gerra e grande
pradjdmcia e com adjotoryo e gra$a à^ Deos o mhm, e *
remediou, pella quoal causa lhe faaz a cidade estas lem-
bramças» por que sab^^os que ele com saa claro juízo
tem compremydido em este caso tuudo o que pode so-
ceder de bem e de milhor; por tamto, sepbor, per espe-
cial lembramça Ibo escreuemos, e asy lho muito pidimos
por mercê.
E por quoamto S. A* uão escreveo este anuo há cidade,
e aos mesteres asoreveo per lembramças e apomtamentos,
em que temos bem que dizer, e asy muito menos leigbra
a S. A., que os primcipaes moradores desta cidade o y2o
seruir em os gramdes peryguos e morrem em aet; ser-
uiço, e os filhos fiquam pobres em desamparo, e o anuo
Iraspasado foram com seu gouernad(H* martim afousp de
souza ao pagode perto de £em cavaleiros, com cavaUos
e anfias adereçados com gramdes e riquos arreos, a ou-
260
tros atauyos, e vestidos e armas ríquas tuudo em gramde
perfeição e com muito gasto de suas fazendas, e asy foram
Da dita armada muitos homens darmas moradores da ci-
* dade, e este cerquo de dio tem feito nesta cidade pasamte
de cimquoenta viuvas, cavaleiros e escudeiros honu^ra-
dos, e asy allguus fidallguos de merecimento conhecidos;
e nam escrever S. A. a esta cidade o muito symtimos,
e com trysteza e paixão o comportamos, e temos que
S. R. A. tem da cidade comtrayra e não boa emformaçao
da verdade, o que de rezão nam deuya de ser pelo muito
que lhe merecem nosos seruyços e pelo amor e vomtade
comque o seruymos honde cumpre, e o ymos seruir, e
por seu seruíço morrer com as vidas, e com as fazemdas
gastados, sem prémios e deuidos gallardoês, e per cima
disto asy ser como he notoryo, e V. Y. S. he diso boa
testemunha, S. A. nam faz comta desta cidade, e dos bõs
e leaes vasailos que em ela tem, e por este agrauo e des-
fauor, em que estamos, por S. A. nam escrever há cidade
como de rezão deuia ser, e faz comta dos mesteres, sobre
* este caso ty vemos por acordo nam escrever a S. A. se o
caso o não obrigara e as necesydades muitas do tempo
nos costrangem a fazelo. £ o fazemos aT. S. e pidimos
de muita mercê que este pomto que tamto ymporta há
homra desta cidade e dos homrrados fidallguos e caua-
leiros, que nela viuem avemdo respeito ao muito amor
que lhe tem e gramde desejo de o seruir, que tome deste
caso per nossa parte aquelle semtimento que se pode to-
mar e o escreva a elrrey nosso senhor pêra que se cor-
rega a esta cidade este gramde agrauo em que estamos,
temdo nosos seruiços e boas lealldades merecimentos de
gramdes mercês e gallardoês, o que asy pidimos a Y. S.
que em esta parte nos ajude por especial mercê.
E quoamto ao empréstimo que em nome delrrey noso
senhor nos manda pedir: Bespomde a cidade, que os
moradores fazemos de prezemte, e sempre que cumprir
26i
seruírmos S. Â. com as fazemdas e vidas e com as allmas,
e a ysto asy ser de bem e mílhor o nom estrovaraa causas
nem rezoes de agrauos que tenhamos, e posamos ter,
como vasallos afastados da presemça de seu rey e senhor
quatro mil e tantas legoas: e posposto os agrauos a de
parte, vsaremos e faremos o que sempre fizemos como
súditos obrigados a toda seruydam, pêra que V. S. sayba
e seja certo, que esta cidade e os moradores homrrados
delia, em seruir e morrer por seu rey e senhor natural,
am de fazer avamtajes a todas outras nações de xpSos, e
desta fedelidade e lealldade daram testemunhos os muitos
mortos a ferro e foguo neste cerquo de dlo e em outros
feitos notaueis destas partes, homde os moradores fidal-
gos e cavaleiros desta cidade foram e vão com liberaes
vomtades há custa de suas fazemdas, e la morreram e
morrem, tuudo por seruyr elrrey noso senhor, em o
quoal estaa todo noso bem e o principal preposyto de
noso fumdamento.
E porque a temção da cidade e de todos he seruir
V. Y. S., avemdo respeito que o empréstimo cumpre
muito ao serviço delrrey noso senhor, cuja a cidade he,
e todos somos, com muita deligemcia e cuydado daquele
dia que Dioguo rodrigues dazeuedo deo o recado atee o
fazer desta, que sam vimtasete de dezembro se ajumta-
ram vimte mil cemto coremta e seis pardaos e huua
tamga, de cimquo tamgas o pardao : os quoaes emprestou
esta cidade, scilicet, cidadãos e o pouo, e asy os brame-
nes, mercadores, gamcares, e ouryyez, scilicet, empres-
taram os gemtios todos noue mil e dozentos e tamtos
pardaos, e todo o mais emprestou a cidade que faz tuudo
a dita comtia dos ditos vimte mil cemto coremta e seis
pardaos e huua tamga, do quoall dinheiro fica na camará
feito liuro e registo das pesoas que o emprestaram pêra
se lhes tornar quando V. S. ordenar e mandar os quoaes
emprestaram o dito dinheiro huus e outros foram cha*
mados sem costrangymento ailgaQ e de suas liberae»
vomtade» eada huum deu o que quiz e teue por bem
alguirs outíe que deram duas Vezes por seruir elrrey doso
SMhor e y. S., por homrra da cidade o que he múM
per* estimdar dar^ o dito empréstimo de graciosa vom^
tdde sem apifiBsarm nem fadiga.
Escrevefho^ em certo ú tosa senhoria que esta cidade
e ú^ fiomrf^dos tóòradores polo serúrr temos obrigaçam
dé pôr a viátí e as feiíemdas com milfcar tomtade do que
o íaíreitoos por nosas propUars bomrras e ymtereses; e por
tamio senhor Ihé pídimos por mercê e lhe fazemos espi-
cial lembramça, que a esta cidade e a todos tenha em
sua emcomemda, pêra nos fazer mercê em nome deirrey
noso senhor nos goardar os preuylegios que de S. A. te-
mos, e os vsoô e custumes, em que estamos, de sempre
que foy ganhada pellos moradores ateegora, e esto se«
nhor avemdo respeito que os moradores ganharam a ei^
dade com muitas mortes e samgue derramatlo e que perâ
o dtemte eomo bõs e leaes vasallos avemos de morrer por
noso rey senhor.
£ quoamto senhor aos penhores que dos manda, a
ddade e moradores nos temos por agravados de Y. S.
ter ttfm pouca comflatilça em noos e em nosas lealldades
que pêra cousa, que tamto comprya ao seruiço deirrey
nodo senhor a seu estado real nam hera âecesaryo ta6
homrrydoâ e ylustres penhores, porque nosa lealdade
nos obrigtta ao seruiço deirrey c a presemte necesydade,
e depois díso as obrigações em que somos, e a gramde
afey^ e muito amor que Y. S. tem a esta cidade e mo^
râdisrés, e por ^ e tuudo o mais, que neste caso lhe
semtimoS) lhe beijámos as m3os, e rogamos a noso se-
nbor que lhe dé perfeyta saúde e o prospere de moRa
homrra e gramdes vitorias contra os ymigos de no^a
santa flee. E todavia, senhor, Dioguo rodrígues dazeuecto
lhe toma a leuar os seus penhores, e asy lhe leuam ele e
bertolameo bispo precurador da cidade o dito dirrheiYo,
que lhe a cidade e pouo dela emprestaram de soa boa e
liure vomtade, e asy lhe leuam mais a provisam (ptt qná
mandou o tezoureiro pagar o dito dinheiro, e Itiô pedem
por mercê que tuudo aceyte como de leaes vasaffôs que
somos a elrrey noso senhor e a V. S. muítô otrréSdoá: é
asy lhe pidimos que o pagamemto deste dinheiro' mattdis
fazer juntamente há cidade, pêra a cidade o tornar é ífeg'ãr
aas propias pesoas que o emprestaram, sem' se fazereiW
outras mais provisões nem porem verbas, em qiie á^
partes recebiam gramdes fadigas, e gastos, é apresSes,
em tal maneira que o empréstimo que a cidade tM sfty
visorrey, allguQs ficaram por pagar: por tatóto, Séhhor,
V. S.^, goardando ordem e estillo de fazemda, mandara*
receitar o dito dinheiro, que a cidade emípresta, ftiudtt'
jumto em soma sobre o ofecial que lhe bem parecer, que
pêra yso ordenar; e ha cidade pasaraa somemte hua pro-
visam, em que ha por bem de mandar pagar o dito di*
nheiro há cidade, asy como lho emprestai jumtameifte,
em o tezouro, e no teínpo que a V. S. bem pár^ééér, éte
maneira que o pouo seja pago do seu. E a Díoguo fôdri^
guês dazeuedo pôr nos trazer tam bO recado dá saudé'
de V. S. lhe pedimos por mercê que o aja por emícomen-
dado pêra lhe fazer bem e mercê como ele per setis seí^
uiços merece.
E quoamto. Senhor, a berlolameu bispo precàrapíloír
que hora he da cidade, e ora laa vay com este empresa
timo, he hometíi de vymte é oyto annos dieí i^lrúfço íiíA
estas paftes, que continuadamente com mãítos trabaÚMM
e despeza de sua fazenda ámdotf lías armactes delrrey
noso senhor por capífeo dé' fustas e gaíèotáá, é atídd
sempre por muy bom cavaleiro e por taal he conhecido:
lem^ ele requerymemto com V. S. ácerqaa da tanadarya
de bardes, que já lhe pidio em a vagamte de Vasqoo fer-
nàndes que deos perdoe: pede a cidade a V. 9: que o
264
dito carreguo faça delle mercê a berlolameu bispo, por-
que he ele homem que ho bem merece por seus seruiços
e a cidade lho teraa em asynada mercê.
Faz a cidade lembramça a Y. S. que os gemtios mora-
dores mercadores e gamcares fezeram parte deste em-
prestimo, como lhe ja dizemos: e uam a veremos por
muito aver ahy homens vertuosos, que faram crer a S. A.,
que nam seruem de nada» e que he bem que os lancem
fora desta terra: avemos por escusado muitas pallavras
ãcerqua deste negocio porque Y. S. o semte muy bem.
Escripta em camará a 27 de dezembro de 547 (56), e eu
Luís tremessão escryvao da camará o maudey escrever e
sobescrevy por lycemça que pêra elo tenho. ^= Pêro gou-
dinho=Joam rodrigues paaez=Ruy gonsalves de ca-
minha T=Ruy Dias == Jorge Rybeiro=Bertolameu bispo.
N.'36
Senhor: a quem deos tem feito tamanhas mercês, e
tão estremadas vitorias, quaes numqua lemos, aimda que
lemos dos rromaos e de outros muitos; e a quem elle tem
dado tamanhas homras, tenho eu pêra my, que lhas tem
elle majores, em ha gloria gardadas, pêra as dar a V. S.
que pois asy pasa, ha vosa alma parece que he aprazível
a noso senhor Jhu Xpo : soli deo honor et gloria; nam vos
poso contar, senhor, as festas, he prazeres, he presyçoês,
e jugar canas, he correr de touros, que qua se fazem por
vosa vytoria: sam os homes muito consolados e com-
tentes que casy as pedras das casas se querem alevamtar
e fazer festa; nem tampouco vos poso, senhor, contar as
comtinuas he muitas presiçoes, que se faziam em esta ci-
(56) Por esta data se vé, que também em Goa se começava a
contar o anno depois de passado o dia 25 de Dezembro; porque
aliás deveria dizer-se 1546, visto que foi em Novembro deste anoo
que D. João de Castro desbaratou o exercito de el-Rei de Cambaya.
dade amtes da vitoria, asy de dia, como de noyte, nam
somente em as igrejas, he relegíão, be da misericórdia,
mas dos menynos das escollas, de noyte, com camdeias
nas mãos, deceprinamdo se nas costas com toda sua im-
nocemcia, que em verdade falamdo com Y. S., estas pa-
lauras, mal notadas, nam se podem dizer sem lagrymas :
aguora acabei de crer o 6i» do amor, he afeiçam que toda
esta cidade vos tem: fauoreça porque lhe deueis: he
muito mais vos deue ella a vós.
Ho homem que la mamdey me deu bua carta de vosa
senhoria: ha comsolaçam be homrra, que eu receby com
ella, deus voUa pague; minhas forças nam sáo pêra ser-
uir: e asemta meu coraçam em ho que nella me dizeis,
be em tudo ho que me mamdar seguirey seu comselho
porqUe me parece que seguirey ho de deus porque vejo
as obras suas em as de Y. S. nam me parece, senhor,
quamdo vejo bua regra vosa, senam que espirites se me
alevantao pêra cyma: qua me contou este homem quamta
mercê lhe Y. S. fez, e entre outras fazello Y. S. cavaleiro
demtro em sua fusta: de lá me escreverão que pellejou
bem, pesoa de credito: as cousas, que falia quá, estamos
com as boquas abertas, em especial da serenidade de Y. S.
em ordenar voso enxercito, e as manhas discretas com
que vos ouvestes com esa samta vitoria. Jhu xpo lhe dd
muita vida a seu seruiço pois que ha perpetua memoria,
he immortal, qua ha de ficar delle, e despois lhe dê a sua
gloria amem. de guoa aos xvni dias de novembro de 546
anos. «Orador de Y. S. o bispo de goa.»
(Sobrescripto) Ao senhor gouernador da Imdia &c. do
bispo.
N.°37
Senhor. O nome de noso senhor Jhuu xpo seja pêra
sempre louvado, qde tamanha mercê nos fez a todos per
vosa senhoria, na gloriosa vitoria, que lhe deu contra
táHlòs Miflèis^ è taib ptodrosoií, cofno estavia, per âms
fflSiy e^edeifitds virtudes, esforço e prodencia. De lâ es-
(*W*WB, e s»y e comtaõ os que de lá vetó, que se íi5a
pMe ésdrever^ nem coiotar, nem delmxar a maneira de
coAoF éstaváíô fortes perá ofeiúfderem a tõsat senhoria, e
af fOdôf ^t< èier cite, e {^rá ie dtfemderéín dele. OS (|tíe
dpá ficarão, asy frades, como % senhor bispo, com smf
Âikésf^i 6 apostólicos de sao paulo, ò nraSos dâ miseri-
córdia, e todo o povo em gerall, depois de V. S. partido,
Vemdty que èom sua^ jitesoas e armas ho nám podiam
^fúir, ^ tfdoUkpãlnhaf em tam samta romaria, comtinua-
me«ntè Ho emcomenídatâo ao senhor deos, fazemdo sem-
pí'èf ttrayiás preciç6es, e se* hòs homes ese cuydado tive-
iflo', íjéittamefitè (^e sfs ihÒlHeres naò sè esquecerão em
áiíáfsf titmy e d* manefra, que emtendiSo que poderia
aíítttíer ao seiòhor deòs, |)efa ás (rauir.
Eáfe íf^dàdlef foj^ |yosta ém táfnánhoállvoroçô de prazer,
(}mndo ò^ ^os começarão ha pobricar as alegres novas
á oras, (}ué acabavam dè correr o syno, como as taes
rioVas ífieíeèíão, lotívamdo pot iso mtíyto a noso senhor,
Cf rògatódo lhe pola ^a de V. S. Hos frades sayrâo loguo
dé sètí inoesteiro com a cruz, em precição, camtamdo te
(kftím UxtídemoSj acompanhados de muyta gemte que aco-
éo aW répidar dos synos:. forão â casa da misericórdia,
á&títâa tórii^ão na lúesnía ordenamça, começamdo lau-
âáXe d&hiine onts getnte$; e se tornarão ao moesteiro.
Éát átaanhecètido, sayo' da éée o senhor bispo com ho
cabydo de toda a cleresya, em ordenada preciçam com
ho povo desta cidade: forSo a nosa senhora da serra,
bemdizemdo, e louvamdo o senhor por tamanha vytoria,
dina de muita memoria: e daby se tornarão na mesma
hordenamça há see. E recolhendo-se o senhor bispo pêra
ÉtíS Casa, folhão a elle o procurador da cidade, e escripvão
daí cátóãra dízer-lhe, que hos vereadores detreminavam
ftíei' o dya segtiimte precisam solene,^ coitoo dia de cotpoá
íijlítfj e mamdar qae se tíSo trabaflbâsO atee diá ái feUMh
avemturada samta catarina, fazemdo sempre muytts fes*
tas, que pediam a s. senhoria, que ho ouuese por bem^
e elle o comeedeo, louvando ínuyto sua tdmçio: e ásy se
fez o dia seguymte a proMsSo solcine com ha bandeira 6ã
cidade e a>s dos oflSdos dèla,- cofâ folias, pélas, danííças
despadas, e outras emteftiições: e até os diabos^ e^á^
bretes tjver^o sua parte áe ptazer. Tudo se pasá êtíí es^
caramuças e carreyras na rua direita, as qâaes o senhor
capitão gramgéa graíndêlãiente com IntrKo cottltefiMa-
memto, o qual pêra isa tynha jaa a ma direita tod« ca-
vada, e bem areada. Poie os canarys e gemte êá térra^
eu certifico a V. S. que nSo amostrSo menos pras^ êotík
a gloriosa vytoria, fazemdo muytas festas, e escaramu-
ças, a sua gysa: e comtndo de quam alegres élleis e néis
andamos, tam tristes e .quebrados dos corações amdSo
os mouros : prazerá a noso seíibor, que com AMyld vyda,
e saúde, e obras de V. S. os teráo eles de todo muy cedo
quebrados, com muito acrecemtamemto da nosif sarata
fee católica.
E comtudo, senhor, por cima de todos estcfs ptúi6&re&,
muytos dos que qua fycar3o sáo muy descomtentes, pet
se não acharem com Y. S. em tamanho feyto, e* de flO'
dina memoria, e por melhor ouverão ^cnbnf nélfis eoift
tamta homrra e louvor de boso senhor que vy verem todos
hos dias de suas vydas com este descomtemtamemto.
Eu crêo, senhor, que V. &. trsailadb de suas rttuy e^f ce-
lemtes virtudes, escrepverà a élrey noso senhof (tos Éao-
radores desta cidade, que com elle for%), e coVn bo* se-
nhor dom aHuaro e dom fernamdõ^, que s^mta gtoria* ajaV
tam bemavemturado no bom morrer, fof9o af este soe^
corro de dio : e nao sey quanta rezam teria dto Bo Iteér
dos que qua ficarão ; mas Y. S. bem sabe, quê deseje^ etí
de hir com elle, e pêra iso lhe pedy por mercê qtíé BUe
dese licemça, por ter mamdado apregoHi* qoe> nenbStf
L-
268
morador desta cidade fose sem ella: e V. S. o nam ouue
por bem, mamdando-me ficar pelas causas, e respeitos
que elle sabe. Beyjarey as mSaos a V. S. escrepvelo asy
a S. A., quando escrepver dós que ao dito socorro forão.
Esta mercê lhe peço alem das muitas que me tem feytas
e deseja de me fazer, porque me aproveytará muito pêra
lâedramça de meus filhos, primcipallmente pêra a do
que ho ano pasado mamdey, que espero em doso senhor
que pela carta de V. S. será jaa de S. Â.
Bastião Ippez lobato meu cunhado me mamdou esa
carta que ha dèse a V. S., e asy dous caixões gramdes
de marmelos, hum pêra Y. S., e outro pêra o senhor
dom alluaro, com que eu não fuy pouco ledo, cuydando
de lhos mamdar a tempo que V. S. foUgaria muito com
elles : abry os caixões, e todos vynhão podres, de tall ma-
neira que huu soo se náo achou que bo não fose, como
dirá Jerónimo pardo a V. S. quê hos vyo. Noso senhor
dee muita vida e saúde a Y. S. pêra acrecemtamemto de
sua samta fee, e do estado dellrey *noso senhor nestas
partes, e da homrra dos portugeses, que certo, depois
do senhor deos, a Y. S. sáo atríbuydas tamanhas maravi-
lhas, como temos vistas, e cada vez mais per elle espe-
ramos de ver. De goa a xix de novembro de 1546. « Am-
tonio femandez. »
Muito ilustre e inuictissimo senhor.
Deus noso senhor clementíssimo e piadoso, que se-
gumdo ho apostolo nos emsina, primeiro e principal-
mente quer todolos homes serem saluos, e este cuidado
tem e teue sempre das cousas humanas, e asy olha e
sostenta ha vida de todos os mortaes, que de certo pa-
rese por causa delles formar ho mundo, e ho reger com
marauilhosa prouidencia, mostramdo lhe sempre muitos
indícios e sinaes de misericórdia, non permitindo que de
todo peresese, posto tantas vezes neste estremo, e ponto
pello merecimento de suas culpas, e deuemdo ser asy
per justiça, per sua infinita demência lhe acodio sempre
com saudauês remédios, prímcipalmente baquelles que
de seu nome e fee guardaram alguu conhecimento, como
no poQO de isrrael contam alguuas antiguas e sagradas
estoreas, ho qual liurou da dura seruidam, e duro cati-
ueíro de faraó, com morte de todos os primogénitos do
egipto, e outras muytas praguas, que padeceo, e outros
milagres que ho d. pouo ouue, as quaes em breues pa-
lauras se non podem relatar: e asy da mesma maneira
este nouo isrrael, pouo xpão, amado e escolhido de deus,
pasado a estas partes das índias non menos miraculosa-
mente pêra ser acrecentado com as estrellas do ceo, e
soar em toda ha terra ha euamgelica verdade, e nos fins
delia as palauras daquelles, que o redemtor do mundo
Jhuu Xpo comfesam e préguam, posto ora em gramde
cuidado e tromento, ameaçado doutro faraó non menos
pérfido e cruel, s. ho ^am soltam mamude Rej de Cam-
baya, ho qual com suas barbaras gemtes com gramde
ódio e inpito se comoueo é levantou com gramde exer-
cito contra xpo, e sua cruz, tam cheo da sede do sangue
cristam, que parecia non se contentar ha menos de total-
mente extimguir e apaguar esas relíquias que ha delle
nestas partes, ho qual ho senhor deus olhamdo do alto,
que non quer ha morte dos pecadores, senam que viuam
e se comuertam, cuja mão non estaa abreuiada, e menos
pêra nos saluar, e que non guarda e escomde totahnente
na ira sua misericórdia, proueo com ho remédio tam ne-
cessário, como foy ha vinda de Y. S. ha estas partes pêra
que non somente trinta mil homês, turquos, rumes, abi-
xis, fartaquis, parcios, arábios, e outros de díuersas na-
ções do mundo fosem desbaratados per Y. S. da maneira
que ho foram, com tanta honrra sua, abatimento do dito
soltam mamude, mas nós, reformados nos custumes e
870
vU9, qQ6 a cristais commoi, e ha K^ipian wiign de
boDS portugue&es, e estas gmteg jtoda^ trazidas ao co-
iriíeemeDto da verdadeira foe de xpo, « aa jugo ^ domi-
109 daliw aosQ âeofaor^ Aa upapeira fu<» do onepte tare
tio pomaatà aeja isto asy coabecido, poUo que deue V. S.
dar iafiaitas ^^affaa ao aaobco*. país bo fe^ defensor do
SM pnacioso oome, e noos todos (^special^leDte os que
fiftôta torra jaa ^mos Gbaiaados delia) pois nos mostrou
terp feira deaas^is de dezsmbro de^a era de 1546 tal
^gria tmm mmo$; oo quaH dia bos coraco^. de todos
rafiabenam praiser sem comparasam» e os jffopríos ede*-
fitíos desta cidade de goa, se ^emtídos tiuerami deram
sifiaas de gramda comteiaataiaiento por aelie ser dado ha
#sta terra, com tam notauei vitoria, boorra, gloria, e pa-
4Qifica paz: di^mido co{0 bo Salmista: exalcarteemos e
glonficarte^oaos sempre spnbor porque uon ccHusentíste
deláutarem^se os imiguos sobr^ noos: comuerteste noso
csiidado em gramde prazer e alegria; destenos capitam
geral cuias ealidades uoos uom cantaremos, por nom
seiwos juizes em cousa pri^a : diguamnas os mesmos
imiguos, que nunca diante V. S. se gloriaram do samgue
íiri^tam, os quaes pod^n dizer com ha Rainha Sabaa, que
wayto maior he seu saber a obras, que o rumor e fama,
ique em toda ha parte haa, E por que de V. S. mmca se
apremdeo sonam poucas palauras e muyto obrar, como
diõs boSs lacedemones, raza^n seria averme por muy cul-
pado em pwder ha memoria de tajp simgular exemplo,
£ querer nesta carta ser nmyto compndo, posto que ta-
maoba rasam tenha pêra me mu]to larguar em meus ra-
zoados qu^ixumes, pois de tam louuado trabalho non
permitío V. S. ser eu participamte, ao menos pêra como
iestmmaha de vista poder guanhar, cronizamdo tam ilus-
tre feito, em huã estillo muy alto, algua parte da gloria
que ganliaram os caualeiros, que com Y. S. pelegaram.
£ quando por esta parte me acodem alguiis asideirtes,
m
como bsi humaao Mál 9 ft^eo» oom teixo de i)i0 cb^mir
satisfeito polia perda das leitoim carío90s, giie pnr titp
<^t«$a esperanudo; ma3 oowtiKto 4o que pi^ «kfuneíir>
ealimdo ser testiiafmnha domiida» fis hw ^stoU|i breu»,
qae mamdo per ipuytas ym ao3 WBignos âo mno, T«i-
babei poUa poar em tam subido e gra^osp estiM^» ^^mp
bo feito foy ew si grunde e marauíifaoao: iwoiiiipd ser
iiacessark) que 43s pc^os 4^ siosa í»}inapa afinoam ay«r
«smtores, hoiade taes firitos se bwm, mas d^P^t^» 4^
Mainioada, acb^ Um bmo o qw quis, qae mm vi ioais
que ha vomtadB de seruiír V. S.» a qual Bie oom foltoá
pêra seopre rogar ha Ds q»a oestes partes eoiQserw saa
pessoa, e seu some e poder mao^feste h* lada ba gemte,
e ^alse sobre as esfreUas* Eseríta em goa aos » à» oo.-
aeHibro li$i6 aimos. «Antonio Rodrigoas de gamboa^f
(Sobr09efipto) Ao 3^)hor guoueraadoir da iodia, mea
seiÉM»*.
IS.' 96
Carta de Rex-Xarafo
Senhor» Amtre todos hos moradores desla odada <mij|e
muito prazer e ahioroço eom a grao ^toria, que n. s. oujqe
eoQtra ehreí de cambaia e seus capitães: certeAqpio a V. S.
que aenhom seruidor seu me ganhou mso, porque epi e
meu filho ouuauos tamaeho pra;cer e eomtemtameDlp
com iso, quanto lhe nom sei dizer. Prazerá a deos que
sraipre lhe dará vitoria contra seus iimgos, porque a
quem ele da hua tamanha como esta, que lhe ova deu,
outras mores, se mores puderem ser, Jbe dará. A que
V. S. oune he de maneira, que seenpre hos reis de cam-
baia e todo seu reino terão em sua (nemoria tagianiia
destroição e perda, camanha lhe V. 8. fez, em tam peaquo
teo^o ; e por aquy verão ha que lhe fará ao 4fiamte, se
com eles nom ouuer misericórdia; porque Aio tamso-
mente perderão tamta gemte de gera, e tam luzida, em
seu reino, e capitães de tamanho nome amtre eies; mas
perderfio hiia tam populosa cidade, e que eles tamto tt-
nh3o por sua, e que por todo ho mumdo be nomeada,
em a qual tinfaáo feito tamtos modos de fortalezas, e
tamta artelaria asemtada, com espimgardaria e menoi-
ções de gera, bo que tudo noso Senhor quis guardar pêra
V. S. per força darmas, e com os seus, estremados amtre
todas as jemtes do mumdo, portugueses ttomar, semdo
eles tam grão numero de jemtes, e de tamtas nações, de
tudo fez a Y. S. senhor. Isto não dá deos senão a quem
tem muitos merecimentos amte ele, como vós, senhor,
temdes; porque o vosso nome de tão estremadas bom-
dades he mui gramde per todas estas partes, asy o será
amte o senhor deos. £ o trabalho contino, que Y. S. leuou,
deue aver por bem empregado, por com ele ganhar tamta
bomra, e fama pêra ele, e pêra os que dele desemderem :
ho que tudo he praticado, e apregoado per christãos,
mouros, jemtios, asy nesta cidade, como em todo ho da-
cam, e outras partes, e asy ha mui louuada gramdeza e
misyrícordia, que Y. S. vsou com ese primcipal capitão
que caliuou, comque a todos seus aversairos será notório
quão cruel he pêra seus inimigos, e quão piadoso a seus
súditos, e quão cheo de mercês e bomras a seus amigos.
E porque esta estremada vitoria que Y. S. ouue numqna
gouemador, que elrey noso senhor nestas partes tiuese,
alcamçou, asy per força despada, nam tememdo artelha-
ria, espimgardaria, nem outros muitos arteficios de fogo;
mas amtes emtramdo fortes baluartes, e miuros, que tudo
logo meteo e sogigou debaixo de seu poder ; e porque em
cousa tamanha nom pode escrepver senão hum espritor
mui gramde, e que tamanha cousa posa ornar com ho
mericimento que requere, nom direi mais, senão que
noso senhor tenha a pesoa de Y. S. per muitos anos em
sua guarda, como per ele he desejado, e lhe dee sempre
vitoria comtra seus imigos.
Hua de vosa senhoria me foy dada, e o negoceo sobre
que me escrepueo tenho já respomdido per o caçemo que
lá mamdei : por iso nom ho farei nesta. Ho senhor dom al-
uaro íiqua muito bem; porque eu tenho cudado de saber
de sua saúde, e lha desejo tamto, como a minha pesoa
propia lhe dou esta noua. Beijo as mãos de Y. S. De goa,
a XXIX de novembro de 546.
(No fundo) O que beija mãos de V. S. (Em lugar de
assignatura por extenso, tem huma espécie de sigla.)
(Sobrescripto) O gouemador da índia» meu senhor-—
de reixarafo.
N/40
Senhor.— Eu não tenho ja cousa, de que me guabe,
pois quis meu pecado que fose tão mofino, que me não
achase na groriosa vitoria, que noso senhor deos deu a
vosa senhoria, cousa muito pêra eu sempre ser triste; e
tenho rezão, por me não achar em feyto tão homroso,
com o qual vosa senhoria escamdylysou hus da lamça, e
asombrou aos outros, nosos amiguos, e imiguos, segurou
o estado delrey noso senhor, e asysegou a imdia toda, e
pêra muitos anos. Eu aimdaque não fose empesoalmemte
no feyto, nem qua nas festas, foy por minha má despo-
syção, porque aimda estou mui doemte, mas com os pra-
zeres e comtemtamemto crea vosa mercê que nimguem
me leiíou avamtajem. Noso senhor acresemte a vyda e es-
tado a vosa senhoria por lomguos dias. De guoa a vymte
e seis de novembro de 1546 anos. «Luis Coutynho.»
(Sobrescripto) Ao gouemador meu senhor — de luis
coutynho.
N.Ml
Senhor. Eu, porque ho senhor gouemador, e vosa
mercê tem feitas tamtas mercês, como ao mumdo he no-
tório, quis amostrar per obras os desejos que tenho de
TOMO VI 18
sertíír o senhor gouernador e rosa mercê. Eu tirey aquy
bua esmola, aquy nesta fortaleza, pêra fazer hua igreja
de ^am martínho ; e postoqne ha esmola nam fosse tamta
que habomdase pêra a casa, eu há minha custa ha acabey,
porque me parece muita mais rezam, que pois os casados
desta terra fizeram samtiago em memoria da gerra, que
haquy teue amtonio da silueira; de muito mayor calidadé
% a que hò senhor gouernador fez, e Tosa mercê, e dina
que toesta terra, bonde o senhor deos fez tamta mercê,
fique memoria pêra sempre: pola quoal rezam eu fiz esta
casa, que hora fiqua feita, e he bua das fi^Squas casas,
que se fizeram nesta terra, e sobelaporta lhe mandey pôr
bua campam, e no meyo dela posta as armas do senhor
gouernador, cercado com bum letereyro que diz: esta
casa se fez em íouuor de noso senhor e do hemavemtu-
taào sam martinho, porque em seu dia desbaratou o go-
uernador dom Joaní de crastro todo o poder delrrey de
eamhaya, que tinha cercada esta fortaleza, e no mesmo
áiá per força darmos lhe tomou a sua muy nobre cidade
e iíhu âe âyo fia era de 1546. E sobre esta pedra mandey
põf bua cruz muito fermosa de páo, com dous padrões,
cada hQ em sua bamda, em riba de cada hu mandey pôr
bum pelouro de bazalísquo dos mouros, (f^rande, que
peza cemlo e oito arrates cada hum, peraque saibam os
que vierem a esta terra, que ha gente com que o senhor
gouernador pelejou, que heram ornes, que pelejauam
com esta artelbaria, e de hum dos pelouros do quoartao
mandey fazer bua pia dagoa bemta, e ho mamdey pôr
demlro na irmida em hum piar muito louçam, onde está:
e porque nesta irmida eu cayo em escumunham, se ale-
uamtar altar, beijarei as mãos de uosa mercê mandar
bum recado ao padre, que ficou em lugar do bispo em
guoa pêra que dô licença pêra se ay dizer misa, porque
doutra maneira nam se fará senam com se niso gastar di-
nheiro, que será melhor pêra algus hornamentos da casa.
i
quoando omS puder aver. E posloquê voâa tíieròe iiestà
terra tenha muitos seruídores, eu nam deixarey núnqua
de fazer lembrança a uosa mercê dé como àou séii, pera-
que se desta terra mamdar àígÈÍ àêí^viçt), de me fa^er tai»
àsynalada mercê de se (Juetef perá yso aleiíibràr de myih.
O senhor deos icreòêmte os dias de uyda áo senhor gò-
tiernadòr è a uoèa mercê per longos ánnos. de diô ôje
des dias do mei de Jãneyro áe 1548 ànnos. «Amtònio
Gil.»
(ífo sohrescriptq) Ao senhor b sehho^ dôíil áiaâto dê
crastro capitam mor do mar da Imdia, meu senhor cdaib-
tonio gilb.
Garta de elBey 4e Melinde
Senhor, quá me derão hua carta suá nâ quall me dii,
que está prestes pêra fazer tudo ho que lhe eu rèquereh
com a quall muito folgúey, âsy por por ela saber que hõ
^ tinha por amyguo, como foram todos bs capitães '6 go-
vernadores dellrey de portugall meu irmão é senhor,
pelo quall lho agardeço muito, é tenho em grande amy-
zade quererme favoreser em me escrever è dar de sy
conta.
Quá soube a gramde vytoría que V. S. houvera contra
ho soltâo do guzarate, a quall me fez mais alegre que
todas as cousas; porque sam eu tam amygo delrey de
portugall meu senhor e dos seus governadores, e ca-
pitães, que houvera em boa ventura achar-me nesa guéra
com a mynha jemte e pesoa, ou ao inenos achar-me na
batalha, que V. S. houve com os guzarates, em sua com-
panhya, pêra saber de my os desejos que tenho, e sempre
tyve pêra o fazer; mas quyz deos que fose esa guera em
parte, que eu nam podese compryr meus desejos, nem
podòse guabarme da honra que V. S. e os seus cavaleyros
nela guanharâo; somente o que me nygem tyra, que he
276
ter parte dalegrya, que he de todos hos amygos, e mais
hos como eu tam esperementados e de tantos anos, como
Y. S. sabe e todos sabemos.
La mamdo leque maquame meu paremte a vegytar
Y. S.y pelo quall lhe peco que me mamde muitas novas
de sy e de sua pesoa, porque com elas levarey muito
comtentamento : e asy também peço a Y. S. que lhe faça
toda a homra e amyzade que lhe ele requerer, porque he
pesoa que tem feyto muito servyço a eb^rey de portu-
gall meu irmão, e a my, e he pesoa de muito merecy-
mento.
Novas de my he estar muito prove e desbaratado por
causa dos cafres, a que paguo muitas páreas, como Y. S.
pode saber, e a mynha terra he tão pequena e pobre, que
ja nam ha por honde tyrar; pelo quall peço a Y. S. que
aja por bem de me dar lycemsa a quatro ou cynquo nãos
de patane, que posáo vyr ao meu porto, porque com hos
dereitos delas poderey soster a mynha terra, e ysto áde
ser quer ahy aja guera, quer pas: e nysto que Y. S. fezer
receberey mercê e amyzade, ou também sejão daquy as *
nãos de mynha terra, as quais hyrão a patane e Y. S.
mande dar quatro cartazes pêra elas, pêra poderem hyr
e vyr, quer ahy aja paz, quer guera, e com todos hos ba*
neanes guzarates que nelas quyserem hyr e vyr, porque
com eles terey proveyto, e que nhum capytâo seu asy do
mar como das fortalezas de dyo e baçaim e chauU nam
tenhão de ver com elas.
La mamdo Leque maquame pêra que dde sayba as
cousas de elrrey de bombaça, acerqua de pemba, as quaes
eu nesta nam falo pelo nam emfadar, e asy todas as que
ele falar com Y. S. tome-as dele; porque propyamente
vay por my e em meu nome como dygo. noso senhor lhe
acresemte vyda e estado com muita homra como ele de-
seja. Deste melyde a 30 da gostode {547 anos. (Assigna-
tura em árabe.)
277
N.-43
Luís de bragua me deu bua carta de Y. S. em ba qual
me tocava ho trabalho e avexaçam que Ibe dauam estas
orfans, que vyubam de portugal, acerqua de lhe acbar
gazalbados bonde estem emparadas e bomradas. Certa-
mente eu asy bo symto que vos dão angustia be trabalbo,
do qual a my me pesa, e asy V. S. me emcomendaua que
fallase a algum bomem bonrado, cidadão desta cidade,
que agasalbase aquella que tynba lois de bragua. Ese
mesmo dia, que a carta me deram, mandei cbamar bum
cidadão, e Ibe propus diamte tudo aquyllo que eu pude
da parte de Y. S., e da mynba; e elle se escusou com
allguas rezões que deu: e mamdey cbamar outro e Ibe
propus bo caso bo milbor que pude, e elle muy leue-
mente a recebeo como seruydor grande de Y. S., e que
nam sómemte iso, mas que sua fazenda, pesoa, e bomra
estauam a voso seruyço : cbama-se este manuel de faria,
que viue na carreira dos cavallos, muito bomem de bem,
e de muito boa condigam^ riquo, e sobre todo muito ver-
tuoso. Nam aja Y. S. doo delia, porque está bem agasa-
lhada, e farta: parece-me que Ibe deue de mamdar allgus
agradecimentos, e outras pallauras comque elle será con-
solado.
Este padre que esta Ibe dará be gardiSo dos outros pa-
dres, que vem aguora novamente do reyno, os quaes sao
mamdados por S. A. a esta samta comversão. Yem de-
bayxo da cura e desposíçam do doutor mygell vaaz, vi-
gário gerall destas partes : táobem bo cardeall infamte, e
eh^y noso senbor mos emcomemda em as cartas suas, e
muito mais perfeytamente será em as de Y. S. São elies
da provymcia donde me eu criey, que se cbama da pie-
dade, e aos quatro delles lancey eu bo abyto, e ao gar-
di3o fiz pregador em a nosa provymcia. A criaçam, bomde
nos criamos, me obrigou a dar esta lembramça a Y. S.,
278
tendo por certo que era escusado porque eu sey bem
quanto gasalhado, fauores, e todo ho de mais . . . que lhe
àde fazer Y- S.
De ceylao he chegado ho gardiao dos frades que lá es-
tam: hp dç$maDchp que acomteceo em candía da parte
dos portijguese3 com ho rey he que ho deixarão soo, e
outras coysas mais, que V. 5. la saberá. Este rey be ja
t)a.utizadí); bjB ootprio ja por toda terra, aindaque calada-
mente: diz este gardiao estar lia a inateria desposta pêra
íverse de baijtizar toda aquella gemle, e ja sabe V. S.
q.uainto feryor be sjimtídade hay em portugali em esta
parte, qug nam se falia eip ali, e o de mais V. S. ho em-
temde. E parecer seria, se pudese ser, este anno mamdar
allgus cymcoemta bornes com hum capitam fiell pêra am-
paro deste rej, e pasado ho inverno, prazendo a noso
senhor, enviar ao senhor dom alluaro a fazer esta obra,
ho qual seria pêra gloria de deos, e muita homra em este
mumdo. Se de algua maneira destas detremyna V. S. de
o fazer, peço-lhe muito por amor de Jhu xpo, que eu §ej|a
hum dq3 que ho vara a bautizar,. oam como bispo, çaaç
como hum pj^rochyanp ; e eu buscarey ^^moUa pêra hir
a minha cujsta, excepto a enabarcaçaiii, que quamtos mais
forem ha bautizar, mais obr£^ e majs azynha se acabará,
do qual leuarey em grão consollaçam, e lançarey atras
velhice,, e doemça». e tudo. Isto sam eu obrigado a reqjue-
rello, e pedillo e faztílo: as rezões V. S. as sabe. Isto
tudo sob correiçam de V. S. e parecer; e se erro em
algua cousa (festas, perdôe-me, porque ho desejo, que
tenho, de o seruir, e que suas cousas, asy temporaes,
como esprituaes, vam sobre o cume de todas, me derapi
ousadia pêra asy faltar. Quanto ás cousas de mais, espero
em noso senhor que me verey com V. S., e então lhas
praticarey como seu seruo desenganado. Noso senhor
Jehu xpo alumye a V. S. pêra em tudo fazer sua samta
vontade por muitos annos, e despois lhe dê a sua gloria.
279
De goa aos vynte e oito dias de dezembro de 546 aonos,—
Orador de V. S. — «o bispo de Goa».
(SobrescriptoJ Ao senhor governador da imdia, &c. Do
bispo.
N.M4
Senhor — Aos trimta de dezembro recQby liu£f carta d^
V. S., e com ella outro trellado de outra, do qual receby
eu desconsolaçam, por ver e ler tão desarrezoadas cousa^,
e dízerem-se de relegiosos, que tamto vos deuem, ç di-
zerem-se sem tom e sem som, sendo V. S. tão seiQ cullpa.
Bem sabeis, senhor, que sáo bocados indianos, e que es-
taes posto por espelho, e bramquo pêra sofrer e go$tarf
Day, senhor, graças a deos, porque podem ladrar^ ma$
nam vos podem morder; porque vosas vertudes 9 ser-^
uiço nam ho comsíntem. Paciência por amor do criador.
De sáo francisco, ho padre costudio he quem Y. S» diz:
elle foy a cochim» he ia mais allvoroçado pêra tomada 9
verse com Y. S., que nam pêra ida a cochim: elle será
aquy cedo, he emtan^ praticaremos ambos Qs(as estprias,
e serão repreadidos asy hq noso frade, como o seu.
Do padre frey amtonio piquyno, que está em ceijião^
receby hmna carta ácerqua da xpamdade delrey de caa*-
dea, a qual veio despois que eu tinha esoutra ej^ript^ 9
V. S„ e o trelado, letra por letra, he o que sç segue:
Senhor.
Nam esprevy a V. S. atee aguor* por tomar a (%i4|eza
da eristamdade delrey de candea, porque a Y. S. cuiqjj^
com esprever, dizer a verdade. Provey e vy ser todo ís4J-
sidade; como se vio fora da nesecidade, por a qual s^ f^f
xpão, e de aoyte; logo desymulou com a cristamdadçi,
nem tem fee em deos, nem quer doutryna, nem ver fi
fruz^ nem fazer bo synall delia, nem quer ^e se fa$^
xpão em soa terra, salluo os cativos, e sç algvp se ^
280
escondido, vende-o logo. Cerlefiqueyme delle, porque
nam conpria ho que prometera ao senhor governador
por suas cartas e asynados. Dise peramte todos, que nam
sabia de taes cartas, que nuno aluares as fazia como
queria, e lhas fazia asynar, e asy be a verdade de todas
quamtas la vao ter, porque eu ho vy asy fazer. Diz que
lhe prometeo nuno aluares pobre soldado pratico, que o
senhor governador iria pôr a coroa, e seria emperador
da ilha; e todos lhe beijaríão ho pee, e seriam seus va-
sallos e trebutarios» e o vyngaria de madune, e lhe tor-
naria ho dinheiro que lhe leuou per contrato de paz ; e
qiie nam vee nada disto, e que terras lhe tomaram os
portugueses pêra fazer sua terra xpam: que quamdo ho
senhor governador comprir isto, e isto nam pode ser
nem he rezam, nem justiça. Elle me deu licença que lhe
viese a buscar trezemtos portugueses pêra pelejar com
madune, e pêra tomarem algumas terras de seus vezi-
nhos, pêra o príncepe, que he pobre, e que se fará xpSo,
nam por amor de deos, mas pêra tomar o alheo. EIrey
faz seus pagodes como damtes: nuno aluares e o frade
que o bautizou o tem por tall, e o diram se ousarem;
nem aquy em columbo se faz xpamdade, e a que be feyta
toma atrás, nem á quem os ajude. Tudo qá he cobiça de
^âhibeiro: os portugueses, que herão comygo, a mostra-
ram bem a eirey de candea, de que elle tomou máo es-
c^upollo. Feita em columbo a xxv dias de novembro
de 546.
Escrevo isto a Y. S. como ha pryncepe, que ha de saber
todo, nam pêra esfriallo dos bons propósitos; mas pêra
acendello; porque diz sáo paullo, que noso senhor avia
de comer mell e manteiga, que quiz dizer reprovar ho
mal, e emleger ho bem; as boas cousas nam se bam de
deixar, que sempre foram contrariadas. Noso senhor alu-
myará a Y. S. acerqua disto ho que deue de fazer, por a
samta emtemçam que tem a todallas cousas. Jbu xpo seja
88!
em sua alma amem. De goa aos xxx dias de dezembro
de 546.— Orador de V. S. — «O bispo de goa,»
(Sobrescriptq) Ao senhor gouemador da Imdía dec. do
bispo.
N/45
Maito illostrycymo senhor capytam gerall e gouernador
da yndya.
Hos mesteres e povo desta mui nobre e lliall cidade de
goa damos Houveres a noso senhor que nos deu em tall
tempo V. S. por gouernador, e assy lhe damos muitas
gragas polias boas novas e socedeo da sua ida, e nos es-
creueo : temos e cremos por verdade que o seu justo e
honesto vyaer de muitas Uouvadas vyrtudes tem tanta
parte ante ho senhor deos, que por seus merytos será
sempre vensedor de seus imigos da nosa santa flé catollica,
e asy vemos por esperyencya, que seu grande esforço e
cavailarya, é ajudado dajudas deuynaes, e sempre será
vensedor, e a indya be regánhada por vosa S., e ilyure
de tantas affrontas, como tynhamos todos hos pouos da
yndia, pello qall com rezom lhe ficará perpetua memorea,
e nome propyo de defensor da indya, e nosos imigos cos-
trangydos per força darmas e estarem polias Ueys da pas
que uosa S. lhes dará: esperamos em deos que sempre
seja de bem em milhor. E qanto, senhor, aos tam notaves
feytos, que este ano Y. S. fez, do uycymento deUrey de
cambaya, e destroysom de grandes cidades de nosos imi-
gos, nós o escreuemos a ellrey noso senhor, e á raynba,
e ynfante dom Uois nosos senhores, e afincadamente lhes
pydymos que destes tam grandes e notaves feytos acom-
tecidos com tanta honra do seu reall estado deve com
rezom mandar fazer em seu reyno festas dobradas, e no
espyrytuall com sollenes prycisões, e outras festas de
llouvor, porque os feytos som taes que pasom em gran-
deza a muitos dos pasados e tem myrycimento de muito
UcMivor. iplitt esta cj<)^e se fizeram em Uoavor de deos
muitas príciçoes de dia e de noyte com soUenes sacrefj-
cios pêra allcapsar de noso senhor as ^aças e vytoreas
que lhe da e asy pêra que ho garde de todo mall: e de
presente lhe pydymos por amor do senhor deos, e a nós
fazer muita mercê, que nam arysque sua pesoa em outros
trabalhQS porque bo que he feyto por elle som feytos de
grande vantagem e de mui notaves cavallaryas e grs^ide
costaoeya, e autos vyrtuosos, cujos Houveres seram pêra
pontar dos presentes he vyndourojs, e memorea pêra
sempre. Praza o S^jibor deos que prospera a uosa S,
cpm grande estado e saode e. do senhor dom alluaro seu
QlhQ. Dos mesteres da cidade de goa oje xv de novembro
de miU quíAbentos e cpronta e sete anos.=martym go-
m^s = diogo goosalves =p=^ Joam martins.
(SobresçriptoJ Ao senhor gouemador — dos mesteres
de goí'.
N/48
M^yto excelente senhor.
IHaytQ craro he a todos por as obras que vemos de
y. S. quQ o seu ponto he pôr o risco por cyma dos pa-
gados,, 9 qe estes sam seus fundamentos, avante pasalos,
1)6 prfiicedçlos, de que aos por vyr, que o quysesem ymy-
tar, $^ $9gF^ mmU) trabalho. Suas obras, he gramdes he
bel jçQSos feytos, depois qe he nesta terra, em qe vemoi^i
qe avjeotura e arrisca sua eycelente pesoa, dam diso tes^
temfiAha; por ho qal lhe dizemos qe esta cydade, por ho
9mor que lhe tem, por as onrras em qe a põem, e deseja
açrecentar, est^ua çospensa esperamdo novas de V. S., e
^ mentes as nom teue, bus e os outros parnosticamdo
«^ seu fauor bos açontecymentos, mas nam tamanhos,
qem tfm fauoraveys, como os tem de seu nacimento, e
Itios o senhor deos deu, porque lhe damos muitos lou-
vQr^: e que seja, verdade do coraçam forte e jenerow
sayrem as obras fortes e jeiíeirosas» todavya l^^f^n()§ ^
V. S. , por os cargos que temos, e por seus servidores,
que ao diante Dom queyra mais pasar o i^myte (la rezam^
e se ysto noça abastar, da parte de deos, e delriey aoso
senhor, e da sua, requeremos que o queyra çoppryr.
Qarta feira pela manham dezaseys de Qpvembro qo^a
as boas novas de V. S. nos fomos á see, ocade foríim
juntas as cru7.es das fregeçyas: efu perçysaw saymos dar
louuores a deos na casa de nosa senhora da s^ra, be á
mysericordia, e nos recolhemos por ^ rua direita^ e todos
ou os mais, depoys da obra de deos ac^abs^da, dos fomos
á camará abryr e ler a carta de V. S. qe na sé qos foy
dada, e depois douvída, em companbya do capitam qe
presente era, se sayram os cydadaos festejar as novas de
tamanha mercê, como de deos por meo de vosa S., que
as cava, recebemos : e uós ficamos na mesa o^denamdo
outra precysam solene, qe ao outro dia pe^ jmenbjW
fizemos, com muito contentamento de todos; as ruas
alegres e vestidas: os baixos feytos ortas demxabregas:
átarde touros e canas ao som dos estromentos que na
terra ha: asy que os dias foram de contentamento he
prazer.
Ja escreuemos a V. S. o que fizemos quando veo pte-
Iharya de baroche dia do beínaveuturado sas[i martis^o
pela menham cona hua precysam lhe fomos pôr b^m re-
tavolo, qe mandamos fazer da sua invocaçam, no i^esmo
muro da vy torea num lugar que pêra y^o sç feí : pêro
godinho, he antonio fernandes ho levaram nas mãos>.
Sem embargo de nom consentirmos, bo que em nós
foy> sm nenhum mantimento desta cydade, nos escaseou
de maneira que estiuemos dias sem comer pam» Nos na-
vios dormuz acodyo algum pouco trygo : valeo ho caudil
doze pardaos, e três camdis desta terra fazem hum ii%oyo
do reyno, que por esta conta vai trypta e seys pardaos,
e por ha das padeiras muito mais, e trygo que fuude tam
mal» qd dom candil toma pouco mais de meo, he o pam
de dous Is bua doz. O arroz valeo; que vieram htias
champanas de cbaramandel carregadas dele, qe sopryram
muito. Joam da costa, por bo cargo que teue, be qem bé,
dará Y. S. conta do que ca pasou. Leva bo trelado da
doaçam dos mantimentos francos, que em parte se nom
garda: muita mercê fará Y. S. a este povo, mandar que
se cumpra como se contêm, sem lhe darem tam prejudi-
cyais entendimentos, tam contrayros ao seruiço de deos
e bem desta cydade. Xpo noso senbor por muitos anos
alonge a vida de Y. S. e acrecente seu estado, e dô sem-
pre vitorea dos reys desta terra amem: escryta na ca-
mará de goa aos dezoyto de novembro, e sobscrypta por
my luis tremesSo escrivão dela, era de mil quinhentos
quarenta e sete anos. = «= Jo. da costa =manoeU
• . . =antonio gonsalves =martim gomes ==Jo. de flguei-
redo=Jo. martins.
(Sobrescripto) Ao senhor governador— da cydade de
goa.
N/47
YUustre, e muito manifico senhor.
Despois desta confraria ter escrito a Y. S. bua, que ho
padre custodeo leua em comprimento de o encomemdar
ao provedor da casa, que lhe escreuese; chegou a esta
cydade a noua da vitorea que lhe noso senhor deu deirrey
de cambayya, de que todos demos muitas graças e Uou-
uores a noso senhor polia presemte, e pasadas, e outras
muytas, que esperamos nelle todo poderoso senbor, que
lhe dará. E crea que aliem da parte que nos a todos os
que nestas partes viuemos cabe de suas vitoreas, pello
que toca a sua manyfica pesoa lleuamos muito comtem-
tamento e desejamos todos em gerall, e cada hum em es-
peciall, ver tudo feyto e acabado por sua manyfica pesoa,
com muita avemtagem de seus amtepasados no cargo, e
285
pois noso senhor atégora tem mostrado avello asy por
bem em seu santo seniiço, prazerá a elle que todaUas
mais cousas que começar, irão de bem pêra melhor, e as
começadas averão ho fim por Y. S. desejado.
Darlhe rezSo do espritall, averá nelle coremta doemtes,
dos quaes se tem aqueUe cuydado que sempre teue, e
agora com muita avemtagem, pella ajuda e fauor que de
Y. S. temos, que são os propeos allimentos» que nos 3o
de esforçar, e vermos a vomtade que Y. S. tem peraque
este seruíço de noso senhor va de bem pêra mylhor, ao
quall pedimos que por muitos anos ho acrecemte em vida
e estado, pêra que sempre faça obras de seu samto ser-
uiço e Uouuor, pêra que seja particípamte da sua gilorea :
feyta em cabido por my pêro gonsalues escriuáo da casa:
de goa oje xvi dias de nouembro de 547.ssRuy ám=*
manoell fldallguo^pero gomes = pêro garcia==amto-
nio lopez = amtonío fernandes=antonio rodrigues=sí-
máo fernandes=sJacome dias.
(Sobrescríptq) Aó senhor governador — do provedor e
irmãos da misericórdia de goa.
N.M8
Senhor — Peita verdade que devo, e na que vyvo,
quamto a crystãO; certefyco a v. s. que a noyte de terça
feira, que foráo xv de novembro, amtre as nove e as dés
da noyte, que os sinos desta see, e freguesyas e fortaleza
notefycarSo as boas novas^ e chegada de saluador fer-
nandez com as cartas de vosa senhorya; de sobejo prazer
e comtemtamemto, com esta verdade sôqua damor e
obrygação que a vosa senhorya tenho, e devo, fuy em-
vergonhado de mym mesmo, pellas lagrymas que com
prazer e emtranhavel amor me vyerão aos olhos, per
muitas rezões: scilicet — lembramdo-me ho bemgerali,
que os moradores que nesta peregryna terra resedimos,
286
rtcebetnos pelo asosegno presente, e ttíuyto mayor ao
filtnrô se espera, pelos bi5s sòcesos e tamanhas mercês,
qbe nós boso senhor faz, per bhço, e vertude, e mery-
cymentos de vosá senhoria ; è ò còiiheôyménto dos imy-
gtròs, iqtie vêib e confesSo, que esta terra e povo tem
defelílào? ifertiíoso de nosas vydas, casas, e fazemdas.
A outra fôíão he a obra è zeio que vejo a vosa senhorya
tér nô s^rVyOô de deos, e delrey noso senhor com tão
emteyro ^hymo, fe lembrámçà de sua obrygação; pela
^erali tetúçSd tr^o senboi^ b àjtidà eãi tudo. Â outra he
^elus èSperytoS bcupados, (Jue todos tynhatoos, espe-
ráitidò a boã ora coni taes e melhoradas novas, todos
promtos em sua Vyagem, bom ás vezes sermos comvy-
dadoS desta vmana fraqueza e arrecêos, pelo imteresse
qúe i todos toqtia; n3o descomffamdo nas mercês, que
nbs noso sètrtior faz per vosa senhorya, porque nesta era-
mbs xúúf certos, e ftotofyados; mas comtudo nâo se pode
negar, às vezes esperar arreceando. nõuydades, que áS
vezes pêlos pecados do povo se permytem; porque nos
taes arrecêos vyve quem espera, imdo-lhe muyto: mas
nao que nos deserdase a comfyamça, que acyma dyguo.
A outra rezâo, senhor, he a lembramça das mercês, que
vosa senhorya de noso senhor recebe, pelas vytorias, e
boâ atndámça sua, pelo quall os imygos de corações vem-
cydos íhe ttáo osSo ver a magestade, com a esperiem-
cya dè sliaS obras que eles mesmo vêm pelo olho. De que
tudo, senhor, por me chamar feytura de vosa senhorya^
sto tao ledo, e comtemte, que ysto me faz tomar esta ly-
cemçâ a escrever a Vosa senhorya, sem mo ele mamdar,
e da desobydyemcya peço a vosa senhorya perdão, e a
culpa tome ao amor, e paftecypaçao que de seus bees e
comtemtamemtos, por ser seu, tenho. As novas que de
mí doíi a vosa senhorya sâo á feytura desta bautizar hua
filha que me noso senhor deu, e por ser molher, a não
arreceey, porque ja lhe tenho o casamemto, que he o
287
morgado e palmar, de que me vosa sehhorya fe2 mercê
em bardes; aimdaque faço qdeyxumé á vosa áènhoryá 86
bum braiúene morador em bardes, per boâié hiqú ^Jncày,
íyifao de crysna, tanadãr de pyrba, étijò ò tbesthb ^áhhkt
da merco be, me tra2 em dèmamdâ comtra á prOv^èSo
de Vòsá feenhorya, amte o juyz dos fleytoá deíréy, cóiA ttte
dtarem, e dyíer que bo palmar he seú, e nád dò ^áy, h
yr comtra a ola dos gamcares, què me derSò dò mèèmô
tombo da gamciírya da aldèa de nagoà, omde ho palthár
está; e tne traz neste trabalho, è dele teiho èitiformáçlo
per dadagy, que be bum démamdSo, e que ao ihe^tiLb
pay trazya em demamda sobre este palmar, e outra Mitá
fazeíúdá que bo paay tem em baf dês, de j[)almàres, e fnà-
rynbas e terras darrôz, que queryâ dele efdar em VydS :
e porque bo pay, por estar ausecíte na terra áo iddtéãó,
mamdava por ele comprar alguas fazemdas, e sé flazyKo
as escreturas e olas em nome do filho luqu synay trouxe
bo paay em demamda, dyzemdo, que erSo suas, Ipop os
titolos estavSo em seu nome. Asy que comto em quey-
larme a vosa seidiorya ho èm que me tv^t este bí*aíuène
comtra a mercê e òarta de vosa senborya, e ola dós gâm-
cares. Vosa senborya vyrà coín vyda e saúde, e lhe dará
o castiguo, como merece a tail ousadya: e allgâa fazemdá,
que lhe mygell rodriguez capytâo de bardêz deyxou, de
pahnares, e marynhas fará mercê dela a quem seu ^r-
vyço for. Noso senhor prospere a vyda, e estado de vosâ
senborya, pêra lomgos anos. t)esta cydade de Goa aos xví
de novembro de 1547, feytura de vosa senborya, que suas
mãos beyjo. «Joam rodriguez paaz.»
CSobrescripto) Pêra bo guovernador — ioaieu senhor.
Senhor— Pelas cartas, que V. S. espreueo a esta teríá,
soube das vitoreas dinas de prepetua memoria, que o sé-
288
nbor deas lhe deu contra elreí de cambaia, que nom pode
ser mor cousa, que pelejar V. S. com ele em campo, com
t3o pouca jente, e o desbaratar de maneira, que nom se
atreueo a resistir á Airía, com que Y. S. o cometeo, senão
com as armas dos vencidos, que sáo fugir, e alargar o
campo: e certo que tamanhas cousas e táo nouas nesta
terra nom as dá o senhor deos, senão a quem por seu
seruiço alarga toda cobiça e sensualidade, com que outros
tanto se abraçarão : porém os que isto quizerão leuarão
dinheiro, com que no reino tiuerao trabalhos ; V. S. le-
uará homra e merecimentos pêra deus, e sua Â. lhe fa-
zerem muita mercê, e quá deixará fama cujus non erit
fnis. E premitirá noso senhor que dará Y. S. a se saber
em toda a cristamdade que três mil purtugueses, temdo
tal capitão, poderão emtrar por toda cambaia; que inda
eu nom li nos feitos do magno alexamdre, que com tão
pouca jente desbaratasse tamanho rei, e táo poderoso,
como be elrei de cambaia: e bem mostra Y. S. aos pri-
giçosos e amigos de luxurioso repouso, que inda agora
ha cousas de que espreuer, se as eles quisesem buscar;
porém cada hum acha o que busca, e Y. S. acha vitoreas,
comque deus e elrey são seruidos ; e outros, dinheiros,
comque perdem o gosto da vida neste mumdo, e no ou-
tro alma pêra sempre.
Nom deixo de sentir, que espreueo Y. S. estas novas
a homens, que não sáo mais seus seruidores do que o eu
sou e ei de ser em quanto viuer, e de mí nom se lembrou ;
porque este queixume nom ei eu de fazer a ninguém senáo
a ele, que sei que conhecerá minhas fraquezas, e as re-
medeará com sua clemência, porque nunqua ouue animo
forte pêra soberbos enemigos, que nom fose afabel e
brando pêra os súditos. Noso senhor traga Y. S. a esta
terra com muita saúde, que no mais nom ha que pôr
taxa, pois nom sabemos ate omde Y. S. quer pôr a ban-
deira real. De goa, o dia das táo boas nouas e des-
• 289
aseis de nouembro de 1547. «O lecemciado Jerónimo
ruiz.»
(Sobrescripto) Ao governador meu senhor — Do lecem-
ciado Jerónimo riiiz.
N.°50
Senhor. Muito mais folgara de pagar a V. S. quam boas
novas nos manda cada dia com lhe mandar de qua aigúas
boas destes mouros do balagate, he nam requerimentos,
huns em contrairo dos outros. Eu poio regimento, que
me V. S. deixou, provi as tranqueiras de todo o neces-
sário ; he por me V. S. mamdar, que se os mouros en-
trasem nas terras de salsete, que então me fose á camará,
he com hos veadores da fazenda, he vereadores, precu-
radores do povo, he cidadõis omrrados tomase aquordo,
he com os seos pareceres flzese o que compria ao ser-
uiço delrrey e ao regimento que V. S. me deixou; o qual
eu fiz a$i por ter por novas dalvaro de caminha he cartas
suas, que laa mamdo a V. S., como os mouros estaváo
junto do pagode de margão, que he no meo das terras,
as quais cartas he novas lhes mostrei he lhes dise que
eles me desem seos pareceres, se devia dir botar estes
mouros fora, que polas cartas sabiáo a jente que era; he
pelos mais deles me foi dito, he asi pelo veador da fa-
zenda, que era presente, que devia dir laa botalos fora,
mas que era necesario tomar alguas espias he saber ha
nova mais certa, e com ela sabida, que concordava hiia
com outra, que então fosemos em nome de deos : ho qual
eu puz logo per obra, que mandei per eses pasos, he pelo
rrio calures, em que hia payo rodrigues, he cristovâo
douria, em outro: he do paso dagacim me vieram duas
espias que os filhos do tanadar tomarão, que dizem ho
mesmo que alvaro de caminha diz nas suas cartas, que
laa mamdo a V. S. que hos catures não são inda vindos;
he dizendo-lhes o que dizião as espias, he acabada a pri-
TOMO VI 19
cisSo, lhes dise que me vinha pêra casa pêra me fazer
prestes pêra ir dormir a agacim, he logo mamdei Iam-
çar pregão que todo o soldado viese tomar pólvora he
chumbo, he se viese pêra dom pedro daimeida que era
capitão da yrantaria, ao qual pregão nam acodio nimgem,
nem lasquarim, nem casado ; he eu estava em minha casa
dando cavalos a homes que os nam tinhSo, hos quais to-
mava sobre minha fazenda: he estando nisto me entrou
pela porta hos juizes, he precuradores da cidade, com
bum requerimento dos vereadores, he todos os que nele
mais sam asinados, he asi estava no presente o veador
da fazenda, de que nam digo nada porque Y. S. o saberá,
he me fizerâo hum rrequerimento da parte de deos, he
delrrei, he de V. S., que nam pasase á terra firme como
o dia dantes tinha asentado, he as rezõis que pêra iso da-
vSo, V. S. as verá laa pelo requerimento, he se nam achar
JohSo da costa asinado, foi por lhe morrer bua filha, mas
está pêra asinar logo, por que todos vierâo á camará com
pregão que a cidade mandou lançar com pena de cim-
quoenla pardaos, he nela ouve muitas deferenças, he
pode V. S. crer que numqa se vio Iam pouqa vontade em
jente de gerra, como nesta que fiqou em goa, tiramdo
algus fidalgos he cavaleiros, hos quais herâo tam pouqos
que se nam podem nomear: asi que he o que qua pasa:
quanto ás tranqueiras elas estão bem providas, be eu as
proverei he visitarei cadadia : de laa devia V. S. de mam-
dar algSs quatures pêra lhe fazerem a gerra per estes
rrios, he se a V. S. parecer bem mandar o senhor dom
alvaro com alguns quinhentos ou seis centos homes pe-
raque entre pelo rrio do sal, he a mim mandarme pêra
entrar pelo paso dagacim; he crea V. S. que lhe daremos
muito bom qoqe: nisto nam falo porque V. S. determinará
ho que formais seruiço delrrei, he seu: he eu estando to-
mando o primeiro acordo sobre ir a terra firme, como
acima digo^ me pedirão, he me requererão que lhes amos-
m
trase o rregimento que me V. S. deixara : eu o fiz porque
fui mui apertado pêra iso, porque doutra maneira n9o
ho ouvera de fazer: asi que V. S. determine agora de laa
o que quer que se faça porque eu estou mui prestes com
minha pesoa he fazenda pêra servir elrrei, he V. S. no
que me mandar, he pesa-me porque vou sendo muito
moflno com estas terras firmes, mas parece-me que tudo
noso senhor goarda pêra V. S., ao qual noso senhor
goarde he acrecente vida he estado; de goa a xxv de
novembro de 47. «Seruidor de Vosa S. dom diogo dal-
meida. »
(No sobrescripto) Aa o senhor governador meu se-
nhor — de dom diogo dalmeida.
N.» 51
Senhor — Estes negros de pondá nâo hestão satisfeitos
com ho castigo que lhe vosa senhoria foi dar; e parece-me
que armão cousas com que os castigue melhor. Tanto que
se vosa senhoria parlio, por se fazerem valemtes a quem
hos mamdou, sempre estiverão reinamdo esta malicia,
que hagora cometerão, e averá três dias que pasarão a
salsete, e estão defronte do pagode de margão, com suas
temdas asentadas, e não fazem mais mal na terra, e asy
dizem que sâo pasados outros comtra as terras de bardes.
O capitão mamdou chamar a camará, os honrados desta
cidade, e outros, entre os quaes eu fui, e aly pareceo
bem a todos que fosemos lá, e os deitasemos fora ; e fa-
zendose prestes ho capitão, e eu com ele, pêra pasarmos,
oje, dia de santa caterina, á tarde, na procisão foi ho mur-
murar tamto dalgus, de lhe parecer mal nosa ida, que
fezerão outra vez fazer camará, onde eu não fui, e os que
lá forão asentarão de fazer hum requerimento ao capitão,
que nâo fose sem recado de vosa senhoria. Asy que hos
mouros fiquam nas terras, e nós em nosas casas, até ver-
mos recado de vosa senhoria: e meu parecer lie que vosa
senhoria ordene de começar de castigar de lá, destroindo
todos seus nos, e asy mandamos que façamos nós de
qua houlro tanto: e pois eu fui tam moGno, que me nom
pude la achar com vosa senhoria, neses feitos, estou muy
prestes pêra fazer qua tudo o que me vosa senhoria
mamdar por seruiço delrey e seu . . . mais a vosa senho-
ria, cuja vida e estado noso senhor acrecemte por muitos
anos. Oje xxnu de novembro, a seruiço de vosa senhoria.
• Jorge cabrall? ^
N.-52
Senhor — homtem bespora de samta caterina escreveo
aluaro de caminha ao capitaão desta cidade, como herãao
emtrados os negros em salsete, e que tinhãao asemtado
no campo de margãao dezasete temdas, quimze bramcas,
e hua vermelha, e que eile com doze portugueses e alguus
piães da terra fora saber quamta gemte hera, e que por
seu olho vira que serião duzemtos de cavallo, e obra de
mill piaes, e os vio de tall maneira que quiz trauar em
huua pomta delles escaramuça, e lhe matou dous ou três
de cauallo, e alguus de pée, e lhe trouxe toucas e lamças,
e alguuas cousas outras de despojo, escreuendo ao ca-
pitão que prouese como lhe milhor paresese; pella quall
rezãao o capitão nos mandou chamar a camará, aos ve-
readores, e os da gouernança, e ao viador da fazemda,
e aly se praticou o que aluaro de caminha escreuia e se
leo sua carta, e se tomou parecer de todos se pasaria o
capitão Uaa ; e postoque ouuese pareceres diferemtes, e
alguus que nao devia de hir, todavia foraâo mais vozes
que pasase loguo, e os fose deitar fora, com primeiro
mandar espias, e se tornar afirmar da gemte que era, e
feyto auto disto, em que lodos asynamos, e pregões lam-
çados que se fizescm prestes, pêra loguo pasarem, oje
dia de samta caterina tornou a respomder aluaro de ca-
g93
minha que a gemte naao era mais da que tinha escrito, e
que níso se aSrmaua, e que emtemdia nelles que estauão
taao fracos, que naão avião desperar, como soubesem,
que abalaua de quaa a nosa gemte. E o capitaâo, estando
prestes, com ter toda a gemte requerida, e buscado ca-
uallos pêra algus que os nâao tinhão, com se obrigar a
pagar os que llaa perígasem, ou matasem; tornou á ca-
mará com parecer do lecemceado manuell mergulhão,
que se nãao deuia fazer nada té primeiro o fazerem saber
a vossa senhoria, e fizerâao hum requerimento ao capitão,
que nâao fose, em que asynaraao esses que se acharãao
acabado a precisaâo : peiloque o capitão deixou de hir, e
todos escreuem agora a V. S., e porque pode ser que de
hjia parte ou doutra se estemdao na emformaçao em mais
do que pasou, o escreuo a V. S. e lhe certefiquo que asy
pasa isto pomtualimente, e a mim me pesa de elles o re-
meterem a V. S. que bem lhe abasta seus trabalhos, e
o negocio parece que estaua quaa de feyção com que
os negros se poderãao bem deitar fora: mais o capitão
sospenídese niso pello requerimento da camará, que a
sua vomtade boa era de pasar. He agora necesario que
V. S. proveja nisto, pois tudo lhe querem lamçar ás
costas. Noso senhor acrecente a vida e estado de V. S.,
como deseja. De Goa dia de santa caterina de quinhentos
e quaremta e sete anos. «Francisco toscanno.»
(Súbrescrípto) Para o senhor governador.
N.» 53
Senhor — Oje que são vymte symquo de novembro
chegou dom Jo. mascarenhas a esta cydade, e receby
hua carta de uosa s. que porey á comia com as outras
muitas e gramdes mercês, que me tem feitas, pelas quais
lhe noso senhor acresemte por muitos anos seus dias de
vida e estado.
294
Os panos de pomda ambos tenho acabados, e dom Jo.
mascareohas hos leuará, he bua vya será sua, e outra
dará ao viador da fazenda, paraque'mamde em outra náo
por outra vya. Nâo nos gabo a V. S. porque sâo parte.
Dom bemaldo' e o padre costodio vyrSo ja hum acabado
amtes que daquy partisem: eles o poderão dizer como
testemunhas de uista, e uosa S. o poderá julguar pelo
que . . . feito, quando embora V. S. vyer.
Nouas de qua não espreuo a Y. S. porque as que me
fora lycyto espreuer são as da obrygação de meu cargo,
em que a prezemte náo ha que dizer; porque armas e fa-
zenda numqua forão boas amygas. Estamdo com o allforje
feito pêra salsete, se mudou o conselho da ida por requy-
rymento dos vereadores e dos que nele asynarão, que
vosa S. Ia uerá, e náo achará a my, de que me nada peza;
porque nâo fuy, nem são de tali pareser. Dizem os bu-
tyquairos que com receita de mestres se emxaropario
estes dons dias muytos omes. Noso senhor 9cresemte
por muitos anos os dias de vida e estado ha vosa S., a
que beijo muitas vezes as mãos. De guoa oje xxv de no-
vembro de 547. Seruidor e feytura de v. s. «Amlonio
fernamdes.»
(Sobrescripto) Ao senhor governador meu senhor.
N.'54
Senhor — Per Francisco dallmeyda espreuy ha vosa S.
como cide hamede vyera fallar comyguo, e trouxera hum
formão dellrey, em que dizya que avya por bem, que se
fallase nas pazes, e que pêra iso mamdarya bua pesoa
aseyta ha elle há huna, pêra se comsèrtarem has pazes,
e que lhe lleuase hum espryto meu pêra lloguo ho mam-
dar. Aguora me tornou cyde hamede com reposta, que
ellrey lhe espreuera que dom gironemo capitão de ba-
çaym espreuera ao bramalluquo, que tynha poderes de
195
vosa S. pêra faiiar na paz; que lhe tinha respomâído; e
que tamto que lhe vyese recado, lhe mamdarya dizer ho
que avya de fazer. Foi gramde dita emcarreguarse dom
gironemo deste neguoceo; porque aliem de ho elle tam-
bém saber neguocear, he muyto mays perto caminho de
cambaya ha baçaym, que ha dio. Gomo isto soube llevey
mão de fallar mays neste neguoceo, por não danar, e pa-
recer que desejamos tamto esta paz: e porque me temy
de ser este seu recado dillação pêra poderem ter tempo
de mamdarem allguas nãos, mamdey dous catures ha
mamguallor, por ter nova, que Ilamçauão duas nãos ao
mar, e que veyo.hy ter dormuz duas terradas carreguadas
demxofre. Esta fortalleza tem necesydade denavyos; por-
que estes, que mamdey, estavão nesta couraça feytos em
pedaços, que custou bem de trabalho comsertaremse.
Dom manoell de llyma houvesse tão mall com hum na-
vyo, que Ha mamdey, e fez tam más fidallguias nos meus
he em mynha fazemda, que não housarey de mamdar Ha
buscar mamtymemtos de que tenho nesesydade pêra esta
fortalleza sem uma fortycema prouysão de vosa S., ha
quall me vosa S. fará mertíe de ma mamdar por que me
he nesesareo mamdar ha ormuz ha tempo que me posa
qua vyr emvernar. Noso senhor acresemte vyda e estado
de vosa S. por muytos dias. Desta fortalleza de dio aos
quymze dias de janeiro de 648. duisfalcam.»
(Sobrescripto) Pêra ho senhor goueroador — meu se-
nhor.
N.»55
Senhor — luys falcão me deu hila carta de vosa mercê,
e quamto a me ter em comta de seu servydor, eu lho
mereço, porque verdadeiramente que ho são daUma, e
do coração, e prazerá a noso senhor, que me dará tempo
pêra ysto poder mostrar em lhe fazer muitos seruyços.
Novas desta terra sáo estar cyde mamede aymda em vna:
ele mespreveo que vyría cedo a esta fortnieza : táo bem
mispreveo mya-ycufo-xaa, que he o tenadar, que está na
quimta, que hera chegado chapa delirey a ele pêra poder
falar nas pazes, e nam cyde mamede; mas eles nam são
multo amyguos, pode ser que seja emveja de o ver am-
dar metido neste negocyo. As mays novas são a quimze
de Janeiro sayr ellrey da cydade de cãobaya e ficar ao
presemte nua cydade que se chama memadavade, que
s3o seis legoas ha madavade. Em câobaya fyzerâo*se al-
guas sete ou oyto fustas novas, e renovarão nam sey
quoamtas velhas do tempo de soltáo bador. Estas novas
me deu hum mouro que veo da quimta de melyque a
trazerme a carta do ycufo-xá, a quem eu dey dous pares
de vezes de vynho e comtoume estas novas. O ycufo-xá
mespreueo que querya mamdar hum omem homrado a
fallar com o capytão, a quem no eu dixe, e mamdou-lhe
hum seguro pêra poder vyr a gogolla, e eu yr hahy fallar
com ele: asyque estas são as novas; mas as com que
mais qua todos folgamos, foy com o senhor gouernador
serteQcar sua vymda a esta terra, homde prazerá a noso
senhor que amtes de se yr dela fará as pazes á sua vom-
tade. Beijo as mãos de vosa mercê. De dio ao derradeiro
de janeiro de 548. «Muito serto seruidor de vosa mercê —
Amtonio memdes de crasto.»
(Sobrescripto) Ao muito manyQco senhor dom aluaro
de crasto, capytao mor do mar da ymdia &c. meu senhor.
Senhor. Pareceome bem mamdar amtonio memdez
com recado a Y. S. do que pasou com modoretequam ;
e porque de tudo o que com ele pasou dará meuda conta
a V. S., nam direy neste capitulo mais.
Com toda a cortesia he acatamento que deuo, con-
fiamdo em quam leal seruidor e amiguo temdes em mym
oosey de fazer esta lembramça a V. S.» ainda que pêra
yso nam tiuese seu poder; mas, como diguo, na con*
Qamça de ser mais voso seruidor, que de nenhum outro
gouernador que fose em meu tempo, me salua da pena,
se esta conflanga se pode chamar erro.
Primeiramente alembro a V. S. que soo os vemcedores
podem fazelapaz, como quiserem ; e que V. S. tem ávido
em seu tempo has mores vitorias, que nestas partes te-
mos vistas, despoys que sam descubertas, e se dixer que
muito mayores das que ouve romã, despois que ha ro-
muUo fundou, nâo erraria ; como cousa ouve no mundo,
como apresentar batalha a eirrey do guzarate nos campos
de baroche, e matarlhe dous capitães, e fazelo fogír,
sem ousar de pelejar com V. S. com vimle soldados, que
com mays se nam achou na dianteira, pois por menos vi«
toria se deue dauer desbaratar cymquo capitães de Idal-
cão com virate e cymquo de cavallo, digo que o ey por
muito mayor feito, e mais glorioso vemcimento que o
delrrey dom afiTonso amrriquez no campo dorique : deixo
descerquar dio com morte de tamtas ymfinidades de gen*
tes, e outras mui grandes vitorias, que vos noso senhor
cadadia daa dos imigos da sua santa fee: tudo isto trago
á memoria a V. S., peraque lhe alembre, que nam tem
mais que fazer, pêra o S. A\ fazer duque, ou marquez de
colares, que paz ao presemte ; e aquy hacabo o primeyro
pomto.
Em segundo lembro a V. S. que ha mercê que nos deos
fez em nos dar adem que foy muy grande, e muito pêra
lha agardecermos, porque elle que noUa deu, nos dará
poder pêra a defendermos : mas V. S. tenha por muy
certo, que se nos ordenou hua muy trabalhosa contenda,
porque ho turquo álhe de ser muy nojosa ha nova da to-
mada dadem, e nessa mesma ora áde prover no estreyto
per causa de mequa e de sua romagem porque hos ro-
meiros nam amde housar de navegar com temor das nosas
armadas, ainda que em adem nam aja mais que bua so
fortaleza: asy que he de crer que daquy nacerá contenda
trabalhosa : ora nós nom somos lamtos pêra nos repar*
tirmos em tamtas partes, nem os rreis nosos vezinbos
nam tem recebido de nós tam boas hobras, que espere-
mos deles ajuda em nosos trabalhos: per onde parece
ser ao presente necesaria a paz, e concemtir V. S. nella,
posto que nam seja com as avantages, que hos purtugeses
desejaram, mas ao tempo e ala sazam se conforme, diz o
rrifam. Deste atreuimento que tomey seja perdoado pois
tudo o que dixer e fizer he a fim de servir V. S. a quem
noso senhor acresente por muitos dias a vida e estado.
De dio, oje terça feira xxvii de feuereiro de 548. «Luis
falcam.»
(Sobrescripto) Ao senhor gouernador: meu senhor.
N.-57
Senhor — Âmtonio memdes de crasto foy ha Ynaa: pa-
saráo ele, e motaremocSo muytas palavras que s3o escu**
sadas dizer a vosa S. fynallmente que lhe nam pôde ar-
rymcar mays dos bofes, que ha paz do vysorey, nem tem
poder dellrey pêra mais. Meu parecer hera que Y. S. me
deve de dar lycemça pêra mamdar amtonio memdez e
cyde amede, porque per alguas mostras que amtonio
memdes vyo nestes mouros, parece que se fará a paz de
muita aventage, do que se aquy fará com estes cães; e a
omra deste negocio deve destar no proveyto. Ellrey de
cSobaya he gram senhor, e muy cheo de vaydade, e com
Iheu espreuer que náo quero fazer a paz com os seus ca-
pytâes, senam com sua Â., porque se neste negocyo lhe
fyzer algum servyço, a ele quero que seja feyto; pare-
ce-me, que será catnynbo pêra se este negocyo fazer
mylhor. Se o vosa S. ouver asy por bem, he necesaryo
levar amtonio memdes algu presente, que deve de ser
m
hum par de cavalos, e se nese baçaym os nam ouver, eu
os teDho muito bõos. Ho motaremoclo estava ja pêra se
partyr quamdo amtonío memdes chegou, e aguora ao
despedir-se dele lhe pydio que ha reposta lhe mau-
dase loguo, porque com ela se havya loguo de partyr.
Vosa S. me deve de mamdar, o mays cedo que puder,
reposta, porque a que lhe eu ouver de mamdar será
com tamtos vagares, como hos eles tem em todas suas
cousas.
A rezão porque aquy diguo que va cyde amede em
companhya damtonio memdes he por ser testemunha de
náo querer fazer a paz com motaremocSo, e mamdarmolos
ambos louvar em sua A., pêra que ele dé a sentença
neste negocyo, e cyde amede como pêra teyra he o que
deseja este camynho, porque sabe de nos ha que nam
poderemos fazer a paz senam com a pesoa dellrey e a
my asy mo parece pelo que tenho conhecydo de mouros
e de suas vaydades: mas como vosa S. emtemde todas
estas cousas mylhor que nynguem, náo ha mays que neste
negocyo Ihespreuer. Noso senhor acrecemte a vyda e es-
tado de vosa S. por muitos anos. De dio a seis de março
de 548. cLuis falcam.»
(Sobrescriptq) Ao senhor guovemador — meu senhor.
N.*58
Senhor — Se deixei despreuer a vosa S. todas as pala-
vras, que pasey em vnaa com motaremocao, foy por me
parecer cousa justa deixalo a luys falcam, pêra o ele es-
prever a vosa s., mas se o deixou de fazer seria por saber
que vosa s. estaua doente, e nao no quererya emfadar
com tamtas palavras como mouros dizem : mas comtudo
peço perdão a vosa s. de lhe nam 'esprever o que com
eles pasey, porque verdadeiramente que me pareceo que
nam fazya nysto erro, e a mercê que quero de vosa s. he
360
que me perdoe este, com portestação de nunca cayr em
oulro desta calydade.
O que pasey depoys de vyr de baçaym foi chegamdo a
esta fortaleza esprever bua carta ao motaremocão em
como eu era chegado de baçaym, e que achara aquy hua
carta de cyde mamede, que viera depoys deu ser par-
tydo, em que mespreuya, que ihe mandase ã reposta do
que luys falcam dizya, e que sua mercê que estava pêra
se yr, pelo quoall o queria yr ver amtes que se peratyse:
e loguo ao outro dia me mamdou bua chapa sua pêra
poder yr seguro, eu e os que comyguo fosciA. E com este
seguro fuy sem ficar nesta fortaleza mays premda, nem
pareceo necesaryo, por m'ele da outra vez ter dito, que
sem refeês, nem seguro podia yr eu e os que comyguo
fosem, seguramente, asy a vnaa, como bamadavade, se
compryse, porque este hera o custume dellrey de cão-
baya, que estamdo táo mall hele, e o moguor, como es«
tyverao, e temdolhe tomado ho reyno, hyão e vynhâo re-
cados dSa parte, e doutra sem nunca se fazer nojo aos
que nysto amdavSo.
Depois de chegar ha vnaa me dixe o motaremocão, que
tardara muitos dias, e que ja estaua com as temdas fora
do lugar pêra se yr, quamdo a mynha carta lhe chegáraa,
e o que eu soube era ter mamdado recado a cllrey do
que pasara comyguo, e esperar per reposta, e nam lhe
ser ymda vymdo; e a causa de tardar tamto lie por ellrey
estar muito anojado de se lhe yr hum capytão per nome
hetenyde-cão, que hera muito seu privado, e muito aseyto
a ele, dizem que se foy pêra os patanes, e ellrey o tem
mamdado buscar per muitas partes pêra o desagravar, e
o seu agravo dizem que foy sobre ellrey lhe tomar huns
lugares que lhe tinha dados: asy que com esta vollla não
he vymda a reposta áo motaremocão, nem se yrá de vnaa
ate lhe nam vyr, e ysto soube dos seus propyos paremtes
e cryados.
301
Preguiiilou-me o motaremocio qoe poys fora a aba-
çaym, que llie dixcse se estaua vosa S. achegado a rezão,
e que era o que dizya neste negocyo da paz. A ysto lhe
respomdy que quamdo vosa s. mouvyo o que heles dy-
zyão acerca das pazes, que asemtara o visorey, que samta
glorya aja, e que hesas farya aguora ellrey de cambaya,
que vosa s. se ryra disto, e mays semdo a cydade nosa,
e temdo-a ganhada pela pomta da espada. Dixeme que
parecia que vosa s. querya fazer as pazes á sua vomtade,
e nam como fose rezâo ; e que elirey de cambaya bera o
que estaua arrezoado, e nós outros muito fora da razão:
de maneira que pasamdo estas e muitas outras pala\Tas,
a que lhe eu respomdy o que me pareceo que comprya
pêra este negocyo, lhe dixe o que me luys fallcam mam-
dou, scilicet, que foy, se ellrey de caobaya nos dese estas
allfandegas e cydade, e as terras de manora, que faryamos
a paz, e ysto liie tinha ja dito da outra vez que lá fuy : ao
que me respomdeo que náo fora nesesaryo esperar em
vnua tamtos dias, nem heu tornar lia, se a reposta avya
de ser aquela; porque ellrey de cãobaya amtesavemtu-
rarya todo o seu poder e estado, que perder a jurdição
e nome de dio ser seu. Asyque ao que vyemos per der-
radeiro foy, que poys ele dizya que ellrey nâo farya paz
com perder a jurdição de dio, e nome que tinha de ser
seu, que vosa s. lhe daria ametade das allfamdegas, e a
jurdição, comtamto que ellrey de c9obaya tornase a dar
a vosa S. as terras de manora, que ja o solláo bador dera
a nuno da cunha, quamdo lhe deu baçaym, e guora as
lynhâo os capitães dellrey de cambaya em seu poder; e
lornando-lho estas terras, que vosa S. lhe dárya na cy-
dade a parte que atrás diguo, e que farya hese seruyço,
e amyzade a ellrey de cambaya.
Respomdeo-me a ysto que ellrey tíera gramde senhor,
e que se nós o seruysemos, que muito mores mercês nos
farya ; mns que ateguora os seruyços que lhe tínhamos
3W
feytos por dos dar baçaym com todas suas remdas, e de-
pois a fortaleza em dio, e apôs ysto a remda e parte
nallfamdegua, fora matarmos o solltão bador, e roubar-
moslhe a sua cydade e tomarmoslbe toda a sua armada
e artelharya e que hatéguora não tinbao vystos outros
seruyços nosos per omde merecesemos ellrey fazemos de
novo mercê, e que o seruysemos doutra maneira, e que
era muito pouco fazer ellrey o que nós queryamos: mas
que aguora vysto ellrey ter de nós recebydos tamtos agra-
vos, que devyamos daseytar a paz como ha tinhão feyta
com ho visorey; e depois diso que mamdase vosa S. a
corte a vygytar ellrey, e que tudo o mays farya ellrey
como semlise em nós vomtade de o seruirmos.
A ysto lhe respomdi o que heu sabya destas cousas,
que bera sermos nós a causa dellrey de cambaya ser oje
em dia rey; porque se nam fora com ajuda de nuno da
cunha os moguores numca foram llamçados de cambaya;
e que se ellrey se fora pêra meça como se ya, e nano da
cunha o nam acomselhara, que se nam fose, e nam aju-
dara; que tarde tornara a restaurarse em seu reyno, e
que hele nos tinha armado trayção pêra matar nuno da
cunha, e tomamos a fortaleza; e que por ysto lhe dera
deus o paguo: e que quamto aceytarmos a paz que fizera
o vysorey, que nam fallase nyso ; porque depoys ty vera-
mos até o tempo da guerra o meio das allfamdegas, e
que haguora estava vosa S. muy arrezoado, por nam
pedyr mays, que as terras de manora, que forao nosas,
e eles nysto nao davão nada, poys era tornaremnos o que
o soltSo bador nos dera: e que se ele a ysto náo tynha
mays que dizer, que ho que me ja tynha dito, que me
dese llicemça pêra me tornar pêra dio. Dixeme que me
vyese embora, e que dese comta dysto ao capytão, por-
que ele n3o tinha licemça dellrey pêra mais que pêra a
paz do visorey, e que lhe mandase a reposta do que ho
capytSo dezia, porque com ela se queria yr.
308
Eu vym a esta fortaleza e dey dysto comta a lluys fallcâo.
Díxeme que respomdese a cyde amede, e a reposta que
lhe mamdey foy, que eu dera comta ao capytâo do que
com ele e motaremocão pasara, e que o capylSo se es-
pantara multo diso, porque ele cyde amede lhe tinha dito,
por muitas vezes, que ellrey de caobaya faria a paz como
nós fosemos comtemtes, e que haguora falavao muy fora
de preposyto: que se motaremocão tynha mais poder'
dellrey, do que me tynha dito, pêra poder falar neste ne-
gocyo da paz, que mo espreuese. Â isto me respomdeo
cyde amede, que hele, nem o c5o n3o tynhão mays po-
deres, que ho que me tinhão ja dito ; mas que ymda nam
vyera a reposta dellrey ; e que por ele, e eu nam perder-
mos o trabalho, que tynhamos Ilevado, que lhe parecya
bem yrmos ambos a ellrey, e que hele do seu dinheiro
darya huQ cavallo, e que eu dese outro, e com ysto farya
ellrey tudo o que fose rezão, e nós quygesemos ; porque
ellrey de cãobaya hera gramde senhor, e muito v3o, e
que nam querya mays que verem huu portuges em ha-
madavade, pêra na propya ora se acabarem dasemtar as
pazes, como fose rez3o; e que muito mylhor se avyão
dasemtar com ellrey, que com o motaremocão. A ysto
lhe torney a respomder, que eu nam ousara de fallar
nysto ao capytSo ; que hele podia qua vyr se quigese e
que o dixese ao capytSo, e que eu o ajudarya no que pu-
dese; mas soo que me nâo hatervya por arrecear man-
darme o capytío premder, se lhe nysto falase; e domym-
guo XI de março ja muito tarde me tornou a esprever hOa
carta, que querya qua vyr fallar ao capytão, e que verya
terça feyra até quarta. Asy que fica a cousa desta maneira,
e pelo homem que me trouxe a carta soube nam ser ymda
vymda a reposta dellrey, e a rezSo he pela yda do ytemy-
decão, que nam ousSo a fallar a ellrey em negocyos. Asy
que ysto he o que ale hoje treze de março pasey; e a
volltas da carta do cyde amede me trouxerão buas poucas
304
de cyoouras, que mamdo a vosa S. Prazerá a noso senhor,
que o tomarão já em desposyçSo que posa comer delas.
Noso senhor acrecemte a vyda e estado de vosa S. por
muitos aoos, e lhe de muita saúde. De dio a xiii de março
de 548. «AmtoQio memdes de crasto.»
(SobrescriptoJ Ao senhor guovemador— meu senhor.
N.*59
Senhor — Quymta feira demdoemças mespreueo cyde
amede hua carta, em que me dizya que hera ja vymdo
recado dellrey, o quoall estaua muito menencoryo por
nós derybarmos a sua fortaleza e todas as casas de dyo;
mas comtudo que me fose ver com ele a naguyna, que
he ha huas duas pallmeyras, homde os rumes fyzeram
agoada, quamdo se foram: á quall lhe respomdi o que
V. S. verá pelo terlado da que Ihespreuy: e ao dya de
páscoa veo ter a gogolla, e com eu estar doemte de fe-
bres, fuy ter com ele, homde pasamos muitas palavras,
amtre as quoaes foy tornar-lbe a certeficar que como
ellrey de cambaya nâo dese a vosa S. as terras de monora,
e ametade destas allfamdegas, que nam farya vosa S. a
paz, como fose menos disto hum só quylate. A yslo me
respomdeo que ellrey nos daria os dous quymtos das
allfamdegas: dixe-lhe que estaua mail desposto; que não
gastase tempo deballde; e que me querya tornar pêra a
fortaleza. E ao que veo por derradeiro foy que ele como
homem que tinha trabalhado neste negocyo, á hum ano,
desejaua fazerse a paz, náo que ellrey lhe mamdase dizer
ysto, que hera que nos daryão ametade das allfamdegas
com comdição, que nós da nosa parte desemos algua
cousa pêra ajuda de se comsertarem as casas dellrey,
que nós derrybaramos : e quamdo ysto nam quigesemos,
que fose mamdarmos cada hano a ellrey algus cavalos.
A ysto lhe respomdi, que ellrey noso senhor nam pagava
páreas a nímgaem, amtes nesta terra IhaspagataBi muitos
reys: que se qaeri3o fazer a paz, que falase em cousas,
que podesem ser, e uam nestas tão fora de rez3o. Dixeme
que dese eomta dysto a luys fallòSo, e lhe maindase a re-
posta, porque hele que desejaua muito fazor-se esta paz,
e mays aguora, que bo ydallcao mamdara de novo em-
baxadores a ellrey de c3obaya pêra jurarem em seu nome
de não fazer paz com portugueses demtro em cymco anos,
e que se mamda desculpar de náo fazer a guerra a goa,
quamdo a qua fyzerio em dyo ; que se o deixou de fazer
foy pela guerra que trazia com ho zamaluco: asy^ue por
ysto queria muito ver esta paz feyta comnosco. Esprevo
ysto que me dixe a vosa s., porque pode muito bem ser
que náo sejâo mays que feros, como os mouros custumao
a fazer, e que nam será verdade nada do que diz cyde
amede. Eu por nam deixar de esprever tudo o que me
dixe, o faço nesta. O comque me despedi dele foy, que
vosa s. tinha destroydo todos os portos e terras do ydall^
cao, e tinha jurado de nam fazer pazes com ele, mas amtes
esperava em mayo por muita gemte de portugall, e que
nam avya de descamsar até que lhe nam fose tomar byl-
gu3o porque todas as outras terras per derredor de goa
lhe vosa s. tyoba ja tomjtdas; e com ysto me vym pêra
esta fortaleza e dey dysto comta a luys falcão, e tardei
dous dias em lhe respomder, e no flm deles, que foy a
segtmda oytava de páscoa, veo bum abexym do cyde
aoíede a matacavalo ter a gogolla com bua carta sua pêra
my espamtamdo-se de lhe nam respomder ao que pasára
comyguo em gogolla : e que depoys dele de qua yr, vyera
outro recado dellrey, em que mandava que senamflzesem
pazes senam com lhe darem os dous t^ços nallfamdega,
como mays meudamente vosa s. verá pelos terlados asy
das cartas de cyde amete, como da reposta que Iheu mam-
dey, os quoaes são estes que com esta mamdo a vosa s.
E a sete dabrill veo d*una bum pySo per quem lhe mamdei
TOMO VI 10
vwV
bns fhi8C08 d'agoa rozada; me tornou a espr^ver outra
carta, em que me diz que ho que falou comyguo em go*
goUa, que se avya de fazer, porque bera muito bom; e
ysto que me tornou a espreuer foy depoys de lhe ter es-
prito o desengano, e que se fosem muito embora. Ele e
o eSo ymda estáo em unaa, e verdadeiramente que me
parece pelo que vejo nas cartas do cide amede que se
nam bao dyr d'unaa até lhe nam vyr reposta delrey; por-
que cyde amede Ibespreveo o que aguora pasara comyguo
em gogoUa : porque seles nam ty verão mays poder delrey
do que me cyde amede espreveo, depoys de vyr a gogoUa,
que ellrey mamdára, não ousara a tomarme de novo a
esprever sobre o que falamos em gogoUa. Prazerá a noso
senhor, que ordenara ysto, como for seu seruyço, e delrey
noso senhor, e mays homra de vosa s. A gemte da terra
da per novas matarem os resbutos certos capytaês a ellrey
de caobaya, e querem dizer, que emtra neles cara asem,
e o bor moluco, he ysto se diz ha doze ou quinze dias.
Prazerá a deos, que serão estas novas certas, he que
poucos he poucos hos destroyrá a todos : e porque pelas
cartas que cyde amede mespreveo, de que mamdo o ter-
liado a vosa s., e asy da minha reposta verá todas as pa-
lavras, que mespreveo, e eu a ele, não diguo nesta mays,
senam pedyr a noso senhor, que acrecemte a vyda, e
estado de vosa s. por muytos anos. De dio a ix dabrill
de 548. cAmtonio memdes de crasto.»
Trelado dia carta de cyde amede pêra amtonio memdes
Senhor amtonio memdes: voso amyguo amede abedeil
naby vos mamda muitas calemas. Quamto a reposta dell-
rey, perque esperava, he vymdo hum aluará que diz ser
ellrey sabedor, que os portugueses destroyrão a forta-
leza delrey e todas as casas de dyo, e por esta rezão está
muito menencoriO) he esta palavra he cousa forte. E est^
307
voso amyguo por o que cumpre d amballas parles res-
pomdy a elrey, e lhe mamdey bua carta : prazerá a deos,
que ha pallavra delrey se chegará pèrta a tezSo. Vôs
vymde da parte de naguynaa; e este voso amyguo, e vós,
pelo que releVa a ambas as partes, fallaremos, e toma-
remos comcrusao neste negocyo. Motaremocão, e ceyde
amedezayr mamdáo muitas çalemaâ ao senhor capytão.
Se mamdardes algum servyço espreveimo pêra o fazer.
Reposta pêra cyde hamede
Senhor cyde amede abedellnaby. Deram me vosa carta :
e quamto ao que me nela dyzeys, que vaa a naguyna pêra
hahy falarmos vós e eu sobre este íiegocyo das pazes,
jaque vós aveys de vyr ahy, he tâo perlo de gogolla, que
havyaes de vyr a ela, ao menos por nãm me dar trabalho
de pasar cavalos pêra tão perto : e se ouverdes por tra-
balho vyr a gogollá, mamdayme hum seguro de motare-
mocão, e eu yrey a naguyna, ou a huna, se comprir.
O Senhor capytão vos mamda muitas çaletnaç asy a vós,
como a motaremocão, e a ceyde amede zayr, e eu tâo
bem faço o mesmo. Se de my mamdardes algum seruiço,
espreveymo, e faloey. Oje quinta feira, 29 de março.
Trelado doatra carta qne eyde amede mespreaeo,
depoys de yjr a gogoila
I
Senhor amtonio memdes : este voso amyguo amede abe
deli naby vos faz a saber como eu e vós falamos em go-
golla algQas palavras, de que túe nam mandastes a re-
posta, e asy tão bem veo aguora hum aluara dellrey, que
dous terços sejão seus, e hum dos portugueses, e que se
fará a paz; e que se os portugueses nam forem comtem-
tes, que estas terras se dem ao ciianljatécão; e motare-
mocão, e éu nós Vâínos pêra átref. O qúé for vosa vom-
aos
tade respomdey; porqae este voso amyguo sabe que
ellrey sem os doas terços nam be comtemte: e pêra que
vos seja craro e vós vejaes o que vos cumpre.
Repasta qne namdey desta carta a cjit anede he estaa
Muito omrado senhor cyde amede abe deli naby: se
vos Dao respomdy ao que vós e eu falamos em gogolla
foy por mynba doemça, como táo bem por lhe nam pa-
recer bem ao capytão nada do que me dixestes. Ora se
lhe nam pareceo bem o que me allargastes em gogolla
que bera ametade dallfamdega, como Ihò parecerá di-
zerdes aguora que ellrey que falia em dous terços, que
be a cousa que vós e motar^mqcão me dyxestes em Yna
averá quoremta e cymco, ou cymcoenta dias, a que loguo
vos respomdi que nam curaseis de fallar nyso; porque
daby a cem anos» em que estyvesemos sem fazer paz, nâo
se farya tall cousa. Pareceme que ellrey nâo quer fazer
paz com nosco, nem ternos por seruydores, poys que fala
em cousa tâo fora de rezão : que se a ele quyger fazer
fale em cousas arrezoadas: que o capytâo está prestes
pêra chegamdo-se ellrey á razão, rogar ao senhor gover-
nador que haja por bem fazerem se as pazes. E quamto
a me dizerdes em vosa carta que ellrey mamdaa que em-
treguem estas terrps ao majatecão, folgamos muito mays
de termos aquy bum* capytão tão omrado, que termos
ycufo xá, que be hum espravo, filho doutro : e quamío a
vosa yda e do senhor motaremocão, seja nas boas oras,
e vaa deos comvosco. Se de quá tiuerdes nesesydade
dallgua cousa pêra o camynbo, espreveymo e mamdarvo-
loey. A motaremocão mamdo muitas calemas, e asy a vós,
como a ceyde amedezayr, Eu vos mamdava pelo voso es-
pravo os seis frascos dagoa rosada, que me pedistes em
guogolla : dixe que os nam podia levar, porque hya a ca-
valo, e que os quebrarya. Oje terça feyra rai dabryll.
309
Carta de cyde amede depoys de Ihespre^er esta atrás
Senhor amtonio memcles. Qua me deo o pyão os seys
frascos dagaoa rosada. As palavras que vos dixe em go-
golla peio que hya a ambas as partes, que faiamos, se o
ouverdes por bem, será muito bom fazer-se, e depoys
vede o que vos parecer que vos cumpre: e se mamdardes
de my aiigum seruyço, espreveyme. Voso amyguo amede
abe deli nabyy. Oje a vi dabryli.
•
N.'60
Artigo de homa earta que Lníx Falcio
escreireo de Ormuz a D. Jo. de Castro» com data
do 1.° de Fevereiro de iS46
Aiiéyios de carualho me dixe da parte de vosa s., que
lhe mãodase allyxamdre hem parsyo: Ua lho mãodo,
haimdaque has escreturas destes mouros, tenho-as por
menos autemtes que has nosas. Nese iiyvro vam houtras
estoryas hafóra has dallyxamdre, has quays me parese
que foliguará mays com ellas ho senhor dom fernãodo,
hou quailquer houtro homem do mumdo, como heu, qae
V. s. LIá maodo dous crystamos catyvos, que ha pouquo
tempo que fugirão de allepo. N3o dam nhuas novas polio
pouco tempo, que avya, que herao cativos: hesas que
dao, iiá has comtarão ha vosa s. ; por iso lhas não es-
creuo, nem ao presemte nom ha que escreuer, senão que
noso senhor acresemte vyda e çstado de vosa s. por
muitos anos, &c.
Artigo de liuraa carta, que Garcia de la Peolia
> escreveo a D. Jo. de Castro, de Ormuz,
a o de Fevereiro de 1546
Aleyxos carvalho pedio qua a alrey e goazil hemires
bpm livro da ystoria dalyxamdre. Com muyto trabalho
acharão hu, que lhe mamdão. Eu porque quis que vosa s.
por algum respeyto ouvese de mim algum coBhecimento,
e pelos desejos que tenho de servir senhor, de que tam
altas bomdades se dyzem deferemtes das dos outros, que
seu mamão t^verão» mamdo a vosa s. hum livro, que
cuydo que no$o senhor me quis fazer esta mercê de ser
tam bom, que em gramdes dias se náo achará outro tal.
Peço a vQsa $., que ho livro, e a mim com ele, queyra
aver por seus com aquela ^^omtade e desejo» que noso se-
nhor sabe que lho eu ofreço, cujo. estado he castidade,
acompanhada de tamtas vúrtudes, como dizem, que está.
Noso senhor sostenha e acrecemte per muytos anos pêra
amparo destas terras, àc.
Artigo de hama carta de Rni GonsalTes de Gaminha
para 9, Jo. de Castro, eserila de Goa a 22 de Janeiro de Kfí,
em qne faMsi de huíiia Dáo apresada, e das finoBda»,
qne nella tíbMío
Em hu caiaão, em que vinhSo huas poucas de fotas» e
panos de seda, vêm éous liwos escriptosi em parceo, em-
lumynados, muyto lousãos, não sey de que são, e diz o
feitor, que de laa veio na náo, que outros dous tomouos
Symão boteHio, peqoeno^, muyto b9s, que diie, .que os
tomaua para V. S. <te.
N.* 61
Dom aluaro de crasto: eu elRey vos ènuio muito
saudar. Porque as nouas que tiue os (Mas paaados de
barbarroixa ser ydo na via de leuante, com toda sua ar-
mada as ey por certas por mas escreuerem de todas as
partes, domde me podiam vyr a certeza delas, ouue por
meu seruiço de vos mandar vyr; pelo que vos encomendo
muyto e mando, que vos venhaes com toda a jente que
comvosquo levastes, e comque laa me estaueis servindo.
Ml
B muyto vos agradeço o como Ia me servistes nas cousas
que se oferecerão de mea seroiço : e asy comHo de võ6
qae<o fareis sempre. Escrípta em euora a xiii dias do mez
de setembro de 1S44. E asy ey por bem qoe tragaes
convosquo dom fernando voso irmão. cRey.»
(No fundo) Pêra dom aluaro de crasto.
(Sobrescripto) Por elRey— A dom alluaro de crasto
fidallgo de sua casa.
N.'62
Dom Aluaro de Crasto amigo, o Iffante vos enuio
muito saudar: recebi uossa carta, e com elia ieuey muito
contentamento por saber nouas de uós e peilas que me
daes das cousas dessa terra sempre folgarei que mas es-
creuaes, e que me façaes saber de uossa disposição^ e
prazerá a nosso senhor que volla dará sempre tão booa
como eu desejo pêra com eila merecerdes a ElRey meu
senhor fazeruos muita honra e mercê alem da que vos
deue por filho de uosso pai, que o também serue nessas
partes. Vós folgai sempre de o parecer em tudo, e de se-
guir seus boõs exemplos, porque tendes muita razão de
uos prezar delles : de nossas cousas eu tenho o cuidsKlo,
que vosso pai uos dirá, e terey sempre mui booa von-
tade pêra o que vos de ml cumprir, escrita em almeiri
a xvn de Março de M.D.xlvq. «Iffante Dom Luis.»
A dom Aluaro.
N.* 63
■
Dom Aluaro de Crasto amigo : recebi a carta que me
es<a*euestes na armada de Lourenço pirez de Tauora, em
que me daes conta particularmente do cerco de Dio, e
da victoria delle, que he tamanha, que se nom pode nella
fakr, porque, por muito que se diga, he ficar áquem do
que se deue dizer, por as muitas particularidades, que
nisto ha, e muitas mostras e sinaes de grandes virtudes.
3M
e esforços» e muito boõa ventura, que doso senbor deu
a uosso pai, e aos que com elie forão, que fez neste ne-
gocio todo bo5 oficio, assi no socorro que mandou" com
dom femando vosso irmão, e no que mandou per uós,
como da vinda em pessoa quefez, que tudo parecem
(Aras inspiradas per deos, e per ellas Ibe deuem dar
todos muitas graças. Pois o que vós fezestes, e os traba-
lhos, e perigos que pasastes no mar, e o esforço, com
que pelejastes na terra, e a honra que nisso ganhastes bc
muito pêra louuar, e pêra ElRey meu senhor gratificar
com honra e mercê, pêra o que mostra ter boôa vontade,
como verêes per obra no que vos escreue e manda : da
morte de vosso irmão me pesou muito, e ouue por mui
grande perda a de sua pessoa por os sinaes que tinha
dados de sua virtude e esforço ; e porém elle acabou tam-
bém, que basta pêra uos consolardes, e dardes muitas
graças a noso senhor, como creio que terees feito. Scríta
emLixboa a xvij de outubro de M.^.xlvij. «Ifiante Dom
Luís.»
N.- 64
Dom aluaro de castro : eu elrrey vos enuio muito saudar.
Vy a carta que m6 escreuestes, em que me dais conta da
guerra que se moueo com o Idallcaâo porcaussa domiale:
e assy do cerquo e guerra da fortaleza de dio, e do cui*
dado e dellygencia, com que o gouemador vosso pay a
tudo proueo, e trabalhos que nisso leudti, e como em
tudo me seruio, que foy tam comforme há ccfmfiança que
delle tenho, que nâo posso eu deixar de ter disso o con*
tentamento que he rezaão, e se deue aos merecimentos
de sua pessoa e seruiços. E nos trabalhos, que sey, que
vós leuastes, e sofrestes, em fforçar os tempos e os mares
pêra em tal tempo soòorrerdes a dita fortaleza, se vio
quanto mais pode o desejo que temdes de me seruir, que
o receo de tamanho períguo, como em tal tempo naqueUe
81»
cammho se vos ofiferecia ; e na maneira em qne a da che-
guastes, e em como pelejastes na defFensSo dela, com-
pristes bem com a obriguaçSo que tendes de fllbo de
vosso pay: e de quanto tudo acrescentou na hoprra e me-
recimento de vossa pessoa tenho eu tanto como do ser-
uíço que nisso fizestes a nosso senhor, e a mim, o quall
eu istimo tanto e tenho naquella conta, que a calidade
dele, e o fraito que se dele seguio o merece, e assy vollo
agradeço, e essa comfiança tenho de vós, que em tudo o*
que se offerecer de meu seruiQo tomareys sempre tanta
parte dos trabalhos de vosso pay e o ajudareys nelles
tanto como neste feito o fizestes, e vos encomendo muito,
que o façais assy, pêra que a muito boa vontade que vos
. tenho, e a obriguaçao de vos fazer mercê por vossos
seruíços vaa sempre com elles em muito crescimento.
Antonyo ferraz a fez em Lixboa a xix dias de feuereiro
dei 548. fRey.»
3.* via pêra dom Aluaro de castro.
Dom Aluaro de castro: eu elRey vos enuio muito
saudar. Vy a carta que me escreuestes de baçaim a xxvi
de novembro de quarenta e sete; e o que me nela es-
creueis da boa vontade com que me seruis se mostra na
maneira de que o fazeis, e tudo he conforme aa muita
confyança que de vós tenho; e aa obriguaçam que tendes
de quem sois, e do lugar em que me seruis: e nam so-
mente recebo contentamento dos boos seruiços que me
tendes feitos, e fazeis pela calidade e merecimento deles,
mas ainda pelo exemplo que se niso toma de vós: e louuo
muito a noso senhor por todas as vitorias que tem dadas
a voso pay dos immiguos de sua santa fee cathoUca, e de
meuseruiço, nas quaes tendes tanta parte, como quisestes
tomar dos trabalhos e perigos delas : e da boa conta, que
m
(p V)4y â09^6 (te "vmi tenho o cc^mtamento, (pie be
ri^zio, e v6s o deveis de ter grande^ da muita honra
que níso tendes guanbada ; e trabalhar de a conseruar e
acrescentar em todo o mais, que ao diante se offercer de
meu senuco» porque a muito boa vontade, que vos tenho
seja com iso mais acrescentada. £ dos fidalguos e pesoas
qpe se acharam comvosquo no feito de pondaa e o fizeram
tasobwi como dizeis em vosa carta, terej a lenbrança que
be rezSo,. que de tam bõo seruiço se tenha. E postoque os
trabalhos e ocupações da guerra vos n3o dee lugar pêra
me escreuerdes larguó» como dizeis, todavia trabalhay de
o fazer, porque ma prazerá diso muito. António daguiar
a fez em alineiry a xuh dias de março da 1549. «Rey.»
(No funda) Reposta a dom aioaro de castro.
(Sobrescripto) Por elrey— A dom aluaro de castro
cappitáo moer do mar nas partes da india.
LISTA
DB AIGM8 ARTISTAS PORTOGUEZES
COIUGIDA PELO AUCTOR DE ESCRIPTOS E DOCUMENTOS
NO DECURSO DAS SUAS LEITURAS
EM 1825 (PONTE DE LIMA) E EM 1839 (LISBOA)
LISTA
DE ALGUNS ARTISTAS P0RTU6UEZES
COLUGIDA PELO AUCTOR DE ESCRIPTOS E DOCUMENTOS
NO DECURSO DAS SUAS LEITURAS
EM 1825 (PONTE DE UMA) E EM 1839 (LISBOA)
ADYERTENaA
Tendo eo, no decurso de minbas leituras, acbado me-
moria de Artistas Portuguezes pouco conhecidos, e de
alguns estrangeiros, que trabalharão em Portujgal, fui
apontando os seus nomes^ e desses apontamentostireí a
presente lista, que agora ponho em alguma ordem.
Já se vé pois, c[ue não escrevo hum catalogo, em que
entrem todos os Artistas Portuguezes, nem faço a historia
delles. Lembro alguns menos conhecidos, de que achei
memoria. Aponto outros mais conhecidos, que se me ofiEe-
recérão á penna, quando escrevia; e omitto o grande nu-
mero delles, que vem mencionados nas obras de Taborda,
e de CyrilloVoIkmar, na Descripção analytica da Estalua
Equestre do douto esculptor Joaquim Machado de Castro,
e em outras obras suas, e tambeln nas de alguns estran-
geiros, que consultei.
Quem quizer ter amplo conhecimento dos nossos Ar-
tistas, e da Historia das Bellas-Artes em Portugal, deve
ler estas obras, e outraá que disso tratarão ; nSo perderá
318
de todo o tempo em ler estes meus breves apontamentos;
e ainda com estes subsidios lhe ficará larga colheita, qae
possa aproveitar.
ARQUITECTOS
Afibnso Alvares— Foi arquitecto de el-Reí D. Se-
bastião , que ^d Alvará de 1 5 de Udxqo de i 57 1 lhe chama
Meatre das minhas obrw.
Fez a traça para o mosteiro de 9« Beoto, que por
aquelles annos se intentava edificar em UÉboUf como
consta da Benedictina Lmitana, tom. 2.°, pag. 419.
Yolkmar Machado faz menção deste arquitecto entre os
distinctos do seu tempo, e diz que tivera a Ordem da Ca^
vallaria.
Afibnso Domingues — Veja-se o que escrevi deste
arquitecto na Memoria Histórica das dbi^as dd i^eá) mos-
telh) da Batalha (i).
Fr. Manoel doá Santos ria Monarquia tHHiàhn, pirt. é*,
pag. 784^ diz que Affonso Dodiín^ir, atijiHtécto do con-
vento da Batalha, fora nàttii^l dè ÍMM^ e dsí ft*egQez!a
da Magdalena.
ASb-hÈO Martins —Foi d fn^f^ da obra do iéA
mosteiro de Ódivellas, ftandado pór êff-^Réf D. Diniz, coíão
coMta de hum documento da Sé de Lt^boér de 10911, ú*
tadõ na Monarquia Lmitaria, part. 5.*, ffv. 1 7.*, cá^. 2f.*
AAmso de Moraes— Acho eirit íheifioria, (|ue 6
clá«rs«^ dê S. Ptiaheisco de Évora, òífNt ^IfàaõSmá, fdM
obf * de AfFoí>so de Mof ires, e que asi^Mif túb9flk dé iàatík
peAra do mesiâfio claustro, em quer fátfeEHrÉr ée lé d aáM
1376 (anno vulgar, ou era?).
lAeUtíkBÃãJt Alvaifes-^Poi bum ders (polé tÉ6fíó o
(1 ) Obras Completas do Cardeal Saraiva (D. Francisco de S. Luiz)*
tom. !.«; pág. ÍBL CO editor J
3»
risco para o ediflcio da primitivo collefifio de 8. BMto de
Coimbra, como consta das Actas da Junta de < 3 de Junho
de 1600, no arquivo da Secretaria da Congregação; mas
nio sabemos se o seu risco se executou : executou^se po-
rém a traça que deo para o mosteiro grande de B. Bento
de Lisboa, chamado da Saudõ, o qual se come^u a edi-
ficar em 1H98, e he de tal arquitectura, que parece bás^
tante para acreditar este insigne mestre, a quem Fr. Leio
de S. Thomaz chama fameso arquitecto. (BmediotiM lei-
sitanaj tom. 2.^ pag. 428.) Era sobrinho do arquitecto
de el-Rel, Âffonso Alvares, de quem já falíamos. (Vej.
Volkmar, pag. 161.)
Oonde de Tarouca — Este íUustre fidalgo, qoe foi
Ministro Plenipotenciário de el-Rei D. JoSo V em Hol-
landa, e em Vienna de Áustria, teve largos conhe^mentos
em arquitectura, e foi mui perito nesta arte, a ponto de
ser taxado de excessivo no exercício de tSo excellenle
prenda. Delle diz o cavalheiro Oliveira, que os seus es^
tudos em arquitectura começarão na Cotovia, eoniinudrão
em Holkmda, e o acompanharão em Vienna até á sepuU
tura.
Diogo Maluques— Foi arquitecto d© el-Rel, » vivia
pelos fins do século xvi. Fez riscos para alguns mosteiros
benedictinos, e entre elles para o de S. Bento da Ylctoria
do Porto, que he de boa arquitectura, e também para 6
collegio de Coimbra. Consta das Acta» Bapihtkire» da
Congregação de S. Bento, Junta de 19 de Junho de 1600.
Diogo Tellez — Engenheiro. Esteve em Aliemadha,
aonde sérvio por alguns annos ao Imperador, com boa
opinião.
ElRei D. João III o mandou chamar, e ordenou que
elle acompanhasse a Miguel da Arruda (de que adiante
falaremos) quando segunda vez o mandou e^aminaf os
lugares de Africa e suas fortificações. (Andrade, Chro-
nica de el-Rei D. João III part. 4<*> eap. i*.^
Diogo de Torralva— Era mestre das obras do
grande mosteiro de Belém, em 1557, quando para ali se
trasladarão os ossos do fundador el-Rei D. Manoel. (Yej.
a Trasladação dos ossos, &c., impressa com as obras do
Bispo Pinheiro em 1784, 2 vol. de S."")
Domingos Domingues— Foi mestre da obra do
claustro do real mosteiro de Alcobaça, mandado fazer
por el-Rei D. Diniz, como consta do letreiro entalhado
em mármore, que se lê no mesmo claustro, defronte da
porta do capitulo, e vem copiado na Monarquia Lusitana,
part. 6.*, liv. 19.°, cap. 44.® Foi lançada a primeira pe-
dra da obra no anno vulgar de 1310 (era de 1348).
Eugénio dos Santos— Foi o arquitecto da moderna
Lisboa. (Vej. Volkmar.)
Femfto de Évora— Foi sobrinho de Martim Vas-
quez (de que em seu lugar falaremos), e Ibe sucòedeo no
cargo de mestre das obras do insigne mosteiro da Bata-
lha, de que já estava provido em 1448. Vem nomeado em
vários documentos do arquivo daquella caza desde 1 448
até 1473. (Vej. a minha Memoria Histórica das obras da
Batalha (2).
Filippe Brias (Flamengo) — Foi perito em arquite-
ctura militar, e sérvio na índia em tempo do Vice-Rei
D. Luiz, de Âtaide, por cuja ordem construio a nova for-
taleza de Braçalôr.
. Filippe Tersio — Engenheiro Italiano. Delineou o
forte de cinco baluartes, que defende a barra do Ave
em Villa do Conde. Fez o grande aqueducto que traz
agoa ao convento de religiosas da mesma villa, e tam-
bém os arcos das agoas da cidade de Coimbra.
Acompanhando a el-Rei D. Sebastião á infausta expe-
dição dé Africa, como divisador do campo, iicou captivo
em poder dos bárbaros na batalha de 4 de Agosto de 1578.
(2) Obrai Ccmpletoêj &c, tom. !•*, pag. 284.
O Cardeal Rei, que mandava a África D. Rodrigo de
Menezes para tratar do resgate do corpo de el-Rei, es-
creveo-lhe em 6 de Setembro de 1S78 as seguintes pa-
lavras: Tereis cuidado e lembrança de mandardes saber
de Filippe Ter cio, ^ue he hum engenheiro Italiano^ que
hia no exercito do Senhor Rei meu sobrinho, que Deos
tem, e o fareis resgatar logo, porque he homem útil, e
que convém para o serviço da sua profissão.
Franoisoo Pires— Grande mestre de obras lhe
chama Gaspar Corrêa, nas Lendas da índia (3). Ahi diz
que Francisco Pires fora mandado por el-Rei á índia para
fazer a nova fortaleza de Moçambique; mas que tomando
a náo de Lourenço Pires de Távora (com quem elle hia)
por fora da Ilha de S. Lourenço, n3o fizera aquelia forta-
leza; mas que dirigira a obra da de Dio^ fundada pelo
grande D. João de Castro depois da famosa victoria, com
que terminou o cerco daquella praça. Lançou-se a pri-
meira pedra desta obra a 24 de Novembro de 1546.
^Henrique Guilherme de Oliveira— Foi arqui-
tecto civil do Príncipe Regente (depois Rei D, Joio VI).
Em 1800 escreveo huma Memoria^ em a qual se mostra
o estado da Real Valia de Alpiaça, e sitios adjacentes,
seu melhoramento, e utilidades que delle resultam. Nesta
Memoria (manuscripta) vem desenhada a Carta do Tejo,
e suas beiras, dasde a Chamusca até Porto-de-Muge.
Huet^ Huguet, ou Ouguet (Mestre)— De todos
estes modos achámos escripto nos documentos do mos-
teiro da Batalha o nome deste arquitecto, hum dos mais
beneméritos (a nosso parecer) que dirigirão aquelia grande
obra nô tempo de el-Rei D. João I seu fundador,
O primeiro documento em que se nomêa este mestre
he de 1402, por onde nos parece' ter sido o segundo
(3) Tora. 4.% part. 2.", cap. 69.°, pag. 581, da edição publicada
pela Academia Real das Sciencias de Lisboa em 1866.
. TOMO VI 21
3«
arquitecto da Batalha, e successor âe Âffonso Domin-
gues, âe quem já falámos. (Yej. a Memoria Histórica já
citada) (4).
Temos por mui provável que falleceo em 1438, ou
pouco antes, e que a elle se deve attribuir a execução da
obra do capitulo e claustro real, e talvez o fim do templo
e da capetta real.
Inofre de Carvalho —De Iqpfre de Carvalho,
grande ttrquitecto^ que el-Rei D. Sebastião mandara re-
formara fortaleza de Ormuz, fala Diogo do Couto, dec. 7.%
liv. 7.^, cap. 10.° Âbi mesmo diz que elle ordenara huma
maquina de madeira sobre rodas altas, para a guerra que
D. Antão de Noronha fazia aos Turcos, quando estavão
de cerco sobre Babarem.
Jeronymo de Ruam — Foi arquitecto da Infanta
D. Maria, filha de el-Reí D. Manoel, a qual lhe encarregou
a traça da capella da Senhora da Luz, que mandava edi-
ficar no convento da Luz da Ordem de Christo, recom-
mendando^lhe que fosse huma das melhores cousas da
Europa. (Yej. a Historia do insigne apparecimento da
imagem de Nossa SerUwra da Luz, por Fr. Roque do So-
veral, 1610, aonde se descreve esta capella, e a perfeição
do seu artiCcio.) A recommendação da Infanta basta para
mostrar a confiança que ella tinha na perícia do arqui-
tecto.
Jofio Afibusô — Foi mestre da obra do castello de
Mourão, fundado por el-Rei D. Aflfonso IV em 1343.
João de Oasttllio — Diogo Barbosa Machado na sua
Bibliotheca Lusitana lhe chama famoso arquitecto do seu
tempo, e diz que fora pai de Fr. Diogo de Castilho : e a
Bibliotheca Histórica acrescenta, que fora filho sèu An-
tónio de Castilho, natural de Thomar.
Desenhou o grandioso templo do convento da Ordem
(4) Obras Completas^ &c., tom. 1.% pag. 282.
de Ghrísto em Tbomar, e o dos padres Jeronymos de Be-
lém em Lisboa.
Ei-Rei D. Manoel pelos annos de 1519 lhe tiBba encar-
regado as obras da sacristia e livraria do mosteiro de
Alcobaça, e era chamado Mestre das obras de el-Rei.
(Real Arquivo da Torre do Tombo, Corpo Chronologico,
part. 1.% maç. 24.^ num. 4 e 101.)
Por hum Alvará de 23 de Setembro de 1522 mandava
el-Rei D. Jo3o III dar a João de Castilho, mestre das obras
de Belém, mil cruzados por conta da empreitada, ora
com elle novamente ajustada sobre o fazimento das abo-
badas e pilares do cruzeiro da. igreja. (Real Arquivo,
Corpo Chronologico, part. 1,*, maç. 28.^, num. 90.)
Por Alvará de el-Rei de 4 de Junho de 1528 foi João
de Castilho nomeado Mestre das obras da Batalha, que
vagara por morte de Mestre Matheus. (Liv. 14.*^ da Chan-
cellaria de el-Rei D. João III, a fl. 138, no Real Arquivo.)
João Fernandes e Vasoo Brás — Forão os mes-
tres que construirão os muros e fortificações de Lisboa
em tempo de el-Rei D. Fernando, concluindo esta grande
obra em dous annos desde 1373 até 1376. Vem também
nomeados na inscripção do arco do Marquez de Alegrete.
(Panorama, vol. 2.®, pag. 339.)
Jofto Froilaoo — Construio a fabrica do mosteiro Cis-
terciense de S. João de Tarouca no século xii, segurido a
Chronica de Cister, liv. 2.®, cap. 4.^ e a Monarquia Lu-
sitana, part. 3.*
João Qatoia — Foi Mestre e Vedor das obras de el-
Rei D. Fernando, como se vê da inscripçSo que existe no
claustro do mosteiro benedictino de S. João de Pendorada,
em letra Allemãa minúscula, deste teor :
Era de 1420 annos don affonsó martins abade deste
moesteiro mandou fazer a obra deâta craastra por
star maa, e foi feita per mãao de iohn garcia de
toledo, mestre e veedor das obras delrey aón fer-
nando: pater noster.
324
A identidade do Dome, e do tempo, me faz crer que
foi este mesmo João Garcia o que fez a obra da GoUegiada
de Guimarães no próximo reinado de el-Reí D. João I,
segundo o letreiro gravado na parede do templo, e com-
memorado por Soares da Silva no tom. 2.° das Memo-
rias deste Monarca.
João Nunes Tinoco — Existe na Bibliotbeca Real da
Gaza das Necessidades bum livro manuscripto, em folio,
em que se lé este titulo : Livro das Braças de Portugal
com stuis forti^ações, desenhadas pelos Engenheiros de
Sua Magestade^ SÇc, delineadas por João Nunes Tinoco,
Arquitecto de Sua Magestade. Anno de 1663. E acres-
centa: Este livro mandou fazer o Senhor Conde da Torre.
JoâLO Turriano (Pr.) — Foi fllbo dé Leonardo Tur-
ríano, homem mui Intelligente em obras de fortificação,
e que nisso trabalbou neste reino, e de sua mulher D. Ma-
ria Manoel, pessoas nobres.
Aos dezoito »para dezenove annos tomou o habito de
S. Bento no mosteiro de Lisboa, a 29 de Novembro de
1629. Sempre occupado nos estudos do desenho, e no
risco de obrais de arquitectura, a que o inclinavSo os pa-
peis de seu pai, sahio insigne nestas artes. Seguio os es-
tados da Congregação Benedictina com louvor, emereceo
ser nomeado passante.
Foi Lente de mathematica na Universidade de Coimbra,
e el-Rei D. João IV o nomeou Engenheiro mór do reim,
lugar que seu pai tinha occupado. Sérvio a este Monarca
treze annos, e foi o que delineou as capellas mores das
Sés de Visêo e Leiria, além das obras do mosteiro de
Alcobaça, e das fortificações do reino, em que foi empre-
gado.
Fez a fortaleza de Cabeça Sécca, e outras; traçou o
mosteiro novo de Santa Clara de Coimbra; o dormitório
novo e hospedarias do mosteiro das religiosas benedicti-
nas de Semide; o dormitório novo de Alcobaça; o das
325
iDglezinhas de Lisboa; o novo de Odivellas; o benedictino
da Estrella ; o de Travanca, e a igreja nova de Santo Tirso :
e desenhou o mosteiro de Lisboa, ác, ác.
Por morte do Padre Mestre Fr. Pedro de Menezes,
também benedictino, e Lente de mathematica na Uni-
versidade de Coimbra, occupou Turriano aquella cadeira
por votos dos estudíntes, em renhida opposiç3o com o
Dr. Gaspar de Mery, e a leo por vários annos. Falleceo ■
*^p Lisboa, e jaz na capella mór do templo de S. Bento
^nde, aonde tem sepultura, com este epitáfio:
COImX^^T^;.^ ^^^^^^ ^/^^O TURRIANO LENTE
HATICA, QUE FOI, NA UNIVERSIDADE DE
. Jofto Vicente' cí" "" ' """^ ^-evereiro de 1679.
arquitecto, esculptor, eific- Florentino. Frade Servita,
coenta e quatro annos. Veio^Ueceo em 1693, de cin-
D. Filippe II para reparar algumas tml, chamado por
(Vej. o Diccionario de Arquitectura^ ác, pv/io reino.
land le Virloys. Paris, 1770, 3 vol., 4.°) - i^q,
Leonardo Turriano — FoiEngenheiro mór do reÍRo;
pai de Fr. Jo3o Turriano, de quem ha pouco falámos.
Entre os manuscriptos da livraria do Collegio de
S. Bento de Coimbra havia hum que tratava (se a me-
moria me não engana) das fortificações das ilhas dos
Açores, e seus desenhos, obra deste arquitecto.
Manoel da May a — Vej. a Collecção de Memorias
dos Pintores, Esculptoresj ác, por Volkmar Machado, a
pag. 194.
Martim Vasquez — Foi hum dos mestres das obras
do mosteiro da Batalha, em cuja direcção succedeo a
mestre Huet, ou Ouguet, ou Huguet, de que acima fa-
lámos. Tinha sido aparelhador da obra de pedraria em
tempo do fundador el-Rei D. João I.
El-Rei D. Duarte o nomeou Mestre e Divisador das
obras por Carta sua dada no anno de 1438. E el-Rei
D. Affonso V o confirmou neste cargo em Junho de 1439,
como consta do liv. 2.^ da sua Chancellaria.
Em 1448 já era fallecido, como consta de hum docu-
mento do mosteiro da Batalha desse anno, em que figura
Brites Lopes, mulher que foi (k Martim Vasquez, Mestre
que foi das obras do mosteiro de Santa Maria da Ywto^
ria. • ,.
Segundo a juizo que fizemos do tempo em que se edi-
ficarão as differentes peças daquelle grandioso edificio,
classificámos a Martim Vasquez em ordem inferior a ^:
mestres que lhe precederão. (Vej. a nossa Merno-
lorita das obras da Batalha.) (5). arquitecto o
Matheus Fernandes 1.'' — Foi da Batalha a so-
que delineou e e^xecutou no mQyér/fe$7a. (Vej. a citada
berba, o&ra (Ja chamada Car^'^
Memoria HisloricaJJJ^B 2.^— Foi filho do anlece-r
Matheus V mestre das obras da Batalha. (Vej. a
dente, e-^storica^ e o que fica notado adma no artigo
]^ff,^il^e Castilho.) (7).
Mig^ael ásk Arrada — Foi mestre das obras das for-
talezas destes reinos, onde vivia e servia no reinado de
d-Rei D. João III. Foi elle o que delineou a fortaleza nova
que el-Rei mandava fazer em Moçambique, em tempo do
illustre D. João da Castro, como consta da carta de el-Rei
para este Governador, que possuimos original, escrípta
a 8 de Março de 1546 (8).
Em 1549 foi mandado a Africa, quando el-Rei quiz que
se fizesse o forte do Seinal para defeza de Alcacere- (An-
drade, Chronica de el-Rei D. João Ilh part. 4.'', cap. 35.®
tí seguintes.)
(o) Obras Completas^ &c.,/om. \,°, pag. 283.
(6) Ibid,, tom. 1.°, pag. 284.
(7) J&td., tom. !.«, pag. 286.
(8) Ibid., tom. $.«, pag. 223.
Miguel 16 Boutenz— Acerca deste arquitecto, que
exerceo também a arte de gravura, vej. adiante o respe-
ctivo artigo sob o titulo « Gravadores » (pag. 334). .
Higrael Fernandes— Vivia. nos principies do sé-
culo xvni, e he Dbra sua a planta e risco da actual igreja
do mosteiro benedictino de S. João Baptista de Pendo-
rada, a qual se mandou executar no capitulo geral do
anno de 1725.
.Niooláo de Frias— Vej. Volkmar a pag. 161.
Foi hum dos arquitectos que acompanharão a el-Rei
D. Sebastião na infausta empreza de Africa, e diz a Cbro-
nica de Fr. Bernardo da Cruz, que na marcha do exer-
cito de Arziila para Larache hião pêra sitiadore» do
eampo Phelipe Estercio italiano, e Nicoláo de FriaSj
grandes architectos.
Sousa faz menção de Nicoláo na Historia de S. Domin-
gos, part. 1.% liv. 1.^ cap. 27.^ falando de huma reli-
giosa de virtude, que fora sua irmãa.
Pedro Nunes Tinocx) — Era em 1620 arquitecto do
Priorado do Crato, e depois o foi de él-Rei. Delineou:
Plantas e Perfis das igrejas, e vtílas do Priorado do
Crato; manuscripto, que se guarda na Livraria do Ex."^
Marquez de Gastello Melhor, e he o num. 322 da numi-
ração provisória dos manuscriptos.
Sebastião Tibáo— Fez delle menção Diogo do
Couto, dec. 12.*, liv. 4.°, cap. 1.% qualificawQderQ de
grande Engenheiro, e presumia que elle seria Flamengo
de nação. Servia na Índia pelos annos de 1599, e tinha
o titulo de Engenheiro-mór, como se collige do mesmo
Couto, no lugar citado, e nos capitulos seguintes.
Simão de Ruam — Engenheiro, homem de singular
industria e engenho, e não menos valor. Servia na Indid
no tempo do Vice-Rei D. Luiz de Ataíde, que depois da
conquista de Onor, o deixou ali por mestre da aova for-
tificação que mandou fazer, e concluida^ella, o encarregou
de fazer o seu debaxo para o maodar a el-Reu (Histo-
ria da Índia, de., por António Pinto Pereira, liv. 1.°,
cap. 14.**)
Thomaz Fernandes — Fala delle Damião de Góes
na Chranica de el-Rei D. Manoel, part. 2/, cap. 16.% e
diz que era na índia Mestre das obras de eUUei, e que
havia feito todas as fortalezas que lá tínhamos até o
anno de 1606. O mesmo tinha dito Castanheda na His-
toria da Índia, liv. 2.^, cap.- 45.°, chamando-lhe hoinem
de bom saber na sua arte, e de sutil engenho,
Valentim — Rebelio, na Descripção do Porto, faz
menção de hum discípulo de Miguei Angelo, chamado
Valentim, que foi o auctor da admirável fabrica da Ga-
thedral do Porto. (Vej. a dita obra, pag. 58.)
Vasoo Brás — Vej. acima o artigo João Fernandes.
ARTE DE ESCBEYEK
Desenho á penna
Domingos dos Santos de Moraes Sarmento—
Era natural do Fundão, Bispado da Guarda, e foi hum
dos mais admiráveis Portuguezes da nossa idade na arte
de escrever, e desenhar á penna.
Fazia toda a qualidade de letra com grande exacção, fa-
cilidade, e belleza. Esta desgraçada habilidade empregou
elle em sua ruína, fabricando de letra de mão, e dese-
nhando á penna apólices do Real Erário, com seus miúdos
e variados ornamentos, pelo que foi preso, e seria sen-
tenciado á morte, na forma das leis, se a sua mesma
prenda lhe não grangeasse a protecção de pessoas de
grande respeito, que admiravão, e prezavão a arte. Ficou
na torre de S. Julião em prisão perpetua, e ahi mesmo
trabalhava de continuo na sua arte, até que a morte o
levou,
329
He necessário ver as suas escripturas e desenhos,
cheios dos mais delicados ornamentos, para avaliar o in-
comparável talento deste artista.
Eu vi copiada por elle á penna, com a maior perfeição,
a grande estampa da Estatua Equestre de el-Rei D. Josél,
com a qual se enganavão os olhos mais perspicazes, con-
fandindo-a com a original aberta a buril.
Havia no Museo do mosteiro benediclino de S. Marti-
nho de Tibães huma amostra deste exíraordinario ta-
lento em quatro pensamentos allegoricos, dedicados á
gloria de Napoleão Bonaparte, Imperador que foi dos
Francezes, feitos á penna em 1807, os quaes ali depo-
sitei, sendo-me para isso offerecidos pelo Coronefde mi-
lícias reformado Francisco Pereira Peixoto Ferraz Sar-
mento, meu particulane saudoso amigo. Estas pequenas
estampas quasi se não dififerençavão das melhores aber-
tas a buril.
Este artista era já fallecido em i 81 7, quando púnhamos
em lembrança estes breves apontamentos.
Duarte d' Armas — Veja-se o que dizemos deste
^xcellente artista no artigo dos Debuxadores, Desenha-
dores e Pintores. O livro, de que lá falámos, que se
guarda na Torre do Tombo, e que contém todos os de-
senhos das fortalezas do reino, he feito d penna com
grande perfeição.
Duarte Luiz Garcez Palha— Foi Cadete do re-
gimento de Cascaes. Eu possuo duas paizagens da sua
mão, desenhadas d penna, que tem merecimento. Não sei
se cliegou a alcançar este século xix.
Francisco de HoUanda — Deste nosso celebre e
douto artista falaremos em outro artigo largamente. Aqui
notaremos somente que os desenhos que vem nas suas
obras são feitos d penna coín grande magistério.
Gregório Paes do Amaral —Foi mestre dos filhos
do Ex.°*® Marquez de Castello Melhor, 'e escrevep em
380
1384 Easimplares ée Itíra ín§kza, offerecidos ao Senhor
D. João, PríBCipe do Brazil (depois Rei D. João VI). He
hum volume de 305 folhas de 4.°, que se conserva na li-
vraria da caza de Castello Melhor, num. 342 da nume-
ração provisória dos maouscriptos. '
João Baptista Vieira Qomes Pinheiro— He na-
tural da cidade de Braga. Fez o painel, que se conserva
no Museo do mosteiro de S. Martinho de Tibães, o qual
em hum pequeno quarto de papel mostra o Cálix e a
Hóstia callúcados sobre hum grupo de nuvens, tudo feito
á penna, e de letra de mão, e miudissima escriptura, em
que se lê o Pater noster^ Ave Maria, Gloria Pátria e os
sete psàlmos penitenciaes. Foi feita esta curiosa obrinha
em Outubro de 1816.
João José Alves Freineda— Natural de Lisboa,
onde nasceo a 3 de Dezembro de 1802, e actualmente
Tachigrafo da Gamara dos Senadores. He insigne na arte
caligra&a, a que se tem dado com infatigável trabalho, e
estudo.
Escreve as letras mais usadas na Europa, Portugueza,
Inglezas Franceza, Aldina, Gothica ou Itálica, e Romana,,
imitando as maiúsculas e minúsculas Romanas, que se
lôem nas. medalhas e cunhos, e nas inscripções, e ma-
nuscriptos dos mais antigos tempos.
Nota-se nas suas obras grande perfeição, tanto pelo
que respeita ás linhas rectas e curvas, como aos traços,
gnQSSo, meio grosso, ou fino, e aos espaços, hastes, li-
gados, e obliquidade, seguindo sempre, e em tudo uni-
formidade, proporção, e formosura.
São varias as producções deste caligrafo, que existem
n£^ mãos das pessoas, a quem forão dedicadas, e em
todas se vêem escripturas e desenhos de muito gosto.
Em 1831 offereceo á Direcção do Banco de Lisboa hum
quadro de três palmos de altura e dous de largura, todo
feito á peoind, com allegorias desenhadas em forma dç
384
lacana ^^ valentes rasgas e letras cheias de omameií-
. <j com boa collocação e symetria das peças.
Manoel Barata — Copiaremos aqui a noticia qoe
deste artista nos dá o illnslre filólogo Francisco Dias Go-
mes, na Memoria, que vem impressa no 4.^ tom. das de
Litteratum da Academia Keal das Sciíencias de Lisboa,
pag. 270, aonde analysando hum passo do soneto 187 de
Gamões, diz assim :
«O terceto he felicíssimo fecho, digno de bum tão bello
soneto, que foi feito em louvor do cekbre Manoel Balata,
a mais insigne mão de penua^ que se conheceo na Ewropa
até ao seu tempo.
aCompoz este buma Arte de^ escrever ^ digna de estima-
ção pela verdade e simplicidade dos preceitos, e peia ele-
gância e proporções da sua letra, onde se mostra mais a
modéstia do que a liberalidade, que tanto resplandece
nos rasgos admiráveis dos c^ractere^ Inglezes. Bi^m 8sd>ía
o grande Gamões, que a arte de escrever com gentileza e
bizarria de caracter he huma prenda digna de todo Ot ho-
mem de bom gosto, e que deve ser estimada, e ainda
mesmo louvada por hum modo extraordinário, assim
como eile o fez, que nesta matéria mostrava ser bem
dextro, como provão huns argumentos manuscriptos da
primeira edição da Lusiada, que possuo, os quaes tenho
para mim serem da mão do mesmo Gamões ; porque o
caracter he o mesmo, que o do Mestre Barata, cuja arte
he hum composto de preceitos, e reflexões sensatas, todas
extrahidas da sua experiência, e não como as miseráveis
artes que se tem publicado ha annos a esta parte de pro-
fessores ignorantes, que não fazem senão trasladar, e
ainda isso muito mal, acompanhando os ditos chamados
preceitos com traslados dignos de todo o despreso» pelo
mal executado, fazendo esforços impotentes, porque não
se acharão ajudados do génio para imitar os exemplares
dos grandes mestres Inglezes, e os do taoibem grande
332
Filippe Neri nosso Portuguez^ ha dous aonos "Ip/jj/Jq
cujas letras não sâo capazes de imitar. Seja descuíi>M^
esta pequena digressão ao amador de huma arte, na qaat
poderia dizer^ e executar novidades, talvez ignoradas dos
que a professão entre nós.»
Até aqui o douto critico Francisco Dias Gomes.
Manoel Barata foi mestre de escrever de el-Rei D. Se-
bastião. Na edição de Gamões, feita em Paris em 1815,
tom. 3.°, pag. 414, se diz, que fora natural da Pampi-
lhosa, e morador em Lisboa; que publicara a sua Arte de
escrever pelos annos de 1 572 ; e que fora o primeiro, que
na Europa publicara traslados abertos em chapa.
Manoel de Faria e Sousa — Escriptor bem conhe-
cido entre nós. Foi enadnente na arte de escrever ^ fazendo
com perfeição toda a sorte de letra: copiava á penna qual-
quer estampa tão destra e subtilmente, que se podia, du-
vidar, qual era a de penna, qual a de chapa. Também fez
progressos nas artes de illumínatura, pintura, e desenho,
as quaes exercitou na quinta de Santa Cruz dos Bispos do
Porto, quando ahi esteve, na sua mocidade, na família
do Bispo D. Fr. Gonçalo de Moraes, benedictino, de quem
era parente. (Vej. Retrato de Manoel de Faria y Sosa,
1 10.**, e o Supplemento ao Dictionnaire de Bayle, na pa-
lavra Faria.)
Manoel José Satyrio Salazar — Professor de es-
cripta e arithmetica. Publicou hum mappa dos caracteres
de escriptura, que explicava theorica e praticamente na
sua Caza de Educação^ a saber: letra de secretaria, de
escriptorio, letra Ingleza, ác. Este mappa foi gravado, e
nelle se lêem as subscripções : Manoel José Satyrio Sa-
lazar o escreveo; Theotonio José de Carvalho sculp.
Thomaz da Silva Campos — Era professor de pri-
meiras letras na Villa de Ponte do Lima, rainha pátria; e
eu, de quasi cinco annos de idade, comecei e continuei a
frequentar a sua escola, pelos annos de 1 77 1 , aprendendo
333
a ler, escrever, e contar, e o cathecismo pelo cQwpendio
de Montpellier.
O mestriB era respeitável, e mantinha m Sua escola or-
dem, sizudeza, e cuidado no estudo.
A sua escriptura era do gosto puramente Portuguez
do nosso Andrade, a quem imitava no caracter da letra,
e nos ornamentos de cetras, aves, e flores, desenhadas a
rasgos de penna.
Muitos annos depois, sendo eu Já religioso, e o meu
mestre fallecido, tive na minha mão hum grosso livro
em folha, em que se continhSo muitos traslados feitos
na mesma letra, letras debuxadas á penna, preceitos de
bem escrever, princípios de arithmetica, de, drc, tudo
escripto pelo mesmo professor, durante o seu magistério.
Possuía esta obra hum seu sobrinho. Faço gosto de re-
commendar aqui a memoria deste excellente professor,
e de pagar este tributo de gratidão ao ensino que me deo.
ESCULPTORES E ENTAIHADORES
Em p«dra, em madeira, em metaM, em cera, em barro, &e.
Affonso Lopes — Achei memoria de Affonso Lopes,
imaginário, em documento do real mosteiro da Batalha
de 1534-1555 (9).
^ Alexandre Justi — Egrégio estatuário, natural de
Roma. Veja-se o que diz deste sábio artista Volkmar Ma-
chado na Collecção de Memorias, ác, a pag. 260. Fal-
leceo Justi em Portugal no anno de 1799, tendo vindo no
de 1747. Veja-se também a Descripção analytica da Es-
tatua Equestre de el-Reí D. José I.
André Oontnool Sansovino — Parece que nasceo
em 1461, pouco mais ou menos, pois achámos que fal-
«
(9) Obras Completas, &c., tom. 1.°, pag. 289, «n /in.
334
lecéra laa sua pátria qo anno de 1539^ de sessenta e
oito de idade. Foi celebre modeladoí\ bom desenhador,
e famoso na perspectiva, diz o Diccionario de Arquite-
ctura, ác, de Roland le Virloys. Paris, 1770, 3 voL, 4.^
DeJKou a guarda dos rebatihos, diz ainda este escriptor,
para hir a Fiorença, onde segoio a escola de Ant. Polia-
joiOi fazendo tamanhos progressos na esculptura, que foi
occupado nove annos por el-Rei de Portugal,
Com effeito consta^ gue Gbntucci viera a Portugal para
o serviço de el-Rei D. João IIj que o pedira a Lourenço
de Medicis, o velho. Aqui achámos em memoria que
fieera hum bellissimo S. Marcos de mármore, e que mo-
delara, em barro, huma batalhia dada aos Mouros. Voltou
á Itália em 1500 (diz Yolkmar, citando Vasari). O papa
Júlio II lhe fez fazer dous túmulos na igreja de Nossa Se-
nhora dei Populo em Roma, e Leão X lhe mandou fazer
as eaculpturas da Santa Gaza em mármore, árc.
António Ferreira — Foi mui distincto esculptor em
barro, e cera ; e ainda que não teve todas ás luzes da arte
(diz hum sábio artista e escriptor), teve o que se não
adquire com o estudo, o geniOy inestimável dom do ceo,
e teve-o em gráo eminente : achão-se cousas nas suas obras,
que encantoo os mais escrupulosos intelligentes. ( Vej . Des-
cripção analptica da Estatua Equestre, pag. 292.)
Volkmar, a pag. 256, diz, que não parece possivel ver
modeladas em barro melhores figurai campestres que as
que conhecemos deste artista raro do ultimo século (ivm).
O pai de Ferreira, Dionysio Ferreira, também era pra-
tico na plástica (ibidem) . São obras do filho os 4)resepios
da Cartuxa^ da Madre de Deos, do Coração de Jesus, e
outros. Na ermida do Senhor da Serra em Bellas ha huma
gloria de Serafins cercando a imagem de Jesus Christo,
qu6 dizem ser delle, de. (Vej. o lugar citado de Yolkmar,
e também nas Conversações sobre a Pintura, Esculptura,
e Arquitectura, convers. 4.^, pag. 35, dcc).
33g
Diogo de Oarta — As cadeiras do coro, na eapella-
mór da igreja do Carmo de Lisboa, feitas de talhb rete"*
vada, com variedade de exquisitas ãguras, e acções mui
naturaes, forSo mandadas fazer em 1518 peio mais insi-
gne mestre que no reino havia, chamado IHogo de ílàrM.
(Chrmica do Carmo, por Fr. José Pereira de Sant'Anna>
tom. 1.^ pag. 578, e Memorias de Fr. Manoel de Sá,
pag. 390.)
Diogo Pires (o moço) — Fez o tumulo de pedra ^de
Ançãa de D. Fr. João Coelho, Oommehdador de Leça,
fallecido em 1515, aonde se vé a sua estatua em relevo,
e o seu escudo de armas, e na frente a subscripção : Diogo
piz o moço p fez. A elle parece dever^se aittribuir a pia
baptismal da mesma pedra, magfiificctmenit^ iavrada^ qtie
existe, bem como o tumulo, na igreja de Lbçu do Bailio,
e o bem trabalhado cruzeiro, á moda daquelle tem^>
com crucifixo e letreiro, e o anno 1514. (Vej. No\)á Máltá
Portugueza, tom. 3.*^, pag. 96 e 99.)
Dionysio Ferreira— Vej a-se aqui acima o artigo
António Ferreira.
Duarte Mendes— Vem em documento da Batalha
nomeado Entalhador em 1535 (10).
Francisco dé Assis Rodrigues — He ao presente
Professor de esculptura na Academia das BeKas-Attes de
Lisboa, e a juizo de pessoas intelligentes he o melhor es-
culptor, que actualmente honra a escola Portuguezat
Em 1829, fallecendo seu pai, que era Professor substi-
tuto da Aula e Laboratório de esculptura, e abrindi^se
concurso para o provimento do lugar vago, concorreo a
elle o Sr. Assis, e apresentou a sua Memoria de Escul-
ptura por escripto, a qual mereceo a preferencia^ e foi
impressa no tnesmo anno em 4.®
Pelo estabelecimento, é organisação da Academia das
(10) Obras Completas, &c., tom. 1.^ pag4 290.
336
Bellas-Artes, ficou o Sr. Assis Professar proprietário da
Alda de esculptura, lagar que até agora tem desempe-
nhado com dignidade e com grande magistério.
Escreveo e publicou pela imprensa : Methodo das Pro-
porções, e Anatomia do corpo humano, dedicado d mo-
cidade estudiosa, que m applica ás Artes do Desenho.
Lisboa, i836, em folha; obra que mostra a grande perícia
do artista-escríptor, e não menos a sua erudição, e apu-
rado gosto.
Gteronymo Oorrôa — Insigne Entalhador lhe chama
a Chronica de S. Domingos, tom. 4.^ pag. 99 e 101, di-
zendo ser obra delle o retabolo da capella-mór do templo
do mosteiro de Bemfica, que elle desempenhara com todo
o desvelo e primor da arte.
Gil Eaimes — Vem nomeado com o título de Imagi-
fiador em documento do real mosteiro da Batalha do anno
de 1465 (ii).
Hanrique Franoez — Vem qualificado Entalhador
em documento de 1535 do mesmo mosteiro (12).
Ignaoio Caetano— Natural de Lisboa, filho do Te-
nente de cavaliaría de Chaves, João Caetano, Cavalleiro
na Ordem de Ghrísto. Destinou-se á profissão de enta-
lhador, e tem exercitado esta arte no Arsenal da Marinha,
aonde he sempre encarregado das obras, que demandão
mais perfeito desempenho. A sua curiosidade e natural
propensão o inclinarão á bella arte da esculptura ; e posto-
que carecesse dos princípios fundamentaes theoricos do
desenho (a que agora se applica com cuidado), comtudo
as suas obras mostrão génio, e promettem hum distidcto
artista. As de que temos noticia são a da capella-mór da
paroquia de S. Lourenço de Carníde, e o cancello na ca-
pella do Santíssimo da igreja de S. Paulo desta cidade.
(li) Obras Completas^ &c., tom. i.S pag. 289, m fin.
(12) Ibid., tom. l.s pag. 290.
%
J
São também da sua mao o busto de el-Rei D. Fernando
em madeira, e os dous do Príncipe Real, em madeira, e
em cera, tirados ao natural, os quaes se achão todos no
palácio das Necessidades, e por elles mereceo o artista
que Suas Magestades o premiassem com real muniflcen-
cia. Também trabalha de estucaâor em relevo, e são obra
sua os ornatos, e armas que se vêem na frente da escada
do palácio do Ex.™" Conde de Vianna.
João Frederico Ludovici — Vej. acerca deste ar-
tista o que à\t Yolkmar a pag. 176, e seguintes.
José Pereira de SanfAnna, na Chronica do CarmOj
tom. 1.**, pag. S81, chama-lhe insigne artífices e diz que
fabricara seis castiçaes modernos, que servião na igreja
do Carmo nos dias festivos, e erão (iliz) estimadíssimos
pelo primor com que estavão feitos. Apparecêrão a pri-
meira vez em 1718, e custarão pouco mais ou menos
6:000 cruzados.
No lugar citado de Yolkmar se diz a sua naturalidade,
os seus estudos, os exercícios variados da arte e obras
que desempenhou, &c.
João GoQsalves da Bua — Chama-se Entalkador
em documento do cartório do mosteiro da Batalha de
1536(13).
Joiio José Braga — Esculplor Portuense, que fal-
leceo da cholera-morbus, durante o cerco daquella he-
róica cidade. Era eminente em representar em barro me-
ninos em dififerentes attitudes. Os dous, que se vêem no
Museo do Sr. AUen, estão, hum delles a dormir, e o ou-
tro no momento de acordar do somno. Que carnes tão
mórbidas I Que expressão I Que graça ! Que naturalidade I
Se este artista tivesse nascido Francez, ou Inglez, em
poucos annos teria adquirido riquezas, e a fama dos seus
talentos leria resoado em todos os ângulos do mundo.
(13) Obraá Comjdetas^ &c., tom. l.«, pag. 290.
TOMO VI 22
Era Portnguez, e apenas se sabe aonde está enterrado!
(Museo Portuense, n.^ iO, pag. i54.)
Jofio de Buam — Na obra intitulada Descripçam e
debuxo do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra^ escripta
em S.Vicente de Lisboa pelo Prior D. Francisco em 1540,
e impressa em Santa Cruz de Coimbra em 1541, em 4.S
descrevendo-se a fabrica do mosteiro e seus claustros,
se faz menção dos retabolos mui delicados de pedra
(que ainda hoje ali se vêem, postoque damnificados pelo
tempo), e se dizem feitos por mam de João Rfiams e
doutros grandes officiaes. Era isto em tempo de el-Rei
D. João III.
Joaquim Maoliado de Oastro — Foi hum dos mais
babeis e mais sábios artistas dos nossos tempos moder-
nos. Da sua grande perícia nas bellas-artes dá teste-
munho a magnifica obra da Estatua Equestre de el-Rei
D. José I, que vemos e admirámos na grande praça do
chamado, ainda hoje, Terreiro do Paço de Lisboa; e
dos seus conhecimentos e instrucção scientifica temos
abonada prova (entre outras obras que compoz, e mr
primiá) na Bescripção analítica da mesma Estatua e
dos trabalhos artísticos que precederão, e acompanharão
a sua execução, e collocação, obra que elle mesmo com*
poz e se imprimio em Lisboa na Imprensa Regia, em
1810, em, 4.''
Tudo o que he obra de esculptura na Estatua, e seus
ornamentos, pertence a Joaquim Machado de Castro ; e
com grande ignorância, ou malevolencia, se tem preten-
dido dar o merecimento desta grande obra a Bartolomeu
da Costa, que foi o fundidor ^ e que executou na verdade
a fundição com rara intelligencia, e felicidade, mas que
não foi o esculptorj nem o modelador, que são os trabalhos
mais difiSceis e delicados da arte.
Eu possuo as Quatro estações do anno de obra plás-
tica, executadas por Joaquim Machado de Castro.
339
Vej. Volkmar, a pag. 265, aonde dá mais ampla idèa
deste excellente artista, e das suas obras.
José de Almeida— Vej. Yolkmar, pag, 253 e se-
guintes, e a Descripção, analyíica da EstattMi Equestre,
pag. 292.
Maaoel Dias — Vej. Descripção analytica da Estatua
Equestre, pag. 292. A imagem da Senhora do Soccorro,
que pelos annos de 1 745 existia na sua capella, no con-
vento do Carmo, era obra do famoso Manoel Dias (diz a
Chronica do Carmo, tom. 1.°, pag. 671), feita nos pri-
meiros annos, em que exercitou a sua arte^ e delle faze-
mos menção j por ser na opinião de todos o mais insigne
dos Estatuários que tem o reino.
Era também de Manoel Dias a imagem do martyr
Santo Anastácio, que se venerava na mesma igreja do
Carmo. (Vej. Descripção analytica da Estatua Equestre,
tom. 1.**, pag. 705.)
Manoel da Fonseca Pinto Carneiro — Foi este
artista o que executou na cidade do Porto a elegante obra
das differentes Qguras allegoricas e mythologicas, e os
baixos relevos, que ornão tanto os lados, como a popa e
proa do vaso denominado Real Escuna. Tem executado
muitas outras obras de esculptura de talha para vários
navios construídos naquella cidade : e retrata, tirando em
barro e gesso bustos, e^ outras obras para algumas Pes-
soas Reaes, e para particulares. He actuahnente Lente
de desenho no Conservatório das Artes da cidade do
Porto.
Manoel Pereira — Este excellente esculptor viveo e
deixou as suas obras em Gastella : falleceo em 1667 com
sessenta e três annos de idade, por onde entendemos que
nasceo em 1604. Vej. a respeito delle Cyrillo Volkmar
Machado, a pag. 251, e Pallomino ahi citado.
Ponz, na sua Viagem de Hespanha, dá-nos noticia das
seguintes obras de Pereira :
340
1/ Na paroquia de Santo André em Madrid, huma es-
tatua do Santo sobre a porta.
2.^ Na capeila dedicada a Santo Isidro, lavradas as es-
tatuas dos Santos Lavradores^ que passárSo para os pi-
lares da capella-mór da igreja de Santo Isidro.
3.^ No nicho da porta que olha para a praça, chamada
da Cevada, a estatua do Santo (Isidro), que depois i^e poz
na igreja real do mesmo.
4.^ Outra estatua de Nossa Senhora com o Menino nos
braços.
5.* Na igreja do Rozario dos Padres Dominicanos o
Santo Christo do Perdão.
6.^ Na paroquia e mosteiro de S. Martinho a estatua do
Santo, partindo a capa com Christo, e outra de S. Bento.
7.* Na igreja de Santo António dos Portuguezes em
Madrid duas estatuas do Santo.
8.^ Na igreja das Benedictinas de S. Plácido as quatro
estatuas dos pilares da cúpula.
O Diccionario de Roland le Virloys, que já temos ci-
tado, fazendo menção de Emmanuel Pereira, Escúlpior
Portugmz, diz que elle fallecêra em 1667, de sessenta e
sete annos de idade, e que fizera muitas estatuas para a
corte de Madrid, e para diflferentes igrejas da Hespanha.
Hindo eu no anno de 1821 visitar a igreja dos Domi-
nicanos de Bemfica, em companhia do nosso bem conhe-
cido artista Sequeira, e admirando o Santo Christo de
vulto, em grande, que se venerava no altar do cruzeiro
do lado do Evangelho, me assegurou Sequeira, que era
obra do nosso eminente esculptor Manoel Pereira, fa-
zendo-me notar algumas bellezas delia, assim como de
outra no altar fronteiro de Nossa Senhora com o Menino
nos braços.
Sobre o arco cruzeiro estão outras duas estatuas de
S. Jacinto, e S. Pedro Martyr, que se diz serem do mesmo
Manoel Pereira.
341
Ponz diz que ha na Cartuxa de Miraflores, perto de
Burgos, huma bellismna estatua de S, Bruno da mesma
"mão (diz) da que está em tanta estimação sobre a porta
da Hospedaria da rua de Alcalá da corte de Madrid, isto
he, de Manoel Pereira.
Maria Josefa — Esta douzella, e outra sua irmaa,
por nome Thomazia Luiza Angélica, ambas de bonestis-
símo procedimeDto, (ilhas de Ignacio da Silva, Escrivão
do Juízo de Malta, e de sua mulher Gracia Thereza de
Jesus, naturaes da freguezia de Santo Ildefonso da cidade
do Porto, forma vão de cera tudo o que pôde idear a ima-
ginação, ou copiar a arte. Em cera imprimião retratos
perfeitíssimos, figuravao arvores, flores, fructos, ác,
realçando tudo com bellas cores, e tão naturaes, que en-
ganavão os olhos, tomando-se por natural huma rosa,
hum pomo, &c. O mimo e delicadeza de suas obras me-
recerão os elogios das Pessoas Reaes, e de todos os que
sabião avaliar tão raras perfeições. Vivião no século xvra,
quando escrevia Rebello a Descripção do Porto, donde
tirámos esta noticia.
Maria Margarida Ferreira Borges (D.)— Natu-
ral da cidade do Porto, nasceo a 5 de Junho de 1790, e
foi baptizada na paroquia da Victoria. Desde a mais tenra
idade mostrou esta Senhora hum singular engenho e dex-
teridade em executar o que emprehendia. Nunca se deo
ao estudo do desenho; e comtudo vendo em 1836 traba-
lhar em barro hum esculptor seu compatriota, pedio-lhe
o barro, que restava da obra, e adoptando para o seu in-
tento alguns dentes de hum pente, com este único instru-
mento, e sem auxilio de pessoa alguma, fez o busto de
sua cunhada a Ex."^* D. Bernarda Cândida Ferreira Bor-
ges, com tanta exacção e propriedade, que causou admi-
ração a alguns artistas, que, a pedido de seu irmão, a
forão surprender no seu trabalho. Animada pelo bom
êxito desta primeira tentativa (de cuja possibilidade ai-
34ã
gUDS duvidavão), e movida das instancias de seu irmão,
emprehendeo fazer o busto de Sua Magestade Imperial o
immortal Duque de Bragança, e o executou, servindo-lhe
de originaes os melhores retratos deste grande Príncipe,
e o que ella conservava na sua própria fantasia. Este busto
teve a honra de ser apresentado a Sua Magestade Impe-
rial a Senhora Duqueza de Bragança. Tirou também pelo
natural o busto de sua prima D. Margarida de Moura Mi-
randa, o de seu irmão o Ex."'^ José Ferreira Borges, o de
outra sua prima D. Joaquina de Moura Velloso, e ultima-
mente o do Dr: Custodio Luiz de Miranda, nos quaes
todos se observa, a par da perfeita semelhança com os
originaes, hama execução mui acabada, e igual á dos
bons artistas. Concluiremos esta breve nota com as pala-
vras que se lêem no Periódico dos pobres no PortOj anno
de 1839, num. 5:
((Ha o busto em barro do Sr. José Ferreira Borges,
feito por sua extremosa irmãa a Sr.* D. Maria Margarida
Ferreira Borges: he inteiramente parecido, e tem sido
admirado por os professores, e entendedores. Não teve
esta Senhora mestre ttiaís que a natureza; mas que bom
mestre he estai A primeira tentativa, que fez neste gé-
nero, foi o busto da esposa de seu defuncto irmão, e sem
outros instrumentos mais que os dentes de hum pente,
sahio-lhe obra de merecimento.»
Nicoláo Francez — Grande Estatuário lhe chama
Duarte Nunes de Leão na Descripção de Portugal^
cap. 23.°, aonde diz que fizera o excellente retabolo de
Nossa Senhora da Penha de Cintra, com suas figuras
de relevo, o qual he de huma pedra branca finíssima, e
lustrosa, que se acha na mesma serra de Cintra. Luiz
Mendes de Vasconcellos, Sitio de Lisboa, pag. 209, fa-
lando do convento de Cintra diz, que he mui notável pela
perfeita esculptura do retabolo, que he todo de pedra,
admiravelmente lavrado.
343
Faria e Sousa, na Europa Portugueza^ tom. 3.^,
part. 3.*, cap. 12.^ diz que este retabolo (que qualifica
de maravilhosa sumptuosidade) he todo de alabastro,
mandado fazer por el-Rei D. João III, por occasiao do
nascimento do Príncipe D. Manoel.
Jorge Cardoso, no Agiologio, nota ao dia 8 de Abril,
diz que o bello retabolo do convento da Pena de Cintra,
de religiosos de S. Jeronymo, em que se vêem muitos
baixos relevos de excellente fabrica, fora mandado fazer
por el-Rei D. João III, pelo insigne artífice Mestre Mcoláo
Italiano^
Pedro de Frias — Huma parte, com que foi acres-
centado, pelos annos de 1510, o retabolo da capella-mór
da igreja do Carmo de Lisboa, foi feita de madeira por
Pedro de Frias, que nas memorias da ordem se qualifica
de grande marceneiro daquelle tempo. He feita de sem-
blagem com columnas, diz a Chronicado Carm^, tom. l.^;
pag. S80.
Pedro Taoa — Era entalhador, e vivia pelos annos
1549 e 1561 em que o acho commemorado em docu-
mentos da Batalha, por onde parece que trabalharia em
obras daquella caza (14).
Thomazia Luiza Angélica— Vej. acima o artigo
Maria Josefa, aonde fazemos menção desta sua irmãa, e
da admirável prenda de que ambas erão dotadas.
GRAVADORES
Agostinlio SuarezFlorlano— Gravador. No Re-
gimento do Santo Officio da Inquisição^ impresso em Lis-
boa, nos Estáos, por Manoel da Sylva, anno de 1640, em
folio, vem huma bella portada, aberta em metal, com a
subscripção: Agostinho Suarez Florianofez. No 1.® tom.
(14) Obras Completas, &c., tom. l.<^, pag. 290.
dos Sermões do Padre Franci&GO do Amarai, impresso em
Braga por Gonçalo de Basto, vem a portada e titulo aberto
em chapa de metal com a subscripção: Àugust. Suar:
Florian fecií.
André Veterano — Na obra intitulada : Oxonieme
Scriptufiiy &c., impressa em Coimbra por Diogo Gomez
Loureiro, anno 1609, em folha, vem no frontespicio huma
estampa fina, e de algum merecimento, aberta em metal.
A subscripção ã\z: Andreas Veteranus fecit.
António Martins de Almeida — Óptimo Ensaia-
dor de moeda lhe chama o auctor da Historia Genealo-
gica^ tom. 4.^ pag. 421, e diz que como tal, e por sua
grande perícia nesta arte fora pedido de Hespanha. Faz
delle menção Ponz, na sua Viagem de Hespanha^ tom. 9.®,
cart. 6.*, num. 17, dizendo que fora a Sevilha mandado
pela corte para regular as operações da fabrica da moeda,
pelos annos 1 730 e seguintes.
António Pereira — Gravador. Na obra Tyrocinium
Theologiae, impressa em Lisboa na oíficina Graesbeéckiana
em 1668, vem no 1.^ vol. huma estampa com a subscri-
pçíío : Antonius Pereira excudebat.
António Pinto — Gravador. Na obra intitulada:
Historia do apparecimento de Nossa Senhora da Luz,
impressa em Lisboa por Pedro Craesbeeck, em 1610,
em 4.^, vem huma estampa de Nossa Senhora, com sua
tarja, e ornamentos, aberta em chapa de metal com a
subscripção : António Pinto Lusitano exculp.
António Quillard — Gravador. Foi este hum dos
artistas, que no reinado de el-Rei D. João V, por .ordem
deste Soberano, e por occasião da fundação da Academia
Real da Historia, forão chamados para Portugal, e aqui
se estabelecerão, e exercitarão as suas artes. Ha muitas
estampas do buril de António Quillard em diversas obras
da Academia Real da Historia e dos seus sócios. Vej. as
Ultimas acções do Duque de Cadaval, impressas na oflB-
cisa da Mosíoa^ em 4730. Firmava as suas gravaras: Aní.
Quillart invenit et sculpsit; outras vezes: A. Quillard f.
B. de Almeyda — Gravador. No Theatro Histórico,
Geneal. e Panegyr. da caza de Sousa, impresso em Paris
em i694, cujas excellentes estampas sao de Giffàrtj gra-
vador do Rei, vem a primeira do frontespicio com esta
nota: B. de Almeida incid. 1693 — P. Giffart fecit scul-
ptor Regius. Parisiis; aonde B. de Almeida parece indi-
car artista Portuguez, que porventura trabalhava em Paris
debaixo da direcção de Giffart.
Bento Morganty — Celebre antiquário, e artista
Portuguez. Ach3o-se na Historia Genealógica medalhas
e moedas gravadas por elle com a subscripção : B. Mor-
ganti delin.
Bernardo Fernandes — Gravador. No poema Eli-
sabêtha triumphans de Fr. Jeronymo Vahia, Benedictino,
impresso em Lisboa em 1732, em i% se vé hum frontes-
picio aberto a buril, com o retrato do auctor, titulo da
obra, e ornamentos, e no fundo a subscripção: Bernardo
Frz. Lisboa occid.
Conjecturámos que será do mesmo gravador a estampa
do retrato de Manoel de Faria e Sousa, que vem na obra
intitulada : Retraio de Faria y Sousa, impressa em Lis-
boa em 1733, a qual estampa he aberta a buril, e tem
esta subscripção: Bernardo F. Gayo comp, Escu. lÃsb.
occid.
Bernardo dos Santos — Gravador. Na obra intitu-
lada : El Doctor eximio, yvener. P. Francisco Soares, dcc.,
impressa no Real Collegio das Artes, em Coimbra, anno
1731, vem a estampa do retrato do Padre Soares, assas
grosseira, com a subscripção: Bernardo dos Santos a
fez. 1730.
Brás Nunes— Gravador. Na Ethiopia oriental de
Fr. João dos Santos, impressa no convento de S. Domin-
gos, em Évora, anno 1609, por Manoel de Lira, em folha,
veiÀ á portada 'do frontespicia, aberta em metal, com a
subscripçSo : Bros Nunes fecit.
O Itinerário da índia de Fr. Gaspar de S. Bernardino,
impresso em Lisboa, na officína de Vicente Álvares, em
161 i, em 4.°, tem o frontespicio e titulo aberto em metal
com vários ornamentos, e ahi se vé também a subscrí-
pçao : hras nunes fecit.
Caetano Alberto de Almeida — Em concurso,
que §e abrio na Gaza da Moeda de Lisboa, gravou este
concorrente huma medalha de Gamões, de que possuo
hum exemplar. Tem o anno 1821, e na face, e no exergo
sele: Almeida F.
Carlos de Rochefort (filho) — He hum dos grava-
dores, que trabalharão em Portugal no reinado de el-Rei
D. João V, fllho de Pedro de Rochefort, de que falaremos
no seu lugar. Ha gravuras deste artista na Historia Uni-
versai deVallemont, traduzida emPortuguez, e impressa
em 1737 com a subscripçSo: Carlos d^ Rochefort, filho.
1738. No 2.** tom. da mesma obra vem huma estampa
da arte do Brazão, com a subscripção : C. de Rochefort
filiei sctdpsit.
Carplnetti — Gravador. Deste artista faz menção
Volkmar Machado na sua Collecção de Memorias^ Ac, a
pag. 115, aonde diz que Carplnetti fora discípulo de An-
tónio Joaquim Padrão, e aponta algumas obras suas. Na
Recreação Filosófica do Padre Theodoro de Almeida,
impressa em Lisboa por Miguel Rodrigues, anno 1757,
vem no tom. 4.^ algumas estampas com a firma Carp.
scul. Lisboa.
A bdla estampa que representa o Marquez de Pombal,
com a letra, fíignum laude virum Musa vetai mori^ aberta
a buril, tem as subscripções : Parodi vultum expressit ;
Cafpimtti Lusitanus delineavit et esculp. 1769.
Volkmar lhe dá o nome de João Silvério Carpinetti.
Olemente Billingue — Gravador. Nas Emprezas
U9
de S. Bento, compostas por Fr. JoSo dos PrazéreS, ftôôfe-
díctiDO, e impressas em 1685, em folha, se vé a estampa -
do frontespicio com a nota: Clemens Billing. f. Outra
obra intitulada, Cordel triplicado, Ac, em 4.^ tambeta
tem estampas do mesmo gravador.
Em huma arte de musica, intitulada Arte Mínima, im-
pressa em 1685, vem huma estampa aberta em metal, e
firmada : Clemente Billing.
P. S. Bruno — Gravador. Na obra intihiiiada Estran-
geiros no Lima, impressa em toimbra em 1785 e 1791,
vem algumas estampas com a subscripçSo: F. S. Bruno se;
F. S. Bruno, gravou. Porto; BrUno fez, Porto.
P. X. P. — Na Historia Universal de Vallemont, tradu-
zida emPortuguez, achámos no 3.** vol. impresso em 1745
algumas estampas de medalhas com a firma : F. X. F. F.
As três letras iniciaes do noBae flierão lemhrar-nos o
artista Francisco Xavier Fal>ri, Genovez de que faz men-
ção Yolkmar Machado a pag. 229; mas n3o parece que
se ajustem bem as datas, nem mesmo a especial Arte de
Arquitecto, que Volkmar attribue a Fabri.
Pranoisoo Bartolozzi — Vej . a respeito deste ifltts-
tre artista e grande mestre da bella arte da gravura a tto-
ticia que delle dá Volkmar a pag. 289.
PranoiSGO Gomes — Gravapdor. Gravou eto cobt^ a
maior parte das estampas das Emprezas de S. Bento,
compostas por Fr. João dos Prazeres, Benedictino, e Im-
pressas em 1685, em folio, cujas chapas existião ainda
nos primeiros annos deste século xix em hum mosteiro
benedictino; aonde as vimos.
Pranoisoo Harrewin— He hum dos gravadores es-
trangeiros, chamados para Portugal em tempo de el-Rei
D. João V.
São frequentes as obras desse tempo, em que se vêem
estampas, e vinhetas com a subscripção deste artista.
O retrato de el-Rei D. João I, estampado nas suas Memo-
rias tem a flrma: Fr me' Harrewyn delineavit, et scul-
psit. 1730. O frontespicio desta mesma obra tem a sub*
scripção: Franciscus Vieira Lusitanus invenit; Franc.'
Harretvyn Sculps Lisboa.
Yolkmar Machado explica-se a respeito deste artista
nos seguintes termos: Francisco Harretvyn, abridor
Régio em Bruxellas, gravou os retratos dos Senhores
D. João o IVj D. Affonso Vh D. Pedro /7, e D. João o F
em corpos inteiros.
Gabriel Francisco Luiz Debrie— Gravador. He
outro artista dos que forâo chamados para Portugal no
reinado do Senhor D. João V, diz Yolkmar a pag. 282,
que era Francez, e que gravou muitas pranchas pa,ra a
Historia Genealógica, e que em 1739 abrio os retratos
de el-Rei e da Rainha pintados por Bane. Na Historia
Genealógica, nas Memorias dos Templários, ác, acha-
mos estampas e vinhetas suas, dos annos 1732, 1735,
1737, 1754, ác. Como porém Volkmar diz que Gabriel
Francisco tivera hum filho, nascido em Lisboa, e também
gravador, nem sempre podemos discernir as^estampas de
hum das do outro; porque achámos as subscripções ora
com o nome inteiro, ora com só o appellido; v. g. :
G. F. L. Debrie invenit et sculps. 1737.
Debrie inv. et f. (1754.)
Debrie delineator et sculptor Regius. (1754.)
G. F. L. Debrie dei. et sculps.
As estampas da Geometria de Euclides do Padre Ma-
noel de Campos, são abertas por Debrie em 1735.
Gaspar Froes Machado —Volkmar a pag. 1 30 faz
menção deste artista, dizendo que gravou as estampas
do retrato da Rainha Senhora D. Maria I, pintado por Hi-
ckey, retratista Inglez, pelos annos de 1783. Foi Gaspar
Froes discipulo de Joaquim Carneiro da Silva, segundo
refere Volkmar a pag. 284. Vej. Volkmar a pag. 286.
Qranpré (De) — Gravador. He ainda outro estran-
349
geiro, que trabalhou em Portugal no reinado de el-Rei
D. João V. Na Geografia Histórica vem estampas suas,
abertafs em Lisboa, nos annos de 1729 e 1734.
Gregório Franoisoo de Queiroz — Gravador.
Deve ler-se Volkmar Machado a pag. 293. Quando co-
meçámos estes apontamentos em 1825, era Queiroz tido
por muitos como o melhor gravador que então havia no
reino.
A obra mais antiga, que delle temos visto, he a estampa
do retrato de D. Euzebio Luciano de Carvalho Gomes da
Silva, que vem no compendio da vida deste virtuoso man-
cebo, fallecido em Goa de vinte e seis annos, eleito, e já
confirmado em Roma Bispo de Nankim. A obra foi im-
pressa em 1792, e a estampa tem as subscripçoes: G. F.
A. Queiroz fez; J. de Barros inv. Esta segunda parece
ser de Jeronymo de Barros, de quem Volkmar diz que
Queiroz fora discípulo no desenho, e gravura de agoa-
forte.
A h'nda estampa da morte de S. Luiz Gonzaga he aberta
por Queiroz, e tem estas notas:
D. A, de Siqueira A. R. inv. et dei 1799.
G. F. e Queiroz sculpt. em Londres, sendo disc. de F.
Bartolozzi AR.
E no fundo :
Gregório Francisco de Queiroz, Pensionario do Prín-
cipe iV. Senhor.
A estampa do Ecce homo, ou do Senhor Santo-christo
dos milagresj que se venera na igreja das religiosas da
Esperança da cidade de Ponta Delgada na ilha de S. Mi-
guel, foi aberta por Queiroz, e tem a subscripção: G. F.
de Queiroz gr av. de S. Mag. sculp. em 1827.
O retrato do distincto artista Cyrillo Volkmar Machado,
que vem á frente da sua Collecção de Memorias, Ac, he
gravado por Queiroz com grande perfeição, a meu pa-
recer. Tem a subscripção : Queiroz G. de S. Mag. Fidel.
m
s&dp. em 1823; no lado Qpposto se lê: M. Servam Pin-
tou em 1791.
Também parece ser de Queiroz a estampa da imagem
d^ Nossa Senhor? do Carmo ^ Usbo3, que tem a sub-
SÇFipçSo: G. /. /. LxJ"
J. Custodio de Sá— ViaK)s huma estampa^ de que
Qão fizemos outra memoria, seuão que tiuha a subscri-
pção: /. Custodio de Sá inv. et delin. 1760.
líi^Descripção fuwbre dtffi E^eequias ã/e el-Bei D. JoãoV,
impressa em 1750, em 4-^» vem vinhetas e estampas de
vários abridores, e entre elles acho : J. Custodius de Sa
inv. et deliniav. 1700.
Januário Antoioio :^vier— Na Historia Eccle-
siastica Ltísitana de D. Thomaz da Encarnação, impressa
em Coimbra em 1759, vem algumas vinhetas abertas em
cjjXffpdí dei](^e^aj com aSrma: Jcmttario António Xavier a fez.
Jeronsrmo Luiz — No poema Successo do segundo
cerco de DiUj impresso em Lisboa em 1574 por António
Gops^lves, em 4.^, vem no frontespício huma estampa
aberta a buril, que não carece de elegância, e tem a sid)-
scripção : Jeroni. Luis m.e f.
João Baptista — A Miscellanea de Miguel Leitão de
Andrada, impressa em Lisboa por Matheus Pinheuro, em
1629, em 4.^ tem a portada do frontespicio aberta a bu-
r|^ & na sul;)3crípcão, que está (no exemplar que vimos)
damnifícada, bem se lê: ... sta Lusitano fecit.
Ap).es desta pri^ieira folha vem o retrato do auctor,
pp3ti) (^ joelhos diante da imagem de Nossa Senhora da
Lfljc, em acção de offerecer-lhe hum Uvro.
Esta estampa tem «a subscripção : João bautista fecit^
que he sem duvida o mesmo que gravou a portada.
Jofto Cardini — N^ coUecção de Retratos dos Gran-
des Horfiens da nação portugueza, em folha, vem o re-
trato de 2>. Affo^so Henriques, primeiro Rei de Portugal,
cqjff^ a sub^rípção : João Cardini sculp. em Lisboa.
3M
João de Flgaeireâo— Yej. o que dáz deste artista
Yolkmar a pag. 278.
Possuo hum camafèo com o retrato da Senhora Dl Ma-
ria ly em prata, que parece ser de Figueiíredo.
Tenho também huma peça de porçolana de B.ap^o).omev
da Costa» em que se vô aberta a maquiiia que su^piandeo
a Estatua Equestre de el-Rei D. José I, e nella se 14 a
subscripção: Lisboa. Gravada no Arsenal Reoil do Eofer-
dto por João de Figueiredo.
Forao discípulos de Figueiredo Nicoláo José Corrêa,
natural de Lisboa, que estuitou na aula da Fqodicão,
donde sahio para a ofiScina do Arco do Gegçij q deUa
para a Imprensa Regia, aond^ faUecea em II de EHe-
zembro de i814. E Manoel Lui2 Rodrigues Yianna,
também Lisbonense, que ainda trabalha na mesma im-
prensa.
João Oomes — Na obra Vida e martyrio d^ Smta
Quifária, impressa em Coimbra em 1654, ^m 4*^9 vejo) m
principio huma pequena estampa da Sant^ degolada» de
inferior merecimento^ goiqí a ^mã'-^ João Qom^
João Oomes Baptista — Abridor dç cunhos^ Volk-
mar, pag. 288.
João Gk)nsalv6S — Foi natural da GuimaF^es; la-
vrava moeda com raro primor no anno de i562, reinan/to
el-Rei D. Sebastião ; e era dotado de tl«> e?itraoj?dinariia
habilidade, que nao tendo cuUiv^o as letras, inventora
maquinas e artefactos que poserão em admiração os ho-
mens mais doutos. Chamavão-lhe por antonoma$iâr Qi en-
genhoso. Vej. o Elucidário de Viterbo na palavra ^Ei^-
nhosort.
João Matheus — Na Yida de Santa Rita, impressa
em Lisboa occidental, em 1735, em 4.^ vem {|uma es-
tampa, enella a subscripção: J.'matheosculp. ^i mesmo,
a estampa do Santo Christo de Lucca, tem a firma : /.' mar
theo sculp.
352
João Soliorkens— Foi natural de Flandres, e pa-
rece que trabalhou em Gastella. Na Vida do Venerável Ar-
cebispo de Braga D. Fr. Bartolomeu dos Martyres, im-
pressa em Víanna em 1619» em folha, vem o retrato do
Arcebispo, aberto a buril, com a nota do abridor : Joan.
Schorkens fecit. He provável que seja da mesma mão a
portada do frontespicio.
Acho em memoria que gravara o desembarque de D. Fi-
lippe II na praia de Lisboa, desenhado por Domingos
Vieira Serrão.
Joaquim Carneiro daSilva—GyrilloVolkmar Ma-
chado, a quem tantas vezes temos citado, dá ampla noti-
cia deste celebre artista (que viveo até os nossos tempos),
dos seus estudos, dos seus trabalhos nas artes, e do seu
distincto merecimento. Yej. as Memorias dos Pintores ,
Esculptores, ^c, Portuguezes, a pag. 281.
No Breviário Romano y impresso em Lisboa em 1815
na Typografia Regia, pm 8.°, vem algumas estampas com
a JBrma : Silva f., ou Silva dei.
José Lúcio da Costa, vulgo o Coscinho—SQ]. Yolk-
mar a pag. 292.
No Tratado de Artilharia, traduzido pelo, Marechal de
Campo António Teixeira Rebello, e impresso em Lisboa
em 1792, em 2 vol. de 4.% vem muitas estampas, aber-
tas por este artista, com a firma : Lucius sculpsit. Lisboa.
1752= ou Lucius sculpsit. olisip. 1792.
São deste artista todas as estampas numeradas de i
até xxni, na Descripção Analytica da Estatua Equestre,
impressa em Lisboa em 1810.
José Teixeira Barreto— Vej. Volkmar, pag. 298.
Havia nos mosteiros de Tibães e Santo Tirso muitos
quadros pintados por este artista antes de hir para Roma,
e depois que de lá veio. Tinha caracter mui ameno, e
huma grande viveza de engenho.
Eu possuo algumas das suas estampas, e hum quadro
- 353
a óleo que representa a Resurreição de iMzaro, de que
elle me fez presente.
Por sua morte testou de grande numero de quadros
da sua collecção a favor do mosteiro de Tibaes, e com
elles se deo principio ao Museo instituído naquella caza
benediclina, para onde eu também concorri com todas as
medalhas, que tinha podido ajuntar, e assisti á fundação
e collocação das pinturas, ác.
Josefa de Ayalla — Esta illustre pintora, conhecida
entre nós pelo nome de Josefa de Obidosj por ser natural
desta villa, parece que também exercitou a gravura; por
quanto na ediç3o dos Estatutos da Universidade de Coim-
bra, de 1654, em folha, achámos buma estampa aberta
em metal, e nella a Qrma : Josepha Ayalla, Óbidos. 16Ô3.
Lucas Vopstermans — Era natural de Anvers. Pin-
tor e gravador. Rubens lhe aconselhou dar-se ao buril, e
elle tratou de tal modo as suas pinturas e gravuras, que
' adquirio reputação, e celebridade em ambas as artes. As
suas estampas são mui procuradas, e até concorreo para
fazer conhecido mais extensamente o mérito de Rubens.
Também gravou obras de Vandyck. Usava da marca F.
(Diccionario de Arquitectura, ác, por C. F. Roland le
Virloys. Paris, 1770, 3 vol. em 4.")
Na 1.* part. da Chronica da Companhia de Jesus do
Padre Balthazar Telles, vem a estampa do frontespicio com
a subscripção: Lucas Vorstermans, inventor, et sculp.
Vlyssipone, ex typograph. Pauli Craesbeck, an. 1646.
Em outra obra intitulada Harmonia scripturae Divi-
nae,... Ylyssipone, ex officina Laurentii de Anveres,
an. 1646, vem no frontespicio huma estampa a buril, e
no fundo a nota: Lucas Vorstermans inventor et sculp.
Anno 1646.
Luiz Simoneau — Foi hum dos estrangeiros, que
vierão para Portugal no tempo de el-Rei D. João V.
Nos escriptos dos membros da Real Academia da His-
TOMOVl 23
3g4
toria se achSo frequentes estampas e vinhetas deste ar*
tista. Yej. a Geografia Histórica, impressa em i784, as
Antiguidades de Braga, em 1738» a Vida do Padre Vieira
por André de Barros, em 1746, de.
A familia Simoneau era de Orleans, e delia achámos
noticia de Carlos Simoneauy gravador, nascido em Or-
leans em 1639, e fallecido em 1728, e de Luiz Simoneau,
irmão de Carlos, e mui hábil na mesma arte. Este pôde
ser o mesmo de que aqui falámos.
Manqel Corroa — Depois da canonisaçao de Santa
Mafalda, se publicou huma estampa do seu tumulo no
mosteiro de religiosas Gistercienses de Arouca, aonde se
lé esta inscripção :
SANTA MAFALDA, BAINHA DE CAfiTELLA, RELIGIOSA
CISTEBGIEKSE, REFORMADORA DO MOSTEIRO DE AROU-
CA, E DECLARADA SANTA PELO S. P. PIO VI NA SUA
BULLA, DATADA EM 27 DE JULHO DE 1792, CUJO CORPO
SB VENERA NO MESMO MOSTEIRO, OBRANDO MUITOS
MILAGRES.
Na extremidade da estampa tem a firma : Manoel Cor-
riu U
Ifanppl Rodrigues da Silva— O auctor da Histo-
ria Genealógica, no tom. 4.^ pag. 4S1, o qualifica de
excelknte artífice^ inventor da cerrilha da moeda em
Portugal.
Miguel le Bquteuz— Arquitecto e gravador. Foi
outro estrangj^iro dos que vierSo a Portugal no reinado
de el-Rei D. João V, e ahi concorrerão para o restabele-
cimento do gosto das bellas-artes.
Nas Memorias de Malta, impressas naquelle tempo, se
acha o mappa da ilha, gravado por este artista com a sub-
scripção : Michael le Bouteux, Architectus Regis sculpsit.
1736.
Em 1752 abrio a fachada de Mafra em huma estampa
de quatro palmos.
M. Preyre— Na Historia Panegyrica de Diniz de
338
Mello e Castro, primeiro Conde das Galveas, impressa
em Lisboa em 1721, em folha, vem a estampa do retrato
de Dídíz de Mello com a firma : M. Freyre a fez.
O. Cor — Achámos muitas, estampas e vinhetas, gra-
vadas por este artista, no tempo de el-Rei D. João V, e
julgámos ser hom dos estrangeiros, que nesse reinado
forao chamados a Portugal.
O Ck^dex Titulorum Sanctae Ecclesiae Lisbonensis Pa-
triarchalisy impresso em 1746, traz huma estampa, em
que se lé a firma: O. Cor. sculp. 174Õ.
Na Vida do Padre Vieira, impressa em 1746, em folha,
vem algumas vinhetas com a subscripçâo: O. Cor.
Pedro António Qnillard— Este artista foi hum dos
que vierão para Portugal no reinado de el-Rei D. João V.
Nasceo em Paris ; e quando era de onze annos de idade,
desenhava tão perfeitamente, que o Cardeal de Fleury
apresentou algumas obras suas ao Rei Luiz XV, de quem
obteve huma pensão de 200 libras.
Hum medico Suisso chamado Merveilleux, que tinha
projectado escrever a Historia Natural de Portugah e
que para isso veio a este reino, moveo Quillard a passar
com elle a Lisboa com o fim de desenhar as arvores,
plantas, e outros objectos da Historia Natural.
Chegado a Lisboa, e apresentando a el-Rei hum quadro
da sua mão, ficou el-Rei tão agradado delle, que o no-
meou desenhador e pintor da sua Academia da Historia
com huma pensão mensal. Pintou os tectos do quarto da
Rainha, e muitos quadros para a galeria do Duque de Ca-
daval, pelos quaes parecia seguir a maneira de Wateau,
e acaso ter sido seu discípulo.
Pedro Perret — Gravador. Este artista gravou em
bronze o elogio do insigne dominicano Fr. Luiz de Sotto
Maior, que fez ajuntar ao seu retrato Manoel de Sousa
Coutinho no anno de 1602, e de que faz menção na Vida
do Arcebispo D. Fr. Bartolomeu dos Martyres, liv. 2.%
356
cap. 18.° Âhi se denomina o artista ^nEsctdptor de eU
Rei » .
Pedro de Bocliefort — Vej. o artigo Carlos de Ro-
cheforty que foi filho de Pedro, e gravador como elie.
A estampa do frontespicio da Historia da Academia
Real da Historia Portugueza tem a subscripção: Debu-
xadttj e aberta por Pedro de Rochefort. Lisboa Occi-
dental. 1728. As Memorias Ecclesiasticas de Braga^ im-
pressas em 1732, tem na estampa do frontespicio: Fran-
cisco Vieira invenit. Pedro de Rochefort fecit. Lisboa.
A estampa do frontespicio da Historia Genealógica^
impressa' em 1735, tem a nota: Acabado ao buril por
P. de Rochefort.
Nas Memorias dos Templários vem outra estampa com
a firma: Aberto por Pedro de Rochefort. Lisboa. 1732.
Algumas vezes se lé simplesmente : De Rochefort, ou
Retocado por de Rochefort, podendo entender-se de Pe-
dro, ou de Carlos seu filho.
O auctor da obra intitulada Prendas da Adolescência,
impressa em 1749, tratando da arte de miniaturar, a
pag. 134, diz assim: ELuiz Roupertt, Bouchardon, Jtis-
siepe Abraham ...e Mariette com Rochefort Lusitano tws
ensinão nas suas obras a pennejar, não só todas as
roupas, mas ainda parte dos rostos, pés, mãos, ou car-
nes, dcc, por onde se pôde conjecturar que algum dos
de Rochefort escreveo sobre a miniatura ou pintura, pos-
toque nenhuma outra noticia temos encontrado a este res-
peito.
Rousseau — Veio para Portugal no tempo de el-Rei
D. João V, e cá exercitou a nobre arte da gravura.
Nas Mem^orias de Malta, impressas em 1734, vem gra-
vuras, firmadas: Rousseau sculpsit.
Na Historia do Senhor de Mathozinhos se vê huma es-
tampa com a firma: Rousseau sculpsit. Lisboa. 1736.
Theodoro António de Lima — Natural de Lisboa,
j
3S7
discípulo de João de Figueiredo, acima mencionado, e
depois discipulo também do famoso Bartolozzi, substi-
tuto da aula do desenho no Real CoUegio de Nobres.
No Breviário Romano, impresso na Typografia Regia
em 1815, em 8.®, ha estampas com a firma: Theodoro de
Lima gr.''
A estampa do frontespicio do Missal Romano^ impresso
na mesma Typografia em 1820, tem a firma :F.A. de Lim^
gravou.
firayadores de cunhos e medalhas da Gaza da Moeda de Lisboa
Extrahid» das lemorias manucriplu 4o Sr. Laíx de Conzaga Pereira,
abrider da mesma caza
Amaro Marques— Natural de Lisboa, nasceo em 15
de Janeiro de 1730. Foi perito na sua arte, mas mais feliz
em copiar do que em inventar. Fez as medalhas do San-
tíssimo Coração de Jesus, e todos os cunhos que lhe forão
distribuidos na Caza da Moeda, sendo comtudo coadju-
vado em algumas destas obras pelo excellente artista Fi-
gueiredo. Falleceo em 2 de Agosto de 1776, e jaz na
igreja de S. Paulo desta cidade.
António Mangln — Francez. Nascido em 1690. Es-
tudou a gravura em Paris, • e vindo para Lisboa no anno
de 1720, foi nomeado Abridor Geral da Caza da Moeda
por Decreto de el-Rei D. João V. Fez os punções da
moeda sobre os desenhos do insigne Vieira Lusitano, e
foi encarregado de muitas medalhas, como, por exemplo,
as da fundação de Mafra, da Academia Real da Historia, de
Nossa Senhora da Conceição, da Memoria de Belém, ác.
São do seu buril todos os retratos da moeda dos Senhores
D. João V e D. José I, e da sua escola sahírão excellentes
discípulos. Foi Cavalleiro professo na Ordem de Christo,
e tratou-se sempre com muita dignidade. Falleceo em Ou-
tubro de 1772, e jaz na igreja paroquial de S. Paulo.
388
Caetano Alberto Nunes de Almeida— Nasceo
em Lisboa a 7 de Agosto de 1795, e foi baptizado na pa-
roquia de Santa Justa. Seu pai se chamava João Nunes de
Almeida. Em 18 de Janeiro de 18i2 foi matriculado na
Academia de Desenho Histórico, e nella foi premiado em
concurso. Em 1813 matriculou-se praticante de gravura
de pedras preciosas na Gaza da Moeda, aonde foi encar-
regado da gravura dos cunhos, e logo nomeado ajudante
do distincto abridor José António do Valle. Entrou em al-
guns concursos, em que talvez se lhe não fez a justiça
que merecia. No anno de 1830 foi nomeado terceiro abri-
dor de cunhos e medalhas, mas pouco tempo exercitou
este cargo. Hoje trabalha para o publico.
Oypriano da Silva Moreira — Natural de Lisboa,
filho de Crispim da Silva, nasceo em 1754, e logo desde
tenra idade mostrou particular inclinação e génio para o
desenho. Estudou esta nobre e bella arte no Arsenal Real
do Exercito, aonde deo brilhantes provas de seu engenho
em muitas obras, que forão encarregadas a seu mestre
João de Figueiredo, e que este confiava da singular pe-
rícia do seu hábil discipulo. He producção do seu talento
a medalha allegorica do Porto com a efiigie de el-Rei o
Senhor D. João VI, desenho original do excellente artista
Joaquim Carneiro da Silva. Mas a obra que mais honra o
seu talento, e em que mais coadjuvou seu mestre, he a
bella medalha da Estatua Equestre.de el-Rei D. José 1, de
meio palmo de diâmetro, aonde se vê todo o primor do
buril deste digno artista. Foi encarregado de abrir os
sellos do papel, e os do papel moeda, e trabalhou em 1814
nos cunhos para a baixella que o governo Portuguez offe-
receo a Lord Wellington, mostrando nestas e em muitas
outras obras suas, e até nos mais pequenos esboços, a sua
grande perícia, e esmerada perfeição. Em 1816 obteve o
lugar de abridor extraordinário da Caza da Moeda, e tendo
desempenhado este cargo por alguns annos, falleceo em
3«Q
Setembro de 1826, e foi sepultado no cemitério da Irman-
dade do Santissimo Sacramento da paroquia de S. Paulo
desta cidade de Lisboa.
Domingos José da Silva — He irmão do benemé-
rito gravador Simão Francisco dos Santos, de quem re-
cebeo as primeiras luzes da arte. Matriculou-se na Aca-
demia do desenho, aonde fez progressos, e mereceo
alguns dos maiores prémios. Frequentou também a Es-
cola de gravura do Arco do Cego, debaixo do magistério
e direcção de Joaquim Carneiro da Silva. No anno de 1804
vindo para Lisboa o insigne gravador Florentino Francisco
Bartolozzi, foi hum de seus primeiros e mais aproveitados
discipulos. Existem muitas obras que dão testemunho do
génio raro, que tinha para a bella arte da gravura, sendo
huma das melhores (a juizo dos intelligentes) a estampa
do Senhor Jesus da Boa Sentença. Em 1830 obteve o
nosso artista o lugar de abridor extraordinário daCaza
da Moeda, com a condição de ensinar as suas prendas ar-
tísticas. Finalmente deixou a Caza da Moeda para conti-
nuar no exercicio da gravura de chapa, e em testemunho
e premio de seus distinctos merecimentos e serviços, foi
em 1836 nomeado Professor de gravura na Academia das
Bellas Artes de Lisboa, aonde continua no exercício do
magistério com dignidade.
Francisco de Boija Freire — He natural de Lis-
boa, nascido em 1790, filho de João Luiz Freire. Sendo
de idade de nove para dez annos, começou a sua carreira
artistica no Arsenal Real do Exercito, tendo por mesíres
os Figueiredos, pai, e filho. Em 1814 foi despachado pra-
ticante de abridor da Caza da Moeda. Trabalhou na magni-
fica baixella, que o governo ofTereceo a Lord Wellington,
debaixo da direcção do distincto artista Sequeira. Na Caza
da Moeda coadjuvou, na gravura dos cunhos, a seu tio
Cypriano da Silva Moreira, e por fallecimento deste ficou
suprindo o seu lugar, até que procedendo-se a concurso
360
para o provimento da propriedade, obteve plena appro-
vação em 1828. Pouco depois, em 1830, foi nomeado se-
gundo abridor da Gaza da Moeda, e alcançou por seus ta-
lentos e serviços a condecoração da Ordem de Christo, e
de Nossa Senhora da Conceição de Yilla Viçosa. Em 1836
foi mandado á corte de Londres para melhor se aperfei-
çoar na gravura, e ahi fez excellentes cunhos de retratos
gravados em fundo, e todos os punções de Sua Mages-
tade a Rainha Senhora D. Maria II. Aclualmenle contínua
no estudo de cunhos de medalhas na Gaza da Moeda desta
capital.
Francisco Xavier ^e Pigrueiredo — Nasceo em
Lisboa em 4 de Outubro de 1734. Foi seu pai e seu pri-
meiro mestre o insigne gravador João de Figueiredo, de
quem fizemos menção em lugar próprio. Em 1779 foi
chamado pelo Provedor da Gaza da Moeda para coadjuvar
o abridor Amaro Marques no desempenho das medalhas
da fundação da igreja do Goração de Jesus, aonde deo
provas de seu distincto talento. Em 1780 oílereceo á Gaza
da Moeda o punção de Sua Magestade a Bainha Senhora
D. Maria I, que foi empregado nas peças de ouro, e lhe
grangeou o lugar de abridor do numero por Decreto da
mesma Augusta Senhora. Em 1802 fez também o punção
para as peças de el-Rei D. João VI. Sérvio sempre com
grande desempenho e esmero, e acabou seus dias ferido
de apoplexia em 27 de Outubro de 1818. Jaz sepultado
na paroquia de S. Paulo de Lisboa.
José António do Valle — Nasceo em Lisboa a 15
de Outubro de 1 765. Logo de pequena idade deo princi-
pio aos estudos artisticos na Real Gaza Pia do castello de
S. Jorge, donde foi mandado para Roma em 1788, e ahi
entregue ao magistério de Mr. Picler na arte da gravura.
Recolhendo-se a Lisboa, e não podendo obter lugar na
Gaza da Moeda por lhe faltarem os princípios especiaes
desta arte, partio para Londres, aonde a estudou e fre-
36i
quentou com tanto aproveitamento» que voltando á pá-
tria, lhe foi logo dado o cargo e titulo de abridor ex-
traordinário, de que tomou posse em 1822. Em 1830 foi
nomeado abridor geral, impondo-se-lhe a obrigação de
ensinar a gravura de pedras, em que era mui distincto.
Em 1833 foi reintegrado neste lugar, de que havia sido
iniquamente esbulhado, e em 1836 foi despachado Pro-
fessor de gravura de cunhos e medalhas na Academia das
Bellas Artes estabelecida e organisada em Lisboa por De-
creto de 25 de Outubro do mesmo anno. Falleceo no
anno passado de 1840, e mereceo sempre a estimação
das pessoas que o conhecião, não só pelos seus talentos
e perícia na arte, mas também pela pureza e suavidade
de seus costumes e trato civil.
Josó Gaspietrt — Natural de Flandres, nasceo em 20
de Março de 1 732.^ Estudou o desenho na sua pátria, e a
gravara de cunhos e medalhas em diversos paizes que
visitou. Estando em Veneza, foi convidado pelo Embai-
xador Portuguez para vir ensinar a arte da gravura de
pedras, e aceitando o convite, foi nomeado para esse ma-
gistério por Decreto de el-Rei D. José I de 1 1 de Setem-
bro de 1773. Teve por discípulos na gravura de pedras
a Simão Francisco dos Santos, e António Nunes de Sousa,
e na de cunhos a Manoel de Abreu Perada, e Joaquim An-
tónio Narciso. Foi muito bom maquinista, e muito enge-'
nhoso; fazia pianos e outros instrumentos músicos, e
gravou para o Paço e para o publico grande numero de
pedras. Fez também as medalhas da Fabrica das Sedas,
e em 1779 aá do Real Convento do Coração de Jesus;
finalmente gravou muitos sêllos para differentes tribunaes
e indivíduos particulares. Foi condecorado com o titulo
de Abridor geral da Rainha, e acabou seus dias cheio de
annos, e de credito, aos 15 de Março de 1812. Jaz na
igreja paroquial de Santa Isabel.
Luiz Gk)nza?a Pereira — Nasceo em Lisboa em 21
8»
dè Jnnhò de 1796, no sitio do Cardai da Graça, e foi filho
de Joaquínif Maria Pereira e de Maria Barbara de Balhões.
Em i8H foi admittido á Academia do desenho, sendo
preníiado em concurso. Em 1813 matriculou-se com o
seo cotlega Almeida na Escola de gravura de pedras e
cunhos da Gaza da Moeda, debaixo da direcção de Simão
Francisco dos Santos. Em 1822 foi nomeado ajudante de
José António do Valle, e em 1833 obteve o despacho de
terceiro abridor de cunhos da Gaza da Moeda, aonde, em
21 de Junho de 1839, concluio e assignou a informação,
que aqui temos compendiado, dos abridores, e grava-
dores de cunhos e medalhas da Gaza da Moeda de Lisboa.
Paulo Aureliano Mangin— Filho de António Man-
gln, acima nomeado, nasceo em Lisboa a 7 de Janeiro
de 1 730. Aprendeo o desenho e gravura com seu pai, e
obteve o lugar de terceiro abridor da Gaza da Moeda, tra-
balhando nos conhos que ent5o se fabricavão. Goadjuvou
seu pai nas medalhas de el-Rei D. José I, abrindo-lhe os
reversos. Fez gravuras para o publico, e em 1777 fez o
punção da moeda da Senhora D. Maria I, e de seu Au-
gusto Esposo el-Rei D. Pedro IIL Falleceo em 5 de Ou-
tubro de 1790, e jaz na igreja paroquial de S. Paulo.
SSmão Franoisco dos Santos — Nasceo em Lisboa
a 28 de Outubro de 1758, e foi filho de Manoel Francisco
e de Ma^ria Micaella. Recebeo da natureza especial génio
para a arte, e foi mui distincto na gravura de pedras pre-
ciosas, è de cunhos e medalhas. Foi admittido na aula de
desenho de João Grossi (no sitio do Rato) por Decreto
de Dezembro de 1773, passando depois a trabalhar de-
baixo da direcção do abridor Flamengo José Gaspart,
aonde adquirio grandes aproveitamentos no estudo da
arte. Desempenhou muitas e insignes obras para o pu-
blico: gravou os punções da moeda do Senhor D. João VI,
e o de seu Augusto filho o Senhor D. Pedro IV. Foi final-
mente hum dos melhores entre os artistas seus contem-
M3
poraneos, e notável por sua probidade religloád e dviL
Deixou bons discipulos, e entre elles a Caetano Alberto
Nunes de Almeida, e Luiz Gonzaga Pereira, de que já fa-
lámos. Falleceo em 42 de Janeiro de 1830, e foi sepul-
tado no cemitério da Irmandade do Santissimo da fre-
guezia de S. Paulo, a quem era singularmente devoío.
• CONSTRUCTORÊS M NAVIOS
António Joaquim de Oliveira— Foi primeiro En-
genheiro constructor com a patente de Capitão de Fragaíta
da Armada, excellente pratico, e bom theorico. Teve a
estimação dos Almirantes Ingtezes Jervis, e Berkeley, que
reconhecião os seus talentos, e os sabião apreciar. Fez-se
notável pelas suas construcções, e particularmente pela
da náo Príncipe Regente, e pelo concerto da náo S. Se-
bastião^ á qual metteo qtrrltia e cavernas sobre 6 riiar.
Construio a fragata Princeza do Brazil, a corveta Felici-
dade, e huma canhoneira com peça de rodízio á popa.
Construio também a náo D. Joõ-o VI, lançada ao mar em
1815, a qual, apesar de se resentir do systema de con-
strucção que elle tinha adoptado, de dar muito amassa-
mento á riáo e navios, he comtudo hum exceltente vaso,
hoje mais notável por ser a única náo, que possue a ma-
rinha Portugueza, que ha trinta annos ainda contava doze
navios de linha em estado de navegar. Falleceo este digwo
constructor pelos annos de 1816. (Nota dada em 1839.)
António Lopes Ferreira — Segundo Tenente da
Armada. Foi discípulo e ajudante de António Joaquim de
Oliveira, de quem acabámos de falar.
António da Silva — Contemporâneo de Manoel Vi-
cente> de quem logo daremos noticia. Foi servir nos es-
tados do Brazil, e construio na Bahia a náo Martim de
Freitas em 1761, e no Rio de Janeiro a náo S. Sebastião
em 1767, ambas excellentes.
364
Bento Francisco— D. Francisco Manoel mEpatiã-
phora Beltica IV, em que descreve o conflicto do canal,
acontecido no anno de 1639, fala do galeão Portuguez
Santa fereza, capitana da nossa esquadra, que entrou
no mesmo conflicto, e explica-se pelas seguintes palavras :
cNa retaguarda deste navegava a Tereza, que fora para
capitana deste reyno, fabricada por Bento Francisco, ho-
mem notável entre os nossos, cujo nome he bem que ande
em memoria, pelos poderosos, e excellentes navios, que
fez nesta idade: pois assim como o pai natural de filhos
nobres e grandes be digno da veneração da posteridade,
não menos o deve ser aquelle, que artificialmente gerou
obras, não só illustres por sua magestade, mas utilíssimas
por sua fortaleza á republica; em a qual virtude não sa-
bemos outro, que até o presente mayor lembrança haja
merecido. »
Pôde ver-se na mesma Epanaphora o que diz o illustre
escriptor sobre a fortaleza deste galeão, fabricado de ma-
deiras da provinda do Minho, sobre o que, escrevendo
o General D. Lopo a el-Rei D. Filippe IV, lhe dizia:
fíErõo dignos de ser guardados, como o próprio serro
do Potossi aquelles montes de Portugal, onde taes ma-
deiras se criavão» .
Francisco José Martinho — Segundo Tenente da
Armada, e Segundo Constructor do Arsenal de Lisboa ;
tem dado riscos para vários navios de guerra, e para al-
guns mercantes.
Francisco dos Santos — Na Memoria a bem da res-
tauração da Marinha em Portugal . . . por José Maria
Dantas Pereira, impressa em Lisboa, na Typografia Regia
em 1826, em hum folheto de 4.°, se diz que Francisco
dos Santos, natural de Lisboa, escreveo hum Tratado in-
titulado : De re náutica, em que trata da fabrica dos na-
vios.
João Gallego— Foi constructor do celebre galeão
365
S. João, conhecido pelo nome de Bota-fogo, e nomeada
na nossa historia. Este notável vaso de guerra foi come-
çado a construir ás Portei do mar, em Lisboa, a 29 de
Agosto de 1533, e trabalhando nelle diariamente trinta
operários, foi lançado ao mar a 24 de Junho do anno se-
guinte de 1534. Foi pedido expressamente pelo Impe-
rador Carlos V, e mandado no soccorro que el-Rei de
Portugal lhe deo para a empreza de Tunez em 1535.
(Annaes da Marinha Portugueza. pag. 410.)
João de Miona — Gonstructor de buma náo para el-
Rei D. Affonso III, como consta da doação que este So-
berano, por esse motivo, lhe fez no anno de 1260.
(Annaes da Marinha Portugueza, pag. 17, aonde cita a
Monarquia Lusitana, tom. 5.**, liv. 16.°, cap. 12.°)
João de Sousa Palher — Foi Capitão de Fragata da
Armada, e Primeiro Gonstructor do Arsenal Real da Ma-
rinha, hábil theorico, e bom desenhador.
Sendo Ministro d'Estado da Marinha Martinho de Mello
e Castro, construi o a náo Vasco da Gama, e as fragatas
D. João Principe, e S. Rafael.
No Ministério do Visconde de Anadia, construío a fra-
gata Andorinha, e duas barcas, huma canhoneira, e outra
de fazer agoada.
Finalmente sendo Ministro D. Rodrigo de Sousa Cou-
tinho (depois Conde de Linhares), e criando-se o corpo
de Engenheiros Gonstructor es, foi nomeado Chefe deste
corpo com a patente de Capitão Tenente da Armada, e
fundou a Aula de Gonstrucção e Arquitectura Naval na
reforma de 1796, sendo Lente delia por muitos annos.
Falleceoeml814.
José dos Santos — Foi Primeiro Gonstructor no Rio
de .Janeiro, e lá falleceo em 1838.
Julião Pereira de Sá— Aprendeo na escola pra-
tica de Manoel Vicente, e pela sua consumada experiência
foi hum dos mais peritos, e insignes mestres do Arsenal,
36ê
de qaem se confiava a directo dos trabalhos mais diflS-
cçf s. Coadjuvou a Torquato José Clavina (de quem depois
falaremos) em todas as suas constmecoes. Teve o espe*
ciai encargo d^ reconstruir as seis náos, que saccessiva-
m^nte ^ptrárão no dique, e que todas serião condemnadas,
se pão existisse aquelia excellente peça, digna concepção
do iflustrado Ministro Martinho de Mello e Castro, e que
por bjLiip máo fado se deixou arruinar de todo nos nossos
dias. Âs náos sofrerão no seu fabrico alterações essen-
ciaes, a popto de se fazer huma delias de três baterias,
sendo d'antes de duas somente.
Qumio se criou o corpo de Engenheiros Gonstructo-
res, foi nomeado Segundo Constructor com a patente de
Segundo Tenente da Armada, passando depois até o posto
de Capitão Tenente. Falleceo em 1821.
|^9.no!8l d» Gosta — Discipuk) de Torquato José Cla-
vina. Sérvio no Arsenal de Lisboa, donde foi despachado
Cpn^^uctor para a Bahia nos estados do Brazil. Ahi con-
struio alguns navios, e entre elles a náo Príncipe do Bror
zil, lançada ao mar em 18Q0. CoQservou-se naquelles
es|;ados a|;é á época da sua independência.. Também per-
teqceo ao cQrpo dos Engenheiros Constructores, e teve
patente de Capitão Tenente graduado da Armada.
^eiJioel Fernandes — Existe na Real Bibliotheca da
Ajuda bum volume em grande folha com o titulo : Livro
dç traças de carpintaria com todos os modelos e medidas
pçirçf se fazer toda a navegação^ assy d'alto bordo, com^
cie r^(iQ^ traçado por ]\ianQ$l Fernandes offlcial do mesmo
offciç. Nu erQ de 1616 (manuscripto). Consta de cento
trinta e sete folhas, fora seis em branco no fim, e duas
np principio, n'huma das quaes vem o indice, e n'outra
o retrato do auctor. Tem muitas estampas iUuminadas,
hi^mas que representão as náos daquelle tempo promptas
a navegar, outras que mostrão a forma dos bergantins,
oii^r^s diffiarentes peças das construeçoes, &c.
367
Manoel Luiz dos Santos — (Vive neste anno de
1839.) He natural de Lisboa, Capitão Tenenf;e da firmada,
e o mais habil e dístincto Gonstroctor» que boje tem 9 ma-
rinha Portugueza.
Viajou nos paizes estrangeiros com p fim de adquirir
novos conhecimentos na sua arte, e espi^^iabnente m ar-
quitectura naval, segundo o syst^ma adoptado peias prin-
cipaes potencias marítimas, para o que trabalhou por es-
paço de dous annos nos Arsenae;s de Inglaterra debi^ixo
da direcção dos melhores mestres, trazendo depois para
Portugal preciosas instrucções e metbodos, que cá infe-
lizmente se não tem querido aproveitar, sacrifi^^^ndo-se
o distincto merecimento a inter3sses pessoais, e 9 mes-
quinhas considerações.
Sérvio este habil Gonstructor por tempo de jdezjsseiâ
annos no Arsenal de Pernambuco, aonde construio p cq^er
Fernandes Vieira, que montava hpm^ peça de rodízio de
calibre 24, e dezeseis morteiros .de borda. Constrqip pa^s
as escunas Infanta D. Maria Frandscas e Princeza J) . lia-
ria da Gloria, que igualmente montavão b^m^ peça do
mesmo calibre, e fez muitos navios p^ra a praça.
Voltou a Portugal em i 823. Passou a (ngji^terr?, donde
regressou em 1826, e então foi empregado em vários ser-
viços até 1833, em que foi nopieado Primeiro Gonstructof
do Arsenal de Lisboa.
No anno de 1831 construio na cidade dQ Fortp a Real
Escuna, e huma barcaça de querenar : e em Lisboa coq-
cluio a corveta (Hto de Junho, primeiro navio pprtugqez
que se construio de popa militar r e que foi lança4p ^P
mar sobre hum berço de novo inventp do ^uctor, o qji^l
evita os pródigos geralmente adoptados.
Goncertou a náo Rainha depois de ter sidp 4^44 por
incapaz, e habilitou-a a sabir ao mar com segurança, p ^
entrar em linha de batalha. Fabricou posteriormente todos
os navios da esquadra libertadora em 1 834 e J 83S : p qeste
368
ultimo anno executou, por ordem da Gamara Municipal
dé Lisboa, hum plano muito engenhoso para a formação
de huma estrada desde Santa Apolónia até o cães de Be-
lém, formando em alguns logares entre ella e a cidade
bacias, ou docas para uso do commercio.
Tcunou por sua conta fabricar doze escunas para a Com-
panhia das Pescarias, e no espaço de hum anno as con-
struio.
Desenhou em 1 829 e mandou lithografar em 1 830 huma
Vinheta allegorica aos novos inventos e melhoramentos na
sciencia naval militar, dec, e tem publicado algumas ou-
tras estampas com modelos e desenhos todos relativos ao
melhoramento da construcçSo, segundo os methodos pra-
ticados hoje nas nações mais adiantadas, especialmente
em Inglaterra.
Em i B25 obteve em Inglaterra patente de novo invento
pela invenção de huma maquina, a que deo o nome de
Polypasto de Santos, cujas vantagens forão observadas e
reconhecidas. (Gazeta de Lisboa, num. 212, de 8 de Se-
tembro de 1830.)
Manoel Vioente — Este hábil Gonstructor foi o que
nos tempos modernos estabeleceo a Escola pratica de
Gonstrucção no Arsenal Real da Marinha de Lisboa, donde
depois sahírão excellentes mestres, e peritos constructo-
res. E postoque não tinha grandes conhecimentos theo-
ricos, era comtudo dotado de rara habilidade, com a qual
lhe foi fácil comprehender o mais difflcil da arte.
Foi também o primeiro que ensinou a traçar na sala
do Risco os differentes planos de construcção, e a tirar as
competentes formas, o que até então se fazia, como em
segredo, pelo Gonstructor Inglez que dirigia o Arsenal.
Gonstruio differentes embarcações, e entre ellas as
náos Conde D. Henrique, D.João de Castro, Princeza da
Beira, Affonso de Albuquerque, e Príncipe Real, todas
excellentes. A ultima, Principe Real, foi lançada ao mar
369
em 1768, e passou por huma das melhores náos, que
naquelle tempo havia na Europa. Hoje se faz digna da
lembrança da Historia, porque nella se transportou ao
Brazil em 1807 o Senhor D. João VI, então Príncipe Re-
gente, com sua Augusta mãí a Rainha Senhora D. Maria I,
e com seu filho o Senhor D. Pedro de Alcântara, então
Príncipe da Beira, e depois nosso Rei, e sempre saudoso
Libertador.
El-Rei D. José I, conhecendo o grande merecimento de
Manoel Vicente, o nomeou Primeiro Constructor, e lhe
conferio as honras do posto de Capitão Tenente da Ar-
mada, dando-lbe o ordenado de 4^9(800 réis por dia, que
d^antes somente se dava aos Constructores estrangeiros
que vínhão servir em Portugal.
Torquato José Clavina — Foi discípulo de Manoel
Vicente, e succedeo-lhe no lugar de Primeiro Constructor.
Era mais pratico do que theorico; mas tinha singular
gosto, e rara aptidão para ás obras de arquitectura naval.
Construio vários navios de differentes portes, a saber:
No Ministério do Marquez de Angeja, a náo Meduza,
em 1780, as fragatas Tritão^ Golfinho^ Cisne, q Minerva;
as charruas Príncipe da Beira, e Aguiaj e o brigue Lebre.
No Ministério de Martinho de Mello e Castro, a náo
Maria /, e a náo Rainha de Portugal; a fragata Ulisses;
os brigues Gaivota, Serpente, e Palhaço; o cuter Balão,
e o hyacht Anjo.
A náo Rainha de Portugal, fabricada em 1790, foi
huma das mais bellas obras deste Constructor, tanto pelo
seu grande andamento, como por sua elegante forma, e
por outras boas qualidades, que muitas vezes attrahírão
a admiração dos estrangeiros. Por duas vezes que esta
náo foi aos portos da Gra-Bretanha, os Constructores In-
glezes lhe tiravão o risco, e as dimensões. A Rainha Se-
nhora D. Maria I attendeo o merecimento deste artista,
concedendo-lhe o lugar e ordenado do seu antecessor, e
TOMO VI 24
370
condecorando-0 com o habito da Ordem de Nosso Senhor
Jesus Christo. Falleceo pelos annos de 1800.
PINTOKES, DESENHADOEES, MINIATOEES,
BORDADORES, ETC.
Affonso Sanoliez Ooellio— Foi discípulo de Rafael
em Roma, e de António Moro em Hespanha, e seguio a
escola do primeiro, segundo Palomino.
Foi pintor de D. Filippe II, a quem muitas vezes re-
tratou, e teve grandes estimações deste Príncipe, e de sua
irmãa a Princeza D. Joanna, mai de el-Rei D. Sebastião.
O Papa Gregório XIII, Xisto V, os Duques de Florença,
e Saboya o estimarão e honrarão em grande maneira.
A sua caza era frequentada pelo Cardeal Grambellas,
pelos Arcebispos de Toledo, e Sevilha, por D. João de
Áustria, pelo Príncipe D. Carlos, ác. D. Filippe II lhe
chamava o Ticiano Portuguez, e passava muitas vezes
por hum transito reservado para o ver pintar.
Lope de Vega o elogiou e celebrou no seu Laurel de
Apollo. Falleceo pelos annos de 1600.
Ha delle no Escurial, em differentes lugares, e capellas
da igreja:
S. Gregório, e Santo Ambrósio.
S. Basílio Martyr, e Santo Athanasio.
S. Jeronymo, e Santo Agostinho.
S. PaulOj e Santo Antão Abbade.
S. LourençOj e Santo Estevão, Martyres.
S. Vicente^ e S. Jorge, Martyres.
Santa Clara, e Santa Escolástica.
Santa Paula, e Santa Mónica.
Santa Catharina, e Santa Ignez.
S. Bento, e S. Bernardo.
(Vej. Volkmar Machado a pag. 66, e Ponz, Viagem de
Hespanha.J
37i
No folheto intitulado Distribucion de los Premioè . . .^
pela Real Academia de S. Fernando, 1781, pag. 67, re-
ferindo que Filippe II appellidára este artista o Ticiano
Portuguez, acrescenta, que elle era merecedor deste
nome pelo exacto desenho, e hello colorido, que brilha
em seus retratos. Jamais (diz este escriptor) artista
algum se vio tão favorecido da fortuna comx> Sanchez
Coelho.
Álvaro Mourato — Era pintor, e com este titulo
o acho nomeado em documento da Batalha do anno
1592(15). . .
Álvaro de Pedro (Peres)— O Diccionario de Ar-
quitecturas ác, por C. F. Roland le Virloys, de que falá-
mos em outros lugares, faz menção de Álvaro de Pedro,
pintor Portuguez, que vivia em léÕOy e teve reputação.
André Qonsalves — Pintor, discípulo de D. Júlio
César de Femine, bom pintor Genovez, que por muito
tempo morou em Lisboa. Adquirio tanta franqueza, e U-
berdade na pintura, que fez infinito numero de obras para
a corte, e para as igrejas em estylo tão bello, e correcto,
que se tivesse feito estudos em Itália, teria excedido todos
os pintores da sua nação. Teve iguaes talentos para a
figura dos homens, e para a dos animaes, que perfeita-
mente imitava ao natural. Tal he o juizo do Diccionario
acima citado. Vej. o que diz de André Gonsalves e de
suas obras Volkmar a pag. 88. Falleceo em 1762 com
setenta annos e meio de idade.
António Oampello — Pintor Portuguez, que flore-
ceo em tempo de el-Rei D. João III. Foi discípulo de Mi-
guel Angelo Buonarota em Roma, e seguio o seu estylo
na força do desenho, mostrando mais intelligencia no
colorido, como disse Félix da Costa, citado por Volk-
mar a pag. 56 e seguintes. Donde vem dizer este artista
(15) Obras CompletaSj &c., tom. 1.°, pag. 290.
372
escriptor, qoe se pôde applicar a Campello b que de Ti-
baldi disse Luiz Garache, isto be, que soubera modificar
a fereza do desenho do grande mestre, e tornal-o mais
agradável, sem prejudicar a sublimidade da sua maneira.
D. Francisco Manoel, no Hospital das Letras, no-
meando os Portuguezes, que se distinguirão nas scien-
das e artes, põe Camões em poesia, Rezende em antigui-
dades, e Campello em pintura. (Yej. a obra, pag. 456.)
O Diccionario de Roland le Yirloys também diz que
pintou com bom desenho e grande estylo, segundo a ma-
neira de seu mestre.
Foi obra de Campello a Rtui da- Amargura, na escada
de Belém, que bastava (diz Yolkmar) para prova da sua
primazia. Este artista lhe attribue a Coroação de espinhos,
e a Resurreição, no claustro de Belém, ác. Vej. adiante
Manoel Campello.
António Maciel — He quallQcado como Pintor de
fama por Fr. Luiz de Sousa na Vida do Arcebispo, liv. 5.**,
cap. 5.®, e diz que por ordem do Arcebispo D. Fr. Agos-
tinho de Jesus tirara o retrato do venerável D. Fr. Bar-
tolomeu dos Martyres, pouco antes do fallecimento deste
grande Prelado.
Avelar — Vej. em seus lugares José de Avelar Rebello,
e Brás de Avelar.
Bartolomeu de Cardenas — Foi Portuguez, se-
gundo Palomino. Fez muitas obras, que se achão em Yal-
ladolíd, e trabalhou até o anno 1606 om que falleceo aos
cincoenta e nove de idade. Vej. Yolkmar pag. 70, e Ponz,
Viagem de Hespanha, tom. 2.®, cart. 3.*
Bento Coellio— Deste pintor Portuguez fala o douto
litterato Francisco Dias Gomes, nas suas Poesias, na
eleg. 1 .*, ás Musas, not. 1 1 .*, aonde diz : Bento Coelho,
que floreceo no principio do século xvni teve mui viva
imaginação: não se conhece pintor, que tanto pintasse
como elle, o que foi causa de se descuidar algum tanto
373
da correcção. A maior parte das igrejas antigas de Lis-
boa estão cheias de pinturas deste grande Mestre, do qual
existem quadros de grande numero de figuras, todas com
expressão própria do assumpto, fazendo partes interes-
santes daquelle todo, no que mostra ter possuido a poética
da sua arte em grão sublime. E se a nação Portugueza
fora mais cuidadosa em celebrar os grandes homens, que
em Portugal tem illustrado as artes, este notável artífice
seria conhecido de todas as nações cultas. (Vej. Yoikmâr
a pag. 83 e seguintes.)
O Diccionario de Roland le Virloys diz que Bento Coe-
lho vivia em 1680, e fala da grande facilidade com que
pintava, e da grande multidão de obras que fez, e logo
continua: Apezar da velocidade, com que pintava os seus
quadros, acha-se nelle hum não sei que de agradável, e
hum colorido fresco e bello. Alguns da sua primeira ma-
neira até são estimados como bons pelos conhecedores e
professores, dec.
Bernarda Ferreira de Lacerda (D.)— Celebre
escriptora Portugueza, bem conhecida por suas poesias, e
outras obras. Delia diz Rebello, na Descripção do Porto,
que ninguém no seu tempo a igualara nas artes do de-
buxo, e miniatura.
Brás de Avelar — Fr. José Pereira de SanfAnna,
na Chronica do Carmo, tom. 1.®, pag. 580, diz que no
retabolo da capella-mór do Carmo de Lisboa erão apaine-
lados os vãos entre as columnas, e se vião cobertos de
admiráveis pinturas de hum famoso pintor, que então
existia (refere-se aos annos de 1548-1S51) chamado
Brás de Avelar. Estes painéis ainda existião em 1745 na
sacristia do convento, ornando a parede do nascente, e
representavão a Purificação de Nossa Senhora, a Fugida
para o Egypto, e a Annunciação.
Brás Pereira — Fillio de Fernam Brandão, Guarda-
roupa do Infanta D, Fernando, Vej. a respeito deste ^v-
374
tista o artigo Francisco de Hollandaj que em seu lugar
havemos de escrever, e lambem Volkmar a pag. 63.
Cliristovao Lopez— Vej. Volkmar a pag. 67.
O Diccionario de Virloys, que temos citado, diz que
era de Lisboa, que fallecêra pelos annos de 1600, e que
fora discípulo de Affonso Sanchez Coelho, o que também
diz Palomino, que fora artista illustre, e que obtivera de
el-Bei D. João III a Ordem da Cavallaria.
Pintou (diz ainda o mesmo Diccionario) muitos objectos
da Historia Sagrada para as igrejas do reino, e de Hespa-
nha ; e postoque no seu tempo ainda dominava a maneira
sécca^ elle se desviou delia, e operou com mais mimo
(morbidez) do que os seus contemporâneos. Pintou mui-
tas vezes o retrato de el-Rei, que foi applaudido de toda
a corte.
Achámos que se lhe attribuem os painéis da capella-mór
de Belém, ác.
Cláudio Ooellio — Portuguez, pintor celebre, falle-
ceo em Madrid em 1693.
Foi discípulo de Francisco Ricci, pintor de el-Rei D. Fi-
lippe IV (III de Portugal), e veio a ser hum dos melhores
pintores de Hespanha, tanto a óleo, como a fresco.
Huma das suas mais excellentes obras he o quadro, que
está no altar da sacristia do convento do Escurial, repre-
sentando Carlos II com os Senhores da sua comitiva, ajoe-
lhado diante do Santíssimo Sacramento, que o Prior do
convento tem nas mãos, em acção de desagravo da pro-
fanação da Sagrada Hóstia, que tinha sido lacerada por
hum Ímpio. (Tábleau de VEspagne modeme par Mr. Bour-
going. Paris, 1803, tom. l.^ pag. 227.)
Ponz, na Viagem de Hespanha^ falando do mesmo qua-
dro, diz: «Está ali Carlos II ajoelhado; o celebrante com
a Custodia na mão, cuja capa, e as dalmaticas do diácono
e subdiácono parecem de verdadeiro brocado. Todos os
Senhores da corte que assistirão estão retratados, bem
375
como el-Rei, os religiosos, e os mais concorrentes. Em
summa, o quadro he a mais perfeita imitação do successo.
O seu campo he a perspectiva da abobada, e parte da pró-
pria sacristia, interrompido de algumas figuras allegoricas
de virtudes, e anjos, com certa cortina, que enriquece
a composição. Se as pinturas (conclue Ponz) que mais
se aproximão á verdade dos objectos, são as melhores,
poucas creio que se acharão, que mais mereção do que
esta».
O illustre gravador Francisco Bartolozzi, de que falá-
mos em seu lugar, gravou este quadro a pçdido de An-
tónio de Araújo de Azevedo, Ministro que foi de Portugal
em HoUanda, Rússia, e França, e depois Ministro e Se-
cretario d'Estado em Portugal, Conde da Barca, grande
amador das bellas-artes, natural de Ponte do Lima, mi-
nha pátria.
Cláudio Coelho foi pintor do Rei, e do Cabido de To-
ledo, e ha painéis seus em muitas igrejas da Hespanha.
Em Çaragossa no collegio dos Padres Agostinhos de
S. Thomaz de Villa Nova, valeo-se o Arcebispo D. Fr.
Francisco de Gamia, de Cláudio Coelho, fazendo-o hir da
corte para executar huma das melhores obras que fez a
fresco^ pelos annos de i685. Pintou na cúpula a Santís-
sima Trindade com gloria de anjos: encheo as paredes de
ornatos vários, e nas dos arcos, que formão o cruzeiro,
representou os Santos Simplício, Fulgencio, Alipio, e Pa-
trício. Ao lado da epistola se retratou Coelho a si mesmo.
(Ponz, Viagem de Hespanha, tom. 15.®, Ac.)
As pinturas que Ponz attríbue a Cláudio Coelho, são
as seguintes :
I.* Nas Agostinhas Descalças de Santa Isabel o quadro
de S. Filippe.
2.* Nos Trinitarios Calçados algumas pinturas da cú-
pula.
3.^ Naigrejareal de Santo Isidro aspmmra^ da ctfpei/a.
376
4.^ Na mesma igreja algumas das pinturas a fresco da
capella de Santo Ignacio, e outras também a fresco na
abobada e porta da sacristia.
5.* Na paroquia de Santo André as pinluras do rela-
bolo de S. Rogue,
6.^ Na casa chamada da Panadaria, na praça maior,
ha hum salão, c huma antecâmara pintada por Cláudio
Coelho, e Donozo.
7.* Na paroquia de S. Nicoláo hum S. João, e o guadro
da Apresentação de Nossa Senhora, na sacristia.
8.* Na igreja dos Premonstratenses varias pinturas,
9.* Na igreja do Rozario dos Padres Dominicos hum
guadro grande de Nossa Senhora, e a seus pés S. Do-
mingos, ao lado do presbyterio. E no altar de S. Domin-
gos os guadros de S. Jacinto, e Santa Catharina,
10.* Na paroquia de S. Gines os quadros collateraes da
Annunciação, e da Adoração dos Pastores.
11/ Na paroquia do mosteiro de S. Martinho as pin-
turas dos retabolos collateraes.
12.* Na igreja das Franciscanas do Cavalleiro de Graça
a Sa^ra Familia, S. João Evangelista, S. João Baptista,
S. Francisco, Santo António, S. Bernardino.
13.' Nos Carmelitas Descalços huma Cabeça do Sal-
vador,
14.* Na casa dos beijamãos do palácio huma Nossa Se-
ntuyra, e S. Fernando de joelhos diante delia.
15.* Em Salamanca, na igreja de Santo Estevão dos
Padres Dominicanos, hum bom quadro do martyrio do
Santo, ác.
Cyrillo Volkmar Machado — Vej. a sua obra, que
tantas vezes temos citado, intitulada: Collecção de Memo-
rias relativas ás Vidas dos Pintores, e Escultores, Argui-
tectos, e Gravadores Portuguezes, e dos Estrangeiros,
gue estiverão em Portugal, recolhidas e ordenadas por
Cyrillo Vollçmar Machado^ Pintor ao Serviço de Sua jfa-
377
gestade o Senhor D. João VI. Lisboa na Imprensa de Vi-
ctorino Rodrigues da Silva. Anno de 1823, em 4.®
Esta obra que o auctor deixou manuscripta, e recom-
mendada para a impressão ao Muito Reverendo Cónego
da Insigne CoUegiada de Santa Maria, Luiz Duarte Villela
da Silva, grande amador das bellas-artes, e muito amigo
do mesmo auctor, sahio á luz pelos cuidados deste douto
ecclesiastico, que lhe fez alguns additamentos.
A pag. 302 e seguintes vem as Memorias do auctor,
que nos dispensão de as repetir aqui.
Diogo Pereira Pintor— Fala deste artista Volkmar
a pag. 75. Foi estimadissimo na representação de fogos,
incêndios, torres queimadas, purgatório, inferno, e outros
semelhantes assumptos. Também pintava com magistério
homens do campo, illuminados pela lua, ou pela fraca luz
de huma candeia; e finalmente fructos, flores, bambo-
chatas, e paizagens ornadas de pequenas figuras de ex-
cellente gosto.
ks suas obras são procuradas em França, Inglaterra e
Itália, e ha, ou havia muitas em Lisboa. Falleceo septua-
genário, depois do anno de 1658.
Domingos António de Sequeira — Deve ver-se a
Memoria deste illustre artista em Volkmar, a pag. 148,
que nos dispensa de fazer longo este artigo repetindo o
que já se acha escripto.
Vi em caza de Sequeira, no anno de 1821, o Panorama
de Lisboa, em que andava trabalhando.
Sequeira sahio de Portugal em 1823, quando foi abo-
lido e perseguido o systema constitucional, e dirigio-se a
França. aAhi (diz hum auctor estrangeiro) immortalisou
o seu nome e o da sua nação com o magnifico quadro que
no anno de 1824 expoz no Louvre^ representando a scena
dos últimos momentos da vida de Camões i>.
De França passou o nosso artista a Itália, aonde, entre
outfas oí)rag, pintou quatro quadroa, representando o
378
DasciíDenta, a morte, a resurreição, e a ascenção do Se-
nhor, os quaes lhe derão grande nome.
Falleceo em Roma a 8 de Março de 1839.
Domingos da Cunba — Nasceo em Lisboa no anno
de 1598, sendo seus pais Gregório Antunes, e Margarida
Pereira, os quaes vendo o filho inclinado á pintura, lhe
derão mestre, com quem aprendeo os primeiros rudi-
mentos desta arte.
Passou depois a Madrid, aonde se aperfeiçoou nos pri-
mores da arte com Eugénio Cajêz, pintor de D. Filippe II,
observando ao mesmo tempo, e estudando as obras de
outros artistas que não faltavão então naquella corte.
Voltou a Portugal com grande aproveitamento, e foi em
seu tempo o pintor de melhor nome, sendo vulgarmente
conhecido pelo appellido de Cábrinha, nome que lhe
derão pela sua figura. Teve pensamentos de discorrer
pela Europa para communicar com os melhores pintores ;
mas os seus amigos lhe desvanecerão esta ídéa.
Suas obras erão muito estimadas, e desejadas: retra-
tava com muita naturalidade: os fidalgos procuravão á
porfia ter obras de Domingos da Cunha nas suas salas e
galerias, distinguindo-se entre elles D. Francisco de Cas-
tro, Inquisidor Geral, D. Manoel da Cunha, Capellão-mór,
o Cond^ Camareiro-mór, ác.
Em o noviciado dos Jesuitas de Lisboa havia mais de
cincoenta painéis da sua mão, a Vida de Santo Ignacio, a
de S. Xavier, a de Nossa Senhora, os da igreja e claus-
tro, ác.
Retratou muito ao natural el-Rei D. João IV. Foi ce-
lebre a pintura que fez de S. Francisco de Assis, a qual
em occasião de concurso obteve preferencia a todas as
mais, O mesmo succedeo com a de S. Francisco Xavier.
Em 30 de Março de 1632, tendo trinta e quatro annos
de idade, tomou o habito de Irmão na Companhia de Jesus,
e falleceo a 11 de Maio de 1644. (Vej. a Imagem da Vir-
tude em o Noviciado da Companhia de Jesu. Lisboa, pelo
Padre Franco, pag. 485, e o Agiologio Lusitano^ ahi ci-
tado.)
Na Historia da apparição e milagres da Lapa, pelo
Padre António Leite, 1639, em 16, se faz menção de hum
religioso da Companhia, que vivia pelos annos de 1635,
celebre pintor, auctor de vinte e quatro painéis, que
se vião naquella ermida da Lapa, nos quaes se admi-
rava (diz o auctor) o temperar das tintas, o msnear do
pincel, o accommodar das cores, a propriedade das rou-
pas, a viveza dos rostos, o natural das figuras, o talho
dos corpos j a symetria dos membros, a graça dos sem-
blantes, a elegância dos cabellos, as linhas da perspe-
ctiva, Louva-se em particular a viveza e propriedade do
painel da pastorinha Joanna, com a cestinha das maça-
rocas, Ac.
Conjecturámos que este pintor seria o Domingos da
Cunha, de que aqui tratámos.
Domingos Rodrigues (Pr.) — Ponz, na sua Viagem
de Hespanha, tom. 12.^ cart. 7.% | 61, diz que o claus-
tro dos Padres Agostinhos Calçados de Salamanca está
adornado de huma porção de quadros, que representão
martyrios, e tem a firma : Fr, Dominicus Hodriguez Lu-
sitanus, anno 1682,
Domingos Vieira Serrão— Desenhou o desembar-
que de D, Filippe II em Lisboa, gravado por João Schor-
kens, de que falámos no Catalogo dos gravadores, (D. Fi-
lippe II, deve entender-se, segundo do nome em Portugal,
que era o Filippe III de Castella.)
Duarte d'Armas—Vej. Volkmar Machado a pag. 55.
Damião de Góes, na Chronica de el-Rei D, Manoel,
part. 2.*, cap. 27.**, caracteriza a Duarte d'Armas de
grande pintor, e diz que traçara e debuxara as entradas
dos rios, e situações das terras de Azamor, Çalé, e Lara-
che em Africa, no anno de 1507.
380
Esta mesma noticia he repetida por Faria e Sousa, na
Africa Portugueza, cap. 7.®, num. 31, aonde diz, que
pelos annos de 1507, querendo el-Rei D. Manoel guer-
rear os Reis de Fez, Mequinez, e Marrocos, enviara lá
D. João de Menezes, com quatro navios, para sondar as
barras de Âzamor, Mamora, Çalè, e Larache, acompa-
nhado de alguns cavalleiros, com os quaes hia Duarte
d' Armas, grande desenhador.
O mesmo Damião de Góes, na Chronica do Príncipe
D. João, cap. 9.®, refere, que desejando el-Rei D. Manoel
ter a imagem da celebre Estatua Equestre, que se achou
na ilha do Corvo ao tempo do seu descobrimento, man-
dara hum seu criado, debuccador, que se chamava Duarte
d' Armas, que a fosse tirar pelo natural, e que vendo el-
Rei o debuxo, mandara hum homem engenhoso, com
aparelhos, para desmontar e trazer a Portugal aqueila
notável antigualha (16).
No Real Arquivo da Torre do Tombo, no armário IS
da Caza da Corda, se conserva hum livro em pergami-
nho, com 139 folhas numeradas, além das 4 que tem no
principio sem numeração, e entrando nas 139 três, que
tem no fim, em branco. O titulo deste livro he o seguinte:
^Este livro he das fortalezas, que sam situadas no es-
tremo de portugall e castella, feyto por duarie d'armas,
escudeyro da caza do muyto alto, e poderoáD, e serenis-
symo Rey e senhor dom emanuell ho prymeyro, Rey de
portugall, e dos algarues daquem e dallem maar em afryca,
senhor de gujnee e da conquista e navegaçaaom, e comer-
cyo de Ahiopia, arabya, pérsia, e da índia, ác.»
Segue-se o indice, e logo o desenho de sessenta forta-
lezas, que occupão 120 folhas, porque cada huma delias
vem em dous mappas, e com duas vistas, humas do norte
e do sul, e outras do nascente e poente.
(16) Obras Completas, ítc, tom. 5.°, pag. 186 e seguintes,
381
Na íl. 120, verso, diz:
«D'aqni se começa a prata-fórma das fortalezas atrás
debuxadas, com suas alturas e larguras de muros, e bar-
reyras, ác.»
Segue-se a Tavoada das mesmas fortalezas em praíor
fórma^ isto he, a planta-baixa delias, que corre desde
íl. 121 até fl. 132.
Todos os desenhos desta obra são feitos com a maior
exacção, desempenho, e aceío, e mostrão bem a grande
perícia do artista. Alguns delles, cujos originaes ainda
existem nas fortalezas do reino, provão a exacção e fide-
lidade do desenhador.
Deve ainda advértir-se que postoque no titulo da obra
pareça limitar-se o artista a desenhar as fortalezas da fron-
teira, por onde visinhâmos com terras de Castella, se acha
comtudo ali o desenho de todas as mais, que círcundão
Portugal, incluindo as marítimas, que áquelle tempo exis-
tião. O que tudo faz esta obra digna de singular apreço,
ou se considere com relação á historía, ou com respeito
á arte.
Os desenhos são todos feitos á penna. .
Estevão Qonsalves — Volkmar fala delle a pag. 46,
e lhe dá o nome de Estevão Gonsalves Neto.
Foi este ecclesiastico Abbade de Serem, e depois Có-
nego na Sé de Visêo.
Desenhou e pintou em miniatura o lindissimo Missal,
que ficou do Padre Mayne, religioso da Terceira Ordem
de S. Francisco, e se conservava no gabinete da livraria
dos Padres Terceiros (do convento de Jesus), adminis-
trada pela Academia Real das Sciencias de Lisboa.
Foi começada esta admirável obra em 1610, sendo o
seu auctor Abbade de Serem: foi por elle mesmo conti-
nuada, quando já era Cónego de Visêo, e acabada em
1622, como consta das subscripções, que nella se lêem
em differentes lugares.
382
O auctor a offereceo a D. João Manoel, da Gaza de Tan-
cos, Bispo de Visêo, depois de Coimbra, e ultimamente
Arcebispo de Lisboa, o qual como fundador e padroeiro
do convento de Jesus, a deo para a igreja do mesmo con-
vento, aonde tem o seu jazigo.
Eu vi esta obra em 14 de Junho de 1837, e me pareceo,
que era superior a tudo o que tenho visto do mesmo gé-
nero, tanto pelo bello desenho das figuras, como pela vi-
veza, harmonia, e sufàvidade das cores, junta com a mais
fecunda e notável variedade de ornamentos.
Susebio de Matoe (Pr.)— Entrou na religião da
Companhia de Jesus em 1644, e depois passou para a
Carmelitana. Foi caprichoso pintor, maiormente no de-
senho, diz o Beneficiado João Baptista de Castro, Mappa
de Portugal, tom. 2.^ ediç. de 1763, pag. 361.
Femam Gomes— Foi disdpulo de Miguel Angelo.
(Memorias Históricas ia Ministério do Púlpito, pag. 135.)
Vem nomeado entre os bons pintores Portuguezes no
Discurso sobre a utilidade do desenho, impresso em 1788,
em 4.° (Vej. Volkmar, pag. 68.)
Vivia em 1580, e fez de bom estilo differentes obras
nas igrejas de Lisboa, e em outras terras do reino.
Fernando de Távora (D. Fr.)— Foi religioso Do-
minicano, confessor de el-Rei D. Sebastião, e Bispo no-
meado para o Funchal. Foi insigne pintor, e havia obras
suas no convento de Bemfica. (Vej. Sousa, Historia de
S. Domingos, part. 2.*, liv. 2.°, cap. 12.®, e adiante o
»lígo Z>. Fr. Henrique de S. Jeronymo.
nUppa (D.)— Foi filha do illustre e infeliz Infante
D. Pedro, Duque de Coimbra.
São conhecidas as composições litterarias desta Se-
nhora ; e acho em memoria particular, que deixara por
sua morte ás religiosas do mosteiro de Odivellas hum
mamscripto seu, que continha as homilias aos Evange-
lhos de todo o anno, com varias imagens e figttras por
383
ella debuxadas^ com a perfeição que era própria da sua
habilidade e perícia na arte.
Pilippe das Ohagas (Pr.)— Dominicano. Na obra
intitulada Prendas da Adolescência, impressa em 1748,
em folio, se lê que este religioso escrevera hum lirro de
Pintura, Symmetria, e Perspectiva.
Francisco de Hollanda — Floreceo no tempo de
el-Rei D. João III, e de el-Rei D. Sebastião, e foi filho de
António de Hollanda. O appellido de Hollanda nos mdica,
que estes dous artistas tinhão acaso vinculos de paren-
tesco com o famoso pintor Lucas de Hollanda, natural de
Leyde, cidade capital da Bheinlandia.
A expensas, e de mandado de el-Rei D. João III, passou
Francisco de Hollanda a Itália, aonde, das antígualhas que
vio, tirou muitos desenhos, como logo diremos. O nosso
Fr. Heitor Pinto o compara de algum modo a Miguel An-
gelo no Dialogo da Vida Solitária.
Existem na Bibliotheca Real de Madrid dous Hvros da
Pintura antiga deste artista, ambos dedicados a el-Rei
D. João III. O primeiro he dividMo em quarenta e quatro
capitulos, o derradeiro dos quaes trata de tades os gé-
neros e modos de pintar. O segundo, escripto em forma
de dialogo, consta de quatro partes, nas qtraes se trata
da nobreza e excellencia da profissão de pintor; do vator
e serviços da pintura, assim na paz, coim) na guerra ; e
da estimação, em que ag nações tem esta arte e as soas
obras. Segue-se a relação dos Pintores, que então erão
modernos ; outra dos famosos lUuminadores ; outra dos
famosos Esculptores em mármore ; outra dos Arquitectos;
outra dos Entalhadores em laminas de cobre; e outra
finalmente dos Comiolas. Acaba com os provérbios que
ha na pintura.
O primeiro destes livros tem no fim : Acabey^o descrê^
ver hoje dia de S. Lucas Evangelista em Lixbõa, era
1648.
384
O segundo : Acabey-o descrever, sem emendar, em San-
tarém, hoje quinta feira, ires dias do mez de Janeiro, na
era de nosso Senhor Jesu Christo de 1549.
Ha mais Da dita Bibliotheca Real de Madrid composto
pelo nosso artista o Dialogo sobre o tirar polo natural,
tido no Porto entfe Francisco de Hollanda, e Brás Pe-
reira, que foi filho de Fernam Brandão, Guarda-roupa
do Infante D. Fernando.
Destas duas obras, de que acabámos de Calar, ha huma
cópia na Academia Real das Scíencias de Lisboa, aonde a
examinei por ordem da Academia, e votei pela sua im-
pressSo, sendo eu então Director da Classe das Sciencias
Moraes, e Bellas Letras. No arquivo da Academia deve
estar o meu parecer. A cópia creio que foi tirada em Ma-
drid, quando lá foi em serviço da Academia o Sr. Mon-
senhor Ferreira Gordo. A cópia, que parece ter sido
tirada por escrevente Castelhano, tem bastantes erros,
alguns já emendados por letra do Sr. Gordo, outros fá-
ceis de se emendarem, sem alterar o texto.
Gompoz mais o nosso Francisco de Hollanda hum Livro
de Debuxos, que se conserva na Livraria do real mosteiro
do Escoriai, e tem como titulo: Reinando em Portugal
el-Rei D. João III, Francisco de Hollanda passou a Itália,
e das antigualhas, que vio, retratou com sua mão todos
os desenhos deste livro.
Começa pelos retratos do Santo Padre Paulo III, e de
Miguel Angelo, illuminados. Vem depois os melhores pe-
daços de antiguidades de Roma, o amphitheatro de Ves-
pasiano, as columnas Trajana e Antoniana, os trofeos de
Mário, o templo de Jano, o de Baccho, o de Antonino e
Faustina, e o da Paz ; os baixos relevos de Marco Aurélio,
o Septizonio de Septimio Severo, e outros muitos monu-
mentos, e partes de ruinas, como cornijas, frizos, capi-
teis, ác. Ha mais no mesmo livro vistas de Veneza e de
Nápoles debuxadas com grande perfeição, alguns sepul-
385
eros da Via-Appia, o amphithealro de Narbona, estatuas
antigas, &c.
O próprio auctor, no liv. 2.^ da Pintura antiga, se
jacta de algum modo destes seus estudos e trabaltios,
quando diz : c Que fortalezas, ou cidades estrangeiras não
tenho eu ainda no meu livro? que edifícios perpétuos, e
que estatuas pezadas tem ainda esta cidade (Roma) que
lhe eu já não tenha roubado? e leve sem carretos, nem
navios em leves folhas? que pintura de estuque^ ou bru-
tesco se descobre por estas grutas, e antigoalhas assi de
Roma, como de Puzol, e de Bojas, que se não ache o mais
raro delias pelos metis cadernos riscado, &c. » .
Existe ainda mais, ou existia^ na Real Bibliotheca de
Sua Magestade Fidelíssima bum manuscripto em 4.^ deste
celebre artista, intitulado: Fabrica que fallece á cidade
de Lisboa, o qual passou á Bibliotheca Real da do Conde
do Redondo, aonde o vira o Beneficiado João Baptista de
Castro, que delle faz menção no Roteiro terrestre de Por-
tugal, ediç. de 1767, pag. 4.
N3o sabemos se he este mesmo manuscripto, ou se he
outro como elle, o que se acha na Academia Real das
Sciencias em 4.^; o que porém podemos affirmar he que
o da Academia parece original, pois tem as licenças para
se imprimir, datadas de 1576, e mostra ser escripto
em 1571.
lambem por ordem da mesma Academia o examiná-
mos, e. acerca delle demos o nosso parecer. Neste se
ach3o muitos desenhos feitos pelo auctor á penna.
Na primeira obra de Francisco de HoUanda, de que
acima falámos, pareceo-nos digno de notar-se :
1.^ Que falando elle dos famosos Illuminadores da Eu-
ropa, nomêa no primeiro lugar a seu pai António de Hol-
landa, como superior a todos (os então modernos) na-
quella bella arte.
2.® Referindo o juizo de Carlos V, que preferia o seu
TOMO VI 25
386
retrato feito por António de Hollanda ao que em Bolonha
tinha feito Ticiano, noméa testemunhas, que assim o ou-
virão ao Imperador, acrescentando comtudo, que Tíciano
excedia a seu pai António de Bollanda.
3.® Diz de si mesmo, que sendo ainda moço dava li-
ções de desenho aos Infantes, filhos de el-Rei D. Manoel.
4.° Na Relação dos famosos Pintores, então modemoSi
noméa Mestre Jacome, Italiano, pintor de el-Rei D. Jò3o,
de boa memoria, isto he, de el-Rei D. João I.
5.° Ahi mesmo nomêa também o pintor Portuguez,
que pintou o altar de S. Vicente de Lisboa, e em otftrò
lugar diz : Quero fazer menção de hum Pintor Portugtíét,
que merece memoria, pois em tempo meio bárbaro quiz
imitar n' alguma maneira ó cuidado e a discrição dos on-
tigos Italianos Pintor es ; e este foi Nuno Gonsalves^ Pintor
de el'Reí D. AffonsOj que pintou na Sé de Lisboa o altair
de S. Vicente, e creio que também he da sua mão hum
Senhor atado á columna, que dous homens stão açoutando^
em huma capella do mosteiro da Trindade^ Ac, ác. (VBj.
Volkmar, pag. 61.)
Francisco Taça — Acho este nome acompanhado do
titulo de Pintor em documento do real mosteiro da Ba-
talha do anno 1566 (17).
Plranoisco Vieira — Denominado o Vieira Lusitano.
Nada podemos acrescentar ao que diz Volkmar ádefta
deâte grande ani^ta Portugtiesi, a pag. 99 da sua CoUec-
tão de Memorias, ác, tantas vezes citada.
Nasceo em Lisboa a 4 de Outubro de 1699, e parece
que falleceoem 1783.
Antes de hir a Roma, desenhou : A Oração do Horto;
S. Pedro chorando a culpa; a Magdalena penitente;
S. Thiago a cavallo perseguiúdo os Agarenos.
Volkmar menciona o seu famoso quadro da tomada áe
(17) Obras Completas, &c., tom. 1.°, pag. 290.
387
Lisboa aos Mouros, que estava no templo dos Martyres,
e se queimou pelo terremoto de 1755.
Na mesma catástrofe ardérSo também :
O retrato do primeiro Patriarcha de Lisboa.
Os retratos da Familia Real.
O magnífico quadro de Perseo, que estava no palácio
do Conde das Galvéas.
Pintou também :
— O quadro da Assumpção de Nossa Senhora, e de
seu filho sahindo a recebel-a na Gloria, assumpto dado
por el-Rei, e cujo desempenho mereceo grandes louvores
deste Príncipe.
— O Eterno ordenando a Moysés que fosse acabar a-
vida sobre o monte Nebo, e Moysés no fundo do monte,
despedindo-se de Eleazar, de Josué, e do povo, para co-
meçar a subida.
— A corte de Plutão e Prosérpina; e ahi Orpheo, pre-
tendendo commover os monarcas infernaes a lhe entre-
garem a sua Euridíce, &c.
Eu possuo o desenho do celebre quadro da Adoração
dos Reis, esboço, em lápis vermelho, deste grande mestre.
Deve ver-se a obra intitulada : O Pintor insigne, e leal
amante, escripta por elle mesmo, e impressa em Lisboa
em 1780, em 12, aonde se vêem com individuação, e
fidelidade notável os successos da sua vida, dos seus pro-
gressos nas artes, das suas obras, ác.
Franoisoo Vieira — He denominado o Vieira Por-
tuense, por ser natural da cidade do Porto, e para o dis-
tinguir do Vieira Lusitano, de que ha pouco falámos.
Deve ver-se o que a respeito deste excellente artista
escreve Volkmar a pag. 139. Falleceo em 1805 de trinta
e nove ou quarenta annos de idade.
Oaroia de Rezende — He mui conhecido entre nós
eáte iitterato, que foi criado de el-Rei D. João H, e es-
efeveo a sua vida, e outras obras.
388
Debuxava muito bem, como elle mesmo diz de si na
dita obra da vida daquelle Príncipe, aonde refere que el-
Rei lhe mandava fazer muitos debuxos, e ás vezes o fazia
trabalhar em sua presença, louvando-lhe esta prenda, e
dizendo, que a desejava ter, como a tinha e estimava seu
primo o Imperador Maximilíano, de. (Vej. a Vida de eU
Rei D. João IL cap. 200.*)
Por ordem de el-Reí, fez o desenho para o Forte de Be-
lém (a Torre de Belém), (|ue depois fez executar el-Rei
D. Manoel. (Ibid., cap. 180.'')
GFaspar Dias — Pintor Portuguez, que vivia nos prin-
cípios do século XTi.
Foi mandado a Roma por el-Rei D. Manoel, e foi dis-
cípulo de Miguel Angelo (Memorias Históricas do Minis-
tério do Púlpito j pag. 135), em cuja escola fez grandes
progressos.
O celebre filólogo e critico Francisco Dias Gomes, que
já outra vez citámos, na eleg. 1.^ ás Musas, not. 11.', diz
que Gaspar Dias fora contemporâneo do gram Vasco, dis-
cípulo de Rafael, e de Miguel Ângelo; que tivera grande
correcção de desenho; que fora notável na expressão das
paixões, e que tivera suavidade de pincel, pelo que (acres-
centa) he reputado o Rafael Portuguez.
São seus os dous grandes painéis do Senhor resusci-
tado, e do Senhor crucificado no claustro de Belém. O da
vinda do Espírito Santo na tribuna da igreja da Miseri-
córdia, que se diz feito em 1534, e restaurado por Gua-
renti em 1 734, he huma das suas mais bellas obras.
Na igreja paroquial de S. Pedro da vílla de Celorico da
Beira, no altar do Menino Deos, ha hum painel antigo da
Circumcisão, obra de Gaspar Dias. Este painel (diz o
Sr. Cónego- Villela) he hum milagre da arte; tem suavi-
dade de pincel, e todas as figuras mostrão viveza de ex-
pressão. O colorido he admirável; e em todas as' suas
perfeições mostra que o auctor possuía a poética da arte
389
mn gráo sublime: qtuUidades, pelas, quaes Gaspar Dias
merece o nome de Rafael Portuguez, e que o fazem so-
bresahir muito a Vasco^ Pêro PeruginOy Reinoso, Avelar,
e outros grandes artistas, que no dourado governo de
D. Manoelj e D. João III tanto acreditarão a nação.
Heliodoro de Paiva (D.)— Foi colaço de el-Rei
D. Jo3o III, Cónego regular de Santa Cruz de Coimbra,
e sábio distlDcto. Teve grande perícia na arte da pintura.
(Mappa de Portugal, tom. 2.% pag. 362.) Vivia em Março
de 1550.
Parece ser o mesiào de que falao as Memorias Histó-
ricas do Ministério do Púlpito, pag. 135, aonde se lhe dá
(por equivocação, ao que parece, ou por erro typogra-
flco) o nome de D. Hilário de Paiva.
Foi também instruído na bella arte da musica, e deixou
composições suas que se conservavão no mosteiro de
Santa Cruz de Coimbra. Acho que fora natural de Lisboa.
Henrique de S, Jeronymo (Fr.)— Religioso Do-
minicano, natural de Santarém, irmão de D. Fr. Fernando
de Távora, de que já falámos, e ambos discípulos do Ve-
nerável D. Fr. Bartolomeu dos Martyres. Foi mui pe-
rito na pintura, de que se conservavão mostras no seu
convento de Évora, assim como de seu irmão em Bem-
fica. Entre as de Fr. Henrique, se distínguião a Transfi-
guração, Nossa Senhora, o Baptista no altar mõr, e o
Ecce Homo no capítulo, das quaes todas, somente são
obra sua os rostos das figuras, porque o mais he obra
de Morales, pintor de fama, que então vivia em Badajoz.
(Historia de S. Domingos, part. 2.% liv. 2.°, cap. 12.° Vej .
o Diccionario de Roland le Yirloys, aonde se diz que este
religioso pintor vivia em 1530.) Este respeitável padre
foi depois Bispo de Cochim, e Arcebispo de Gôa.
Henrique Josó da Silva — Engenhoso e egrégio
pintor ^ do nosso tempo, que adornou as collecções da
Academia Real das Sciencias de Lisboa com duas estam-
3fte
pas de quadros da stm invenção, e abertíis pelo famosç
Bartolozzi: huma das quaes representa Lord Wellinglon^
Conde do Vimeiro, cercada de varias figuras allegoricas,
e a outra o retrato do Conde de Trancozo (Lord Beresr
ford), Marechal e Commandante em Chefe do Exercito
Portuguez» sobre hum pedestal, em que se vé pintado
hum dos acontecimentos mais memoráveis da sua glo-
riosa carreira militar em Portugal. (Memorias da Acade-
mia Real das Sciencias de Lisboa^ tom. 3.^ part. 2.%
pag. H. Lisboa, 1814.)
Igmaoia Píme^ta Oardote (D.) — No Museo de Pin-
turas do mosteiro benedictino de S. Martinho de Tibãe^^
existia hum bello quadro, que representava a Familie^
Sagrada, notado com o num. 258, o qual tinha a sub-
scripção: Z>. Ignacia Pimenta Cardote a fez an. 1717.
Isabel Brouu (D.) —Foi filha de Duarte Pequerim, e
mulher do Pr. Pedro Brojin^, natural da cidade do Porto.
Viveo no século xvra, e foi delicadíssima em pintar a óleo,
e singular em retratos, ks suas pinturas são mui procu-
radas por seu e^cellente gosto. (Vej. Rebello, Descripção
do Porto, pag. 370.)
Isabel de Castro (D.)— Foi filha do primeiro Mar-
quez de Fronteira, e Condessa de Açumar. Teve grande
erudição, e piptava e escrevia perfeitamente comapplauso
das pessoas íqtelligentes nestas artes. Falleceo em 1724.
Isabel Maria Rita (D.)— Natural da cidade do
Porto, filha de Francisco Pequerim e de Joanna Peque-
rim. Passou a Hespanha no século xvni, e lá se distin-
guio, entre os melhores professores, nas artes da pintura,
risco e debuxo, sendo singular na miniatura. (Rebello,
Descripção do Porto, pag. 370.)
Isidoro de Paria— A capella mor da Collegiada
igreja matriz da villa de Celorico da Beira foi apainelada
em quadros por este artista.
Trabalhou também na igreja paroquial de S. Pedro da
391
mesma villa, como refere o douto amador das artes o Có-
nego Luiz Duarte Villela da Silva no seu Compendio his-
tórico da villa de Celorico da Beira, aonde diz que alli
mostrou o celebre artista Isidoro de Faria o seu grande
génio; pois o painel de S. Pedro, que fica no meio deste
lindo edifi^cio, entre vistosas e delicadas tarjas, he tão bem
acabado, que a meu ver não tem preço : e se este famoso
pintor tivesse mais correcção de desenho, teria dado tanta
gloria á villa de Trancoso, sua pátria, quanta lhe resulta
de ter dado o berço ao grande historiador o Padre íoão
de Lucena.
Jeronymo Corte-Real — Este celebre poeta Portu-
guez foi também perito na arte da pintura. Elle mesipo,
dedicando a el-Rei D. Sebastião o seu poema do Segundo
Cerco de Diu, impresso em 1574, diz assim:
«E porque a leitura he grande, debuxei de minha mão
os combates, os soccorros, e tudo o mais, que no decurso
deste trabalhoso cerco succedeo, para que a invenção da
pintura satisfaça á rudeza do verso, dcc.»
Nessa mesma obra se lê hum epigramma de Luiz Al-
varez Pereira em louvor do poeta, no qual se diz :
De ApeUes fntíormo ouve a coroa.
Outro epigramma de D. Jorge de Menezes attribue ao
poeta :
o que em LinOj em Apelles nos espanta.
Hum soneto de Bernardes, numerando os dotes do
auctc»*, diz :
Orpheo a voz lhe deo, Apollo a lyra.
Amor a branda penna, Marte a lança,
• E o seu próprio pincel a natureza.
Finalmente o Ferreira, em outro epigramma, que vem
nas suas obras, feito em louvor de Corte-Real, diz:
ffo pincel vences natureza e arte.
Jofto de Abreu Gk>ijao — Nas Memorias de MáUa,
impressas em 1734, vem o mappa geográfico de Malta
delineado por este artista, como consta da subscrípção,
em que elle se qualifica de Geógrafo de Sua Magestade. -
João André Gliiape — Ainda em 1818 vivia e tra*
balbava na cidade do Porto ; e parece ter sido discípulo
de João Glamma, de que logo falaremos. Seguio a escola
Romana, e he da sua mão o quadro da Senhora das Do^
res, que estava no Museo de Tibães, num. 257.
Jofto Olanuna Stroberle — Darei a respeito deste
artista a cópia das informações originaes, que pude obter,
esoriptas por João André Ghiape, de que ha pouco faiei,
amigo de João Glamma, e creio que seu discípulo. Dizem
assim :
cJoão Glamma Stroberle, Lusitano, pintor da escola
Romana, nasceo em Lisboa em 1708.
<Nos seus primeiros annos, foi applicado ao estudo das
letras, tempo que elle repartia na cultura do desenho, a
que era muito inclinado.
cA sua propensão para a pintura fez com que fosse
pensionado pela corte, e enviado a Roma, onde em mui
breve tempo fez progressos tão grandes, que excedeo os
seus companheiros de estudo na Academia de S. Lucas
daquella capital, e alcançou o premio que nella se con-
cede áquelles alumhos que se distinguem sobre os seus
concorrentes.
<E Copiou com assídua diligencia as obras de Rafael, e
tudo o que Roma conserva de preciosidades Gregas, a
que os pintores chamão vulgarmente o Esfudo do Antigo.
tPara se aperfeiçoar na pratica da arte, teve por con-
ductor e mestre a Marcos Benefial, pintor clássico, e beifi
conhecido pelas excellentes obras, que delle existem,
tanto na Basílica de S. Pedro, como em outras igrejas de
Roma.
cFoi associado na Arcádia Romana, e eleito pelos Aca-
393
demioos delia, debaixo do nome de Pastor Taiarco Ale-
sianOy qoe lhe cahio por sorte.
«Depois de huma residência de dezoito ou vinte annos
naqaella cidade, voltou para Lisboa (não sei se por ordem
da corte) onde mostrou com admiração o seu raro ta-
lento, e génio superior, na decoração do theatro real, em
que foi empregado. Veio depois ao Porto visitar o Bispo
D. Fr. José Maria da Fonseca e Évora, seu Mecenas em
Roma, no tempo dos seus estudos, e ficou hospedado no
Paço. Emquaoto aqui se demorou, fez varias obras, que
forSo muito applaudídas.
((Por fallecimento do Bispo, acontecido eml751, ou 52,
não sei se embarcou daqui para Londres, ou se voltou a
Lisboa. O certo he, que no anno do terremoto de 1755 lá
se achava (em Lisboa), e que depois dessa época tomou
para esta cidade (do Porto) com a sua família, e aqui viveo
largos anDOs até o seu fallecímento, que foi no de 1792.»
Este illustre artista, que faz honra á sua nação pelos
raros talentos, de que era dotado, possuia todas aqueUas
qualidades, que formão hum perfeito pintor, e que diffi-
cilmeote se achão reunidas em hum só sujeito: porque
era hum grande desenhador (parte a mais essencial da
pintura), mui correcto e judicioso nas suas composições,
instruido na historia, tanto sagrada, como profana, na
poesia, fabula, mythología, allegoria, arquitectura, pers-
pectiva, expressão, anatomia, de. Além destes e outros
attributos, também possuia o dom da presteza, e por isso
na sua longa carreira produzio muitas obras em todos os
géneros, porque em todos era feliz, e principalmente no
retrato, em que foi eminente ; pois só nesta cidade, me
disse elle hum dia, tinha feito huns seiscentos e tantos.
Entre elles, são para notar os das pessoas ecclesiasticas,
que ou fosse por sympathia, ou gosto particular, exprimia
com tal verdade, que á primeira vista fazem illusão. Os
seus desenhos em lápis vermelho são preciosos, especial-
flMDte OS que repr^sdntici assumptos bístoricps, ou f^q-
losos. Não deixou discípulos, porque uao era do seu gé-
nio admittil-os.
Memoria de algamas okras de Joio Giamma
<0 talento deste sábio pintor foi pouco conhecido, ou
aproveitado nas decorações publicas nesta cidade (49
Porto), onde viveo largos annos, talvez pelo pouco gosto,
qnp nella se encontra em matéria de pintura: e só algum;
particulares curiosos occupárão o seu pincel em obras
avulsas, ou retratos, de que o publico não gosa. Comtudo
em algumas igrejas se achao quadros seus, ainda que em
pequeno numero, entre o^ quaes merece attenção o do
altar-mór de S. Nicoláp, allusivo ao Santíssimo Sacra-
mento, porqu3 foi pintado nos bellos dias do auctor. Os
de S* João Novo, e Senhora da Yictoria são igualmente de
grande estimação para quem tem conhecimento e gosto.
Também havia outro na igreja do Carmo, que merecia
bem a pena de ser vi$to, mas foi substituido por outro
de diiferente assumpto, e de mão que não conheço, não
sei por qual motivo. Eu conservo o esboço, ou pensa-
mento do que desappareceo, pintado a óleo pelo mesmo
Giamma.
f São também da sua mão os quadros, que decõrão os
altares lateraes da Sé de Braga, entre os quaes ha alguns
mais especialisados, taes como o de S. João Baptista,
Santa Barbara, S. Sebastião, &c.
<0 seu famoso quadro do terremoto de Lisboa, acon-
tecido no < .® de Novembro de 1 755, pôde ser considerado
como huma das suas melhores producções, tanto pela ri-
queza da sua composição, e arranjamento, como pela va-
riedade, e multiplicidade dos objectos que contém. He
quadro original, ou singular no seu género, porque o au-
fitftr ^8ia, Ihç nlo constava, que houvesse ^ntre o^ pip-
tores antigos, oa modernos, qaem tivesse tntado
ihante assumpto, ao mesmo tempo que se achlo obns
eicellentes, representando oatras calamidades, taes como
diluvio, gaerras, pestes, de, mas de terremoto não consta
haver exemplo.
cElle foi e^ctador da triste scraa qQe o quadro re-
presenta, soando dizia, porque, na occasiio daquelle
funesto acontecimento, se achava ouvindo missa iia igreja
das Chagas, da qual fogio logo que presentio o tremor, e
se refugiou, ao través do aparto, em sido largo, donde
pôde observar tudo o que em tal conflicto aconteceo de
mais lamentável naquelie bairro. De tudo o que presenr
ciou fez memoria e apontamentos para onganisar a sua
composição, de que dava cópia fiel a todas as pessoas do
seu. conhecimento, que des^avão ver esta obra interes-
sante, a qual o auctor não pôde de todo terminar, por lhe
faltar a vida ; mas assim mesmo se pó(le coQsideraF como
acabada.
cOs Inglezes daquelle tempo, que erão muito seus
apaixonados, e sabião apreciar o seu merecimento pelo
muito que o occupavão, quizerão rifar-lhe q qaadl^ qo
estado em que se achava, ao que elle não assentio, menos
que o não terminasse. A sua família he a que o pQSsue
presentemente, e o conserva em bom estado, esperando
a occasião favorável de o passar com alguma reputação.
a Outras mais obras de grande mérito poderia referir,
dessas poucas que lhe vi pintar, e de que tenho notícia,
se ellas podessem ser vislas com facilidade; mas como
são possuídas por particulares, podem-se considerar como
thesouros escondidos. >
Até aqui as informações de Chiape. Depois que ellas
me vierão á mão, constou-me que a família de Glamma,
provavelmente obrigada da necessidade, fez com effeito
rifa de varias pinturas delle, entrando nellas o quadro do
erremoto, no valor (^e bem me lembro) de 6004WOO réis.
396
Eq entrei nesta rifa, mas não sei a quem cahío aquella
pintura.
No Museo do mosteiro de Tibães, erão de Glamma o
quadro de Santa Maria Magdalena, num. 67, e aque repre-
sentava hum navio, num. 246. (Vej. Volkmar, pag. 135.)
Joaquim Ra&el— Os painéis do Museo de Tibães,
num. 31, que representa a Senhora da Soledade, e o
num. 57, que representa huma paizagem, s3o deste ar-
tista, bem como o Génio de Pintura, que está no meio do
tecto da primeira sala, e que eu lhe vi pintar, quando elle
foi do Porto ordenar as pinturas do Museo que então se
estabelecia de novo.
Joaquim Rafael veio depois para Lisboa, aonde está
neste anno de 1839, com o titulo de Primeiro Pintor de
SimMagestade, membro e Lente da Academia das Bellas-
Artes, &c.
José do Avellar — Vej. Volkmar, pag. 76. O Diccio-
nario de Roland le Virioys, diz: «^Avelar (Joseph d') pin-
tor Portuguez, que vivia pelos annos de 1640, pintava
figuras a óleo, recebia encommendas de todas as terras
de Portugal, e fez muitas pinturas para a Bibliotheca Pa-
triarcal. As suas obras o flzerão tão rico, que comprou,
e fez edificar muitas cazas em Lisboa, as quaes occupavão
huma rua inteira chamada a rua d' Avelar». A este pintor
parece dever-se referir o que diz o Diccionario Histórico,
edíç. de 1804, artigo Avelar, &c.
José Teixeira Barreto — Já delle dissemos alguma
cousa na lista dos gravadores. (Vej. Volkmar a pag. 298.)
Josefa de Ayala ou Jose& de Óbidos— Vej. o
que delia diz Volkmar a pag. 77. Nós já a nomeámos entre
os gravadores, e achámos em memoria que fora eminente
na pintura de flores, fructos, cordeirinhos, ác.
Joseph Caetano de Pinho— Cladera, nas Invés-
tigaciones históricas sobre los principales descohrimientos
de los Espafíoles, &c. , impressas em Madrid, 1 794, em 4.^
397
diz que o retrato do Duque de Alcudia^ com que ornou a
sua obra, se ha debuxado por el original de Joseph Caj/e-
tano de Pifko y Silva^ natural de la ciudad de Oporto.
Luiz Alvares de Andrade — Foi homem de vida
exemplar, filho espiritual do Venerável Fr. Luiz de Gra-
nada, e qualificado como Pintor celebre no Âgiologio Lu-
sitanOj DOla ao dia 3 de Abril. (Volkmar, pag. 72.)
Luiz de Bastos (Fr.) — Religioso Garmelitano, do
qual diz Fr. José Pereira de SanfAnna (Càronica, tom. i.**,
pag. 584), que fora na pintura o mais insigne de quantos
este reino conheceo no seu tempo. E posto (diz) que co-
meçou a mover os pincéis por curiosidade^ ou por força
de inclinação, veio depois a constituir-se tão senhor deUeSs
que não sahio da sua mão pintura alguma, que aos me-
Ihores artífices não sirva ou de admiração, ou de modelo.
Luiz da Oosta — Nasceo em Lisboa em 1509, foi
pintor e discípulo de Sebastião Ribeiro. Traduzio do Ita-
liano, de Alberto Dureiro, quatro livros da Symetria do
Corpo humano, com o quinto de Paulo Galario Saludiano ;
manuscripto em folha. (He a noticia que nos dá o Sum-
mario da Bibliotheca Lusitana de Barbosa.)
Luiz da Cruz Moreira— Dá noticia deste artista
Rebello, na Descripção do Porto, pag. 340, dizendo que
fora natural daquella cidade, que nella fora Professor de
primeiras letras, nascido em 1707, e distincto na arte do
debuxo.
Luiza de Faria (D.)— Filha do douto escriptorMa-
noel de Faria e Sousa, teve entre outras muitas prendas
a da pintura. Delia he o retrato de seu pai que vem gra-
vado na obra Retrato de Manoel de Faria y Sosa, mui
parecido com o original. (Vej. a dita obra, § 16.°)
Manoel Alvares (Padre)— Foi religioso da Com-
panhia de Jesus. O Padre Francisco de Sousa, no Oriente
Conquistado, part. 1.*, pag. 185, lhe chama Pintor in-
signe, e diz que deix^ou muitas memorias do seu pincel,
398
e entre ellas o painel dá Cobver^Io de S. Paulo, que es-
tava no retabolo da igreja dó Cdllégiò velho da Companhia
em Gõa.
Malioel Oalnpello^ Foi di^cijpalo de Miguei Angelo.
(Méfnorictó Históricas do Ministério do PulpitOs pag. 1 35.)
t). Francisco Manoel, no tídspital das Letras, nume-
rando os homens, que em Portugal se distinguirão nas
sciencias e artes, põe Cathpello em pintura, ao pé de Ca-
mões em poesia, Barros ém historia, Rezende em anti-
guidades, de. (Yej. a obra a pag. 496.)
Volkmar, a pag. 56 e seguintes, fala deste grande ar-
tista, dando-lhe o nome de António Campelh. Deve ler-se.
Nós achámos Manoel Cúfnpello, que he (sem questão) o
mesmo deVolkmar, e de D. Franetsco Manoel. Yej. acima
o artigo António Campello.
MSàibel de Oastro^-Ponz, na Viagem de Hespanha,
fala algumas ve^es deste artista Portuguez. Copiaremos
a^i as clausulas, que apontámos:
«No hospital de Antão Martins, em Madrid, ha dous
qu«dtos grandes, que representão assumptos da Paixão,
firmados por Manoel de Casfro, Professor Portuguez. Do
meshK) são as pinturas a fresco da cúpula e lunetos.
«NòsTrinitarios Calçados, os dous grandes quadros do
cruzeiro, que representão hum a Nossa Senhora com os
Anjos, e outro o ministério da redempção de captivos, e
Nossa Senhora em gloria, são de Manoel de Castro, Por-
tuguez. Os quadros da nave sobre os arcos das capellas
se }iíilgSp pensados pelo dito Manoel de Castro.
«Nos Mercenários Calçados, a primeira capella da igreja,
á mão esquerda, he de Nossa Senhora dos Remédios, e a
abobada fòi pintada pelo Portuguez Manoel de Castro,
He dò itiesmo huma pintura que está no refeitório e re-
presenta hum milagre de Nossa Senhora a certo reli-
gioso^.
«Na igreja dos Padres do Oratório, que foi caza dos
399
Jesuitas, ha na primeira capella á direita a cupalai pin-
tada por Manoel de Castro.
Manoel de Faria e Botisa— Vej. acima no titulo:
Arte de escrever — Desenho á pêmá:
Marcos da Cruz— Flofeceo no tempo de d-^Rei
D. Jo3o III. (Memorias tíistoríbas do MihtÉterín tfá PUl-
pito, pag. 135. Vej. Volkmar, pdg. 79.)
Maria Tereza da Conceição Borges— Eiil 1819
morava estsl eiâtimavel Portugdeza fio bairro de Belém,
subúrbio de Lisboa» e era de idade de sessenta e seis
para sessenta e sete annos. Acabava então de bordar
primorosamente a ponto de agulha em reirós (È&m ter
aprendido o desenho) a grande estaihpa da Geia do Se-
nhor, que o eximio Morghen copiou e gravou do fa-
moso quadro de Leonardo de Vinci. A difSculdade de
retratar e pintar tantas figuras eom a agulha^ o tem
proporcionado desenho, o mimo das cores^ o clato-es-
curo, a luz, èc, e atè a ImitaçSo das madeií^as^ qhe
fingem estar o painel eílcaiiiMdo, tudo isto mostra os
grandes talentos da auctora^ e fas huma obra acabada
de bordadura. A auctora já f6z os retratos de Suas Ma-
gestades dd mesmo artificio. Os artistas Ibe tem tribu-
tado admiração, e elogios. (Gazeta de lÂsboa^ Janeiro
de 1819, num. 20.)
Pedro (Mestre) — Em hdm doiiuniento do Cartório
do real mosteiro de Santa Maria da Victoria, virigu êa Bar
talhaj achei nomeado : Mestre Pedro, PiMúr ião Sefdwr
Infante D. Henrique.
Pedro Alexandrino de Oaívalho—Tej. Voík-
mar, pag. 120, a que nada podemos acrescentar.
Peregrino Parodi — Farenlos aqui brete Inen^e
de Parodi, avô, filho, e neto, segundo o Diccid^rie dè
Roland le Virloys.
Filippe Parodi foi hum dos mais excéllentes pintores
de Graova, e em Génova falleceo de sbssenta aiiiios ée
400
idade, em 1703. Na igreja de S. Gaiios daqaeila cidade
ha buma bellissima estatua da Santíssima Wgem, e na
de Garignan outra de S. João Baptista, ambas deste ar-
tista. Fez muitas estatuas para a igreja do Loreto de
Lisboa.
Domingos Parodi, foi filbo de Filippe, e com elle apren-
deo o desenho, de. Trabalhava em 1698. Pellegrin Pa-
rodi, filbo de Domingos, e natural de Genovaj aprendeo
com seu pai os elementos da pintura, e pintou bons re-
tratos. Deixando a caza paterna, abyo escola sua, aonde
concorrido muitos a aprender, e muitos a se fazerem re-
tratar. Grande parte dos seus retratos passarão a Hespa-
nha, Inglaterra, e ÂUemanha. No anno de 1741 retratou
o Doge Spinola, quadro que depois foi gravado em Flo-
rença.
Este Pellegrin Parodi he o que esteve em Lisboa, e
aqui falleceo pelos annos de 1785. Delle e de suas obras
fala Volkmar a pag. 107. Vej. também nesta nossa lista o
artigo Carpinetti, no título dos Gravadores.
Pimenta Oorrôa — Três illustres Senhoras Por-
tuenses deste appelUdo mandarão á Academia das Bellas-
Ârtes três pequenos quadros históricos, bordados a ca-
bello, e algumas outras obras de matiz, e hum lenço
bordado de branco em relevo, tudo primorosamente aca-
bado. (Director de 23 de Julho de 1838, num. 163.)
Relaozo — Acho nas Memorias Históricas do Minis-
tério do Púlpito, pag. 135, menção de Reinozo, pintor,
que floreceo no século de el-Rei D. João III, e foi disci-
pulo de Miguel Angelo.
Volkmar a pag. 74 fala de hum Reinozo, a que dá o
nome de André, mas diz que vivia em 1641, e isto me
faz duvidar se seria ou não o que floreceo em tempo de
D. João III, e foi discipulo de Miguel Ângelo.
Ahi mesmo, diz Volkmar, que sempre ouvira dar a Rei-
nozo o nome de Diogo, mas que esta tradição era errada.
401
porque dos livros da Irmandade de S. Lucas se via cha-
mar-se André, &c.
£u coDjecturo que liouve dous artistas do mesmo appel-
lido áe Reinozo: hum mais antigo, que seria o DiúgOj e
outro mais moderno, que seria o André. Isto porém não
passa de mera conjectura.
Vanegas — Vem mencionado nas Memorias Históri-
cas do Ministério do Púlpito, pag. 135, como pintor do
tempo de el-Rei D. João III. Vej. a respeito delle Volkmar,
pag. 60.
Vasoo — Chamado entre nós o Gran-Vasco. Nada po-
demos acrescentar^ ao que delle diz Volkmar Machado,
pag. 49.
Vej. também Memorias Históricas do Ministério do
Púlpito, pag. 1 35, aonde se diz que floreceo em tempo de
D. João III, e que foi da escola de Pedro Perugino.
Dias Gomes, na eleg. 1 .% ás Musas, not. 1 i .^, diz delle
que teve muita elevação nos pensamentos, e muita viveza
de expressão; que foi admirável no colorido, e que se não
tivera cUguma cousa do gothico, seria. hum consumado
artifice. Este juízo me parece bem exacto.
O Diccionario de Roland le Virloys, que muitas vezes
temos citado, reflecte que os quadros de Vasco são or-
nados de bellas fabricas de arquitectura; e que o seu
gosto o inclinava sempre a pintar objectos da Historia
Santa.
Vasco Pereira — Inda. que Portuguez (diz Volkmar,
pag. 69), estabeleceo-se em Sevilha, e em lõ94 concertou
o famoso painel da Rua da amargura, de Luiz de Vargas,
e fez outras obras no principio do século seguinte.
Ponz, na Viagem de Hespanha, tom. 8.^, quasi no fim,
diz que na livraria da Cartuxa de Nossa Senhora das Co-
vas, junto a Sevilha, ha quatro doutores de hum tal Pe-
reira, famoso Pintor Portuguez, do tempo de Filippell.
Este he sem duvida o nosso Vasco Pereira.
lOMO VI á6
40i
MÚSICOS
El-Rel B. João IV — Foi não só apaixonado amador
de musica, mas também irisigae compositor da musica
sacra, chamada Canto da Palestina, a qual sómeute se
usava ua Patriarcal, e presentemente se canta ainda na
Gapella Sixtina.
O Imperador e Rei D. Pedro IV— Foi grande
amador e compositor de musica, tanto sagrada como pro**
fana.
A Sereníssima Infanta Senhora D. Isabel Ma^
ria — He grande tocadora de piano; possue muitos co-
nhecimentos de contraponto, e acompanha a piano em
todos os systemas.
AflEbnso Vaz da Costa — Foi Mestre da capeUa em
Ávila. Escreveo varias obras, que se conservavSo na co-
piosa Bibliotbeca da Musica de el-Rei D. João IV. Falieceo
em 1599.
André da Costa (Fr.) — Religioso Trinitarío, har-
pista dos Reis D. AfTonso VI e D. Pedro II. Compoz varias
peças de musica ecclesiastica. Falieceo em 1688.
André de Escovar —Vivia no tempo do Cardeal Rei,
tocava charamelinha, e compoz huma arte de tocar este
instrumento.
António Fernandes— Natural de Souzel, Presby*
tero, Mestre da capella na Paroquia de Santa Catharina de
Lisboa. Escreveo algumas obras theoricas sobre a musica,
c entre ellas a Arte da Musica de canto de órgão, e a
theorica do maiiicordio, e sua explicação. Falieceo antes
de 1025.
António Leal Moreira — Ignora-se a sua natura-
lidade. Foi Mestre de musica no Seminário Patriarcal,
grande Professor da arte, bom tocador de piano, e dis-
tincto compositor de musica sagrada;
403
António Marques Lesblo — Era Meslre da capella
real em 1608, e compoz varias musicas de igreja, que se
imprimirão enlre os annos 1660 e 1708. Foi celebre na
sua arte.
António Pereira de Figueiredo (Padre)— Na-
tural da vílla de Mação da comarca de Thomar» Congre-
gado do Oratório de S. Filippe Neri, nasceo em 14 de
Fevereiro de 1725, e falleceo em 14 de Agosto de 1797,
Nao cabe aqui o elogio deste varão sábio e virtuoso, que
tantos e tão relevantes serviços fez á pátria, ás sciencias,
é ás letras durante a sua vida. Diremos somente, que
desde os seus tenros annos se apaixonou pela musica, e
se applícou a ella com desyelo, chegando a compor muitas
obras desta belia, e nobre arte, e entre ellas todas as que
se cantavão nas funcçoes da Semana Santa na caza de
Nossa Sianhora das Necessidades, a cujos ensaios elle
mesmo presidia. Os autógrafos das suas composições mu-
sicaes passarão da mão do Reverendo Sr. António de Cas-
tro ás de hum distincto sábio, que escreveo a vida, e ana-
lysou os escriptos de Pereira, e que ha pouco mais do
hum anno nos foi roubado pela morte.
António Teixeira — Natural de Lisboa, nascido em
1707. Foi Cantor da Patriarcal, e Examinador Svnodal
de canto-châo. Compoz hum Te-Deum a vinte vozes com
instrumental, outro a três cói os, e alguns Psalmos, La^
menlações, ác. Ainda vivia em 1759.
Balthazar Telles— I^oi Lente da Cadeira de Musica
na Universidade de Coimbra por Provisão de 2 de No*
vembro de 1549.
Diogo Dias Melgago — Natural de Cuba, Mestre
da capella em Évora. Ctmpoz musicas de igreja. Falleceo
antes de 1649.
Domingos de S. Jòsó Varella (Pr*)— Natural de
Guimarães, insigne organista, e o melhor, que teve a. Con-
gregação Benediclina de Portugal nestes nossos tempos»
404
Tirilia amplíssima íastrucção e conliecíaiento da musica
antiga e moderna, e dos seus vários syslemas: conhecia
perfeitamente o mecanismo do órgão, e tocava este bello
.instrumento com admirável perfeição, e apurado gosto.
Presumo que ao presente he fallecido. Compoz e impri-
mio huma Arte de Musica^ em que se achão observações,
e experiências mui curiosas sobre os fenómenos da har-
monia, e sua applicação aos instrumentos músicos, e á
sua afinação. Esta obra foi impressa (segundo a minha
lembrança) na cidade do Porto, em 4.*^
Duarte Lobo — Natural de Lisboa, Cónego e Mestre
da capella na Sé Metropolitana de Lisboa. Foi celebre na
sua arte, e compoz varias obras, algumas das quaes se
imprimirão. Ainda vivia em 1625. ~
Eleuterio Pranchi Leal — Foi Mestre de musica no
Seminário Patriarcal, nos reinados da Senhora D^, Maria I
e de el-Rei o Senhor D. João VL Está presentemente apo-
sentado.
Estevão de Brito — Foi Beneficiado e Mestre da ca-
pella nas Sés de Badajoz, e Málaga. Escreveo hum Tra-
tado de Musica,
Francisco de S. Jeronymo (Fr.) — Natural de
Évora, Religioso de S. Jeronymo, e Mestre do coro em
Belém. Compoz obras de musica, que liverão grande es-
timação. Nasceo em i69íá, e ainda vivia em i747.
Francisco da Roclia (Fr.) — Religioso Trinitario,
natural de Lisboa. Compoz grande numero de obras, que
existião na Bibliotheca de Musica de João da Silva de Mo-
raes, de que adiante falaremos. Falleceo em 1720.
Gallão (Padre)— Foi natural da provincia do Alem-
tejo. Mestre da real capella de ViUa Viçosa, e compositor
de musica sagrada.
Gregório Franchi — Distincto tocadoí* de piano, e
com[)ositor de varias musicas para o mesmo instrumento.
Heliodoro de Paiva (D.) — Cónego regular de Santa
40o
Cruz de Coimbra, <lft que se fez menção na lista dos Pm-
tores. Foi também instruído (como lá se notou) na bella
arte da musica, e deixou composições suas, que se con-
servavão no mosteiro de Santa Cruz.
Henrique Carlos Corroa — Natural de Lisboa, nas-
cido em 1680. Foi Mestre da capella na Sé de Coimbra:
vivia ainda em 1747, e deixou varias obras de sua com-
posição.
João Alvares Frovo — Natural de Lisboa, aonde
nasceo em 1608. Foi Capellao e Bibliqthecario da musica
de el-Rei D. João IV. Gompoz muitas obras, entre as quaes
merecerão particular estimação os seus Responsorios do
Natal a oito vozes.
João Ohrysostomo da Cruz — Natural de Villa
Franca, nasceo em 1707, e vivia em 1731 no estado de
Presbytero. Compoz : Methodo breve e claro, em que se ex-
primem os necessários principias, ác, com hum Appen-
dice dialogico. Lisboa, 1743, em 4.®
JoSo Cordeiro — Natural de Lisboa : foi grande or-
ganista, e compositor de musica sagrada e profana. Foi
Mestre das Pessoas Reaes, e viveo nos reinados de el-Rei
D. José I e de sua filha a Rainha Senhora D. Maria L
João Domingos Bomtempo — He natural de Lis-
boa, Mestre de Sua Magestade Fidelissima a Senhora
D. Maria II, e da Senhora Infanta D. Isabel Maria, e Di-
rector do Conservatório na arte da musica, grande com-
positor de musica sagrada no estylo de Handei e de
Haydn. Compõe também musica de piano, e he hum dos
mais excelientes tocadores deste instrumento, tendo me-
recido os applausos de differentes cortes da Europa,
aonde fez mostra de seus distinctos talentos.
João Evangelista Turriani— Natural de Lisboa,
distincto mathematico, e insigfíe tocador de piano, em
que mostrava particular gosto, e expressão.
João Fernandes Formoso— Natural de Lisboa,
Capell3o fie ftl-Rei D. João III. Compoz em musica Pas^
sionario da Semana Santa, que se imprimio em Lisboa
em 1842, em folha.
João Jordani — Natural de Lisboa: Professor de
instrumentos de corda, e mui distincto em violeta, ra-
becão grande, e pequeno. Ha composições suas. He pre-»
sentemente Mestre de instrumentos de corda no Conser-
vatório.
João Rodrigues (Pr.) — De quem nSo temos outra
noticia senão que compozera huma Arte dó canto^hão,
manuscripta, pelos annos de i560:
João de Santa Maria (D.)— Cónego regular de
S. Vicente de Fora, natural de Terena, fallecido em 1634.
Compoz três Livros de Contraponto.
João da Silva de Moraes — Nasceo em Lisboa
em 1 689, e foi Mestre da capella na Cathedral desta ci*
dade. Compoz grande numero de obras de musica, a
possuía huma copiosa Bibliotheca desta arte. Ainda vivia
em 1727..
João Soares Rebello — Natural da villa de Cm^x*
nha na provincia do Minho. Foi Mestre de musica de el-
Rei D. Jo5o IV, e deixou obras impressas e manuscriptas,
que tiverão grande celebridade naquelle tempo. Falleceo
em 1661.
João de Sousa Oar valho— Natural do Alemtejo,
Foi hum dos mais insignes Mestres de musica do Se-
minário Patriarcal, e o que deo luzes aos compositores
Portuguezeâ para conhecerem o mecanismo de instru-
atentar a musica vocal sagrada e profana.
El-Rei D. José o mandou a Itália com Jeronymo Fran-
cisco de Lima, Brás Francisco de Lima, e Camillo Cabral,
para ali se instruirem naquella sciencia, entSo nao muito
cultivada em Portugal, aonde apenas se distinguia José
Joaquim dos Santos, natural de Óbidos, que com o. ce-
lebre David Peres tinha aprendido o contraponto.
407
Quando ojs quatro artistas voltarão a Portugal, forão
empregados no Seminário; mas João de Sousa mostrou
superior habilidade, pelo que, fallecendo David Peres,
foi nomeado em lugar delle para Mestre de musica das
Pessoas Reaes,
Teve por discípulos os dous insignes músicos António
I^eal Morieird, e Marcos António Portugal, bem conhecidos
entre nós.
Josô António Carlos dQ Seixas— Natural de
Coimbra» nascido em 1704. Foi nomeado Organista da
Patriarcal; tendo apenas dezeseis annos de idade. Com-
poz hum Te-Deum a quatro coros, multas Sonatas de
cravo, e algumas Missas a instrumental. Falleceo em 1 742.
Josó Avelino Oanongia— Mestre de instrumentos
de palheta no Conservatório. He insigne tocador de cla-
rineta, conhecido em varias cortes da Europa, que visitou.
Josó Marques (Fr.) — Nascido na província de Alem-
tejo. Foi profundo conhecedor da arte em todos os ramos,
grande tocador de piano, e o mais distincto acompanhador
de org3o em todos as systemas de acompanhar. Foi tam-
bém insigne compositor tanto de capella, como de instru-
mental, e deixou muitas peças de sua composição, que
mostrSo o seu grande merecimento. Viveo no reinado do
Senhor D. João VI, e foi Mestre da sua capella da Bem-
posta.
Manoel Elias (Fr.)— Religioso Paulista, compositor
de musica sacra, e grande organista.
Manoel Innooenoio dos Santos— Natural de Lis-
boa, distincto compositor de musica sagrada e profana,
e hum dos maiores acorapanhadores, tanto de orgao,
como de piano, de que he insigne tocador. He da sua
composição a Opera Ignez de Castro^ executada no thea-
tro de S. Carlos no anno de 1839 com geral applauso
do publico e dos amadores de musica.
Manoel Mendes — Natural da cidade de Évora, em
408
cuja Sé foi Mestre de capella. Floreceo no tempo do Car-
deal Rei D. HeDríque, e compoz buma Arte de canto-chão,
e algumas peças de musica de igreja. Falleceo em i605.
Manoel Nunes da Silva ~ Natural de Lisboa ; foi
Mestre da capella da Conceição Velha desta cidade. Com-
poz buma obra de musica, que intitulou Arte Mínima^
impressa em Lisboa em 1685, e reimpressa em i704,
em 4.°
Manoel PousSo (Fr.) — Religioso Augustiniano, na-
tural da villa do Alandroal. Escreveo Liber Passionum,
impresso em Leão de França em 1576, e varias outras
obras de musica. Falleceo em 1683.
Padre Manoel Rodrigues Coelho — Natural de
Eivas, organista da capella real. Compoz Flores de. Mu-
sica, obra que sábio á luz da imprensa em lâsboa, 1620,
em folba.
Manoel dos Santos (Fr.) — Natural de Lisboa, Reli-
gioso da Congregação de S. Paulo, primeiro Eremita, e
compositor de musica da capella real. Deixou varias obras
desta arte, e falleceo em 1737.
Maroos Portugal — Natural de Lisboa. Foi insigne
compositor de musica, tanto sagrada como profana. Dei-
xon-nos muitas peças do melbor gosto em ambos os es-
tilos, e rivaiisou nas suas composições cora os primeiros
compositores da Europji do seu tenipo. Era também
óptimo Mestre de canto, e cantava elle mesmo com ex-
cellente estilo em voz de tenor. Ainda hoje se executão
as suas peças sagradas e profanas com tanta acceitaçâo
como as de Haydn, Mozart e Zingarelli.
MatMas de Aranda — Foi Mestre da capella na Sé
de Coimbra, e Lente de musica na Universidade, nomeado
por Provisão de 26 de Julho de 1644.
Niooláo Dias Velasco— Foi musico de D. Fi-
lippe IV, Rei de Castella, e imprimio : Nuevo modo para
tafíer la gnitarre. Nápoles, 1640.
409
Nioolào Tavares — Natural de Portalegre : foi Mes-
tre dd capelta náwS Sés de Cadiz e Cuenca. Escreveo varias
obras.
Pedro Alvares de Moura— Natural de Lisboa; foi
Cónego na Sé de Lamego, e depois na de Coimbra. Im^
'primío algumas obras de musica emBoma:Jalleceo antes
de 1594.
Pedro do Porto — Natural da cidade de que to-
mou o appellido. Vivia em tempo de el-Rei D. João III,
e floreceo em Évora e Sevilha. He celebre o moteto:
Clamabat autem JesuSj &c. , que poz em musica, e que
João de Barros qualificava como o príncipe dos mo-
tetos.
Pedro Talesio— Natural de Lerma, no reino de Cas-
tella: foi Lente de musica na Universidade de Coimbra
por Provisão de 22 de Novembro de 1613, e hum dos
primeiros que deo ordem d musica de Portugal a coros.
Foi medico do Cardeal Alberto, e Mestre da capella do
Hospital Real de Todos os Santos de Lisboa.
Pedro Vás Rego — Nasceo em Campo Maior em 1670.
Foi Mestre da capella em Évora, e compoz huma celebre
Missa ad omnem tonum, e outras obras que se conser-
vavão em Évora.
Rodrigo Ferreira da Costa— Sócio da Academia
Real das Sciencias de Lisboa, fallecido ha poucos annos.
Escreveo: Prineipios de Musica, ou Exposição metho-
dica das doutrinas da sua<^omposição, e execução, 2 vol.
de 4.° com estampas, impressos pela mesma Academia
em 1823.
Thomaz Pereira (Padre) — Jesuíta, natural de Baf-
cellos. Publicou na China, e em lingua Chineza, hum Tra-
tado de Musica especulativa e pratica. Nasceo em 1645,
mas ignorámos o anno do seu failecimento.
Tristão da Silva — Floreceo no século xv e foi Mes-
tre de musica de el-Bei D. AfTonso V.
440
Vioento ..•—Natural de Olivença. Floreceo em Pá-
dua e Viterbo no século ivi, e falleceo antes do anno de
i 561 , em que ímprimio em Veneza Introduzione felicis"
Mima di canto fermo, de.
APPENDIGE
CARTA ESCRIPTA DE COCHIM A EL-REI D. MANUEL
POR THOMÉ PIRES
EM 27 DE JANEIRO DE 1516
SOBRE ALGUMAS PLANTAS E DROGAS MEDICINAES
DO ORIENTE
.IDVERTENCIA DO EDITOR
Pareceo-nos que seria bem aceito aos leitores que neste
logar se inserisse a carta escrípta de Cochim a el-Kei
D. Manoel pelo porluguez Thoiné Pires, em 27 de Janeiro
de Í51G, sobre algumas plantas^ e drogas medicinaes da
Índia; carta, que pelo assumpto, pela data^ e pela na-
cionalidade do auctor tal attenção mereceo ao venerando
Escriptor, cujas obras publicámos, que de seu punho
tirou delia Gel cópia no Nacional e Real Arquivo da Torre
do Tombo, e a offereceo como testemunho de singular
ai)reço á Sociedade Pharmacputica Lusitana.
Vai a cartd precedida da cópia da correspondência, a
que deo occasião o offerecimento, porque assim ficará
mais em relevo o valor do documento, o amor pátrio do
offerente, e a grata aceitação que teve a offerta por parte
daquella illustrada Sociedade.
CORRESPOMHCm MCA DA CARTA DE THOME PIRES
111."» Sr.
Tomo a conflança de levar ás mãos de V. S.* o incluso
papel, e rogo a V. 8.* queira fazer*me a honra de o apre-
sentar em meu nome á Sociedade Pharmaceutioa Lusi-
tana^ como testemunho do quanto prezo o seu zelo pelo
bem publico, e a reconhecida utilidade de seus trabalhos
scientiflcos.
O papel contém a cópia de huma carta escripta de Go^
chim a el-Rei D. Manoel^ em 27 de Janeiro de 1516, sobre
algumas plantas e drogas medicinaes da índia, por fhonté
Piresj que nella vem assignado. O original está no NaCio*
nal e Real Arquivo da Torre do Tomo, no Corpo Útrono-
logieo, part. 4.% maç. 19»®, num* 102, d'onde tirei flel
cópia quando dirigia aquelle estabelecimento.
Thomé Pires, natural de Leiria, tinha sido em Portugal
boticário do Infante D. Affonso. Passou depois á Índia,
e creio que fez esta viagem entre os annos 1 §12 e 1515.
£m lál6, sendo Fernam Peres de Andrade despachado
415
I
para a viagem da China, o Governador Lopo Soares, com
conselho dos Qdalgos» e Capitães Portuguezes da índia,
destinou, e nomeou Thomé Pires para hir por embaixador
de el-Rei de Portugal ao Rei da China, por ser homem
discreto e curioso^ e porque conheceria melhor que outro
as drogas que haveria na China (Castanheda, Historia da
India^ liv. 4.^ cap. 4.° e 31.°); e porque além de ter
pessoa, e natural discrição, com letras, segundo sua fa^
culdadCy e de ser largo de condição, e aprazivel em ne-
gociar, era mui curioso de enquerer, ú saber as cousas,
e tinha hum espirito vivo para tudo (Barros, dec. 3.*,
liv. 2.^ cap. 8*«).
Em Setembro de 1518, tendo Fernam Peres assentado
paz com a China, e voltando para Malaca, deixou Thomé
Pires em Cantam, já aviado, e de caminho para o Rei da
China. (Castanheda, lug. cit., cap. 41.°)
Nao s3o conhecidos com suQlciente exacção e certeza
os subsequentes successos da embaixada, e do embaixa*
dor, nem aqui seria lugar próprio para expender esta
matéria. Podem ver^se Castanheda liv. 5.°, cap. 80.^;
Barros, dec. 3.*, liv. 6.°, cap. 1.° e 2.°; e Fernam Mende^
Pinto, cap. 91.° e H0.° O que sabemos fora de duvida
he qtte Thomé Pires morreo na China, acaso prematura*
mente, ficando nós privados dos apontamentos que elle
provavelmente hiria fazendo acerca das plantas e drogas
daquelte vasto império.
A carta, que oOereço á Sociedade, n3o dá certamente
conhecimentos alguns novos dos objectos de que tratas
mas he de hum Porluguez; he dos princípios de se*
culo xvt; e toca hum assumpto, que naquelle tempo não
era ainda muito conhecido dos naturalistas da Europa*
Estas circumstancias podem TazeNa digna de alguma
attencao.
Se a Sociedade^ comtudo, julgar de outro modo, nem
por isso me arrependerei de lhe ter dirigido este pequeno
416
obsequio, nem ella tactiará de menos respeitoso, ou de
menos sincero o meu zelo.
Deus guarde a Y. S.^ Lisboa, em 7 de Setembro de
1838.— Ilir^ Sr. José Dionysio Corrêa, 1.^ Secretario
da Sociedade Pharmaceutica Lusitana. =JBtJ»*po Conde
D. Francisco.
 esta carta foi peia Sociedade Pliarmaceutica Lusitana,
ou da sua parte, dada a resposta seguinte :
Ill.™« e Ex.""^ Sr.
Á Sociedade Pharmaceutica Lusitana foi presente, em
sessão de hoje, a estimável carta de V. Ex.* de 7 do pre-
sente mez, oflferecendo-lhe, e enviando-lhe a cópia de
outra, escripta de Cochim em 27 de Janeiro de 1516 a
el-Rei D. Manuel pelo boticário Thomé Pires, sobre al-
gumas plantas, e drogas medicinaes do Oriente, a qual
cópia V. Ex.*, .abrazado em amor das pátrias cousas, ti-
rara com toda a fidelidade, do original existente no*Real
e Nacional Arquivo da Torre do Tombo, quando era di-
gníssimo Guarda^mór daquelle interessante Estabeleci-
mento.
A Sociedade, penhorada, em gráo superior a toda a ex-
pressão, por tão generosa e distincta ofiferta, mandou
lançar na Acta, que se havia recebido com mui especial
agrado; publicar no 1.^ num. do Z."* tomo do seu jornal
tão precioso monumento; offerecer a V. Ex.* hum exem-
plar do 1.® tomo do mesmo jornal, reservando-se fazer
outro tanto relativamente a seus novos Estatutos e Regi-
mento interno para quando estejão impressos, e por una-
nimidade elegeo Membro Honorário a V. Ex.*, esperando
anciosa se dignará fazer-lhe a honra de aceitar este pe-
queno signal do grande apreço e veneração, que tributa
4i7
ás cívicas virtudes, elevados conhecimentos, e relevan-
tíssimos serviços de V. Ex.* á litteratura Portugueza.
Deus guarde a V. Ex.* Lisboa, e sala das sessões da
Sociedade Pharmaceutica Lusitana, em 30 de Setembro
de 1838.-111.'°° e Ex."°Sr. Bispo Conde D. Francisco. =
José Dionysio Corrêa^ ^.^ Secretario.
A esta participação respondeo o venerando Prelado
com a carta que se segue :
111.°° Sr.
Tive a honra de receber o oflBcio que V. S.* me dirigio
com data de 30 do. próximo passado mez de Setembro,
annunciando-me o benigno e gracioso acolhimento, que
a Sociedade Pharmaceutica Lusitana se dignou dar á mi-
nha pequena offerta, não só aceitando-a com mui especial
agrado, e resolvendo mandal-a publicar no 4 .° numero do
2.° tomo do seu erudito jornal; mas também premiando
logo generosa e amplissimamente o meu zelo com hum
exemplar do 1 .° tomo do mesmo jornal, e com a dis-
tincção e honra muito maior, e sobre maneira mais apre-
ciável de me eleger por votos unanimes seu Sócio Hono-
rário.
Penetrado de reconhecimento e gratidão por tantas
mostras de benevolência, aceito esta honra e distincção,
que muito acredita o meu nome, e o faz de algum modo
participante dos serviços, dos merecimentos e da gloria
de tão illustres e sábios Consócios : sentindo tamsómente
que me não seja possível corresponder á Sociedade, e au-
xilial-a em seus estudos, senão com o sincero, postoque
estéril offerecimento de qualquer gráo de préstimo, que
ella possa em mim achar para o seu serviço, e para utili-
dade dos interessantíssimos objectos de que se occupa.
TOMO VI . Í7
4i8
Rogando a V. S.^ a graça de fazer presentes á Sociedade
estes meus sentimentos, aproveito com gosto a opportu-
nidade de expressar particularmente a V« S.^ a minha
attençao, estima e respeito.
Deus guarde a V. S.* Lisboa, 4 de Outubro de 1838. —
111."''' Sr. José Dionysio Corrêa, 1 .° Secretario da Sociedade
Piíarmaceutica Lusitana, &c.= Bispo Conde D, Francisco.
CARTA
y ESCRIFrA DE COCHIM A EL-REI D. MANUEL
POH THOMÉ PIRES
EM 27 DE JANEIRO DE 1516. SOBRE ALGUíVÍAS PLANTAS
E DROGAS MEDICINAES DO ORIENTE,
COPIADA FIELMENTE DO ORIGINIAL EXISTENTE NO REAL ARQUIVO DA TORRE DO TOMfiO,
NO CORPO CHRONOÍjOGinO, PART. 1.", MAÇ. 10, NUM. 102
Senhor.
Quá vêo ter hum roll de certas drogarias, que se nelle
pediam: pêra o ano irá, porque se mandárana catar; e
nesta darey conta donde cadahua nace; e também daiguas
cousas que lá foram.
Erva lombrigaeyra
Por Christovam de Brito e dom Aires foy lá huma soma
de erva lombrigueyra, que foy comprada por Joham da
villa, estando eu em Purtugall: portamto saiba vossa Al-
teza, que nôm foy por mim. Nace em Cambaya, e nas
terras de ChauIK
Ruybarbo
Também foy lá ter huma soma de ruybarbo podre, que
se comprou em Malaca. Eu nom fuy na compra deile, que
420
stava em Cananor: foy comprado por quatrocentos cru-
ciados a Ruy de Araújo e Joham Viegas: devem tornar o
dinheiro a V. A., pois venderam mercadoria podre, que
qua nom valia nada. Eu ho apontey na conta de Ruy de
Araújo na despeza do dinheiro porque se comprou.
Rnjbarbo
De Malaca enviaram os oficiaes da feytoria outro pouco
d'outro tall, por nom custar dinheiro, que ho deram huus
Chis de presente, e portamto foy liá ter, por se nom lam-
çar ao mar. O ruybarbo nace na Tartaria, e em Torquia.
€ana flstola
A cana fistola nace na serra, que divide o Malabar de
Narsinga em todo lugar, principallmente em Anamalec e
Pudaçari, quinze legoas de Cranganor detrás da serra.
Nace na ylha de Camatora no reyno de Daru; em Java
infinidade : nom se usa quá : em Turquia ha muita, e delia
vay a nosas partes.
Emcemço
Emcemço nace na Arábia felix no reyno de Tufar junto
com os reynos dos Fartaquis e Maderacatam. Nace em
Orixá, que he antre Narsinga e Bengalla. Vende-se em
Gambaya e em Ghauli multo barato.
Ópio
Ópio chamamos qá amfião : nace em Tebas cidade do
reyno do Cairo; nace em Adem, em Cambaya, no reyno
de Cous que he na terra firme de Bengalla : he esta grande
mercadoria nestas partes : custuma-se a comer, os reis, e
senhores em cantidade d^avellã; a gente baixa come me-
421
nos, por que custa caro. Se sobre elle se bebe cousa
azeda, ou cordiall, ou azeyte, agoa de coco, mata logo.
Os, homees costumados a comêllo andam sonorentos,
desvariados, os olhos vermelhos: nom andam em seu
semtido. Custuma-se, porque hos provoca a luxuria : he
de pranta de dormideiras. He boa mercadoria ; *gasta-se
em gramde cantidade e vali muito.
Tamarindos
Tamarindos ha muitos em toda a terra do Malabar.
O Malabar be de Mangalor até Comorim : muitos mais ha
em Tamor, e Choromandell. Tamor he de Carie até os
baixos de Cbilam: Choromandell he dos baixos até a Cu-
nimeyra. Java e as ylbas deBima tem infinidade. He mer-
éadoria nestas partes : usa-se em lugar de vinagre : valem
casi de graça: he boa mercadoria. A ylha de Çunda, que
he pegada com a Java, tem muitos, e em muitas partes
hos haa em camtidade.
Galamga
Gâlamga sam raizes da feyção de gengivre: nacem em
ChauU e Mangalor no reyno dlndo. O reyno Indo he so-
bre Cambaya na terra firme: foi cabeça destes quatro
reynos, s. Cambaya, Resputes, Diull, e os Naytaques.
Deste reyno vem o rio Indo, que qá se chama Cindi, vem
sair antre os Resputes e o reyno de Diull: tem formosa
povoaçam: deste rfo se denominaram os índios. Os Res-
putes são gentios, e parte dos de Diull e Naytaques. Tam-
bém em Cambaya ha infinidade delles. Acha-se em Cam-
baya a vender.
Torbit
Turbit vem de Mandão, e dahi vem ter a Cambaya :
nom he jnuito bom ho de qá; melhor he ho de Torquia:
este de qá he groso e preto, e o tK)m ba de ser ao com-
trario. Também nace em Parlogall. O reyno de Mandão
be sobre Cambaya, e sobre o reyno de Daqaem, e da
bamda da terra firme he Dely. Neste reyno de Mandão
são as amazonas, molheres belicosas, que oje em dia pe-
lejam a 'cavalo : tapibem as de Daqnem cavalgam escan-
cbadas, e escaramuçam ; mas as outras âo de lança em
punho, e são da guarda do rey de Mandão.
•
Hirabnlanos
Mirabulanos s3a cinquo sortes : as quatro nacem no Ma-
labar em Bacanor, Baçalor, Mangalor, lugares delrey de
Narsinga amtre o Malabar e Baticalla : os quebules nacem
em Bengalla, em Malaca, em Burney. Bengalla confina
com Orixaa de buma banda, e com Bacan da outra: Ma-
laca, de huma banda com Quedaa, e da outra com PahSo:
Burney s9a ylbas, duzentas léguas de Malaca em leste:
tem estas ylhas muito ouro, camforas de cpmer, e estes
mirabulanos. Obedientes s3a os reys de Bomey a vosa
Alteza. Todas estas sortes sãa mercadorias nestas partes.
Áloes
Aloés nace em a ylha de Çacolora, em Adem, em Cam*
baya, em Yalemça de Aragam, em huma cidade, que se
chama Molvedro, e em outros lugares : o muito estimado
na ylha de Çamatra: emtão depôs este, o de nossas par-
tes : o d'Adem e Gambaya he muito máo, que nom y ali
nada.
Espiqe-narde
Espiqe-narde nace no reyno de Dely, e no de Mandão ;
vem ter a Gambaya. Este reyno de Dely he o mais men-
tado destas partes: dizem que asenhoreou dos Naytaques,
gemtes, que confinão com a Pérsia até Bengalla. He reyno
muito mentado: jaz neile o monte Cáucaso. Este peleja
com o rey de Bengalla, e com Mandão e Cambaya.
Esqinamte
Esqinamte, ou palha déMéqa, nace em Çacotora, e em
todas as três Arábias: nom se costumava na índia: dos
Arábios pasava por Alexandria a nosas partes. Sabidos
são os Arábios : começam do cabo do streito de Méqa e
d'Oromuz, e vem acabar quá na ponta d'Oromuz a Pétrea.
Jaz no naéo a D^erta de Méqa, e pêra cima a Félix perà
contra a ponta qá pêra Oromuz. Os mouros chamam quá
Arábia felix aquela que vem do cabo de Guardafuy até
AUocacer, que tem huma regiam, que se chama felix.
Esta estaa amtreo mar roxo e Abixia, porém esta se
chama Arábia sub Egipto. Desta terra falarey na discrição
do Streyto de Méqua em outro lugar, porque delias sãa
terras do preste Jaham Abexi.
Gomas fétidas
/
Serapino galbano o poponago gomas fedorentas, as que
qua haa sam muito más, e de pouca valia : vem das Ará-
bias, do Cairo, e crêo, que por via de Alexandria vem
de Itália, e de Torqia de Damasco, que lá há muitas em
grande avomdamça, e boas.
Bedelio-Mirra
Bedelio, e a mirra nace no reyno de Mandão, também
em Arábia felix, e no reyno de Dely : vem ter a Cambaya.
He a mirra boa mercadoria. O bedelio nom usa qá e em
nosas partes: em levante ha muito.
424
Noin ba qi
Escamonea, Sene, Xilobalsamo, e carpo bálsamo, goma
arábica, alámbares, lápis lazuli nom ha qá Da índia: al-
guums alámbares ha em Arábia; mas eu«nom crêo que
naçam qá, mas que vem por via de Alexandria. O lápis
lazuli vem d' Arménia a nosas partes.
Honda
Momia nom he carne d^bomees, como em nosas partes
se usa, nem a mim parece que a tall carne seca, ou tos-
tada das al^as, tenha o que delia cuidamos ; porque ha
verdadeira he huma umydade dos corpos mortos desta
maneyra : Como ho homem morre, alimpãno das tripas e
fresura, e lamçam-lhe dentro mirra e aloees, e tomam-no
a coser, e metem-no asy em sepulcros com furacos : esta
mistam com a umydade do corpo corre, e apanha-se, e
este liquor se chama momia : quá nom se usa a que vay
a nosas partes: vay dos desertos de Arábia por via de
Alexandria: ás vezes leuam carnes de camelos tostadas
por carnes d'omees : nom crêo que aproveyte bua mais
que outra*
Ispodio
Ispodio sãa raizes de canas de certa provincia. Outros
tiverao outras opiniões ; e nós que o nom temos, nos foy
ordenado poder meter em seu lugar marfim queymado.
Os Venezianos saltavaam nos curraes das vacas, e das
canellas delias queymavaam; e em Itália e em nosas
partes ... por marfim queymado ; porque nom era po-
syvel queymar dentes d'alifantes, e vemderem-se tam
baratos: desta maneira vendem as carnes das alimárias
por carne d'omêes : nem huu nem outro nom he momia.
425
Nom sey como se usa por ella, como haja grande dife-
rença do liqor misto a carne seca.
Tincar-Alquiiira^SareacoIa
Tincar, Sarcacola, Alquitira vem do reyno de Mandão
e de Dely. A sarcacola vem d' Arábia felix. Nom ha qà
estas cousas eiii camtidade. Do tincar ha muito : acha-se
em Gambaya, e em GhauU.
. Betelle
Folio Indo he betelle. O milhòr de qá he do reyno de
Goa: des de ChauU atè Ganboia ho ha: em todas as ylhas
até alem de Maluco ho há em grande avomdamça. Verde,
he sustamciall, com avelana índia, ou areca, e com a call:
seco pêra nada nom presta, que tem a virtude tam sutill,
que seco nom tem cheyro, nem sabor. Em Betelle se
sostém hos homees destas partes três, quatro dias, sem
comer outra cousa. Faz grandemente digerir, conforta o
celebro, arreiga os dentes, que hos homees de qá, que
ho comem saam de oytenta ados, e tem todos os demtes
gerallmente sem lhe falecer algum. Os que ho costumam
comer lhe f^z bom bafo, e se hum dia o nom comem,
nom lhe podem soportar o bafo. He mantimento nestas
partes.
Robis
Robis os muito corados, prezados em nosas partes, he
a i^ina delles em Gapelamguam, reyno sobre o reyno de
Racan e Pegu na terra firme de Jenlios. Este reyno con-
fina com ho reyno de Ós, donde vem o lacar, e bemjõy
a Pegu e Asião. Deste reyno de Gapelamgam se espalha
pêra todas as outras partes. Em Racan e Pegu ha grandes
oflciaes de hos alimpar.
4S6
Em G6yllo ha duas maneyras da robls : bos vermelhos
sobre escuros nom saam slimados muito : hos muito craros
saam de duas sortes em Ceylao amtre elles tem conheci-
mento o que a cera de Simamca» vali o tresdobro, e daam
muito por elles: amtre os de qá todo roby tem preço, e
querem mais roby muito grande, aindaque tenha mágoas,
que ho pequeno em perfeyçSao, e querem os robys bai-
lais, ante que os vermelhos.
Ha em Ceylao os olhos de gatos, qá muito preiados, e
cafiras milhores que em Pegu : todo outro género de pe-
dras, das que se acb3o em Ceylao, sam melhores que
doutras partes.
Zedoarla
Zedoaria, calamo aromático, casia linea no Mallabar
muito em Mangalor, e em outras partes. Casia linea em
Geylão ha plamtas amtre as da canella: nom se usa quá:
também ha há no Brasill.
«
Estoraqae liquido -
Estoraque líquido nom sei que cousa he, nem nunca
doutor, que nelle fallase, nem fallou desempeçadamente.
nella, nem menos o sabiam os buticairos, com que aprendi.
Vem de -Veneza a nosas. partes em camtidades: vali ba«
rato. O estoraque liquido he cousa composta, e nom he o
que os doutores dizem. Dizem que se faz d'almea, for-
mento, mell, e azey te : a mim me parece que he asy. Em
Adem se faz também, e créo que he desta maneyra : he
quá boa mercadoria, e vali bem.
Estoraqae
Nem o que lá em nosas partes chamamos estoraque
nom he o que os doutores dizem, que também he cousa
417
composta, e nam gota, como gerallmente ss dis.* he desta
maneyra : bemjoym, do negro, derretem*Do, ou amolem*
ta-se, e com pós de sandallos, e de huum páo que quá se
chama aguiila, e isto bem amasado cbama-se storaque.
Esta he a verdade, e nom doutra maneyra. O tempo des*
cobre a verdade das cousas^
Aljoufar
Ho aljoufar nace nestas partes em Dalac, em Babarem,
em GeylSo, e em Hainan. Dalac saam ylhas, dés legoas a
la mar do porto de Meçua, terra d'Abexia, ou a elle so-
jeyta no mar roxo, sesenta legoas da entrada, e menos.
Babarem be cemto cinquoenta legoas d'Oromuz pelo
streito: saam ylbas pegadas á terra d' Arábia. Este streyto
será de duzentas oytenta legoas em comprido, e sesenta
de largo no mais largo. Mal pareceria isto a todos os Cos-
' mografos, que estes dous streytos fizeram mui mais com-
pridos, e muito mais largos: e eu digo verdade. Nace em
Ceylão, de Nigonbo até os baixos. Gerallmente dizem al-
joufar de Carie, porque de Carie o vaam llá pescar; mas
pesca-se pegado a terra da ylha de Ceylão. Hainan sam
. ylhas antre o reyno de Cauche, e a China. O mais aluo he
da China ; o melhor de Ceylão ; o mais redondo de Baba-
rem mais ourientall, e gerallmente todo iguall. Êm Dalac
ha pouca cousa. Para o anno as que se podem aver,
irara. De Cochim a xxvn dias de Janeiro de 516. aThomé
Pyres. »
Nom envie Vosa Alteza de llá nenhuas mezinhas com-
postas para quá de nenhuma sorte é condição, salvante
termentina, alvayade, azinhavre, escamonea pouca, azeyte
de Purtugall pêra o comer dos doentes, almecega, que vali
quá cara, venha nom muyta. Do ali nenhuma cousa, e estas
qua se escusam; pois quá as cousas, que as façam os bu-
428
ticaíros, e solorgiães, e fisicos, pois levam o premio : e
muito milhor me parece nom vir nada: marmeladas,
açuqoares rozados, estes os sãos osxomem, e tudo se
gasta debalde : tudo se qua revolve em coysas que quá
haa ; e encurtará Vosa Âltèza despezas das mezinhas, pois
quá nom aproveytam, asy por pagarem grandes quantyas,
como por ser quá outro clima.
i
FIM DO TOMO VI
índice
Pag.
. Noticia de alguns escriptores Portuguezes que tratarão dos
. nossos descobrimentos e navegações, ou das regiões e suc-
cessos de alem-mar 3
Roteiro da viagem de Fernam de Magalhães , 109
Breves notas á Vida de D. João de Castro, escripta por Jacinto
Freire de Andrade, auctorisadas com documentos originaes
e inéditos 147
Lista de alguns artistas Portuguezes, coUigida pelo auctor de
escriptos e documentos no decurso das suas leituras era 1825
(Ponte de Lima) e em 1839 (Lisboa) 315
APPENDICE
Carta escripta de Cochim a el-Rei D. Manuel por Thomé Pires,
em ti de janeiro de 1516, sobre algumas plantas e drogas
medicinaes do Oriente 411
•t*